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Entrevista

Destaque no mundial de Moto Aquática, Bruno Jacob celebra profissionalização no esporte

Por Edimário Duplat

Destaque no mundial de Moto Aquática, Bruno Jacob celebra profissionalização no esporte
Foto: Luana Ribeiro/Bahia Notícias
Atual quarto colocado do Circuito Mundial de Moto Aquática, o piloto baiano Bruno Jacob segue como um dos maiores nomes do país em um dos esportes que mais cresce a nível mundial. Em entrevista ao Bahia Notícias, o atleta falou um pouco da sua história na modalidade freeride e explicou como funciona a competição, além dos seus projetos e o recente cenário da categoria no país. "No Brasil, o uso do equipamento é muito visto pra lazer, e existem muito campeonatos aqui. Mas existe pouca divulgação. É um esporte que tem mais de 20 anos aqui, mas as pessoas precisam saber, pois assim muitos vão ter interesse em utilizar para competir, afirmou.

Como começou a sua história no moto aquática? Fale de seu início no esporte e todo o processo que resultou na sua profissionalização e participação nos mundiais.
Eu comecei com incentivo de meu pai. Quando era mais novo eu gostava de esportes a motor assim como ele e iniciei mesmo a minha vida esportiva no Kart aos seis anos. Mas não fui muito feliz pois sofri muitos acidentes, por ser muito novo, e já queria correr algumas categorias acima. Em 1994, ele foi um dos primeiros a trazer o Jet-Ski a Bahia e me interessei muito. Desde 99 existe o campeonato estadual  na Bahia, um dos mais tradicionais no país, e eu comecei a me interessar mais pela categoria de manobras. Iniciei aos 14 anos com equipamentos emprestados de amigos e vi que tinha dom no esporte. Mesmo utilizando um material mais em conta e barato, consegui logo depois me classificar para o Campeonato Brasileiro e depois de dois anos do meu início eu me tornei campeão nacional, sendo o mais jovem a conquistar o título na categoria amador. Daí em diante fui evoluindo e em 2007 eu participei da tour europeia junto com a delegação brasileira, mesmo sem experiência. Isso abriu minhas portas para me profissionalizar e há cinco anos já disputo o Circuito Mundial Profissional, melhorando a cada ano.

E de lá para cá foram anos ininterruptos no esporte ou existiu algum intervalo na prática?
Tiveram dois anos que foram muito difíceis para mim, pois tinha que decidir se iria continuar. Estava terminando o segundo grau e resolvi deixar um pouco de lado, mas depois retornei. Tanto que consegui me formar em engenharia e meu projeto de conclusão de curso foi à construção de um casco sustentável para o Jet-Ski, o que teve a ver com o esporte. Então acabei conciliando a minha formação profissional com a prática do esporte.

Você pratica a modalidade Freeride. Quais são os estilos que compõem a modalidade da Moto Aquática?
São três na verdade; a de corrida, a freestyle e a freeride também chamada motosurfe, que hoje é a modalidade que mais cresce dentro do esporte.

E como ela funciona?
Para ficar mais fácil de entender, funciona como se fosse o surfe. Existe uma bancada de jurados, com uma classificatória, oitavas de final e confrontos de dois homens na água, um enfrentando o outro. Além disso, funciona como um Circuito e esse ano tivemos cinco etapas: Portugal, França, Inglaterra, Austrália e Estados Unidos. Mas a tendência é que em 2016 é termos novos países pois é um dos esportes aquáticos que mais cresce.


Foto: Reprodução/Facebook

Hoje você tem conseguido resultados bastante expressivos no Circuito Mundial. Como tem sido a disputa da competição?
Bem, aqui no Brasil enfrentamos algumas dificuldades principalmente por termos poucos fabricantes no esporte. A grande maioria dos equipamentos é importados e dificulta muito para que possamos praticar. Em compensação, outros países investem muito mais do que nós, então para mim, que desde que iniciei estive entre os top 10, sempre foi uma vitória competir. Mas, cada vez mais, tenho me especializado e tenho passado muito tempo fora treinando, principalmente no estrangeiro. Hoje acredito que estou no auge com alguns pódios esse ano, terminei em quarto lugar na temporada, e fui o único do Brasil a finalizar o circuito. Acho que como evolui nas últimas etapas em relação aos outros três primeiros do ranking, a tendência é que ano que vem eu melhore cada vez mais.

Existem outros brasileiros na competição?
Tem o Tiago, que conseguiu fazer as três primeiras etapas e as duas últimas não participou. Na quarta por conta da classificação e na quinta porque ele não tinha mais chances e preferiu não competir. Principalmente porque funciona igual aos esportes a motor e além da equipe que te contrata você também precisa de apoio dos patrocinadores. Não é mais como antigamente que você conseguia correr por conta de uma equipe. Hoje em dia, muita gente tem que levar a grana para poder correr.

E quantas pessoas fazem parte das equipes de um piloto de moto aquática?
As equipes tem parte de fisioterapia, alimentação, mecânico auxiliar... Uma equipe básica é formada por umas cinco pessoas. Algumas até tem um time de marketing, mas isso não é necessário para correr.

Existe uma padronização nas motos que competem no Circuito?
Nesse estilo não. E isso é legal porque se torna um desafio de equipes também, onde elas sempre precisam estar inovando nos equipamentos. Além disso, funciona como uma vitrine para a venda e com o crescimento do esporte a indústria vai ficar cada vez mais forte para finalmente poder bancar os atletas como um retorno disso.


