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Entrevista

"Descaso da Via Bahia virou verdadeiro circo sem lona que enfraquece essa Casa", critica Eures Ribeiro

Por Carine Andrade

"Descaso da Via Bahia virou verdadeiro circo sem lona que enfraquece essa Casa", critica Eures Ribeiro
Foto: Carine Andrade / Bahia Notícias

Deputado estadual mais votado na região oeste, com mais de 70 mil votos, Eures Ribeiro (PSD) é um homem que ascendeu na política. Começou como vereador de Bom Jesus da Lapa, foi eleito deputado estadual (2011-2015), tendo renunciado em dezembro de 2012 para assumir o primeiro mandato de prefeito; também foi presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), em 2017.

 

Ao Bahia Notícias, Eures creditou às vitórias consecutivas nas urnas a sua simplicidade. “Eu fui criado na roça, carregava lata d’água na cabeça e olha onde eu cheguei? Eu devo tudo o que conquistei a Deus, ao povo e a espiritualidade”, refletiu, com olhar emocionado. À reportagem, o parlamentar falou de tudo um pouco: articulações políticas visando às eleições de 2024, CPI da Via Bahia, impactos da queda na receita do Fundo de Participação dos Municípios, PEC da Reeleição para presidente da Assembleia Legislativa, entre outros assuntos.

 

Na entrevista, Eures Ribeiro também afastou a possibilidade de concorrer à prefeitura de Bom Jesus da Lapa nas eleições do ano que vem, mas confidenciou a saudade que sente da cidade em que nasceu. “Às pessoas chegam ao poder e mudam o seu comportamento. Eu acho que o que me faz ter essa força no oeste é porque eu sou de tomar cachaça mais o povo, eu sou de comer feijão no meio do povo. Eu não tenho negócio de frescura, de nariz empinado. Depois da eleição, eu continuo a mesma pessoa, minha porta é aberta, as pessoas almoçam comigo, as pessoas tomam café comigo na mesma mesa que eu sento. Eu sou uma pessoa que veio do povo e continua sendo do povo. O grande problema das pessoas que se dizem do povo é que elas só são do povo na eleição. Depois da eleição, fecham a porta”, criticou. Confira: 

 

O senhor é um dos deputados que defende a instalação da CPI da Via Bahia para que a Assembleia Legislativa apure os problemas decorrentes do serviço prestado pela concessionária. Por que o senhor está encampando essa luta? 

Essa questão da Via Bahia vem se arrastando ao longo de todo ano de 2023. Primeiro existia uma possibilidade que a Comissão de Infraestrutura votou para que os deputados fossem fazer uma visita até o local onde a Via Bahia exerce o seu papel na estrada, mas eles conseguiram na justiça uma liminar nos impedindo. Veja que absurdo: uma liminar para impedir que os representantes do povo da Bahia tivessem acesso a um espaço público. Eu acho uma aberração, e isso é o povo que paga. Nós temos o papel de exercer a fiscalização e fomos impedidos por uma ordem judicial, que eu acho absurda. Para mim isso mostra que a Via Bahia não quer diálogo com ninguém, que quer usar força e o poder que tem, do dinheiro, para poder continuar prestando um péssimo serviço ao povo da Bahia sem ser investigada. Isso é uma desmoralização para esta Casa, isso nunca aconteceu na história da Bahia uma situação dessa contra o Parlamento. Isso é uma vergonha! O segundo absurdo foi marcar para vir na Comissão e nem aqui aparecer. O descaso da Via Bahia virou um verdadeiro circo sem lona que enfraquece essa Casa. 

 

[Na última semana, o presidente da Via Bahia, José Bartolomeu, faltou a mais uma convocação da AL-BA e os deputados protocolaram um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), cuja expectativa para instalação é em fevereiro de 2024, no retorno das atividades do legislativo. Confira a matéria aqui].

 

Diante deste cenário em que a Via Bahia está “ganhando”, digamos assim, já que a concessionária não foi ainda efetivamente penalizada, o senhor acha que essa CPI corre o risco de acabar em pizza?

Eu acho que não, porque é a vontade de todos os deputados daqui. Todos os deputados que eu conversei, os 63 deputados, querem a CPI. Essa CPI no início do segundo semestre, logo em agosto, ela conseguiu muitas assinaturas, foram mais de 40, foi quase unânime as assinaturas aqui. E com essas ofensas e com esses atos de ofensa ao Parlamento, aí a adesão aumentou mais ainda. Então, hoje, é a nossa vontade e praticamente todos os deputados desta Casa querem criar a CPI. Todo mundo está gritando nos corredores pela CPI.

