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Entrevista

Otto Alencar minimiza a importância que PSD ganhou e os impactos disso no arranjo de forças - 30/01/2017

Por Luana Ribeiro

Otto Alencar minimiza a importância que PSD ganhou e os impactos disso no arranjo de forças - 30/01/2017
Foto: Paulo Victor Nadal/ Bahia Notícias

Presidente estadual do PSD, o senador Otto Alencar tem estado nos holofotes após o partido ganhar protagonismo por conta das eleições de 2016, quando passou a liderar em termos de quantidades de prefeituras – são 82. O congressista, porém, minimiza a importância que a legenda ganhou e os impactos disso no arranjo de forças políticas no estado. “Então, você consegue fazer uns amigos que sempre são corretos, fiéis conosco. Mas isso não significa que nós estamos sentindo que podemos pressionar o governador ou querer de alguma forma ter vaidade ou orgulho sobre isso”, afirma. Ainda na seara da correlação com a base aliada de Rui, explica o lançamento do deputado estadual Ângelo Coronel (PSD) à disputa pela presidência da Assembleia Legislativa da Bahia, que vem angariando apoios e ameaça a permanência do atual presidente, Marcelo Nilo (PSL). “É Importante que Marcelo entenda que qualquer político pode discordar dele no processo democrático. Isso não significa nem traição, nem conspiração, nem sublevação contra o desejo dele”, destaca. Apesar de ter votado contra o impeachment  da ex-presidente Dilma Rousseff, na contramão do seu partido, que se posicionou favorável, fez críticas aos governos petistas no que diz respeito à situação do Velho Chico, permanente bandeira sua no Senado. “O governo Dilma foi completamente indiferente a isso, a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, completemente indiferente, os ministros da Integração que passaram, completamente indiferentes”, aponta, estendendo à crítica ao plano Novo Chico, lançado pelo governo Michel Temer, mas que ainda não saiu do papel. Otto ainda garantiu a permanência na base do governador Rui Costa e já anunciou seus planos para 2018, que não incluem a participação na corrida eleitoral. “Se você assume o mandato, se propõe a fazê-lo, deve leva-lo até o fim. Me propus a ser senador da República e estou trabalhando com essa finalidade”. 

Como o senhor avalia a situação atual do PSD, que recentemente lidera o cenário com 83 prefeituras após as ultimas eleições? O que isso trouxe e o que pode trazer para o partido?
O PSD concorreu agora em 2016 com 152 candidatos a prefeito vereador e vice-prefeitos. Nós tínhamos, antes das eleições, 70 prefeituras. Ou seja, ampliamos de 70 para 82, não foi um crescimento tão grande como se acha, diante do que nós já tínhamos. Perdemos dois deputados que se elegeram: Robério Oliveira, em Eunápolis; e Rogério Andrade, que se elegeu em Santo Antônio de Jesus. E a Mirela, que era suplente, ascendeu ao cargo de deputada. Então o quadro do PSD é esse: um senador, cinco federais, sete estaduais e 83 prefeituras. Mas não houve um crescimento tão grande, como se avalia. Esses prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, eu acompanho há muitos anos. Eu tenho 30 anos na política, fiz um grupo de amigos que me seguem há muitos anos, desde a época do professor da universidade federal de ortopedia e do cirurgião, do deputado, desse tempo inteiro. Então, você consegue fazer uns amigos que sempre são corretos, fiéis conosco. Mas isso não significa que nós estamos sentindo que podemos pressionar o governador ou querer de alguma forma ter vaidade ou orgulho sobre isso. Isso é coisa natural da política.

