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Entrevista

Zé Neto ressalta buscar clima harmônico para votar projetos na AL-BA - 28/11/2016

Por Rebeca Menezes / Guilherme Ferreira

Zé Neto ressalta buscar clima harmônico para votar projetos na AL-BA - 28/11/2016
Fotos: Tiago Dias/ Bahia Notícias

Líder da bancada do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Zé Neto (PT) assegura não ter problemas com o presidente da Casa, Marcelo Nilo. Ao comentar sua relação com os demais parlamentares, ele ressaltou que sempre busca um clima harmônico, que inclusive facilita a tramitação de projetos enviados pelo governador Rui Costa. "Quem está no dia a dia, sabe que se eu estiver em conflito com a presidência da Casa eu vou ter menos resultado", afirmou em entrevista ao Bahia Notícias. "Se eu evitar conflito e estiver sempre dialogando com ele pra mim é melhor e eu vou continuar fazendo isso", completou. Ao tratar da próxima eleição para presidência da AL-BA, no entanto, Zé Neto opta pelo distanciamento. Ele prefere não comentar uma eventual nova candidatura de Nilo e nem citar outros possíveis concorrentes. "Se tem uma coisa que eu aprendi na Assembleia é que não vale a pena dar opinião em situações que não vão criar resultado algum", resumiu. O futuro do parlamentar como líder do governo também é incerto. Zé Neto se coloca como um "soldado do projeto" e alega que ainda vai se encontrar com Rui Costa para discutir o assunto. "Onde for melhor eu estar, eu estarei", avaliou.
 
Quais foram os momentos mais tensos desse ano como líder do governo na Assembleia?
Todos os anos foram de muita tensão. Esse eu posso dizer - paradoxalmente com o que acontece em Brasília - foi um dos mais tranquilos na Assembleia, inclusive com um nível de produtividade muito acima do que nos outros anos. Tensão, tensão, tensão não chegamos a viver. Um pouco de tensão na votação no plano de educação, em que tínhamos uma mudança no texto a ser feita, que na minha opinião ficou constatada pelos próprios movimentos sociais que ficaria melhor. Mas em virtude da troca de uma palavra no texto virou uma polêmica, gerou um ruído, mas depois as coisas se esclareceram e as tensões também diminuíram e hoje é considerado um dos mais modernos do país. Então não teve um momento de muita tensão na Assembleia. Para um ano de eleição, foi um ano tranquilo.
 
Apesar da alta produtividade, a oposição reclama que há poucos deputados do governo no plenário e algumas votações foram feitas sem deputados para votar, por acordo. Por que os deputados do governo não comparecem tanto ao plenário?
Dia de votação pode ir até mais tarde. Eu falo para os deputados que vai ter votação hoje, por exemplo. Os deputados buscam correr nas secretarias no dia a dia do mandato até 16h. Então até 16h, o primeiro expediente, você tem pouca gente. É normal. A oposição reclama e isso é parte do processo. Mas eu tenho tranquilidade para dizer também que em muitos momentos, quando não tem votação, não tem quórum na Casa para permanecer a sessão, a oposição está lá e a gente não derruba a sessão em respeito a oposição. Isso é muito diferente do que acontecia no passado. No passado, quando não tinha quórum pra gente e eles não iam votar, derrubava a sessão e não tinha a sessão. É melhor que se tenha sessão mesmo com poucos deputados do que não ter sessão como acontecia no passado. É normal essa reclamação. Eu posso dizer que tenho mantido uma boa relação com a oposição e vou continuar mantendo. Sandro Régis faz a parte dele junto com os deputados da oposição, mas não posso negar que tem sido uma oposição, que, na hora em que precisamos de diálogo, conseguimos espaço. Essa semana mesmo votamos um projeto por unanimidade que altera o formato das licitações do estado. A oposição, através de Luciano Ribeiro, apresentou uma emenda. Melhorou o projeto e a gente vai assimilar. Inclusive a outra emenda eu achava que também melhorava o projeto, mas tinha um dispositivo legal que não foi possível atender. A oposição faz o papel dela, a gente trabalha para ter harmonia e produtividade. A hora da disputa faz parte. Está tudo no seu eixo.
 
