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Entrevista

Lenda do MMA, Rodrigo Minotauro fala sobre legado e o papel da Bahia nas lutas

Por Hugo Araújo

Lenda do MMA, Rodrigo Minotauro fala sobre legado e o papel da Bahia nas lutas
Fotos: Iris Samara / Bahia Notícias

A rica lista de lutadores baianos comprova a tradição do estado nas artes marciais. A Boa Terra, com a sua ginga particular, é celeiro de atletas que transformam o ringue em habitat natural e viram referências de superação, disciplina e muita força de vontade.

 

Um dos grandes nomes dessa lista é Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, multicampeão de MMA (sigla em inglês para Artes Marciais Mistas) e mundialmente conhecido como um dos maiores lutadores da história. Nascido em Vitória da Conquista e atual embaixador internacional do UFC (Ultimate Fighting Championship), a principal organização de MMA do mundo, Minotauro, que também se dedica ao ramo de negócios e à ações sociais à frente do Instituto Irmãos Nogueira, está em Salvador para a apresentação do Minotauro Energy Drink, a sua marca de energéticos, já conhecida no Rio de Janeiro e São Paulo e que agora desembarca em Salvador.

 

Figura fundamental na popularização do MMA no Brasil, Rodrigo Minotauro esteve na redação do Bahia Notícias e falou, entre outros assuntos, sobre a força da Bahia nas artes marciais, lembrando do icônico treinador Luiz Dórea, formador de diversos lutadores na lendária Academia Champion. “Os gringos nunca tiveram uma corda do Chiclete para brincar”, comentou aos risos.

 

“A Bahia é um celeiro de atletas. Tem o Popó, o Robson Conceição, o Hebert Conceição, a Amanda Nunes… O porte físico, o atleticismo do baiano é animal. Os gringos nunca tiveram a corda do Chiclete para brincar (risos). O baiano é grande, atleta, se dá bem em todos os esportes. Seja na capoeira, que também é um celeiro, porque é uma luta ágil. Muita gente já praticou capoeira e o boxe está enraizado na Bahia. Luiz Dórea já formou todos os grandes campeões. Pessoas de fora vêm treinar com ele. Já fui para Cuba com Dória pela seleção brasileira em duas oportunidades. Lá, todos os treinadores, gente da França, de Gana… e o Dória era treinador de seis países. Ele dava aula em Cuba, que tem toda uma tradição enorme no boxe”, disse o ex-lutador de 47 anos.

 

Dono de grandes feitos esportivos, como ser o único lutador na história a ganhar os cinturões dos pesados no UFC e no Pride, Minotauro lembrou da luta do soteropolitano Jailton Almeida "Malhadinho" contra o estadunidense Curtis Blaydes, no próximo dia 4 de novembro, pelo UFC São Paulo, e disse que é "como se o Vitória, ou o Bahia, estivesse na final do Campeonato Brasileiro".

 

Mas o legado de Rodrigo Minotauro não se limita apenas aos ringues. Junto com seu irmão gêmeo, o também ex-lutador Antônio Rogério Nogueira, o Minotouro, a dupla está à frente do Instituto Irmãos Nogueira, que já atendeu cerca de 15 mil crianças em mais de quatro estados diferentes em parceria com o projeto Esporte para Além das Fronteiras, que tem a proposta de colocar artes marciais nas escolas públicas. Além disso, há também a Academia Team Nogueira, dona de 13 títulos mundiais e que já formou quase 200 faixas pretas.