O senhor afirma que esse resultado não quer dizer que se vai pressionar o governador. Mas como ficou essa relação? E em relação à base, e também ao PP que está também nessa liderança. Houve alguma conversa a respeito? O PSD está definido em relação à manutenção da base aliada de Rui Costa?
Na eleição de 2012 o partido que mais fez prefeitos foi o PT. Não me lembro, se não me engano foram 108; foi um número alto. O PP também fez uma base grande, e manteve, tem 66. A queda maior foi do PT. O PT da Bahia é um partido que tem bons quadros, não teve nenhum comprometimento que pudesse deslustrar a imagem de seus componentes, na minha opinião, e foi prejudicado pela crise nacional do partido, refletiu aqui. Mas veja que aqui próximo de Salvador, em Lauro de Freitas, Moema Gramacho ganhou as eleições para prefeita. Então teve algumas alterações por causa do quadro nacional. Mas não haverá nenhuma posição nossa que não seja da manutenção com o governador Rui Costa, com a base toda política. Nós demonstramos isso agora, no impeachment da presidente Dilma. O meu partido, a nível nacional, ficou todo a favor do impeachment. Eu votei duas vezes contra o impeachment, porque entendi que não houve crime de responsabilidade; eu fui conselheiro do Tribunal de Contas, conheço bem a lei, votei contra duas vezes. Na minha vida política inteira, foi o momento em que eu mais recebi pressão de todos os lados. Da imprensa, dos que eram radicais contra. No aeroporto, indo para Salvador, voltando de Brasília, quantas vezes são admoestado, xingado. Mas eu tinha minha convicção. Portanto, eu não sou mais político, com a história que eu tenho, para ser colocado à prova da minha palavra, do meu compromisso. Não aceito isso. Se a qualquer momento o governador, ou Wagner, ou quem quer que seja, colocar minha palavra ou meu compromisso à prova, aí quebrou a confiança, eu não continuo mais.

O senhor também mencionou que o crescimento do PSD não foi tão grande como tem se falado. A presidência da Assembleia pode ser algo a mais a conquistar, e como o senhor tem visto o caminhar das conversas?
(Risos). Espalha-se aí que eu quero mandar em tudo, não é verdade. Primeiro, a candidatura do Eures Ribeiro [em referência à disputa pela presidência da UPB, da qual o partido, na figura de Eures, participou e venceu] é uma candidatura dos prefeitos que começaram a apoiá-lo. É uma candidatura de prefeitos, não é uma candidatura partidária. Ele saiu candidato sem sequer me consultar ou me avisar. O Eures foi um dos fundadores do Partido Verde na Bahia. Quando o PV tomou a posição política que não era a dele, lá atrás, e apoiou aqui na Bahia a candidatura do prefeito ACM Neto, ele discordava de Neto e veio para nosso partido. E ele tomou a iniciativa de ser candidato à UPB e depois me falou. Ele antes disso falou com Rui Costa, falou com outros prefeitos e outros partidos. Eu estou apoiando ele. É uma candidatura de prefeitos, ele reúne todas as condições para ser presidente, é um dos mais bem-avaliados prefeitos da Bahia, se reelegeu agora com 78% dos votos – o que é uma coisa de se chamar a atenção. E depois vem essa situação da Assembleia. A Assembleia Legislativa apoiou Marcelo Nilo cinco vezes; nós apoiamos cinco vezes. Inclusive, na primeira eleição, fomos decisivos para ele ganhar. Ele ganhou de Elmar Nascimento, que teve 27 votos, com nosso apoio. E sempre apoiamos. Quando foi agora, os deputados do PSD, sobretudo Ângelo Coronel e Adolfo Menezes, acharam que ele não deveria ir para o sexto mandato como presidente, e lançaram candidatura de Coronel, que estou apoiando. Como Leão está apoiando a de Luiz Augusto. E como o PT, na última votação na Assembleia, saiu do plenário para não votar no Marcelo, discordou do Marcelo. É Importante que Marcelo entenda que qualquer político pode discordar dele no processo democrático. Isso não significa nem traição, nem conspiração, nem sublevação contra o desejo dele. É isso que nos chama a atenção. Essa eleição vai ser no dia 1º de fevereiro, Coronel está trabalhando, como Luiz Augusto também está trabalhando. O que se espera é que aquele que tiver mais pontos possa ser presidente. Eu conheço bem aquilo, porque eu fui presidente em 1995-1996; fizeram um abaixo assinado para eu continuar, não aceitei. Cada cabeça é um mundo.

