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Paratleta baiana celebra registro de recorde de 18 anos: ‘Tinha tentado o Guinness’

Por Edimário Duplat

Paratleta baiana celebra registro de recorde de 18 anos: ‘Tinha tentado o Guinness’
Foto: Divulgação

Na última terça-feira (17), a empresa independente Ranking Brasil reconheceu a baiana Mônica Veloso como a primeira paratleta a concluir a travessia Mar Grande-Salvador. Realizando o percurso em 1997, a nadadora completou a prova em três horas e 50 minutos e somou mais uma travessia em mar aberto para a sua extensa carreira esportiva que se iniciou em 1985 e hoje soma mais de 210 maratonas aquáticas no Brasil e países como Estados Unidos, Costa Rica, México, Argentina, Alemanha e Chile.
 
“Eu já tinha tentado o Guinness, o Livro dos Recordes, mas existe uma série de protocolos que poderia durar entre cinco e seis anos. Depois eles quiseram que eu fosse pra Londres, mas isso demandaria custos que não poderia arcar. Mas esse ano, quando Ricardo Serravalle fez um desafio de nadar durante 24h na piscina, a RankBrasil veio para cá e tomei conhecimento deles. Consultei o material que tinha na época, como entrevistas e textos da época, além de pesquisa da travessia junto com a federação, os entreguei e eles aprovaram”, celebrou a nadadora em entrevista ao Bahia Notícias, além de exaltar a importância do recorde não só para a sua carreira pessoal como a de todo o cenário nacional do esporte.
 
“É muito importante principalmente por conta do Paradesporto. Fui a primeira paratleta a fazer a travessia e primeira mulher paratleta a realizar o percurso em mar aberto. A gente vence esse tipo de barreira, principalmente para a modalidade feminina vencer a barreira do medo e mostra o portador de deficiência como um atleta-produto”, explicou.


Foto: Reprodução/Youtube

Formada em Licenciatura em Desenho e Plástica pela UFBA, Mônica Veloso teve poliomielite ainda criança e começou a nadar por recomendação médica. Ao longo da carreira, conquistou o recorde mundial dos 1500m nado livre, o americano dos 800m nado livre, três recordes brasileiros e três norte/nordeste em circuito paraolímpico. Além disso, foi a paratleta do ano pela Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas (Abradecar) e pela Associação Baiana dos Cronistas Desportivos (ABCD).

“Ter vencido provas de piscina e mar aberto com correntes, com menos deficiência e muito menos idade foi compensador. Mas minha grande conquista foi a  travessia Mar Grande–Salvador”, completou Mônica, em 1998, com mais experiência, fez novamente o trajeto de 12km em três horas e 36 minutos. “Como não bato as pernas tenho que vencer esse desafio no braço. Meu grande diferencial foi procurar o melhor percurso, com correntes mais favoráveis e nadando mais 2km além do trajeto”, destaca.
  
Com a doença comprometendo os membros inferiores, a nadadora de 56 anos utiliza cadeira de rodas para se locomover e vive de perto as dificuldades em relação à acessibilidade para os deficientes físicos, principalmente no quesito da mobilidade urbana e nos transportes públicos. Soma-se a isso outro grande desafio não só para a nadadora como para outros paratletas que vivem no Brasil: A dificuldade em conseguir apoio para os treinamentos e participação em competições.
  
“Da época que iniciei para agora melhorou muito. Principalmente por conta do apoio aos clubes e os patrocínios que conseguimos. Mas, ainda é abordando uma demanda pequena. O que falta é o apoio ao pessoal de base, pois hoje o governo usa o bolsa atleta apenas para os melhores do ranking. Mas como chegar ao topo do ranking se você não tem ajuda na base?”, questiona Mônica, que também reclama da falta de equipamentos esportivos no estado para a realização de eventos que ajudem na divulgação do paradesporto.


Foto: E.C.Vitória/CODES/Hammerhead/Embasa

“Aqui na Bahia não temos equipamentos esportivos para treinos ao paratleta. Hoje, por exemplo, ainda não temos a piscina olímpica. E além dela precisaríamos de uma pista de atletismo, até porque os eventos esportivos paraolímpicos são realizados em formato de Circuito, com todas as provas acontecendo no mesmo lugar. O que seria melhor era ter um espaço como o Centro Olímpico que será construído em Pituaçu”, desabafou.
 
Presidente da Associação Baiana de Atletas Deficientes e atleta do Vitória, Mônica Veloso continua disputando torneios por todo mundo, mas tem procurado meios de conseguir apoio por conta das limitações impostas para a modalidade. “No Brasil, o paradesporto tem as mesmas regras que o esporte para conseguir o auxilio do Bolsa Atleta e muitas vezes as limitações que temos acabam nos atrapalhando. Exemplo disso é no número de atletas que disputam torneios, já que a regra fala de um mínimo de cinco atletas por categoria e muitos eventos do nosso esporte tem três atletas, até por conta também da falta de divisão das categorias. Dessa maneira, sou bem ranqueada, mas não tenho mais direito ao auxilio”, desabafou.

Mesmo assim, a nadadora segue com projetos para superar novos recordes na sua carreira. “Com certeza farei novamente a travessia Mar Grande – Salvador, desta vez em família, com  meu filho que fez o trajeto uma vez e com minha irmã, também nadadora. Além disso, tenho a meta de disputar a volta da Estatua da Liberdade e quero também tentar a Capri-Napoli e Gibraltar. Mas preciso olhar o percurso para fazer o aparato, e para esse planejamento preciso de dinheiro. O recorde já tem rendido frutos para mim em relação aos contatos, e espero que traga cada vez mais também para todo os atletas paraolímpicos da Bahia”.