Um outro questionamento feito mais especificamente por Luciano Ribeiro é o levantamento que o governo colocaria os projetos necessários para votar em regime de urgência e depois tiraria projetos de doação de terrenos para poder segurar até precisar votar outro projeto de urgência. Existe isso?
Eu não tenho porque dizer: "Preciso de três projetos na Casa para cada urgência". Eu vou sempre ter momentos em que vou precisar de algumas emergências. Nós tivemos necessidade de alterar a lei de licitações. Foi há dois meses. Fizemos uma apresentação do projeto e tivemos que opinar para colocar ele como prioridade. Chegam os projetos e, às vezes, as prioridades mudam de curso. Até pouco tempo a gente tinha como prioridade um projeto de meio ambiente. Teve conflito e ele saiu da prioridade, voltou para a linha de espera. Não é nada anormal. O que eu posso dizer a Luciano, eu tenho sempre dito isso a ele, é que eu acompanho a evolução do processo legislativo na Assembleia. Hoje a oposição é ouvida, recebida por secretários, os secretários frequentam a Casa a pedido da oposição e muitos projetos da oposição foram votados pela base do governo. Sem contar que a maioria dos projetos que votamos lá tem alguma mexida feita, ou pela comunidade, ou pela própria oposição. Eu digo a você que isso é um avanço muito significativo. No passado, no período de ACM e companhia, não mudava nenhuma vírgula. Se tivesse um ponto fora do lugar a mudança era feita na secretaria da Mesa Diretora, mas os deputados não podiam mudar. Isso é uma coisa que ficou muito no passado. Hoje nós estamos em outra dinâmica. Deve ter um ruído ou outro que às vezes é mal interpretado, mas nesse aspecto da apresentação de projetos e do número de projetos necessários para fazerem as urgências funcionarem estou tranquilo. É o regimento e a necessidade do governo que fazem as prioridades.

 

 

Você pretende continuar como líder do governo? Tem essa conversa com o governador?
Liderança de governo não é uma eleição. Liderança de governo é uma conveniência do governador e da bancada. Eu fui ficando porque é um espaço ao qual eu acabei me adequando. Eu era um dos mais atuantes como opositor, fiquei muito enérgico naqueles embates. Depois Wagner me chamou e me disse: "Você tem muita energia para fazer embate. Agora tem que usar essa energia toda para fazer harmonia e trabalhar para a gente conseguir o máximo de coesão na nossa base. É uma tarefa muito importante na sua vida, vai te ajudar muito, até como pai". Lembro dele brincando disse comigo e de fato foi. Acabei aprendendo muito na Assembleia com meus colegas, com a natureza humana, com as situações todas da política. A política, eu digo todos os dias, é o que acontece no dia a dia em uma intensidade maior, sendo que as coisas negativas aparecem muito mais. As coisas positivas ficam como obrigação. Cansam de me perguntar: "Na Assembleia vocês se aposentam com oito anos?". Isso não acontece desde os anos 90. Desde o fim dos anos 90 o deputado não se aposenta mais por número de mandatos. Eu vou me aposentar como trabalhador na regra da previdência. O teto máximo é R$ 5,4 mil, se não me engano. Deputado lá na Assembleia não tem mais 14º, 15º, o chamado auxílio paletó. Na política é isso: tudo acontece com mais intensidade, as pessoas vêem mais quem está na vida pública porque quem escolheu vida pública escolheu holofote e a gente tem sempre que estar preparado para saber que o que a gente fizer de certo vai aparecer como obrigação - o que não está errado, em parte - e o que fizer de errado vai ser ampliado e isso a gente tem que saber trabalhar.
 
Pela conveniência, você acha que continua?
Não sei, não conversei com o governador ainda. Vamos conversar sobre esse assunto. Sou um soldado do projeto. Onde for melhor eu estar, eu estarei. Se for como deputado, se for como líder do governo, se for como membro de comissão. Eu vou fazer o meu papel. Eu estou muito na ótica de que quem faz o papel é a pessoa. Se eu voltar a ser deputado como qualquer outro deputado que está na Casa, vou continuar fazendo meu papel de trazer os elementos para o debate, fazer a disputa, ajudar na construção das pautas e das votações como alguns que estão comigo no dia a dia que fazem isso permanentemente sem qualquer cargo. O mais importante é a gente trabalhar em harmonia, buscar ao máximo a coesão em uma base com tantos partidos e cabeças diferentes. Essa coesão que vai ser fundamental para a gente permanecer o trabalho que está fazendo e chegar em 2018 bem para a reeleição de Rui.
 