O senhor falou da posição do PSD nacionalmente em relação ao impeachment. O que tem se falado nos bastidores é que o partido vai se alinhar de forma mais direta ao governo Michel Temer. O senhor acha que de alguma forma isso pressiona o partido localmente, para que aqui se tenha outra orientação?
O governo Michel Temer é um governo de transição. O Fernando Henrique [Cardoso] falou na pinguela, na ponte para uma nova eleição. Aqui na Bahia eu tenho toda a autonomia dada pelo presidente para tomar a aliança que eu quiser, fazer a aliança que eu quiser fazer – a aliança com o governo, com o governador Rui Costa e com os partidos da base. Essa autonomia eu tenho com toda a tranquilidade, ou seja, não haverá nenhuma força federal do diretório nacional que venha aqui se contrapor àquela posição que eu tomar. Não existe isso. Agora o governo Temer é de transição, e na transição, deve-se fazer alguma coisa para ajudar não Temer, mas ajudar o Brasil. Então aquilo que eu acho importante eu vou votar. Já votei contra algumas matérias que ele encaminhou. Vou votar contra a reforma da Previdência, no que tange ao aumento da idade mínima de 60 para 65 anos. Porque o grande problema de Brasília, do Congresso Nacional, é que o Congresso se reúne, dá uma receita única para estados com problemas completamente diferentes um do outro. A expectativa de vida no Piauí não é a mesma de Santa Catarina; do Maranhão não é; aqui do interior da Bahia não é. Então querem que o funcionário público do Distrito Federal, que é pago pelo governo federal, que tem salários altíssimos, que fica em gabinete, não tem nenhum trabalho mais duro, e que tem o trabalho mais pesado, da construção civil, tenha o mesmo tratamento. Não tem como, são coisas completamente diferentes. Então quem trabalha na construção pesada, na construção civil, o pedreiro, o carpinteiro, o cara que está no porto, não pode ter o mesmo tratamento que tem um funcionário de gabinete. Querem fazer a mesma coisa. Já votei contra e derrubamos o fator previdenciário, eu, Paulo Paim e outros senadores; instituímos o índice 85/95, que é o que está em vigor hoje, e vou votar contra a reforma da Previdência. E também na reforma trabalhista nós vamos observar. E na lei de Terceirização, que veio da Câmara para o Senado, sou presidente da Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional, dei a lei para Paulo Paim relatar. Nós discordamos de tudo que veio da Câmara e não aprovamos no Senado. Cada matéria, um senador ou deputado tem uma visão distinta da outra. Essa é minha visão. Eu já votei algumas matérias a favor do Temer, não tenho cargo no governo, não aceitarei cargos no governo, tenho independência para votar naquilo que eu acho correto. Até porque se eu votei contra o Temer, votei contra o impeachment – eu não posso participar de governo que eu não fiz nem pelo voto popular, nem pelo voto no Congresso.

E como o senhor tem avaliado essa gestão, está caminhando bem?
Ele tem tido algumas atitudes corretas, outras incorreta; de certa forma tem sido inseguro em alguns atos. Mas eu não creio que os problemas do Brasil todos foram gestados nesses sete meses de governo. A questão prisional agora, que explodiu agora, não foi culpa da gestão do Temer, já encontrou as coisas erradas. O problema da Petrobras também já estava colocado já vem de muito tempo, vem até do Fernando Henrique. Só que na época do Fernando Henrique nunca se explorou isso como agora. Não tinha transparência, então ficava embaixo do tapete. A Eletrobras: a mesma coisa. A CPI do Carf, que eu participei, e participei ativamente, já vinha há muito tempo. Então são coisas que explodiram, caíram no colo dele agora. Ele vai ter que ter capacidade de resolver. Agora essa solução só virá no momento que você coloca para trabalhar uma equipe que tenha as condições de competência, de história de vida ilibada, e força para trabalhar. Às vezes um é muito bom, mas não tem capacidade resolutiva, para trabalhar, complica.

