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Entrevista

Sant'Ana mira Bahia consolidado em outros esportes e faz alerta para o futebol: "City precisa de suporte"

Por Ulisses Gama

Sant'Ana mira Bahia consolidado em outros esportes e faz alerta para o futebol: "City precisa de suporte"
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Após comandar o Bahia no triênio 2015-2017, Marcelo Sant'Ana quer voltar a ser presidente do Bahia, agora em uma nova fase. Com a associação para manter e ao mesmo tempo lidar com o Grupo City no futebol, o candidato pensa em um futuro promissor com uma base forte de sócios e uma presença positiva em outras modalidades. Na opinião dele, trabalho e competência serão essenciais.

 

"Eu sou torcedor, mas na gestão temos que trabalhar alguns pontos. A questão dos esportes, a questão das embaixadas, preocupação com o plano de sócios, melhora na comunicação e transparência, mostrando o que o Grupo City já cumpriu em contrato, buscar fontes alternativas em receitas, procurar pouco a pouco diversificar as ações do clube para que ele finque, aos poucos, a sua bandeira como clube olímpico e social", disse, em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Ao falar sobre o trabalho dos estrangeiros no futebol do Esquadrão de Aço, Sant'Ana apontou que faltou suporte da atual diretoria executiva no "ano zero" do grupo.

 

"Precisa de alguém que ajude no relacionamento e eu acho que não teve o suporte que ele esperava do Bahia ao longo do ano. Não estou lá dentro, não tenho representatividade para falar sobre sentimento do Grupo City e nem do Bahia, mas é um sentimento que tenho", apontou.

 

Marcelo Sant'Ana não fugiu de perguntas sobre o fato de ter sido empresário de atletas e de ter conquistado a fama de "brigão" enquanto liderou o clube azul, vermelho e branco. Confira a entrevista completa:

 


Por que você decidiu voltar a tentar a presidência do Bahia?
Foi uma decisão tomada com calma, com responsabilidade. Fui presidente no ciclo 2015, 2016 e 2017. Era um ciclo novo para o Bahia também. Fui o primeiro presidente eleito na era democrática para um mandato regular de três anos. O Bahia era um clube grande como continua, com torcida apaixonada, reconhecido nacionalmente, mas naquela época o Bahia não tinha organização, não tinha rumo. O Bahia pré-intervenção, o torcedor lembra a série de crises que o Bahia passava. A gente conseguiu, com erros e acertos, recuperar a credibilidade do Bahia, a dignidade dos funcionários e valorizar a marca do Bahia dentro do mercado. Recuperamos o patrimônio com Fazendão, Cidade Tricolor, terreno do Jardim das Margaridas... A gente conquistou todas as certidões negativas de débito municipal, estadual e federal, que na época garantiram o contrato com a Caixa e permitem que o Bahia tenha projetos com a Lei de Incentivo ao Esporte. Fomos citados por um consultor do Itaú como um dos cinco clubes do Brasil, se ele pudesse indicar, como um clube para se comprar ações. Justamente pelo trabalho de governança, transparência, comunicação que trouxemos. Além das questões de campo porque tudo tem que convergir para o resultado esportivo. Título baiano, acesso, Copa do Nordeste, a maior pontuação do Bahia nos pontos corridos. E o Bahia agora está no cenário com alguma similaridade. O Bahia, desde maio, tem uma SAF. É sócio minoritário e o clube precisa de um indicativo qual rumo vai tomar. Por contrato, o Bahia tem responsabilidade de cumprir o contrato com o City, colaborar com o relacionamento corporativo, mas o Bahia tem outro braço que é fincar a sua bandeira como clube olímpico e social. Em qual contexto? Em quais esportes? Como aumentar o orçamento que está previsto em R$ 4 milhões? É um contexto que o clube precisa ser posicionado. Dentro desse contexto, a gente se coloca como opção para o torcedor.


