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Entrevista

'Injustiçado da bola', goleiro do Flu de Feira relembra passagem frustrada pelo Bahia

Por Matheus Caldas

'Injustiçado da bola', goleiro do Flu de Feira relembra passagem frustrada pelo Bahia
Jair foi o goleiro menos vazado do Baiano 2016 | Foto: Matheus Caldas / BN
Sair de um time do interior da Bahia para um grande clube do futebol brasileiro é muito difícil. Ser campeão baiano, jogando numa equipe do interior, e dentro do Barradão, é ainda mais complicado. Em 2011, Jair conseguiu o feito jogando pelo Bahia de Feira. Contra o Vitória, o arqueiro levou o título baiano e integrou o elenco do terceiro clube fora de Salvador a levantar o caneco baiano – os outros foram Fluminense de Feira, por duas vezes, e Colo Colo. Após o feito, o jogador se transferiu para o Esporte Clube Bahia. Sem muitas chances e resistência dos treinadores, Jair migrou pelo futebol nacional. “Teve a questão da preferência do treinador [Joel Santana e Renê Simões treinaram o time na Série A]. Às vezes o treinador olha pra você, sem nunca ter trabalhado, e não gosta. E aí? Tem que ficar calado e trabalhar. O importante é que trabalhei e não faltei treino”, disse, em entrevista ao Bahia Notícias. Após passagem frustrada pelo Joinville, o camisa 1 rodou por Águia de Marabá-PA, Anápolis-GO e Jacuipense. Cinco anos depois, sua redenção veio no Fluminense de Feira. Aos 36 anos, conquistou o título da Copa Governador 2015, levou o prêmio de goleiro menos vazado do Baianão e bateu na trave no acesso à Série C do Campeonato Brasileiro. Aliás, a eliminação para o Volta Redonda-RJ ainda não foi superada. “Ainda estou chateado, não conseguimos digerir, mas é isso mesmo”, lamentou. Dentre outros assuntos, Jair criticou a atual situação do futebol baiano e garantiu a permanência no Flu de Feira.
 
Após a eliminação da Série D, qual o balanço que você faz da temporada do Flu de Feira?
É gratificante. Conseguimos ser campeões da Copa Governador, ficamos na quarta colocação do baiano. Na Série D, fomos de franco tirador só para disputar e fomos conseguindo as classificações. Infelizmente, não foi da vontade de Deus conseguir o acesso, mas saímos felizes pela campanha e pela amizade verdadeira que cada atleta tem. Trabalhar com Fausto, Edson, Granja, Deca e os demais atletas me dá orgulho. Para mim é um grupo de vencedores, porque mostrou que são jogadores de caráter e que vestem verdadeiramente a camisa do clube. O que mais vale mais é essa amizade que conseguimos.
 
Você esperava que o clube tivesse um ressurgimento tão rápido? Da Série B do Campeonato Baiano a um quase acesso à Série C.
Eu achava, sim, desde quando o grupo foi formado no começo. A diretoria contratou bem e com consciência. Nossa temporada foi maravilhosa. Nosso poder de reação... Nossa classificação contra o Ceilândia. Contra o Volta Redonda perdemos pra nós mesmos. Com todo respeito, eles não mostraram a qualidade suficiente. Nós vacilamos, essa é a realidade. O futebol é isso. Não convertemos em gol. Agora é trabalhar. Ainda estou chateado, não conseguimos digerir, mas é isso mesmo. Com o tempo vai digerindo até chegar à próxima competição e trabalhar ao máximo.

Sua permanência no Fluminense de Feira já está concretizada?
Eu tenho contrato. Minha permanência está garantida, sim. Estou trabalhando agora para ir bem na Copa Governador. Não conseguimos o acesso à Série C, mas nosso agora objetivo é ser campeão [da Copa Governador] para irmos para a Copa do Brasil. 
 
Foto: Divulgação / Fluminense de Feira
 
O Fluminense de Feira vai ter gás para brigar pelo bicampeonato da Copa Governador?
É uma coisa que não existe [o novo regulamento]. Tem gente que já vem com elenco montado. Só podem 10 jogadores acima de 23 anos. É uma injustiça. Está proibindo pais de família de trabalhar. Muitos jogadores vão ficar desempregados e vai nos prejudicar, porque estávamos com elenco montado. O futebol da Bahia sofre com isso. Quem sofre com isso somos nós. Os jogadores da Bahia tem que se unir, essa é a realidade. Temos o sindicato aí para isso. Temos que nos unir. Só estão fazendo futebol para jogador de 22 anos. Daqui a um dia o Baiano acaba. E aí, como será? Mas é isso. Agora nos resta trabalhar e treinar. Temos que corrigir o que erramos na Série D.
 