 

O senhor apresentou um Projeto de Lei propondo a gratuidade do pedágio para pessoas com mais de 60 anos, que acaba tendo relação com a concessionária também, pois ela opera nas BRs 324 e 116. Está em vias de ser votado?

Eu acho importantíssimo esse projeto porque os idosos têm que ser bem tratados. As pessoas idosas têm deficiência financeira porque, a maioridade, precisa comprar muitos medicamentos, têm as doenças, têm netos para poder ajudar, é tanto problema… Se você  facilitar já liberando para eles o pedágio seria uma grande avanço para Bahia. É apenas para os idosos, desde que ele esteja dirigindo o veículo. Então, não vai ter como ninguém burlar, desde que a carteira de habilitação esteja no nome dele e ele seja o condutor do veículo. Esse é um projeto que tem que ser aprovado nesta Casa, eu vou lutar muito no ano que vem para que ele seja aprovado e os idosos tenham esse direito. 

 

Existe uma insatisfação dos deputados quanto a demora na votação dos projetos de autoria própria, inclusive, alguns reclamam que há bastante tempo só são votados projetos do Executivo. O senhor acha que, de fato, esse é um ponto que deixa a desejar?

Eu já vi pior. No início do ano, eu estava frustrado com essa questão, mas, ultimamente, já vi votar muitos projetos de matérias de interesse dos deputados aqui na Casa. Deu uma melhorada significativa isso! Mas se você me perguntasse há 8 meses atrás, no início do mandato, eu ia dizer lagarto e lagartixa aqui. Mas, tem uma melhorada circunstancial essa questão, não é ainda o desejo que nós queremos, mas já caminhou muito porque já se aprovou muitos projetos de interesse dos deputados. Foi agora, recentemente, que se disparou isso, mas nós queremos que isso continue. Se continuar nessa ‘pegada’ desses últimos três meses, nós vamos ter um avanço significativo de aprovação de matérias de interesse dos parlamentares. Não está errado a crítica dos nossos colegas da oposição quando eles dizem que só projetos do governo têm sido votados. Nós temos que votar, sim, os projetos do Governo do Estado, mas também temos que votar os projetos dos deputados. Eu já vejo sinalização nessa direção, a votação aqui na Casa se dá muito pela questão do entendimento dos líderes das bancadas. Então, a gente não tem que culpar ninguém, tem que culpar o entendimento, se houver um entendimento, amadurecimento tanto do líder da situação como da oposição, a gente deslancha para aprovar muito mais. A deficiência é nossa, do próprio Parlamento.

 

Agora vamos falar um pouco sobre o FPM (Fundo de Participação dos Municípios). O senhor já foi prefeito, já foi presidente da UPB (União dos Municípios da Bahia) e tem larga experiência no assunto, então todo ano os prefeitos vão para Brasília se manifestar contra a queda na arrecadação. Essa semana, o presidente Lula vetou a desoneração da folha de pagamento de 17 setores. O senhor acha que isso vai dificultar, ainda mais, o equilíbrio nas contas das prefeituras?

Com certeza. A situação dos municípios é a pior possível. Os municípios da Bahia e do Brasil vivem o seu pior momento. Além da baixa arrecadação, também a queda do FPM que foi muito grande, principalmente, nos pequenos municípios. E no caso da Bahia, nós somos formados, 80% dos nossos municípios são pequenos e não têm receita própria, então eles sobrevivem apenas do FPM. Tem município que não produz nada, então você vai gerar desemprego porque as prefeituras vão ter que desempregar muita gente, você vai tirar serviços básicos como saúde da população. É uma calamidade geral! Eu acredito que possa haver a sensatez ainda do Governo Federal. Se não tiver, é preciso que o Parlamento derrube esse veto [da desoneração da folha de pagamento] em favor dos municípios. Desonerar as folhas das prefeituras vai permitir recuperar a capacidade das prefeituras de poder prestar serviços básicos à população em áreas como saúde, educação e ação social. Então, eu sou a favor da derrubada do veto e creio que os deputados da Bahia, também os deputados federais, não posso falar por eles porque eu não sou deputado federal, mas creio que eles vão tomar providências de derrubar o veto em favor do povo porque é o povo que está lá na ponta que está sofrendo. 

 

O senhor foi prefeito de Bom Jesus da Lapa e o turismo religioso lá é muito forte, mas, ao mesmo tempo, ele atrai muitas pessoas de outros estados, talvez até mais do que os próprios baianos. Como o senhor avalia que isso pode ser potencializado? 

Bom Jesus da Lapa, hoje, é a terceira maior romaria do Brasil. Nós recebemos 1,5 milhão de turistas por ano, é muita gente! O que falta muito é infraestrutura, o Governo do Estado no governo Rui Costa, e Jerônimo [Rodrigues] complementou, fez um grande aeroporto. O grande problema de Bom Jesus da Lapa é a distância. Nós estamos a 800 km da capital, então imagina, a distância é que enfraquece qualquer coisa. Então esse aeroporto [Eva Ribeiro, em homenagem a mãe do deputado] vai viabilizar uma ponte aérea que vai permitir o aumento gradativo desse turismo. Imagina você viajar três dias para chegar no lugar, ninguém mais quer com a modernidade hoje, ninguém mais quer. O que nós estamos aguardando ainda é a companhia aérea que ficou de viabilizar os voos, quando houver a oferta de voos nós vamos dar um salto gigantesco nisso. Estão sendo negociados, inicialmente, voos para a capital. Se você tem voos para Salvador, você tem para o mundo inteiro.

 

Vamos falar um pouco sobre a PEC da Reeleição que tem o senhor como um dos signatários. A PEC favorece o presidente da AL-BA, Adolfo Menezes, que é do PSD, mas a legenda também tem a sua colega Ivana Bastos como candidata. O senhor está em paz com a sua escolha ou ela gerou algum constrangimento, uma vez que Ivana é líder do partido na Assembleia?

Eu estou em paz. Eu acho que quem está no cargo tem prioridade de continuar. Óbvio que eu respeito o nome de Ivana, acho um nome bacana para disputar pelo nosso partido, mas eu acho que o nome de Adolfo está na frente. Se a legislação vier a permitir e houver as condições legais para ele concorrer, ele tem o meu apoio. É um grande presidente, merece continuar, teria meu apoio. Se a PEC for votada, eu voto a favor dele. Assinei e voto a favor. Eu acho que Adolfo tem todas as prerrogativas para continuar à frente da Assembleia Legislativa porque é um grande presidente; e se a lei assim o permitir, ele tem o direito, ele seria o candidato do nosso partido. O fato de ter sido assinado não significa que ele vai se reeleger, mas nós temos que dar a ele as condições, sim. Como é que o presidente está no cargo e não tem a viabilidade de continuar? Então eu assinei, sim. Eu apoio a PEC porque acho favorável, então a justiça é que vai entender se tem razão ou se não tem. Então, não teve nenhuma briga [com Ivana Bastos], isso é natural do Parlamento, todos têm legitimidade de colocar seus nomes e todos também têm legitimidade de votar em quem quiser, afinal nós temos satisfação a dar ao povo que me colocou aqui e me elegeu, e o voto é individual. Eu assinei a PEC porque eu acho que, no momento, Adolfo é a pessoa que reúne as qualificações para continuar à frente da Assembleia.

 

Sobre a região oeste, o senhor tem um projeto ambicioso de eleger, pelo menos, dez prefeitos do PSD na sua região. Quais são esses municípios e como estão essas articulações?

Todos estão começando a se organizar para eleição de 2024 e o PSD, óbvio, que também tem que se organizar. Lá no oeste, eu fui o deputado mais bem votado daquela região, com mais de 70 mil votos. Então, eu digo a você que a minha responsabilidade como líder e as urnas me constituiu como deputado mais bem votado do oeste nesta eleição, tanto da situação, como da oposição, requer eu me posicionar nos municípios, liderar o processo, já que eu tive a escolha do povo e o povo me deu a votação e me constituiu como líder. Então, não existe política que você fique em cima do muro. Eu tenho que sair de cima do muro e me posicionar e, óbvio, que eu vou me posicionar em favor do meu partido. Onde o meu partido puder vencer as eleições, nós vamos lançar candidaturas. Onde não puder, eu estou na base do governo, nós vamos fazer alianças. Isso é natural! Eu já tenho mais de 15 candidatos na região oeste a prefeito e quero constituir mais ainda. 

 

E quais são as principais cidades com candidatos definidos?

Em Bom Jesus da Lapa, Sítio do Mato, Baianópolis e Muquém do São Francisco, os prefeitos vão disputar a reeleição. Aí teremos também candidatura em Serra do Ramalho, Santa Maria da Vitória, São Félix do Coribe, Cotegipe, Santana, Paratinga, Coribe… Em Riacho do Santana, o prefeito Tito Eugênio vai renunciar em março e o vice, Dr. João Vítor, irá assumir para depois disputar a reeleição, por força de um acordo que eles já tinham feito. Até ano que vem essa lista irá crescer ainda mais, pois estamos constituindo um grupo bastante forte para se consolidar na região oeste.