Como você enxerga o cenário de 10% no comando do futebol?
A parte de gestão no dia a dia é do Grupo City. Mas o representante do Bahia integra o conselho de administração. São cinco indicados pelo City e um do Bahia. Hoje, temos três estrangeiros e os outros dois ficam na operação do Bahia, que é o Raul Aguirre e o Cadu Santoro. A gente pretende, dentro desse conselho, pontuar a opinião do Bahia, preservar a identidade... Claro que a gente espera um crescimento da instituição, maior capacidade de investimento, profissionalismo que reflita em uma time mais competitivo e vencedor. E às vezes gosto de fazer brincadeiras para pessoa ter um cenário mais claro: um time de futebol são 11 jogadores e cada jogador representa mais ou menos 9%, que daria 99%. Se você joga com um a menos, faz diferença? Faz muita diferença. Na SAF eu entendo da mesma maneira. O Bahia tem que jogar com o time completo. Entendo que isso tem que ser conduzido dessa maneira. Defendo mais transparência e comunicação para que você reforce esse laço. A SAF existe desde maio. A gente tem a informação de que o City já pagou 60 a 70% das dívidas trabalhistas e cíveis, que era previsto. Se isso foi feito, porque não é comunicado? Isso mostra a seriedade do parceiro em cumprir o contrato. Tem uma previsão contratual de investimento mínimo em folha salarial. Está sendo feito? Por que não é comunicado? Para mim, esses pontos reforçam a parceria. Quando você sinaliza: 'o ano está abaixo, contudo eles têm feito investimentos, tem outros projetos que estão sendo implementados...', isso daria uma maior segurança para o torcedor, principalmente em ano de crise. Você daria dados objetivos e faria o papel fiscalizador. A gente acredita que isso tem que ser reforçado para o sucesso da parceria.

 

 

Por qual motivo você não tentou a reeleição após seu primeiro mandato?
Em 2017, quando a gente optou por não continuar, eu vinha cansado dos três anos de presidência. Hoje, quando o torcedor vê o clube mais organizado, as pessoas esquecem o contexto do Bahia naquela época. A gente teve que reorganizar o Bahia da porta para dentro como uma empresa. Não gosto de ficar pontuando isso, foi um momento passado, mas o Bahia não tinha fluxo de caixa. Quando perguntava quem era o sócio do Bahia, tinha que perguntar para uma empresa tercerizada... Esse era o cenário de dificuldade, aliada as viagens com o time, perdi jogos quando minha segunda filha ia nascer. Dos três anos que eu fiquei presidente, devo ter passado um ano fora de Salvador, somando viagens para o time, viagem à Brasília para resolver política, São Paulo para patrocínio, Rio de Janeiro para as questões da CBF. Para mim, o trabalho no Bahia tem que ter dedicação 100%. Isso é emocionalmente desgastante. Minha segunda filha ia nascer e eu sentia que minha esposa precisava de minha atenção. E o clube estava organizado. A gente tinha um clube campeão do Nordeste, maior pontuação nos pontos corridos, a gente tinha, dos titulares, nove jogadores com contrato... Jean, Capixaba e Zé Rafael com proposta para serem vendidos, 13º já pago, salário para pagar já no caixa do clube. O Bahia, no nosso entendimento, tava com o caminho sólido para continuar dando alegria para a gente que é tricolor. Preferi priorizar a minha família naquele momento.

 

 

Uma das suas missões será alavancar o número de sócios. Na sua gestão passada, você contratou Jorge Avancini e ele foi muito criticado. Acredita que foi um erro?
Na época ele tinha um histórico de sucesso no Internacional, o clube que tinha o maior número de sócios já registrado no futebol brasileiro e os gaúchos têm essa tradição em associação. Buscamos o profissional dentro desse contexto. O Sócio Esquadrão foi criado na nossa administração com ele como chefe. Se você entrar no site e ver a marquinha, é a empresa contratada na nossa época. A setorização é a mesma... Teve evoluções naturais, algumas ações que ajudaram, que foram o desconto da cerveja e a camisa... Na parte comercial, a gente saiu de um faturamento de R$ 2 milhões, R$ 3 milhões ano para superarmos R$ 12 milhões no último ano. De 2017 a 2023, esse número é o segundo maior. Críticas são naturais, faz parte. Nesse contexto atual, temos sim que desenvolver esse novo plano de sócio. Um conteúdo decisivo que a gente tinha, que é o acesso garantido, hoje está com a SAF. Mas existem outros mecanismo. A gente pode trabalhar com preços diferentes, a depender por exemplo da região que a pessoa mora , se é sexo masculino ou feminino... Você pode trabalhar com experiência, desconto em produtos, então você tem caminhos para fortalecer. Se a gente for abordar a questão da embaixada, dos sete primeiros nomes, três são de embaixada. Agora, durante a campanha, buscamos ouvir para valorizar os sócios que estão fora de Salvador... Quando eu era o presidente, a gente tinha um departamento de ligação com embaixadas, a gente sempre fazia matchday nas cidades, levando troféus, ídolos, mascote... Isso dá sensação de pertencimento para eles. A opção de comprar o produto e ele ser entregue em sua casa, é uma crítica que o pessoal que mora no exterior faz muito e ouviram a justificativa de que o frete é caro. Eles pontuam que, como moram longe de Salvador, será que não poderiam ter um benefício de uma ou duas partidas, quando abre venda exclusiva, o sócio que mora fora não pode comprar primeiro? Tem pontos de gancho que a gente pode valorizar e reconfigurar o nosso plano de sócio.


