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Entrevista

Novo secretário da Secult, Pedro Tourinho defende sinergia e diálogo entre turismo e cultura na capital baiana - 13/03/2023

Por Mauricio Leiro / Leonardo Costa

Novo secretário da Secult, Pedro Tourinho defende sinergia e diálogo entre turismo e cultura na capital baiana - 13/03/2023
Foto: Igor Barreto/Bahia Notícias

O baiano Pedro Tourinho foi anunciado como titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) no dia 16 de janeiro, pelo prefeito Bruno Reis, a um mês do Carnaval 2023. Ao Bahia Notícias, ele disse que defende sinergia e diálogo entre cultura e turismo na capital baiana nos próximos dois anos. 

 

"O que eu pretendo fazer agora é potencializar essa riqueza cultural enquanto elemento turístico, declaradamente isso, até porque eu sou uma pessoa da cultura, conheço muito a história de Salvador, estudei muito isso. Talvez eu tenha um olhar sofisticado para esse ponto que a gente quer falar de cultura e qual história a gente quer contar. Em relação ao turismo, a gente tem grandes desafios pós-pandemia para estabelecer que não tem tanto haver com cultura em si", assegurou Toruinho.

 

Na última semana, após remanejar servidores, o atual chefe da pasta criou a Diretoria de Gestão Cultural, que será capitaneada pela gestora cultural Maylla Pita. “Eu acabei de criar uma diretoria de Cultura, que não tinha. Dentro da Secretaria de Cultura tinha uma diretoria de Turismo, mas não uma de Cultura. Não criei cargos. Na verdade, remanejei uma estrutura que já está sendo dirigida pela Mayla”, disse. 

 

Ele, que é ex-empresário de Anitta e amigo de celebridades como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Fernanda Paes Leme, Djamila Ribeiro, entre outros, recebeu o convite para assumir a Secult ao ser apresentado para o prefeito Bruno Reis (União) por Lara Kertesz, apresentadora de rádio e produtora de eventos. Com experiência no mundo privado, Tourinho conta que a nova experiência é o que ele desejava e tem sido tranquila, por ter encontrado pessoas na pasta que entendem a importância do serviço público para o cidadão.

 

“Eu queria colocar a minha energia em uma coisa que gerasse impacto direto para a comunidade. Quando você está no setor público, bem posicionado, favorece esse impacto. Estou aprendendo a lidar com os tempos e movimentos do setor público. Eu vou confessar para você que está sendo mais fácil do que imaginava, porque eu encontrei na prefeitura muita gente apaixonada pela cidade, servidor público raiz, que tem um alinhamento na busca de impactar a vida das pessoas. Sabemos que o setor público tem os seus ritos e processos, mas tem muita gente apaixonada pela cidade”, pontuou Tourinho.

Foto: Igor Barreto/Bahia Notícias

 

Um dos seus primeiros desafios na pasta foi o Carnaval de Salvador, que volta depois de dois anos, em decorrência da pandemia da Covid-19. Para esta edição do evento, o secretário organizou a campanha 'Cole no Centro', para reposicionar Carnaval no Centro da capital baiana. 

 

“Como é um assunto que eu já vinha pensando como folião, porque eu nunca deixei de passar aqui e já trabalhei em todas as áreas do carnaval também, decidimos fazer a campanha Cole no Centro, projeto de reposicionamento do Carnaval do Centro, que é um conjunto de curadoria artística, que já tinha sendo feita pela Saltur, eu só ajudei a organizar os produtos musicais que vão ter lá - Palco Brisa, um espaço só para cantoras mulheres, um outro palco no Pelourinho, encontro de trios com artistas contemporâneos. Sugeri que se fizesse o after, pois na Praça Castro Alves sempre teve. Alí sempre foi o ponto de encontro do fim da festa. Aí a gente convidou o grupo Batekoo, que é um grupo de Salvador, para liderar esse after. Então, vai ter todos os dias da meia noite até três da manhã.Tem esses três palcos em volta que terminam às 23h30 mais ou menos. A gente está fazendo uma estrutura de festival”, acrescentou. 


 

Veja a entrevista completa abaixo:

 

Secretário, o senhor sempre atuou na iniciativa privada. Já deu tempo de se adaptar ao setor público?