 

"Comecei no judô em Vitória da Conquista e foi no boxe onde conheci o Luiz Dórea, um super ídolo, treinador de Popó, Cigano, Anderson Silva... O Dória é o maior caça-talentos do esporte baiano. Tive uma grande carreira, são quatro títulos mundiais, além do UFC e do Pride tem os títulos do World Extreme Fighting (WEF) e do Rings: King of Kings, outros dois grandes eventos. Uma geração de lutadores do MMA geralmente dura seis anos. A gente conseguiu virar duas gerações. A minha carreira foi de 15 anos. Eu, o Anderson, entre outros, fomos até aos 40 em alto nível, entre os primeiros do ranking, a gente conseguiu resistir e é um esporte duro pro nosso corpo. Mas além de fazer isso, eu, o Rogério, deixamos um legado. Colocamos uma academia, a Team Nogueira, que tem 13 títulos mundiais como academia, não só minha, como do Anderson, Junior Cigano, Rafael Feijão, os irmãos Patricio e Patricky Freire… Nós fizemos um time. Botamos um Instituto, o Instituto Irmãos Nogueira, que entrou num projeto, o Esporte para Além das Fronteiras, que coloca as artes marciais nas escolas públicas. Estamos em quatro estados diferentes, atendendo 15 mil crianças. Isso é legado. Formamos vários outros campeões. É algo coletivo, a academia Team Nogueira tem 20 mil alunos. Dos nossos alunos, já são quase 200 faixas pretas, 800 graduados, então a gente conseguiu espalhar, através da arte marcial, muita coisa".

 

Durante a conversa, Minotauro ainda falou sobre a importância de manter uma vida saudável, os projetos que toca após deixar de ser lutador e os momentos mais marcantes da longa e vitoriosa carreira. Confira abaixo a entrevista completa:

 

 

Minotauro, é um prazer te receber na redação do Bahia Notícias. Como está sendo a atual estadia em Salvador?

Nunca perdi as raízes aqui da Bahia e estamos voltando com um produto que é muito legal, muito bom, popular, o energético Minotauro, entre 8 e 10 reais, então, a gente fala com muita gente. E é gostoso. O nome “Minotauro” nasceu na Bahia e a gente fez algo muito bacana no lançamento do energético aqui em Salvador, colocando um octógono no mercado e recebendo os fãs para entrar no ringue comigo, para ter mesmo esse contato com o público baiano. Foi uma volta com o pé direito em um momento tão bom porque no dia 4 de novembro, o UFC vai estar em São Paulo e o atleta baiano, Jailton Malhadinho, vai estar lutando no 'main event' (a luta principal da noite). Comparando com o futebol, é como se o Vitória, ou o Bahia, estivesse na final do Campeonato Brasileiro.

 

Como estão os projetos depois de ter pendurado as luvas?

Eu sou embaixador do UFC. São 108 atletas brasileiros contratados, um recorde dos 590 em toda a organização. Eu faço parte da comunicação desses atletas com a organização. Indico talentos, eu sou olheiro também. Fazemos eventos, represento a marca UFC. Trabalho no escritório de segunda a sexta, sentado na cadeira. Hoje trabalho mais do que trabalhava antes.

 

E a rotina de treinos? Qual a importância de manter uma vida ativa e saudável para o público geral, não só pros atletas?

Tem muito ex-atleta que para de treinar totalmente, que não está ganhando dinheiro, não está competindo e fala "vou treinar para quê?". O treino é estilo de vida. Eu sempre fui da cultura de acordar de manhã, fazer uma corrida. Minha religião é fazer uma atividade física pelo menos uma hora por dia. Quando eu vivia disso, eu treinava duas vezes por dia, uma vez de manhã, uma vez à noite. A galera que não tem tempo para treinar, faz uma caminhada, uma respiração. O que é uma corrida? Você precisa apenas calçar um tênis e ir para rua procurar um lugar para correr. Pelo menos, tenha um hobby. Quem puder fazer uma capoeira, pegar uma prancha de surfe, um boxe três vezes por semana... Atividade física é mais importante que só o físico, é nosso mental.

 

Qual a sua relação com o futebol? Sente simpatia por algum time?

Eu simpatizo com o Vasco, gosto do Flamengo, São Paulo, Corinthians... Quando o Flamengo ganha não sou aquele vascaíno que torço contra. Flamengo ganhando eu acho muito maneiro porque é uma torcida maravilhosa. Eu morei no Rio e tenho vários amigos flamenguistas. Torço para qualquer time da Bahia. Da Bahia, gosto do Vitória, mas eu sou um cara que sou baiano. Eu vou torcer pela Bahia.