Na sua opinião, o que pesou para a queda brusca de associados no Bahia?
Sem dúvida nenhuma a falta de comunicação pesou muito. E aí eu agradeço a imprensa nesse período de eleição, que está trazendo esse debate com todos os candidatos. Aí eu uso esse dado que você trouxe. No dia da inscrição de chapa, eu estive na sede do clube junto com o candidato à vice, Rogério Gargur, e os funcionários sinalizaram que naquela época a expectativa era de ter 4500 a 5 mil sócios adimplentes, com condição de voto. A gente teve na semana passada a lista com 7800 adimplentes. Então 2800 pessoas se regularizaram em 30 dias. Pessoas que tinham mais de um ano como sócio. Esse número pode ser até maior. Então é um crescimento superior a 50% do que se tinha em 30 dias de campanha. Isso indica que a comunicação era ineficaz. Não dá pra responsabilizar o torcedor. Se o sócio não acompanhou naquela época, você tem que comunicar de forma recorrente. Você tem que comunicar sempre. Quando a gente vai para o barzinho, a gente não fala sobre os mesmos jogos do Bahia? Então você tem que trazer várias vezes o mesmo tema para no dia que a pessoa estiver disposta, ela ser saciada. A comunicação tem que ser estimulada, as redes sociais são discretas... Temos que debater isso com a profundidade que se exige para que o sócio se sinta importante. Se a gente aumenta a base de sócios, você aumenta a força do clube. A partir do momento que você fortalece o clube, no contexto dos 10%, a SAF vê a força que o clube tem pela representatividade do torcedor. Não podemos ter um descolamento tão grande. E aí eu pontuo que quando a gente criou o Sócio Esquadrão, na mesma época da parceria com as Obras Sociais Irmã Dulce, o Sócio Esquadrão era nome fantasia para você dizer que era sócio do Bahia. Era um nome comercial porque a gente ia usar o nome Esquadrão em vários produtos do clube. A ideia era ter essa marca comercial. Quando teve o desmembramento, o Bahia não criou um nome fantasia e as pessoas foram acostumadas a dizer que eram Sócio Esquadrão, acharem que eram sócios do Bahia. E hoje não é mais assim. É responsabilidade do clube comunicar. Você tem que dar isso mastigado ao sócio.

 


Você foi pioneiro nas questões de responsabilidade social com a parceria nas Obras Sociais Irmã Dulce. Como pretende seguir esse caminho se for eleito?
A gente iniciou esse trabalho com Irmã Dulce em outubro de 2015. A gente sentia a importância do Bahia devolver à comunidade esse carinho. Quando a gente fala de Bahia, a gente fala de baianidade. A situação é recíproca. Depois a gente teve avanços com a UNICEF, focado na formação pessoal dos atletas... Acredito que o Bahia teve um avanço nos últimos anos, mas vou continuar a ser transparente. Não acho que são concorrentes, mas prefiro que o Bahia seja reconhecido como clube vencedor, um clube campeão e que dê alegria ao seu torcedor, preferencialmente no futebol. Quando o Bahia foi fundado em 1931 por dissidentes da Associação Atlética e do Bahiano de Tênis, ele foi fundado para ser um clube de futebol. Ao longo dos anos teve sucesso em outras modalidades, mas o coração do clube é o futebol. Dá para trabalhar responsabilidade social e o sucesso esportivo de maneira que ambos valorizem a marca. Mas em qualquer dividida, o lado esportivo vai prevalecer.


