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Entrevista

Daniel Almeida diz que PCdoB avalia lançar candidaturas a prefeito em mais de 100 cidades - 31/08/2015

Por Fernando Duarte / Luiz Fernando Teixeira

Daniel Almeida diz que PCdoB avalia lançar candidaturas a prefeito em mais de 100 cidades - 31/08/2015
Fotos: Virgínia Andrade / Bahia Notícias

O presidente estadual do PCdoB, o deputado federal Daniel Almeida afirmou que a sigla pretende lançar candidaturas à prefeitura em pelo menos 100 municípios da Bahia no processo eleitoral de 2016. “Entre esses municípios, nós temos a possibilidade de lançar candidatos em seis ou sete maiores entre os 16 que tem mais de 100 mil habitantes na Bahia, entre eles Salvador, Vitória da Conquista, Itabuna, e Barreiras, além de Juazeiro, obviamente, que nós estamos já dirigindo”, afirmou em entrevista ao Bahia Notícias. O presidente esclareceu que a saída do partido da base em Vitória da Conquista, após uma aliança de 20 anos, não foi traumática, por ser uma evolução do projeto em vigor. Almeida fala ainda sobre a relação com Rui Costa (PT) – com uma leve crítica à articulação estadual -, da atual crise política e econômica no país, além do momento de protagonismo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O deputado ainda criticou a reforma política que foi aprovada: “Pífia”. Confira aqui a entrevista completa!
 
 O PCdoB já colocou pré-candidaturas no estado em Salvador e Vitória da Conquista, duas das três maiores cidades do estado, e em que o PT também quer lançar candidatura, com os dois partidos sendo aliados. Como harmonizar os interesses das duas siglas em 2016?
Olha, nós temos, como todos os demais partidos, um momento de definição da prática eleitoral em 2016. O primeiro debate se dá, para a elaboração do cenário, até o dia 5 de outubro, que é um ano antes da eleição. O PCdoB deseja naturalmente isso. Deseja lançar candidato no maior número possível de municípios na Bahia e compondo com a frente política, o campo político que dá sustentação ao governador Rui Costa, esse é o nosso objetivo. Dentro desse campo político, vamos colocar nomes para receber apoio e apoiar. Nós temos a intenção de lançar candidaturas em torno de 100 municípios, portanto vamos apoiar outros nomes em mais uns 300, já que estamos organizados em cerca de 400 municípios na Bahia. Entre esses municípios nós temos a possibilidade de lançar candidatos em seis ou sete municípios maiores entre os 16 que tem mais de 100 mil habitantes na Bahia, entre eles Salvador, Vitória da Conquista, Itabuna, Barreiras, além de Juazeiro, obviamente, que nós estamos já dirigindo. Nossa relação se dá combinando com os demais partidos, sem discriminação e sem privilégios na relação com eles. Provavelmente o PT será um desses parceiros principais, mas não haverá imposição do PT ao PCdoB, e nem o contrário. São relações de parceiros políticos. Nós queremos apoiar candidatos de qualquer um desses parceiros da base, e queremos também ser apoiados. Acho que essa é a relação equilibrada que deve se construir.
  
A intenção é Alice Portugal em Salvador e Fabrício Falcão em Vitória da Conquista?
Exatamente. Nós já temos uma definição sobre os pré-candidatos. Além desses, em Itabuna o deputado federal Davidson Magalhães, em Barreiras a ex-deputado Kelly Magalhães e em Juazeiro tem havido um processo de definição em uma articulação liderada pelo prefeito Isaac Carvalho.
 
Em Conquista a gente tem um episódio em que o PCdoB fazia parte do governo com administração do PT e recentemente entregou os cargos, já prevendo uma candidatura de Fabrício Falcão em 2016. O rompimento foi traumático?
Não. Participamos daquele projeto há 20 anos. O PCdoB esteve em todas as campanhas e em todos os governos de Vitória da Conquista nesses últimos 20 anos, e é natural que agora, quando o prefeito não vai para a reeleição e existindo o segundo turno - é a segunda eleição de Vitória da Conquista com segundo turno, é natural que os partidos se apresentem como alternativa, com o objetivo de estarem juntos no segundo turno. Esse é o desenho que prevalece em Vitória da Conquista. Saímos do governo para dar tranquilidade na construção no nosso projeto e também ao prefeito, que querendo construir uma candidatura do seu próprio partido, se sinta mais liberado para fazer isso, para que não haja dificuldade na montagem dos projetos de cada um dos partidos. Mas não caracteriza um rompimento com o projeto, caracteriza a valorização de toda essa trajetória de 20 anos participando ali, e da necessidade de ir adiante, de fazer um balanço dos êxitos que alcançamos, mas considerar que tem muita coisa a fazer e que é preciso renovar esse projeto, por que não com força política?