 

Como você lida com o lado mais midiático? Hoje em dia, inclusive, estão acontecendo várias lutas de ex-lutadores contra influencers. Como você enxerga esse fenômeno?

Eu acho muito legal. O atleta em si é um produto. Ele se vende o tempo inteiro. Eu dependo de quantas pessoas me assistem. O fã é um consumidor da sua imagem. É muito legal esse negócio que os influencers estão entrando. Esse evento chamado FMS, o Fight Music Show, é de um primo meu, o "Mama". Já está na terceira edição, o último foi no estádio do Athletico-PR, com cerca de 12 mil pessoas. O Popó tinha 500 mil seguidores, lutou com o Whinderson foi pra 2,5 milhões.

 

Já pensou em participar do Fight Music Show?

Eu, por ser embaixador do UFC, tenho um contrato. Eu sou diretor do UFC hoje em dia. E sou um 'senhor', né? (Risos). Eu operei o quadril, tive um acidente na minha visão, não consigo mais desempenhar em alto rendimento. Não penso em lutar mais, mas estou sempre no Instagram, treinando, ensinando golpes.

 

Quais momentos da sua carreira você considera os mais importantes?

São várias lutas. Uma com o Mirko Cro Cop (em 2003), que a gente conseguiu levar a Glória Maria para assistir a luta. Foi um marco pra gente, um esporte que ninguém via aqui e o Fantástico fazer duas matérias de 16 minutos. Foi o ‘boom’ do esporte. Não tinha matéria no jornal, nada. É uma luta que tenho um carinho incrível. Outra foi com o Bob Sapp (em 2002), 'monstrão', 171kg, estádio para 108 mil pessoas, duas TVs televisionando o mesmo evento. E quando o UFC veio para o Brasil, em 2011, na luta contra o Brendan Schaub, evento que pela primeira vez teve transmissão na TV aberta. São três lutas que eu tenho um carinho.

 

Você foi campeão pelo Pride e pelo UFC. Quais as diferenças de cada evento?

O esporte mudou bastante. No Pride era um show de arenas abertas. E o UFC é um show para televisão. O ‘canhão’ do UFC vai para para 1.2 bilhões de lares. O UFC é maior na TV e por isso você tem que botar mais regras. O Pride era mais sem regra. O UFC o tempo é menor, a comissão de exames de cabeça, de braço, o cara te olha inteiro. O esporte tem mais cuidado com o atleta e eu fiz parte dessa transição.

 

Conta um pouco mais sobre os objetivos do Instituto Irmãos Nogueira.

Nos Emirados Árabes, o jiu-jitsu é matéria obrigatória. Tem 850 faixas pretas brasileiras dando aula lá. Se você passar em árabe e perder em jiu-jitsu, você perde de ano. Ai você fala 'pra que tanta gente lutando?' São valores. O moleque tem uma mentalidade melhor, uma autoestima melhor, ele é mais controlado quando ele treina. Cria-se um livro com a metodologia e a gente tem um projeto muito parecido: são 55 minutos de aula e 5 minutos chamado de momento do mestre. O mestre vai falar todo dia sobre um valor. Um garoto desse escutar sobre 'empatia', ele vai conquistando valores através do esporte. Educação através das artes marciais. A gente está em cinco cidades e quer entrar em mais cidades. Itabuna, Itapetinga, Itambé, aquela região do sul. Estamos mostrando o projeto e nossa intenção é formar cidadãos.

 

E pro futuro, o que podemos esperar de Rodrigo Minotauro? 

Eu moro em São Paulo e estou por aqui sempre. A nossa ideia é fazer pré-projetos esportivos aqui em Salvador através da Minotauro Energy Drink. Com jiu-tistu, capoeira, artes marciais. Então, a gente está em Salvador sempre. Trazendo essa comunidade da luta para conhecer nosso projeto. Nosso projeto é um energético, mas é um estilo de vida, que é academia, malhação. Queremos colocar as lutas nas escolas. Salvador é minha terra, oxe (risos).