Em relação ao plano Novo Chico, o senhor concorda com a condução?
Não saiu do papel ainda. Eu estudo o Rio São Francisco há muitos anos, porque eu conheço o rio de onde ele nasce, na Serra da Canastra, em São Roque de Minas, o trecho dele todo já há muito tempo. É uma paixão de muitos anos. Desde garoto eu conheci o rio, com meu pai, boiadeiro, eu tinha 15 anos. Quando você podia pegar um facão, matar com o facão um surubim, botar no espeto, assar e comer. Hoje você não acha surubim para nada. A gente puxava o gado do rio para a Chapada, eram 23 dias de viagem. Então eu conheço o rio em toda sua extensão. São Roque de Minas, desce, vem a Barragem de Três Marias; na margem esquerda conheço todos os afluentes, na margem direita o Rio das Velhas, o Rio Jequitaia, que morreu agora. Paraopeba, o Rio Pará, Urucuia. Conheço o rio todo. Venho estudando isso há muito tempo e venho vendo o rio morrendo. E está morrendo. E não saiu do papel nem do governo de Lula, nem no de Dilma, e também agora não vi sair do papel. Coloquei uma emenda de R$ 300 milhões para a revitalização do rio. Para fazer a dragagem da calha. E o ano passado, em junho, em Bom Jesus da Lapa, na festa das águas, inaugurei com o apoio da prefeitura, de Eures, com o apoio da Coca-Cola e da Braskem, a primeira fábrica de florestas para revitalizar o rio Corrente. As mudas estão lá, as pessoas estão pegando as mudas e plantando na beira das nascentes. O Rio São Francisco tem 2780 quilômetros de extensão, vai até o Atlântico. Eu vejo o rio sem nenhuma condição de revitalização. E essa transposição, sem revitalização, é uma grande irresponsabilidade. Para você ter uma ideia, já se colocou R$ 8,9 bilhões na transposição e na revitalização absolutamente nada. Então tenho sido um crítico do governo Lula, do governo Dilma e agora do governo Temer. Esse projeto Novo Chico não saiu do papel e pelo que estou vendo, vai ser muito difícil sair.

O Novo Chico planeja a implantação de medidas em dez anos, mas o rio passa por problemas, como citados pelo senhor, bastante urgentes. Um exemplo é a barragem de Sobradinho, que está agora com cerca de 12% de sua capacidade. O senhor vê algum caminho para acelerar esse processo?
Decisão política. Se quiser fazer faz, recursos têm. Você tem recursos em vários fundos: o Funclima, que recebe recursos de institutos internacionais; a própria Codevasf tem lá seus fundos de recurso. Falta decisão política de fazer. Você tem um rio com a calha completamente assoreada, ou seja, entupida por sedimentos de areia, que ao longo do tempo veio com as chuvas, as margens estão sem as árvores, que sustentam as margens do rio. Derrubaram essas árvores todas. O primeiro trabalho é esse, procurar desassorear, fazer a dragagem de toda a calha do rio. Porque quando a água entra na calha do rio limpa, ela vai toda para a barragem. Quando o rio está raso, a água se espalha, o que chamamos de delta artificial. O rio normal tem um quilômetro e meio de largura, se ele fica raso, vai para cinco, seis quilômetros de largura. A água espalha e não chega na barragem. Já identifiquei 21 deltas artificiais no São Francisco. Até pensei que nessa novela, Velho Chico, iam falar sobre isso, mas não falaram, terminaram levando para uma área muito mais romanceada, não foi histórica, e não mostrou essa situação do rio. Esperava que chamasse a atenção das autoridades. Tenho feito discursos e mais discursos, sou presidente da Comissão do Meio Ambiente, fiz várias reuniões. O governo Dilma foi completamente indiferente a isso, a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, completemente indiferente, os ministros da Integração que passaram, completamente indiferentes. E agora estou lutando aí para ver se o governo toma essa decisão. Se não tomar, vai cometer o maior crime contra o Nordeste brasileiro, que depende das águas do rio, e contra o principal rio, que é o rio da integração. Drummond de Andrade, antes de morrer, há muito tempo, visitando a cidade de Pirapora, que fica às margens do São Francisco, disse que o Velho Chico, em pouco tempo, vai ser apenas um retrato na parede, uma lembrança na parede. O primeiro sintoma da morte de um grande rio é quando o mar entra no rio. Já entrou 12 quilômetros. Você deve lembrar da música de Gonzaga que dizia “Riacho do Navio vai dar no Pajeú, o rio Pajeú vai dar no São Francisco e o Rio São Francisco vai bater no meio do mar”. Nunca mais o São Francisco bateu no meio do mar. O mar que está entrando. Agora mesmo em Penedo, em Alagoas, os pescadores pegaram um tubarão-martelo na beira do rio. Então a situação é gravíssima. E outra coisa, vai ser uma grande responsabilidade, botar R$ 9 bilhões na transposição e não ter água para o rio. A Bahia está com 13%, 14% de volume útil, já chegou ao volume morto. A barragem do Sobradinho é um mundo de água; para se ter uma ideia, só o volume morto são 5 bilhões de metros cúbicos de água, é maior do que Pedra do Cavalo. E está na situação que está. Me sinto muito preocupado com essa situação. Porque fazer transposição sem água é impossível. E o Nordeste precisa, sobretudo na seca que estamos tendo agora, a pior seca dos últimos, talvez, 100 anos. No século XIX, tivemos uma seca parecida com essa. Ela começou em 1897, quando mataram Antônio Conselheiro, e foi até 1906. Chamaram “a seca do Conselheiro”, e os sertanejo acharam que a seca veio porque o governo mandou matar conselheiro. Essa é parecida com aquela, vamos fazer o oitavo ano sem chuvas acima da média no Matopiba, que é a região do semiárido do Nordeste.

O senhor vem militado bastante nessa questão do Velho Chico, tem alguma outra questão específica que o senhor pretende empreender até o fim do seu mandato?
Aprovei da minha autoria no Senado várias matérias. Aprovei um projeto de resolução que é superinteressante para os estados, um projeto de resolução que é privativo do senado, não vai para a Câmara, que autoriza os estados a utilizarem os recursos depositados em caução. Você vai tomar um empréstimo de um organismo internacional, tem que depositar um valor. A Bahia tem quase R$ 500 milhões em cauções. Com esse projeto de resolução, o governo pode entrar na Justiça e pedir esse dinheiro de volta, e a responsabilidade com o caução fica com o Fundo de Participação dos Estados. É um projeto muito importante; o governador do Pará já fez isso e já recebeu R$ 200 e tantos milhões, com a crise que está aí. Aprovamos no Senado e foi para a Câmara, ainda não foi aprovado, infelizmente, um projeto de lei que autoriza a Polícia Federal, as Polícias Civis, a fazer investigação dos crimes cibernéticos, que acontecem hoje no Brasil em larga escala, em todos os sentidos: calúnia, difamação, religioso, racismo, de todo jeito. Porque para se ter autorização para investigação, você tem que pedir a um juiz, e antes, tinha que tomar informações lá fora, no exterior. Isso acabou. Isso está na Câmara, não aprovou ainda. Aprovei outro projeto que modifica a Lei de Responsabilidade Fiscal, importante para os prefeitos, que muda o artigo 23 da lei: aquele que o prefeito perde a arrecadação – o que o governo federal deu subsídios, baixou IPI, acabou com a CIDE – ele está com tudo empenhado, ele tem contas rejeitadas. Foi aprovado no Senado e foi já para a Câmara. Teve outros projetos da área de meio ambiente que conseguimos aprovar que estão também na Câmara. O Rodrigo Maia [atual presidente da Câmara dos Deputados] esteve comigo recentemente pedindo apoio para presidente, passei para ele todos os projetos que aprovei no Senado, ele se comprometeu a ver. Existe uma briguinha do que nasce no Senado e chega lá, recebe a gaveta; e às vezes o que nasce na Câmara recebe gaveta e não é aprovado. É uma coisa de vaidade, de falta de compromisso com o país. A bandeira do Rio São Francisco vou continuar defendendo; defendendo também mais recursos para os estados e municípios. A repatriação, no Senado, foi comandada pela minha comissão. O governador, inclusive, ontem, me agradeceu, que esse ano vai ter repatriação e o Temer não queria colocar estados e municípios. Colocamos 46% do que vai ser repatriado, 23% vai para os estados, 23% para os municípios. Ele não queria colocar, o Romero Jucá não queria colocar, fomos para cima e terminamos colocando. Meu trabalho é esse, em um momento dificílimo: tanto a Câmara como o Senado tem componentes que estão nas delações premiadas, que são acusados, e isso deixa, de alguma forma, o Parlamento fragilizado, mais a Câmara até, do que o Senado, mas dos dois lados tem problema. Em 2017 vamos ter os mesmos problemas que 2016.

Quais são os seus planos em relação a 2018? É possível que a gente o veja aqui na disputa, talvez a vice, talvez a cabeça de chapa?
Só se toma decisão, em política, quando o momento exige. O momento não está me exigindo a decisão do que vai acontecer em 2018. O nosso propósito, do conjunto do PSD, dos vereados, vice-prefeitos, prefeitos, deputados, deputados federais, e o meu desejo, é continuar a aliança com o governador Rui Costa. Eu acho que é isso, sem nenhuma dúvida, que vai acontecer. Eu tenho por norma, é uma coisa importante, não largar no meio do caminho o mandato. Se você assume o mandato, se propõe a fazê-lo, deve leva-lo até o fim. Me propus a ser senador da República e estou trabalhando com essa finalidade. É uma missão a ser cumprida; às vezes as pessoas perguntam: ‘está gostando?’. Eu digo: ‘nunca fui para a sala de cirurgia operar um doente apenas porque estava gostando’. Era a minha profissão, era o meu compromisso, porque eu tinha que salvar uma vida. Estou no mandato para fazer o melhor. Gosto da política, faço isso com a maior paixão, mas não é uma coisa fruto de ambição, de ganância, absolutamente. Então não tenho nenhum interesse em deixar meu mandato no meio, até porque a História mostra que quem deixou o mandato no meio do caminho não se deu bem. Aqui na Bahia mesmo, um grande político, o ex-governador Waldir Pires, ao qual tenho uma grande admiração, deixou o governo para tentar a presidência da República e não foi vitorioso. José Serra da mesma forma. Outros prefeitos que fizeram isso, a mesma coisa. Então eu não estou colocando isso como uma premonição do futuro, estou apenas colocando que é minha posição. De alguma forma, se o povo me elege para um mandato, e de repente você, sem perguntar o porquê, se deve fazer a mudança de rumo ou não, faz, pode ter problema. Então não tenho na minha cabeça deixar meu mandato, quero seguir até o final dele.

Mas e se de alguma forma a vontade popular indicar que...
Nessa quadra que nós estamos vivendo, em que o colegiado dos políticos está nivelado por baixo, não vai ter clamor popular para ninguém. Nem para mim, nem para absolutamente ninguém, eu tenho certeza. Até porque o erro de um contamina todos os outros. Eu por exemplo, estou conversando com você aqui, não é vaidade, não é orgulho, porque eu sou uma pessoa muito humilde, muito simples, até por formação, ter morado no interior por tantos anos, filho de pai e mãe “da roça”, estudando com dificuldade, quero dizer o seguinte: o capricho, a vaidade, o orgulho em política é sempre a véspera do fracasso de uma pessoa. Mas eu exerci todos os cargos no estado: fui três vezes deputado, presidente da Assembleia, secretário de Saúde, de Indústria e Comércio, Infraestrutura, vice-governador, governador, conselheiro. E não fui ainda acusado pelo Ministério Público e não respondo a processo nenhum. Mas eu tenho certeza absoluta que quem não conhece minha história, minha vida; quem não sabe que eu posso, a qualquer momento, pegar minha declaração de renda e mandar auditar em qualquer auditor, com tranquilidade, vai achar que eu estou também no mesmo barco. Isso tem contaminado, o colegiado está muito enfraquecido, muito fragilizado com isso, pelo que acontece em Brasília. Porque Brasília é outro mundo, a moeda não é real, é bilhão. Você não vê um escândalo lá de real, só vê de bilhão (risos), então é um negócio completamente diferente. Foi um susto quando cheguei lá. Brasília é Brasília. Por isso que eu digo sempre: tem que ser menos Brasília e mais estados, menos Brasília, e mais municípios. Uma coisa que tivesse que resolver o Brasil era a revisão do pacto federativo. Tem que fazer, tem que descentralizar mais. Não é possível que um prefeito tenha que pegar um carro, vir para Salvador, pegar um avião, saltar em Brasília, se hospedar no Naoum com diária, ir ao Ministério da Educação, chegar no FNDE, e passar 3, 4, 5 dias para conseguir o recurso para fazer uma creche. Na ida e na volta ele gastou 10% do valor da creche. Porque está tudo centralizado. Brasília centralizou poder político em excesso, administrativo e financeiro. Eu fui secretário duas vezes, cansei de ficar dois dias atrás de um convênio e não conseguia. É uma situação grave. Fala-se no pacto federativo, mas tanto os componentes da Câmara e do Senado não querem perder poder, não querem dar muito poder nem ao governador nem aos prefeitos. Rui até falou sobre isso. Então, por exemplo, um senador se candidata a governador – acho que aqui ninguém, Lídice [da Mata] não é, nem Roberto [Muniz], nem eu sou – ele trabalha para não acontecer nada com o atual. Aí complica tudo. Lá é complicado, tanto que se diz lá que Brasília não é para profissionais. O que não é o meu caso.