Você tem sido questionado pelo fato de ser empresário de atletas. Como está a sua situação e a da sua empresa?
Era minha empresa. Agradeço pela pergunta porque é um tema que as pessoas têm duvida. E se as pessoas têm dúvida, quem está se colocando à disposição, tem que esclarecer. Não sou mais empresário de atleta, minha carteira não foi renovada. A FIFA mudou o sistema de regulamento de transferência e agenciamento de atletas. De imediato, algumas cláusulas foram implementadas e estão em vigor desde 1º de outubro. Para ser agente de jogador, você tem que ser agente FIFA. Só tem dois caminhos para ser agente FIFA: se até abril de 2015 você era agente FIFA e agora é fazer a prova para agente FIFA. Teve a prova em setembro e eu não fiz já visualizando essa possibilidade de ser presidente. A FIFA não reconhece mais pessoa jurídica, só pessoa física. Então a empresa não pode mais operar no mercado do futebol porque a FIFA e a CBF não reconhecem mais. A Fifa mudou a lei em dezembro de 2022. Alguns pontos já valeram de imediato e os demais valeram a partir de 1° de outubro. Não sou mais sócio, já foi registrado na junta comercial, não tenho participação no quadro acionário. Agora é só o Marcelo Barros e o que ele vai fazer com a empresa, é decisão dele. Fazendo um comparativo, embora eu ache que não tem nada a ver, eu fui dono de uma empresa por quatro anos. Fizemos marketing esportivo, trabalhava para comunicação de atletas, prestava consultoria aos clubes. Só tive dois atletas no Bahia em quatro anos e um único atleta em divisão de base. Quem comprou o atleta foi o Grupo City, que foi o Thiago. De maneira bem transparente, esse atleta rendeu ao Bahia um lucro líquido de R$ 7 milhões de reais. Foi o que rendeu. O Tillemont, a empresa que ele trabalhou por 20 anos, A Antonius, tinha entre 15 a 20 jogadores no Bahia, no sub-15, sub-17, júnior e profissional. Na época, ele que responderia pelos jogadores da própria empresa. Hoje quem determina é o City. Agradeço quando a imprensa faz esse questionamento, mas eu acho curioso quando os concorrentes falam. Porque se eles acham que tem esse conflito de interesse, poderiam ter impugnado minha candidatura. Se eles colocam minha idoneidade em xeque, eu fui presidente do Bahia por três anos e digo com tranquilidade que provavelmente sou o único presidente de 2000 para cá que deixou o Bahia tem ser nenhuma ressalva nas prestações de contas. Nunca foi questionado sobre minha honestidade. Se alguem quer questionar agora, está no direito e qualquer um faz sua campanha como entende. Mas não coloque apenas a minha, coloca a do próprio parceiro, o City. Alguém para fazer uma coisa errada, tem que fazer em parceria com alguém, principalmente quando você não tem a caneta. E eu, Marcelo Sant'Ana, acredito no Grupo City.

 

O candidato Leonardo Martinez acredita que o investimento do City pode mudar a depender do "ambiente" com o presidente eleito. Acredita nessa teoria?
Não entendo o que o candidato quis dizer sobre esse posicionamento. Cada um tem suas ideias, mas acreditava que a relação com o City era regida por um contrato. A partir do cumprimento desse contrato, é que entram questões de relacionamento que podem potencializar ou não as outras relações. Eu conheço o City desde 2016, que é quando fui pela primeira vez em Manchester. Tenho contato regular desde outubro de 2019 pelas minhas outras atividades. Não entendi a abordagem do outro candidato. Mas acredito na seriedade do City, confio que eles podem dar resultado que a gente espera, embora esse primeiro ano esteja abaixo da expectativa. Pessoalmente enxergo que eles perceberam durante o ano que a abordagem inicial foi equivocada. Porque a gente vê a mudança no perfil de jogador que chegou entre janeiro e abril para os jogadores que vieram na segunda janela. A partir da saída do Renato Paiva e a chegada de Rogério Ceni, você vê a mudança do perfil de liderança. Se trouxe um treinador que conhece o Brasil, com histórico de jogador, foram mudanças perceptíveis na linha de gestão. Tomara que essas mudanças representem a nossa continuidade na Série A.