Em 2018 tentando deputado federal ou continua na Assembleia?
Ainda não parei para pensar nisso. O cenário da política nacional é muito confuso. Eu gosto de estar perto de casa. Estou a um pulo de Feira. Eu até vim hoje passando na BR-324 lembrando de quando vim para Salvador estudar. Tinha 18 anos de idade e vim estudar na Ufba. Fiz dois anos de Física e depois fiz o curso de Direito e me formei em advocacia pela Ufba. Essa estrada já faz parte do meu dia a dia. Ir, voltar, subir, descer. Então eu ainda não me vi dentro de um avião. Eu só consigo me ver por enquanto dentro um carro subindo e descendo a BR-324. Mas são situações da vida. Ainda vou conversar dentro do meu grupo, faço parte de um campo político dentro do PT. Vamos dialogar com calma. Não está na minha cabeça ser deputado federal, mas não tem na minha cabeça também ser estadual a vida toda. Isso é para debater com o partido, com os companheiros, com os aliados. Estou tranquilo em relação a essa escolha.

 

 

Ainda na questão da liderança, saíram boatos há alguns meses últimos meses indicando que deputados consideravam que o verdadeiro líder do governo era Nilo. Você se incomoda com essas sugestões?
Absolutamente. Essas coisas são pra mim menores. Eu ficaria incomodado se você me dissesse: "A liderança não está funcionando, não estão votando projetos". Marcelo é um amigo pessoal hoje. Eu trabalho para não haver conflito, quando tem algum pé de conflito eu sou o primeiro a abafar pra resolver. Não cabe criar conflito em situações que são, na maioria das vezes, pessoais, interesses menores. Eu tenho uma tarefa que é coletiva, que é do meu governo. Eu diria mais: é do estado. E muitas vezes tem situações menores lá na Casa, disputas de grupos e eu sempre procuro harmonizar. Com Marcelo não tenho tido problemas. Alguém incomodado de não ter visto problema entre eu e ele pode estar criando alguma situação que a mim não incomoda. Eu já estou acostumado com essas críticas, principalmente nesse nível que não soa como algo palpável. Até porque, quem está no dia a dia, sabe que se eu estiver em conflito com a presidência da Casa eu vou ter menos resultado. Se eu evitar conflito e estiver sempre dialogando com ele pra mim é melhor e eu vou continuar fazendo isso. Isso pode estar incomodando alguém, mas é o que eu vou continuar fazendo. Um ano como esse conseguimos fazer mudanças em processos licitatórios, ajustes de taxas, alteração em plano de carreira... tudo isso por acordo. E você só consegue isso se você tiver vivendo bem com a oposição e bem com Marcelo Nilo. Tem gente que daqui a pouco vai dizer que o líder do governo é Sandro Régis porque eu vivo bem com ele. É até uma coisa que me deixa satisfeito saber que as pessoas estão me vendo tão integrado lá e pensam que sou como um juiz, que às vezes pouco se vê. O importante é que o jogo acabe bem.
 
Na questão da presidência da Casa, Nilo ainda não admite que é candidato, mas a gente sabe que ele vai tentar o Senado e ele já falou que para tentar o Senado ele precisa estar no cargo da presidência. Você acha que tem algum nome para concorrer com ele?
Outro dia eu estava conversando com Reinaldo Braga. A Casa estava pegando fogo com uma polêmica em todos os jornais e todas as televisões. Aí eu virei para Reinaldo Braga, que é o decano da Casa, e perguntei: "E aí, essa situação está complicada, o que você acha?". Ele disse: "Que situação? Não estou nem sabendo. Deixa eu cuidar da minha vida". Deu um sorrisinho de lado e foi embora. Eu vou fazer a mesma coisa. Se tem uma coisa que eu aprendi na Assembleia é que não vale a pena dar opinião em situações que não vão criar resultado algum. Não tem polêmica, ainda está longe da eleição, ainda tem muita água para rolar. Então deixa rolar, eu não vou me meter nessa conversa, está fora do meu radar. O que eu preciso na Casa é harmonia, eu vou trabalhar para isso. Legalmente Marcelo pode ser candidato porque não mudou a lei. Ele tem pretensão? Aí cabe a ele. Tem outros candidatos que se apresentaram na base também. São amigos pessoais que eu respeito. Eu sou líder do governo, meu papel é outro. Então estou fora dessa conversa e espero que a gente pode entrar e sair dessa disputa como aconteceu nas outras. Tem algum ruído no final, mas sai todo mundo vivo. É o que eu espero, que a gente saia fortalecido. Principalmente agora que a classe política precisa ter mais cabeça no lugar. O PT sofreu um pouco mais porque estava no poder e precisavam tirar quem estava no poder para mudar as regras do jogo. O PT dividiu o bolo e quem quer voltar para o comando, através da política, quer o bolo sem divisão. Isso está muito claro. E quem estiver pela frente vai ser enfraquecido ou vai ser destruído, se for possível. A classe política precisa ter muito juízo nesse momento para entender o papel dela nesse processo da democracia, se não ela vai ser engolida. E depois da classe política engolida vem a imprensa, vêm os direitos individuais e vem um processo que eu acho que vai ser muito ruim para o Brasil.