Estou me adaptando. Está sendo mais fácil do que eu imaginava. Eu trabalhei a minha vida inteira na iniciativa privada, como empreendedor, funcionário, em grandes grupos de comunicação, abri duas agências simultaneamente nos últimos oitos anos e fui atingindo meus objetivos no segmento privado. Eu estava procurando uma movimentação na carreira que me desse oportunidade de causar mais impacto na sociedade, porque eu senti que estava trabalhando muito e o impacto do meu trabalho era para um viés econômico, de lucro e outras coisas. Eu queria colocar a minha energia em uma coisa que gerasse impacto direto para a comunidade. Quando você está no setor público, bem posicionado, favorece esse impacto. Estou aprendendo a lidar com os tempos e movimentos do setor público. Eu vou confessar para você que está sendo mais fácil do que imaginava, porque eu encontrei na prefeitura muita gente apaixonada pela cidade, servidor público raiz, que tem um alinhamento na busca de impactar a vida das pessoas. Sabemos que o setor público tem os seus ritos e processos, mas tem muita gente apaixonada pela cidade.

 

O senhor chega na gestão Bruno Reis depois de dois anos de trabalho. Como o senhor pegou a pasta? 

Eu acho que a cultura e o turismo já caminhavam juntos, porque quando você desenvolve um equipamento como Cidade da Música é turismo e é cultura. [...] Não é diferente com o Arquivo Público, que é um serviço de cultura, de cuidado e registro da nossa história e de gerar um pensamento crítico do que foi produzido na cidade, que também vai contar com  espaço de visitação. Em várias iniciativas, turismo e cultura caminham juntos. O que eu pretendo fazer agora é potencializar essa riqueza cultural enquanto elemento turístico, declaradamente isso, até porque eu sou uma pessoa da cultura, conheço muito a história de Salvador, estudei muito isso. Talvez eu tenha um olhar sofisticado para esse ponto que a gente quer falar de cultura e qual história a gente quer contar. Em relação ao turismo, a gente tem grandes desafios pós-pandemia para estabelecer que não tem tanto haver com cultura em si. Tem uma sinergia, mas tem um lado do turismo que é estrutural, de mercado, como por exemplo: preço das passagens aéreas, receptivo aos turistas, rede de hotéis que a gente tem na cidade, equipamentos voltados para turistas. Essas coisas a gente não resolve da noite para o dia, mas temos que colocar para serem resolvidas, com planos de anos, porque ninguém consegue montar um hotel em um ano. Você começa a planejar, buscar possibilidades, financiamento e é um processo de no mínimo três anos.

 

E como foi esse convite? Já tinha uma boa relação com Bruno Reis? E, além disso, soubemos que Lara Kertesz fez um bom apoio pelo seu nome no cargo também...

Eu não imaginava que viesse o convite. Há 2 anos, eu passei a me direcionar para políticas públicas e passei a estudar políticas culturais e economia da cultura, jogando para o mundo que estava me dedicando a isso. A partir daí, tive conversas com o governo federal e com alguns governos estaduais sobre a possibilidade. Quando foi numa segunda-feira, eu recebi uma ligação de sondagem. Eu sei que Lara Kertesz foi um passarinho que apitou no ouvido de Bruno Reis. Eu não conhecia ele, mas já tenho uma relação com ACM Neto de muitos anos. Meu pai e o pai dele trabalharam juntos por muitos anos. Eu colaborei com o plano de governo de Neto para cultura. Bruno nem sabia disso. Um dia teve o convite, no outro, eu voltei para alinhar algumas prioridades. Eram coisas que estavam já na cabeça dele. Eu topei. Foi muito rápido, de segunda para quinta. Foi no susto, mas eu acho que tem que ser assim. 

 

O senhor é fundador de uma premiada agência de comunicação do país com clientes nacionais, e é entusiasta de plataformas de economia criativa, investidor e advisor em startups... É um dos projetos do senhor transportar esse modelo de iniciativas para Salvador?

Eu acabei de criar uma diretoria de Cultura, que não tinha. Dentro da Secretaria de Cultura tinha uma diretoria de Turismo, mas não uma de Cultura. Não criei cargos. Na verdade, remanejei uma estrutura que já está sendo dirigida pela Maylla [Pita]. Lá, temos a área economia da Cultura e economia criativa se junta. Para alguns, poderia ser a mesma coisa, mas eu vejo como uma soma. O viés da economia da cultura que eu vejo é entender a Cultura como atividade econômica. Não adianta a gente criar uma política pública baseada apenas em fomento de projetos específicos e editais, ferramenta importante para ser usada para diversas coisas na gestão pública. Quando a gente fala de editais para financiar ações específicas de Cultura e eventos é super importante, mas se você deixa sua política pública apenas nisso não está utilizando sua energia, esforço para criar ferramentas e pilares estruturais para que o artista possa caminhar sozinho e não dependa de editais para realizar o seu trabalho. Então essa é uma visão que eu tenho muito forte em relação a cultura e a economia em fazer que o artista de fato seja independente. A gente fala muito em artistas independentes, mas eles são isso de fato? Ninguém quer depender de edital. Por isso temos que pensar em criar um ecossistema para que esses artistas possam viver de cultura em salvador. Para isso, precisa ter capacitação, abrir um mercado de negócios, canais de financiamento para pequenos empreendedores culturais. A gente chama de artista, mas eles também são empreendedores.