 

A expectativa do PCdoB de exercer uma posição de maior protagonismo no cenário político baiano já em 2016?
Acho que nós estamos olhando pro Brasil e pra Bahia e verificando que há um ciclo político e de projetos que necessita de renovação, de maior criatividade. No projeto e nas pessoas. O PCdoB tem recebido muitas adesões, muita gente começa a olhar para o PCdoB com uma alternativa para esse caminho da renovação. Não queremos voltar ao passado, para o neoliberalismo, a um período de falta de democracia no país, na Bahia e em cada município. O PCdoB se coloca como essa alternativa e eu tenho percebido isso, tenho percebido um incentivo nessa direção, por isso nós nos colocamos como um protagonista desse projeto, que em minha opinião, nunca teve um reconhecimento por parte dos aliados que poderia ter. Nós gostaríamos de insistir para que haja uma reciprocidade. Apoiar e ser apoiado nas disputas políticas, então é esse o desenho que nós estamos tentando construir na Bahia.
 
Como é que está a relação dos parlamentares do PCdoB com o atual governo do estado da Bahia?
Excelente a relação, acho que o governo Rui é um governo exitoso, nesse seu primeiro ano, estamos aí já com oito meses e temos uma relação tranquila. Uma pessoa de fácil acesso e diálogo é um gestor experimentado e que está demonstrando a enorme capacidade de gestão, e tem uma relação absolutamente normal e tranquila com o governador. Sempre que encontramos com ele falamos sobre a necessidade de discutirmos mais política, e ele próprio ser o interlocutor com os partidos políticos, com a base que o apoia, temos cobrado, por exemplo, a instalação e o funcionamento regular do conselho político, que é formado pelos partidos e pelos líderes das bancadas que o apoiam. Isso está faltando ainda, acho que é preciso reconhecer a necessidade dessa interlocução mais cotidiana.

Saindo do cenário Bahia e Salvador, vamos para o cenário da Câmara Federal. Foi aprovada uma reforma política e o senhor foi um dos críticos ao projeto votado na Câmara e que agora vai para o Senado. A partir da finalização dessa PEC da Reforma Política, como o senhor avalia o resultado final?
O que foi aprovado lá na Câmara e está no Senado sendo discutido, do ponto de vista da mudança na constituição, em minha opinião, é um retrocesso. Nós tínhamos muita expectativa de que a reforma política acabasse, por exemplo, com o financiamento empresarial das campanhas eleitorais. O que votou na câmara foi a constitucionalização do financiamento empresarial aos partidos políticos. Em minha opinião isso é um retrocesso brutal, porque todos acompanhamos que o financiamento empresarial é uma das matrizes da corrupção que tem hoje no nosso país. Outras modificações não foram produzidas, como tempo de mandato, o sistema eleitoral, nada disso se conseguiu avançar. Houve alguns avanços na chamada legislação eleitoral, mecanismo de campanha, tempo de campanha, material de campanha, esses pequenos ajustes que aconteceram. Isso está sendo discutido no Senado, provavelmente o Senado deve liberar sobre o assunto e a matéria vai voltar para a Câmara. Isso ainda está em andamento, mas o resultado final é um resultado muito ruim. Pífio. Não podemos dizer que houve uma reforma política. Não podemos afirmar isso. E acho que foi até bom que não tivéssemos avançado muito porque a câmara dos deputados hoje tem um perfil conservador. Todos afirmam que é a Câmara que tem o perfil mais conservador dos últimos tempos e com um perfil assim nós poderíamos ter retrocessos maiores do que esse que afirmei aqui que é esse financiamento empresarial na constituição.


 

Com relação à Câmara conservadora, nós vivemos um período inusitado: o presidente denunciado ao STF pela procuradoria-geral da República. Como o senhor enxergou essa denúncia do Eduardo Cunha ao STF?
A investigação do Ministério Público e da Polícia Federal concluiu que há um envolvimento dele no recebimento de propina, foi formulada a denúncia. Acho que tudo deve ser apurado, todas as investigações devem ser feitas, nós somos intolerantes com a corrupção e constatado que as denúncias têm precedência, vejo que ele não terá condições de permanecer, ou não vai ser conveniente, ele permanecer a presidência da Câmara. Por enquanto existe uma denúncia e nós sempre defendemos a presunção da inocência, esse é um princípio fundamental no nosso ordenamento jurídico, e até que fique demonstrado que a denúncia tem precedência, todos os cidadãos têm direito de defesa. Ele virando réu, aí eu acho que o melhor caminho é o do afastamento.
 
Como o senhor está observando esse clima de tensão política vivenciado hoje aqui no Brasil?
Preocupante. É uma crise econômica, política, e a crise política alimentando a crise econômica. O resultado: a geração de desempregos, a economia paralisada e o desemprego crescendo, portanto quem paga o preço é quem paga a conta, o trabalhador. E ainda com um desfecho indefinido, prevalece a insegurança, a instabilidade e a indefinição sobre o desfecho dessa crise. Acho que isso é muito ruim para a vida econômica, democrática e política do nosso país. O que eu penso que nós todos deveríamos nos unificar é em defesa da democracia. Qualquer crise econômica, em algum momento nós vamos superá-la. A crise política pode leva a desfechos trágicos se não forem bem conduzidas, e nós esperamos que ela seja conduzida com elementos centrais para a vida de todos os brasileiros que é a preservação da democracia, para que não demos um passo pra trás. Em minha opinião, a preservação da democracia é respeitar a constituição, é respeitar o ordenamento jurídico, o estado democrático de direito, respeitar as regras do jogo. E as regras do jogo determinam nesse momento que tem um procedimento que define as eleições, regras para as eleições que quem entra na disputa entra com a possibilidade de perder. Quem ganha governa, quem perde espera a próxima oportunidade. Acho que esses são os elementos centrais para a superação da crise política e criar melhore condições para superar também a crise econômica.
 
Na última semana tivemos dois episódios de protestos contra e a favor do governo. O senhor defendeu as manifestações que aconteceram no dia 20 por conta do posicionamento das manifestações do dia 16. Esse estado de mobilização de parcelas da população é útil para a democracia?
Sem dúvida. Eu nasci das ruas, desde cedo estive nas ruas mobilizando a sociedade o nosso povo em torno de reivindicações e de bandeiras. O que acho que tem que haver é nitidez nas posições que cada um defende. Pesquisas demonstraram que o dia 16 os que foram às ruas, predominantemente eram aqueles que votaram no Aécio Neves em 2014. Pesquisa em BH demonstrou que 79% dos que estavam ali diziam que votou em Aécio. Em São Paulo, 77%. Isso mostra a tentativa de fazer um terceiro turno da eleição. Quais bandeiras esses setores defendiam? Estava muito claro: desde a volta dos militares, posições reacionária de que em 64 poderiam ter eliminado pessoas que estavam no poder, acho que isso acaba com o processo democrático. A s manifestações do dia 20 tinham bandeiras muito claras, eram manifestações de setores organizados da sociedade que defendiam a democracia, direitos dos trabalhadores, do nosso povo, defendiam, portanto, a manutenção das regras do jogo, e defendiam também o mandato da presidente Dilma, que resultou nessa legitimação que o voto produz no processo democrático. Tanto que são manifestações com perfis e com caráter político bem distinto. Mas penso que todas as manifestações do processo democrático devem ser absorvidas, respeitadas, e a sociedade vai acompanhar e apoiar ou não, de acordo com o seu juízo de valor.
 
E sobre a Agenda Brasil?
A Agenda Brasil teve uma manifestação a partir do Renan, do Senado, com pontos variados de possibilidade, um conjunto de líderes da base do governo levantou outras sugestões, mas acho que o fato importante é nós percebermos que mais importante do que ficarmos em torno da crise, falando da crise e nos digladiando sobre oposição e situação, é convergirmos para o interesse do Brasil, ter uma agenda que sintonize o debate político em torno dos interesses maiores do nosso país, que é o desenvolvimento, a defesa das empresas, da democracia, dos direitos dos trabalhadores, aproveitar pra fazer uma reforma tributária, que aproveite pra distribuir melhor os recursos para estados e municípios. O elemento central hoje em nossa opinião é a agenda para o desenvolvimento da democracia.