Foto: Luana Ribeiro/Bahia Notícias

Em relação a sua rotina de treinos? Além das atividades que você faz na praia, existe algo relacionado aos exercícios?
O que mudei de um ano e meio para cá foi perceber o treinamento físico, com alimentação balanceada para o esporte. Porque mesmo fazendo aquele bê-á-bá normal, não estava fazendo efeito necessário. E com a evolução dos estudos, hoje você consegue fazer exercícios que simulam o que você faz nas aguas. Então, com isso, você não acaba sentindo com a musculatura como acontece na prática. Nós sofremos muito com a lombar por conta dos impactos, e dessa maneira podemos fortalecer o nosso corpo. Uma alimentação condicionada faz com que nosso desgaste não seja tão intenso, pois às vezes praticamos muito e sofremos um cansaço físico também. Tudo isso causa uma diferença muito grande.

E existem muitos ritmos de contusão na prática do Freeride?
Muitos, por que chegamos a voar até 10 metros de altura, por exemplo, e mesmo caindo na água o impacto é muito grande. Tanto que nesse ano cinco grandes atletas desse ano se contundiram feio. No meu caso eu arrisco pouco e tudo que faço é bem pensado e calculado, mas tem muitos competidores que arriscam muito e acabaram se machucando bastante. É como um motocross, mas na água.

A realização das etapas acontece em que tipo de condições da água?
Geralmente as etapas acontecem nas cidades que também ocorrem as etapas de Surfe também. São praias que tem ondas muito parecidas com as que são precisas para a prática desse esporte.

E no Brasil já existiram etapas do Circuito Mundial?
O Brasil já participou de muitas etapas, na época que Santa Catarina era uma potência no Surfe. Tivemos muito em Ibituba, Itajaí e Florianópolis também. Mas de um tempo pra cá, por questão dos problemas financeiros para trazer um evento desse porte por aqui, não tem acontecido no Brasil. Mas existe um interesse da federação internacional em retornar ao país, principalmente porque a etapa daqui era uma das melhores. Acredito que num futuro próximo pode retornar. E eu particularmente estou junto com o presidente da federação, que me deu essa missão de tentar trazer para cá o evento, principalmente aqui para o estado. Tem prefeituras interessadas e a expectativa é que em 2016 aconteça por aqui.

Você comentou que tem treinado bastante fora do país. Mas quando está aqui, onde você pratica a moto aquática?
Eu treino em Barra do Jacuípe. A gente tem uma marina lá, onde tenho uma escola de Jet-Ski e treino é feito por lá, onde nasceu o esporte no estado. Temos um rio e um mar, o que forma uma barra muito violenta com pedras. Com isso, você tem um espaço curto e precisa ser rápido, o que acaba me dando vantagem nas competições.


Bruno Jacob no Mundial de Freeride | Foto: Divulgação

Falando na Bahia, como está o cenário da modalidade hoje no estado?
Tem muita gente praticando, tanto que hoje também temos um circuito baiano que vai acontecer agora. Teremos etapa dia 22 de novembro e outra dia 6 de dezembro. A nível nacional, o Brasil hoje é o segundo ou terceiro maior consumidor de moto aquática no mundo, algo que pouca gente sabe. Entretanto, no esporte ainda é pouco usado.

E como fazer para que esse esporte se torne popular para os usuários da moto aquática? 
No Brasil, o uso do equipamento é muito visto pra lazer, e existem muito campeonatos aqui. Mas existe pouca divulgação. É um esporte que tem mais de 20 anos aqui, mas as pessoas precisam saber, pois assim muitos vão ter interesse em utilizar para competir. Acho que a divulgação ajuda muito. Eu mesmo recebo muitas mensagens e sinto que ajudo a divulgar essa modalidade. Tanto que na época que criei o casco sustentável eu tinha esse pensamento de baratear o produto para que mais pessoas pudessem usar.

Por falar do casco, conte mais desse projeto.
A moto aquática tem o casco e a parte mecânica. Mesmo que não ainda não tenho sido feito a parte mecânica aqui, criamos o casco com material reaproveitado, por isso que deram o nome sustentável. Foram 16 meses no processo, e como me formei em engenharia de produção, eu utilizei esse projeto na minha conclusão de curso. No final das contas deu certo, tanto que conseguimos ajudar muita gente que queria praticar o esporte de forma mais barata com algo nacional. Além disso, era mais fácil de praticar pois tem mais estabilidade e mais curto, com uma aerodinâmica mais propícia também. Infelizmente não seguimos com continuidade por que não tinha como conciliar tudo. Mas é uma ideia futura e existem outras pessoas fazendo isso aqui. Se alguma empresa pensar em fazer a parte mecânica, podemos ter a primeira moto aquática brasileira.

Hoje você faz parte do faz atleta. Como iniciou esse contato com o programa e como acontece à ajuda para os eventos? 
Estou nele a cinco anos e tive contato através dos eventos patrocinados. Como é um esporte não olímpico os critérios são até mais difíceis: tem que estar bem ranqueado no circuito mundial e cumprir determinadas normas. Além disso, tem que ter uma empresa para te patrocinar. Hoje sou um dos atletas mais influentes do estado e sem eles eu acho que seria inviável competir. Principalmente nos lugares que vamos com moeda em dólar e tudo mais. Mas a ideia é cada vez mais me profissionalizar para tentar conciliar tudo com as empresas privadas e conseguir algo mais próprio.

E para 2016, quais são os planos para a próxima temporada? 
Retorno aos treinamentos agora em Novembro e saberei do calendário que será formado para 2016. Iremos fazer a preparação da mesma forma, com mesma equipe que em 2015 já que deu certo. Agora é esperar a nova temporada, os países novos que vão participar e a dificuldade que será maior. Mas espero conseguir trazer esse título para o Brasil.