 

O Grupo City está em seu "ano zero" e vive um processo de adaptação. Como você pretende colaborar?
Sua pergunta é bem precisa. É um ano zero, de transição, de conhecer coisas novas. Ele está dizendo que precisa de suporte. Precisa de alguém que ajude no relacionamento e eu acho que não teve o suporte que ele esperava do Bahia ao longo do ano. Não estou lá dentro, não tenho representatividade para falar sobre sentimento do Grupo City e nem do Bahia, mas é um sentimento que tenho. O City, anos atrás, tinham quatro funcionários do Brasil. Agora, se contar futebol masculino, feminino e base, são 400 funcionários aqui. Olha a mudança. O City é um grupo global com 13 clubes, experientes, com trajetória. Em Manchester eles são donos do clube e lidam com outros anos. O Campeonato Espanhol hoje tem o Girona, que o City é dono e La Liga é uma liga privada. Na MLS é uma liga privada e o New York City é privado, do City. No Brasil, a relação do Bahia é de privado com uma associação e quem controla o campeonato é a CBF, uma entidade política. No Brasil não é exatamente igual a vários contextos que eles trabalhavam. Tem algumas particularidades que se você não se adaptar, chega a conta e tem arestas a aparar. Eles precisam e desejam ter um relacionamento mais fácil.


Muitos dizem que o presidente Bellintani abandonou o clube. Qual a sua visão sobre a gestão dele?
Não posso usar a palavra "abandonou". Que ele não está se comunicando, sendo parceiro do torcedor na transparência do contrato, que a gente não sabe se foi feito encaminhamento, isso eu posso dizer. Usar a palavra "abandonado"... Acredito que os funcionários estão tentando fazer o seu trabalho, caberia ao Conselho Deliberativo ter uma postura mais firme na cobrança. Me preocupa é que projetos de lei de incentivo costumam ser apresentados em um ano para captar recurso no outro ano. Se o Bahia não apresentou projeto esse ano, no ano que vem a gente fica com a captação limitada. É um tempo que você perde. Você não contrata jogador sem saber quem vai ser o próximo presidente? Por que você não pode apresentar um projeto? Poderia discutir com o torcedor o papel da associação. Não poderia chamar o sócio para discutir o papel do Bahia? Quais esportes trabalhar? Quais as necessidades? Fazer uma pesquisa, marcar reuniões na Fonte Nova, fazer um debate público, um brainstorm. Até para se manter a mobilização. Poderia chegar dar uma série de possibilidades já discutidas. E isso não foi feito. Tomara que tenha uma reunião final de ano e a gente saiba o que foi feito nos últimos meses.

 

Você visitou a sede da associação. O que achou?
Quando fui lá, o coração ficou apertado. Quando deixei a presidência, contando com os atletas, eram 296 funcionários. Nessa visita, pude conhecer seis funcionários e é um contexto bem diferente. São duas salas comerciais, é um contexto diferente. O orçamento previsto é de R$ 4 milhões, a gente tem que ampliar essa receita. Temos que associar o Bahia no Ministério do Esporte e Comitê Brasileiro de Clubes. O Bahia tem que se aproximar da iniciativa privada para buscar patrocinadores, a gente tem que aumentar essa capacidade da associação para ter um trabalho mais assertivo nos outros esportes. Divido em alto rendimento, oportunidade de mercado e um lado mais de visibilidade, que é o apoio a atletas e competições. O esporte competitivo é um custo alto, necessita de infraestrutura. De maneira adequada, teríamos o Ginásio de Cajazeiras e a Arena Poliesportiva de Lauro de Freitas. Em alguns casos, o piso e as dimensões não são adequadas. Um esporte coletivo vai exigir custo fixo com atletas, comissão técnica, departamento comercial... No NBB, que é o Campeonato Brasileiro de Basquete, para se ter um time competitivo é R$ 2,5 milhões anos. O Flamengo investe de R$ 6 a 8 milhões. A Associação tem R$ 4 milhões de orçamento, não dá para fazer um esporte competitivo no curto prazo. Tem a sinalização da prefeitura de construir uma Arena Esportiva na Boca do Rio. Se tiver, seria interessante o Bahia ter autonomia da gestão do seu conteúdo ou do dia de evento, que aí você começa a ter receitas anexas com bilheteria, exploração de espaço publicitário, de repende com alimentos e bebidas, talvez estacionamento. Então temos que ter discussões equilibradas. 

 