 

Você falou da questão do PT. Como fica o partido depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff e com as continuadas fases da Operação Lava Jato?
Olha, se você perguntar se o PT é um partido de santos, que ninguém rouba, mentira. Nenhum grupo é. Nem de time de futebol, nem de igreja, nem de empresário. Sempre tem bons e ruins em qualquer campo. Se você me perguntar se o PT acertou mais que errou, acertou muito mais do que errou. Se você me perguntar se houve erro no governo Dilma, acho que teve. Especialmente nas escolhas do comando central e no pouco diálogo com o Legislativo, tanto na Câmara quanto no Senado. Acho que teve esse viés que não foi fácil pra gente e quando se deu conta já era tarde. Isso é uma situação normal da política, mas nunca para ter um golpe. O golpe é uma tragédia, foi um golpe realmente. Está todo mundo sabendo hoje com mais clareza o que é um golpe: uma quebra institucional, uma quebra de regras. Há um processo que nós estamos vivendo de escolhas muito selecionadas e isso é muito ruim para a democracia. Um governo sem legitimidade e refém, hora do Congresso, hora dos interesses da Fiesp em São Paulo, e nunca refém dos interesses do povo...esse caldo não vai andar, até porque o que está se pondo à frente é uma crise muito mais aprofundada. E o PT tem que saber como sai disso, e acho que está saindo com habilidade. Primeira coisa que eu achei importante foi que nós nos mantivemos nessa eleição. Muitos saíram, falavam em mudar de sigla como aconteceu com a Arena que virou PDS, que virou PFL, que virou DEM. Essa coisa não deu certo, não dá certo no PT. Sair do PT eu não vou sair. Então ficou no PT quem tem a origem no PT como uma coisa legítima e que ajudou a construir essa caminhada. Eu acho que a gente vai sair até mais fortalecido, porque nós não morremos, e como dizia minha avó, o que não mata engorda e o que não mata deixa mais forte. E é verdade. A gente vai acabar com um grupo mais coeso e ciente de fazer a revisão e a autocrítica necessária, pública inclusive. Lula tem tido um posicionamento extremamente revigorante. Estive com ele há duas semanas em São Paulo e fiquei muito satisfeito com o que vi de Lula, que de todos nós é quem mais tem sofrido e é quem está com a cabeça melhor para a reconstrução do PT e a caminhada em busca de 2018. Pra mim, depois de todo esse tsunami que nós vivemos, a gente está enxergando com muito mais clareza que não é contra o PT, é contra a classe política, para que os interesses econômicos vigorem no país, tirando de nós o que é mais importante: a nossa soberania. A entrega do pré-sal é trágica, chega a ser algo inacreditável. Era o que nós tínhamos de condição financeira, era o recurso a mais que chegava para melhorar a educação, que é algo que nós vamos ter que investir mais. Essa [PEC] 241 está errada. Não existe como você diminuir investimento na educação e na saúde. Ao contrário, você tem que pensar em como otimizar recursos para investir mais na educação e na saúde. Educação vai ter que crescer, vai ter que abranger mais pessoas, vai ter que chegar a mais lugares e a mais grupos. A gente está vendo que essa entrega do pré-sal agora com essa ideia de chegar a no máximo 16% do PIB...quem tem 16% do PIB para manter o Estado são países pequenos, são os piores países em termos de índices econômicos e sociais. Eles não estão agindo com seriedade com relação ao povo brasileiro. Não é só o PT que sofreu. Aos poucos estamos vendo que todos que acreditam no Brasil vão uma hora acordar para entender que o jogo é de lados. O PT faz parte de um lado, mas não é só ele que está desse lado. Estão nesse lado partidos de esquerda, progressistas, a intelectualidade, pessoas da cultura, pessoas da ciência. Todos aqueles que querem um país mais soberano. Do outro lado estão os que se enganaram, os que ainda não perceberam a dimensão do problema, os de direita, os conservadores, os que ainda pensam um Brasil para poucos. Esses dois lados estão ficando cada vez mais definidos. Nós temos um lado, vamos continuar do nosso lado e vamos fazer as revisões necessárias desses traumas todos que foram vividos para que a gente aprenda mais com nossa história recente.