Você é um goleiro experiente que passou por diversos clubes baianos. Aos 36 anos, se enxerga jogando em alto nível por muito mais tempo?
Ainda continuarei jogando em alto nível. Sou um cara que me cuido e me cobro muito. Sou chato com isso, nos treinamentos e nos jogos, porque é o que sei fazer. É a oportunidade que Deus está me dando, e tenho que aproveitar muito. Após a eliminação [da Série D], passou muita coisa pela minha cabeça. Mas é isso. Não me vejo parando agora, pois tenho condições de jogar em times de Série A e Série B. Os torcedores me dizem: ‘Você é um injustiçado da bola’. Não desmerecendo o Flu de Feira, mas existem goleiros que não são melhores do que eu em divisões superiores.
 
Dentre os clubes baianos pelos quais você jogou está o Bahia. Lá você não teve muitas chances. O que houve? Se sentiu injustiçado?
Com certeza. Mas faz parte. Não tive oportunidade. Mas não posso ficar lamentando. Tenho que dar a volta por cima e esperar uma nova oportunidade. Não posso chorar pelo leite derramado. Já passou há muito tempo isso. Teve a questão da preferência do treinador. Às vezes o treinador olha pra você, sem nunca ter trabalhado, e não gosta. E aí? Tem que ficar calado e trabalhar. O importante é que trabalhei e não faltei treino, respeitando quem estava jogando. Mas confesso que foi difícil para mim, e que dá uma desmotivada. Eu vinha de um título baiano. Eu fui para brigar para jogar, não pra dar satisfação à imprensa. Fomos eu, João Neto e Diones. O João Neto sofreu com isso também. O Diones conseguiu desempenhar o trabalho. Os três jogariam se botassem. Foi questão de oportunidade e preferência mesmo. Mas eu realizei um sonho que foi vestir a camisa do Bahia, que é um time que muitos familiares meus torcem. Mas Deus pode abrir outas portas. Tenho que trabalhar.

Foto: Divulgação / EC Bahia
 
Você considera o título baiano pelo Bahia de Feira foi o maior feito de sua carreira?
Um feito inédito. Um time do interior ganhar dentro do Barradão assim. É algo que entrou para a história do futebol baiano. Mas não me apego a isso. Tenho saudade do grupo, da amizade, do treinador Arnaldo Lira, do treinador de goleiros Ferreira, com quem aprendi muito. Evoluí demais com ele. Aprendi muito com ele e com aquele grupo. Você vai ser lembrado por muitos e muitos anos. Temos aqui o Edson, o João Neto e o Paulo Paraíba que foram campeões comigo. O bom do futebol é isso. Espero terminar o ano com mais um, que é a Copa Governador.

Você atuou em times como Bahia e Joinville. Qual a diferença de estrutura para times menores do interior baiano, que sequer tem calendário?
Hoje o Bahia tem a estrutura 10 vezes melhor. Principalmente por conta da administração de Marcelo [Sant’Ana]. No Joinville, é outra cultura. Só que eu tive um problema lá. Fiquei quatro meses parado por conta de uma lesão e só voltei no final da temporada. Fiz apenas dois jogos. É uma cidade aconchegante, uma torcida apaixonada e tem um estádio próprio. Torço para o Bahia subir e o Vitória permanecer, para o futebol baiano ficar mais forte à nível nacional. Para jogar nesses times, o jogador tem que ter empresário ou o treinador indicar.  Se não for isso, ou você é muito diferenciado, ou vai ficar jogando em times de Série D e C até chegar num time de B. Quem comanda as contratações são os empresários. A gente convive na bola e vê. Temos o Edson que foi o melhor lateral-direito do Baiano e ficou no Fluminense, o próprio Alysson [que fez a dupla do Baiano com Ramon, do Vitória]. Não houve proposta. Por aí você tira as conclusões de como é o futebol hoje. O jogador tem que ter empresário hoje para te colocar num clube. Não tem bicho de sete cabeças. 
 

Foto: Jornal do Povo