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Presidente exige escalação, técnico se demite no meio do jogo e escancara crise no Juazeiro

Por Matheus Caldas

Presidente exige escalação, técnico se demite no meio do jogo e escancara crise no Juazeiro
Fotos: Agência CH e Glauber Guerra / Bahia Notícias
Tradicional no futebol baiano, o Juazeiro vive uma crise que extrapolou as quatro linhas. Última colocada da Série B do Baiano, com um ponto conquistado em quatro rodadas, a equipe sofreu uma goleada por 6 a 1 para o Teixeira de Feitas no último domingo (31), em pleno Adauto Moraes. Quando a partida estava 3 a 1 para os visitantes, o presidente Rafael Campelo resolveu intervir na escalação do time e gerou uma confusão.

Na visão do dirigente, o goleiro titular, Vitor, deveria dar lugar a Juninho, que estava no banco de reservas. O mandatário estava na arquibancada no momento, e gritou para o treinador Rodrigo Chagas fazer a mudança. O técnico negou, e pediu para sair do clube dentro do gramado. “De repente ouvi aquele barulho na arquibancada. Era o presidente gritando: ‘Rodrigo, tire o goleiro’. Eu me neguei e ele replicou: ‘Tire que eu estou mandando’. Sentei no banco e não falei mais nada. Eu disse que estava fora. Foi aí que ele tomou a responsabilidade para assumir o time. Nem o Juninho queria entrar no lugar do Vitor. O menino entrou e tomou mais três. Os meninos olhavam ele gritando na beira de campo feito um maluco e ficavam confusos. Se eu continuasse ali, ia fechar minha equipe e ia dar mais tranquilidade. Eles só jogaram no erro nosso, e eu estava percebendo isso”, disse o ex-treinador da Carranca, em entrevista ao Bahia Notícias.
 
Com Campelo à beira do campo, o time tomou mais três gols e sofreu a goleada acachapante dentro de casa. Ao fim do jogo, mais confusão. Dois atletas tiveram uma discussão áspera, e Rodrigo tentou acalmar os ânimos. Entretanto, Campelo teria interferido e pediu que o técnico não tivesse posição sobre os jogadores do Juazeiro. “Depois do jogo houve um problema entre dois atletas. Eu apartei a briga para que não houvesse uma confusão maior. O clima estava tenso. Ele me pediu licença e disse que eu não trabalhava mais ali, e que não poderia me meter. Eu saí, e não disse mais nada. Todo mundo viu a cena pífia como ele trabalhou, aquela falta de respeito... Todos me apoiaram”, relatou.
 

Rodrigo ( à esq. ) num treino, no Adauto Moraes | Foto: Blog do Zé Carlos Borges
 
Em resposta, Rafael Campelo preferiu não se estender no assunto. Ele preferiu citar a má fase do clube como justificativa para o posicionamento do técnico. “Eu acho que não vale mais a pena falar sobre isso, entendeu? Eu acho que os resultados falam por si só. Veja os resultados e tire as conclusões. Eu prefiro não falar mais nada sobre Rodrigo. O Juazeiro está vivendo uma nova fase. O nosso preparador físico Chico Élber assumirá o time interinamente até a chegada do novo treinador. Acho que agora é o momento de trabalhar. Não gosto de remoer o passado, isso não é da minha pessoa. Agora é dizer que o Juazeiro vai dobrar os trabalhos. A luta continua. Precisamos da ajuda de todos mais do que nunca. Temos que unir as forças e dar a volta por cima. A conversa é essa”, rebateu.

Segundo Rodrigo, a situação do Juazeiro já estava complicada. Antes da derrota por 1 a 0 para o Juazeiro, na Arena Fonte Nova, pela terceira rodada da competição, o agora ex-técnico já havia pedido para de desligar do cargo. Entretanto, o presidente insistiu por sua permanência. “Eu já tinha pedido pra ir embora no jogo contra o Ypiranga. Dessa forma não dava pra trabalhar. Ele havia me prometido alguns reforços, e não chegou nada. Eu tinha quase zero de opções. Tinha alguns jogadores de 16 anos que não aguentavam o tranco. Mas foi isso, resolvi atender o pedido e fiquei. Ele me prometeu contratar seis jogadores, sendo quatro atacantes. Isso não ocorreu. O único jogador que ele me apresentou foi o Gibson, que não havia entrado no BID, mas já treinava lá conosco. Então não tive nenhuma novidade. Foi aí eu disse: ‘Porra, continua a mesma coisa. Não mudou nada’. A situação estava difícil”, esclareceu.

Para o ex-lateral-direito, ali era o estopim. A estrutura precária era o motivo de sua desistência de comandar o time. O elenco só podia treinar duas vezes na semana no gramado do Adauto Moraes. Nos outros dias, as atividades aconteciam em diversos campos da cidade que, em sua maioria, não tinham sequer tamanho adequado para sediar um treino de uma equipe profissional. “Muitas coisas já estavam acontecendo. A gente vai com o intuito de ajudar, mas, em termos de estrutura, é tudo zero. O transporte ia pegar a gente longe. Nós estávamos empurrando com a barriga”, denunciou. 
 
Demonstrando não entender as críticas do ex-comandante, o presidente questionou a qualidade técnica de Rodrigo à frente do Juazeiro. “Se aqui não havia condições dele trabalhar, por que ele ficou os quatro jogos? Fica a pergunta no ar. Eu acho que se não presta aqui, não era nem para ele ter vindo. Eu prefiro não falar nada. Agora eu estou preocupado é com o jogo contra o Atlético de Alagoinhas”, pontuou.
 
Cabisbaixo após o imbróglio, Rodrigo voltou para Salvador um dia depois do ocorrido. Em Camaçari, na região metropolitana da capital, ele dirige uma academia. Ele garante que só voltará a ser técnico caso haja um convite de uma equipe bem estruturada. Na sua visão, o ocorrido foi uma falta de respeito. “É uma falta de respeito esse tipo de situação. Eu não iria aceitar, não só pelo meu nome, mas pelo profissional. Quem toma sol todo dia sou eu, quem conversa todos os dias sou eu, quem faz parte tática sou eu. Até garrafão de água eu enchi, porque a gente estava atrasado para o treino. Essas coisas eles não valorizam. Eu não tenho porque ficar absorvendo isso de pessoas que não entendem nada de futebol e que caem de paraquedas. Não tenho nada contra ele, muito pelo contrário. Mas os treinadores de futebol tem que ser mais respeitados”, lamentou.
 

Campelo ao lado do time | Foto: Divulgação / Juazeiro Social Clube
 
A crise no clube começou internamente. Em julho, o próprio Campelo pediu renúncia do cargo de presidente (leia mais aqui). Após conversas com a diretoria, ele revogou a decisão e permaneceu no comando (leia mais aqui).
 
No futebol, o treinador Rodrigo obteve maior destaque como jogador profissional. Com passagens por Corinthians, Bayern Leverkusen (Alemanha), Cruzeiro e Seleção Brasileira, ele é um dos maiores laterais-direitos da história do Vitória. No Rubro-negro, ele participou das duas melhores campanhas do clube em campeonatos brasileiros. Em 1999, ele foi terceiro colocado. Em 1993, foi vice-campeão, na final perdida para o Palmeiras.
 
Na Série B do Baianão, o Juazeiro volta a campo somente no dia 13 de agosto. O adversário será o Atlético de Alagoinhas, às 17h, no Adauto Moraes.