 

Sua chegada na secretaria veio justamente no período pré-Carnaval. Como que foi já ter que realizar a transição com a organização do evento?

Eu perguntei justamente isso a Bruno: falta um mês para o Carnaval, o que quer que eu faça? E ele me disse que Carnaval já tem uma tecnologia que o negócio já vai e que dava tempo de colocar uma coisa minha, mas que não era para eu não ficar preocupado, porque o Carnaval já estava encaminhado pela Saltur, ligada a Secretaria de Cultura e Turismo, que já tem uma expertise. O Isaac Edington já faz isso há muito tempo e já tem o domínio total desse mecanismo. Ele falou que a gente precisava reforçar o Carnaval do Centro: ‘se eu pudesse pedir a sua colaboração seria fazer o Carnaval do Centro ser mais relevante, ser um objeto de desejo’. E como é um assunto que eu já vinha pensando como folião, porque eu nunca deixei de passar aqui e já trabalhei em todas as áreas do Carnaval também, decidimos fazer a campanha Cole no Centro, projeto de reposicionamento do Carnaval do Centro, que é um conjunto de curadoria artística, que já tinha sendo feita pela Saltur, eu só ajudei a organizar os produtos musicais que vão ter lá - Palco Brisa, um espaço só para cantoras mulheres, um outro palco no Pelourinho, encontro de trios com artistas contemporâneos. Sugeri que se fizesse o after, pois na Praça Castro Alves sempre teve. Alí sempre foi o ponto de encontro do fim da festa. Aí a gente convidou o grupo Batekoo, que é um grupo de Salvador, para liderar esse after. Então, vai ter todos os dias da meia noite até três da manhã.Tem esses três palcos em volta que terminam às 23h30 mais ou menos. A gente está fazendo uma estrutura de festival. As pessoas vão para o centro e vão navegar entre os palcos para ver as programações especiais. Eu acredito que até as pessoas que estão na Barra vão pegar o after na Praça Castro Alves. Tem esse reposicionamento, que é uma coisa que eu ajudei a fazer e algumas outras coisas, como: apoio de imprensa e de mídia, porque os jornalistas não tinham como trabalhar. A gente está montando uma estrutura simples de trabalho. 

 

Além disso, temos esse momento da Cultura no Brasil com Margareth no MinCultura. Essa onda pode trazer resultados positivos para a integração entre os entes federativos?

A gente precisa de uma frente para a Cultura urgente. A gente viveu aqui na Bahia e em Salvador um oásis, com muitos artistas vindo para cá, porque sabiam que na prefeitura ou no governo, tinham diálogo, cuidado, mas não tinha verba federal, porque tudo secou. Agora, com o Governo Federal alinhado, para Salvador e para o Estado, é muito bom, porque temos um direcionamento de que o objetivo é fortalecer a cultura enquanto identidade de um país, estado e de uma cidade. Não há negacionismo e polarização em relação à cultura, pelo contrário, há afirmação. Obviamente, são governos independentes, mas eu converso muito com Margareth. Temos relações pessoais. A gente tem trocado informações e onde a gente pode somar, fazemos isso. Daqui a dois anos, teremos o contexto de disputa eleitoral, mas não estou pensando nisso e acho que eles também não. Tem muita coisa para ser feita.

 

Secretário, o senhor é autor do livro “Eu, eu mesmo e minha selfie”. A obra fala sobre imagem pública... Como cuidar da imagem da Cultura de Salvador no século 21?

O meu direcionamento de interesse e de legado é que as pessoas de Salvador possam se ver nas histórias que a cidade conta, seja na Cidade da Música, em um material para turista. E que as pessoas em Salvador possam viver de cultura e de turismo, sem precisar de nenhum subterfúgio. Viver com dignidade, prosperidade e independência do seu trabalho cultural e turístico. 

 

Veja a entrevista em vídeo: