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Entrevista

Lídice da Mata cita incertezas políticas com impeachment de Dilma e comenda perspectivas para 2016 - 02/05/2016

Por Fernando Duarte / Guilherme Silva

Lídice da Mata cita incertezas políticas com impeachment de Dilma e comenda perspectivas para 2016 - 02/05/2016
Foto: Luiz Fernando Teixeira / Bahia Notícias

Daqui exatos cinco meses, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) e o PSB baiano almejam ter no primeiro turno das eleições municipais cerca de 60 cidades baianas com candidatos a prefeito. Representantes da legenda na disputa das três maiores cidades do estado - Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista - só não estão garantidos, pois a situação na capital ainda é "incerta", segundo a presidente do PSB na Bahia. "Nós vamos a partir de agora começar a intensificar a nossa preparação para as eleições", disse em entrevista ao Bahia Notícias, despistando sobre quando a legenda deve se posicionar em relação a disputa em Salvador. Como representante da Bahia no Senado, ela também se dedica atualmente ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que no final das contas pode ter impacto direto nas eleições, especialmente se a proposta dela e mais cinco senadores pela antecipação do pleito presidencial for aprovada. "Aí sim nós teremos um quadro novo, um quadro que permitirá com que os municípios discutam tanto a sua eleição municipal quanto as saídas da crise para o país com candidaturas que possam alavancar essas propostas", analisa. Confira aqui a entrevista completa!

A senhora faz parte de um grupo de senadores que subscreveu a proposta de emenda à Constituição para antecipar as eleições. Além de demarcar posição com essa proposta, a senhora acredita que é possível ela vingar tanto no Senado como na Câmara?
Olha, eu acho que essa proposta tem um diálogo essencial com a rua. Se nós tivermos um processo de convencimento das entidades, dos movimentos, para o entendimento que a saída da crise passa pela legitimação de quem estiver no poder para ter condição de negociação com a sociedade, nós conseguimos viabilizá-la tanto no Senado quanto na Câmara. É claro que saindo do Senado viabilizada, é muito mais fácil entrar na Câmara, mesmo que a Câmara tenha 513 deputados e tenha um processo muito mais agitado de definições, tenha um Eduardo Cunha na presidência dificultando as coisas...Mas uma aprovação no Senado sem dúvida nenhuma dá uma condição de entrada na Câmara com enraizamento nos partidos, nas lideranças, que tem uma relação partidária também no Senado.

A senhora adotou uma posição contrária à direção nacional do PSB. Isso não gera um conflito interno dentro do próprio partido entre a senhora e a direção nacional?
Foi uma posição diferente, no entanto, digamos assim, permitida pelo partido. O partido não fechou questão em relação ao impeachment. É claro que a direção trabalhou em uma orientação e nós trabalhamos em outra, mas a direção compreendeu e acertou que nas regiões onde nós temos outras alianças - que não vão nesse sentido de permitir uma posição dessa natureza - não iria interferir. Mas é óbvio que existe um tensionamento partidário neste momento e não é só no PSB. Acho que todos os partidos hoje estão divididos, mesmo naqueles onde não há uma divisão formal sobre o impeachment ou não impeachment. Acho que o PT vive grandes dificuldades, não quanto ao impeachment, mas quanto a enxergar como conduzir a crise nesse momento. O PSDB também se encontra com posicionamentos diferenciados. No PMDB, que vai assumir, tem gente que mesmo sendo minoria vai contra o impeachment no Senado, como votou contra na Câmara. Então é um momento que não se referencia nos partidos políticos, mas na visão individual de cada parlamentar nas suas convicções e por isso eu defendi que o partido não poderia fechar questão. E ainda bem que chegou a essa conclusão.

 
O PSB tem dois representantes titulares na comissão do impeachment no Senado. Os dois já se posicionaram a favor do afastamento. Houve alguma possibilidade de alguém do PSB contra o impeachment cavar uma vaga nessa comissão?
Eu, como líder do bloco, indiquei o senador [João] Capiberibe, mas quem indica é o líder de cada partido. Então o líder do PSB não aceitou a indicação e fez duas indicações. Mas não houve nenhum conflito não. Houve uma luta de Capi para que pudesse participar da comissão, o que não se efetivou. Nós indicamos dois do PSB na titularidade e um suplente. Como o PSB tem um número muito maior que os outros dentro do bloco, a proporcionalidade foi garantida.
 
A senhora citou os partidos que têm conflito interno por causa das posições divergentes dos membros. Se fala muito em golpe da democracia nesse período que a gente vivencia. Na verdade, não seria um momento para repensar o modelo de democracia, o modelo de representação que nós temos hoje no ambiente político nacional?
Eu não tenho dúvida. Volto a falar sobre essas divisões. A Rede acabou de se compor. A posição da Marina ou da maioria da Rede foi uma posição pró-impeachment, mas os membros da Rede que se pronunciaram no processo foram contra o impeachment. Votou contra o Aliel, do Paraná, que era membro da Rede na comissão, votou contra Molon. Se não me engano teve outro voto contra. Então termina que o cenário é de convicções e não de interesses ou definições partidárias. Isso embute um pensamento imediato: que não é possível sair da crise política - não estou falando da crise econômica -, da crise de representatividade do Congresso Nacional, sem passar por uma reforma da forma de eleger. Ou seja, por uma reforma política. Nós estamos continuadamente sentindo que o país se surpreende com o Congresso que tem. Não foram poucos, mesmo aqueles defensores do impeachment, que no dia seguinte estavam chocados com a cena que viram da Câmara dos Deputados, considerando que foi uma votação que não, digamos assim, respondia ao conteúdo que eles gostariam de ver refletido num debate daqueles. Virou um grande espetáculo, foi um show de glamourização daquilo que seria um ambiente lamentável, porque não se pode comemorar um impeachment de presidente da República. Você tem um confronto político, e a retirada de um governante nas condições que foram não se registra como uma grande alegria. Aliás, exatamente se confirma aquela grande frase de que a história não se repete, senão como farsa ou tragédia, referindo-se à tentativa de alguns que acharam que nós estamos apenas repetindo o que foi feito com [Fernando] Collor. Não é uma repetição. Volto a dizer, o processo de Collor levou a uma situação em que Itamar [Franco] assumiu totalmente o governo. Nós não vamos ter isso com o impeachment. Nós vamos ter aí, se passar, - e tem muitas chances de passar pelo fato da admissibilidade no Senado se dar por maioria simples - um afastamento da presidente, que continua presidente da República por seis meses, no entanto afastada, e um presidente interino. Eu realmente não consigo enxergar um presidente interino como um governo que tenha força suficiente para dar condição de saída para a crise. Muitos empresários até sinceramente interessados no Brasil pensam que afastando a presidente no dia seguinte vai estar tudo ajustado, eles vão ter aquela reforma que eles têm na cabeça, que é a reforma que interessa ao mercado. Só que a vida não é tão simples. Além do mercado, tem as pessoas que fazem o mercado, digamos assim. Embora haja um mercado financeiro virtual, negócios virtuais, há uma vida real que dá sustentação a esses negócios. E é nesse espaço da vida real que a política vai acontecer. Não é possível fazer as reformas pretendidas, por exemplo, no documento 'Uma Ponte para o Futuro', do PMDB, sem levar em conta que haverá resistências reais da sociedade, que os trabalhadores não deixarão passar uma mudança na CLT, mexendo em interesses fundamentais deles, sem reagir a isso. Então, infelizmente, eu não vejo um quadro de nos próximos seis meses termos um país pacificados pela via do impeachment.

 
Você acredita que os parlamentares, tanto na Câmara quanto no Senado, estão indo com suas convicções muito definidas e menos abertos ao debate?
Há sempre uma boa parte que tem posições definidas. Em se tratando do Senado, que é um espaço menor, somos apenas 81, há partidos que têm posições muito fechadas, muito definidas, mas há um campo de indefinição também. Hoje o Senado não teria 54 votos para aprovar o impeachment da presidente. Acho que esse é um ambiente que dá esperança à presidente da República. No entanto, o tempo é contra ela, porque na medida em que ela possa ser afastada imediatamente, disputar fora da cadeira é mais difícil, mesmo entre os indecisos, até porque haverá um grande empurrão, digamos assim, da grande mídia nacional, que aliás já está fazendo isso agora. Há uma parte da mídia que está quase se recusando a discutir o processo de impeachment no Senado e já se dedica a discutir o próximo possível governo do vice-presidente Temer, já se debatendo sobre as alternativas para os ministérios dele. Alguns acham que isso pode ser positivo. Eu acho que vai nascer um ministério velho.
 
Em cinco meses a gente tem um cenário de eleição municipal, mas que é influenciado por esse processo político nacional. Como é que o PSB, partido que a senhora preside, está se configurando neste momento aqui na Bahia?
Com todas as dificuldades do momento, nós estamos tentando nos preparar bem para o enfrentamento dessas próximas eleições. Nós teremos entre 70 e 50 candidatos a prefeito. Em muitas cidades ainda há um caminho de ajustamento de posições, mas temos hoje em torno de 60 candidaturas a prefeito. E vamos nos preparar também para participar da disputa em grandes cidades. Isso é uma vitória para o PSB, o PSB se posiciona como um partido em crescimento na Bahia, na direção desse fortalecimento. E mesmo com essa circunstância nacional, nós vamos ter vitórias importantes aqui no estado em municípios importantes. É claro que a crise nacional afeta a eleição municipal a depender do impacto dessas mudanças naquele espaço. Nas grandes cidades há um impacto maior, nas pequenas cidades há um impacto menor, a luta do espaço territorial se sobreporá à luta geral pela presidência da República. A não ser que tenhamos aquilo que nós estamos defendendo, que é um grande debate sobre as eleições presidenciais no Brasil e a possibilidade de ter uma eleição casada de presidente da República com prefeituras. Aí sim nós teremos um quadro novo, um quadro que permitirá com que os municípios discutam tanto a sua eleição municipal quanto as saídas da crise para o país com candidaturas que possam alavancar essas propostas.
 
A senhora falou de candidatura em grandes cidades, mas não falou nenhuma...
Feira de Santana, Alagoinhas, Guanambi, Conquista, Ilhéus talvez, Itabuna. Salvador ainda indefinido, mas é impossível. Grandes cidades na Bahia tem um sentido diferente. Você tem as três maiores cidades e depois delas a diferença de eleitorado é muito significativa. Mas entre grandes e médias cidades nós estaremos com uma grande participação.
 
Qual seria a grande aposta do PSB para a eleição municipal?
Uma só eu não posso fazer essa injustiça com as demais. Nós teremos pequenas cidades que são cidades muito caras ao PSB, como por exemplo Andaraí, que tem uma gestão de absoluta referência para toda região, com grande aprovação popular em toda região. Nós viemos de lá, inauguramos na última semana a sexta escola de tempo integral. Temos Abaíra, que também é outra cidade governada pelo PSB muito bem. Caetité, que tem também uma prefeitura muito bem avaliada. E não vou continuar falando para não fazer injustiça com os outros. Eu citei três que encerraram seus mandatos. Nós temos novos prefeitos que também estão desempenhando muito bem os seus mandatos e que vão para reeleição. Então eu não posso citar as grandes e fazer injustiça com as pequenas, nem vice-versa.

 
Em Salvador a situação está indefinida. Tem algum prazo para que isso se resolva?
Nós vamos a partir de agora começar a intensificar a nossa preparação para as eleições. Nos próximos dias 5, 6 e 7 vai acontecer em Brasília um seminário nacional do PSB com os pré-candidatos a prefeito. Já fizemos um seminário há dez dias em Feira de Santana. Com a presença do pré-candidato de Irecê, de Alagoinhas, já surgiu a ideia de que esse seminário pudesse ir para essas cidades. Vitória da Conquista nós temos previsto também um seminário grande. Então a tendência é que agora, mesmo com o interesse nacional nos puxando para esse processo do impeachment, nós possamos nos concentrar nesse período eleitoral. Eu tenho, obviamente, uma situação dividida. Pra mim é muito difícil me concentrar apenas nas eleições municipais, embora elas tenham toda importância, porque por razão até de dever do meu mandato eu tenho que dar muita atenção ao processo do impeachment que está em Brasília exercendo inclusive a função de líder do bloco. Já era para eu ter saído da liderança do bloco, foi ficando, ficando, eu estou tentando passar a liderança para ver se posso me dedicar um pouco às eleições no estado, até porque a Bahia não é um estado simples. É um estado com 417 municípios que exige, portanto, uma concentração. O PSB tem hoje participação em mais de 300 municípios do estado. E mesmo nos lugares onde não temos candidato a prefeito, teremos candidatos a vereador. Em algumas cidades vamos ter também participação na chapa majoritária. De qualquer sorte é um momento de muita importância para os partidos políticos.
 
Em 2014 a senhora foi candidata ao governo do estado e em seguida acabou compondo a base aliada do governador Rui Costa. Como está a relação entre PSB e governo do estado?
A relação nossa está muito boa. Nós temos aprofundado a nossa relação política com o governador Rui Costa, que tem demonstrado uma capacidade muito grande de concentração na gestão, de responder aos desafios do momento. O desafio do momento é governar com pouco e ele tem feito isso bem. Concentro no impacto importante que eu sinto que é um compromisso dele dar na educação. E isso é fundamental para o desenvolvimento do estado. O governador também tem buscado compreender que a política é um elemento essencial na composição da gestão e tem trabalhado bem sua aproximado com a bancada de deputados federais, senadores. Não é à toa que a Bahia teve o extraordinário desempenho de unidade que teve durante o desempenho de unidade que teve durante o período de votação na Câmara dos Deputados. Poucos estados tiveram um desempenho como a Bahia. Que desempenho é esse? É uma unidade em torno do projeto estadual. Quem esteve conosco no projeto estadual, na participação do governo, votou com o governo nesse momento. Raro foi o momento em que isso aconteceu. Isso dá uma dimensão da importância política que o governador Rui Costa tem tido na manutenção dessa liderança iniciada por [Jaques] Wagner, da unificação desse campo que foi criado por Wagner. Eu acho que ele tem um enorme desafio, que é manter esse campo em um momento de dificuldade nacional. A Bahia, pela sua história, por ter sido primeira capital da colônia, sempre mantém uma ligação muito grande com os movimentos federais, os movimentos nacionais, mas também mantém uma base, uma unidade em torno de seus interesses próprios. Rui está preparado para os desafios que vêm pela frente.