Você viveu embates fortes com a CBF e a FBF. Essas situações lhe deram a fama de "brigão". Acha que brigou com razão? Exagerou?
Eu tinha 33 anos na época, tenho 42. Estou mais experiente, mas tenho a mesma determinação de defender os interesses do Bahia. Se tiver que brigar com A,B e C para defender o interesse do Bahia, não tenha dúvida que Marcelo Sant'Ana vai continuar com o mesmo posicionamento.  A partir do momento que você é o presidente, o torcedor espera que você defenda o clube, mesmo que isso te desgaste. Você tá ali para defender a instituição, não para pipocar. A omissão o torcedor já viu aonde leva o Bahia. Fui presidente do Bahia durante três anos e conheci quatro presidentes da Arena Fonte Nova. Será que a dificuldade era no Bahia ou na própria gestão do equipamento. Esse contrato que a gente brigou, o Bahia na época tinha um faturamento garantido de R$ 10 milhões e no nosso primeiro ano faturamos R$ 12,5 milhões, diminuiu o mínimo garantido, mas faturamos 12 milhões. Esse contrato renegociado permitiu a loja e museu do Bahia, que na época a gente não tinha capacidade financeira de fazer, mas a gestão de Guilherme fez. Trabalhar pelo Bahia às vezes gera desgaste. O Bahia era um clube que não era respeitado no mercado, tinha fama de mal pagador. Vou permitir que a pessoa não respeite o clube? Vou reposicionar e esse reposicionamento deixou muita gente desconfortável. Muita gente que tava na zona de conforto se beneficiava e ai tirou muita gente da zona de conforto. Muita gente não gosta de ver o Bahia protagonista, não. O Bahia é o maior clube da Bahia, mas tem outros clubes que buscam o seu espaço. E quando o Bahia cresce, incomoda. Cada um tem seu objetivo. Se eu voltar a ser presidente, vou respeitar todos os contratos que o Bahia assinou, mas vou defender o interesse do Bahia acima de qualquer coisa.

 

Como valorizar a marca do Bahia e cuidar da sua torcida que é nacional? Dizem até que o Bahia é o mundo.
Eu prefiro que o Bahia seja o mundo se ele ganhar o Mundial de Clubes. Dizer que o Bahia é o mundo na oratória é bonitinho, mas a gente tem um longo caminho a percorrer. Claro que se você botar isso como uma visão, é bacana, mas vamos estruturar, fazer cada coisa em uma área para fazer com que o clube seja nacional, dispute o mundial. Eu vou achar legal. Eu sou torcedor, mas na gestão temos que trabalhar alguns pontos. A questão dos esportes, a questão das embaixadas, preocupação com o plano de sócios, melhora na comunicação e transparência, mostrando o que o Grupo City já cumpriu em contrato, buscar fontes alternativas em receitas, procurar pouco a pouco diversificar as ações do clube para que ele finque, aos poucos, a sua bandeira como clube olímpico e social. Já tivemos grandes baianos no esporte e não conseguiram mudar a cultura. Ricardo, do vôlei de praia, para mim é o maior atleta da história da Bahia. Ele é ouro, prata e bronze em olimpíada. Ricardo nunca treinou em Salvador porque não tem cultura. É por falta de qualidade? Ele treinou na Paraíba e agora treina a equipe do México. Ana Marcela Cunha, Popó... Se eu começar a falar, vai aumentar a lista. Pouco a pouco o Bahia vai apoiar pela força da marca. O torcedor vai exigir a excelência porque o Bahia nasceu para vencer.

 

Como você projeta o futuro da associação?
A gente quer um clube mais forte, já posicionado em duas modalidades esportivas de uma maneira interessante, um clube podendo podendo produzir conteúdos e eventos em Salvador de excelência, valorizando o clube, tendo um plano de sócio estruturado e um clube disputando, no futebol profissional masculino, com capacidade entre os oito e dez do Brasil e no mata mata chegando aonde não chegamos, tentando algo mais. Tinha essa expectativa depois que saí da presidência, mas não vi. Então acho que a gente tem a possibilidade de atingir isso que a gente deseja. A gente tem visto outros clubes, Fortaleza, Athletico, clubes fora do eixo. Os mineiros estão aí, os gaúchos, temos que ser mais competentes e eficientes.

 

Faça as suas considerações finais.
Peço que conheça todos os candidatos, com suas ideias e propostas. Relembre o Bahia que a gente tinha antes da intervenção e antes da democracia. Esse Bahia que ajudamos a transformar, entre erros e acertos, temos as nossas dificuldades, mas fizemos esse clube crescer, tenho certeza que vocês viveram com a gente. Agora é um momento de construção do Bahia olímpico e social e fortalecimento no futebol profissional. A SAF, para ser completa, precisa que o Bahia saiba como participar e saiba se posicionar representando o interesse do torcedor e o contrato que foi assinado. Se você confia na gente, Marcelo Sant'Ana 31, junto com Rogério Gargur, e no Conselho Deliberativo, Revolução Tricolor, número 131. Obrigado, vamos em frente e Bora Bahêa!

 


Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias