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Entrevista

Alan Sanches reclama da articulação de Josias junto a deputados estaduais - 25/05/2015

Por Fernando Duarte / Alexandre Galvão / Estela Marques

Alan Sanches reclama da articulação de Josias junto a deputados estaduais - 25/05/2015
Fotos: Virgínia Andrade/ Bahia Notícias

Deputado estadual e presidente do PSD em Salvador, Alan Sanches não se censura ao criticar o trabalho do secretário de Relações Institucionais, Josias Gomes, na articulação política do governo estadual. O maior erro do secretário, segundo Sanches, é não fazer o deputado se sentir prestigiado - a falha, inclusive, se estende ao presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo (PDT), apontado por Sanches como o “grande articulador político do governo”. Em entrevista concedida ao Bahia Notícias, o parlamentar fala sobre sua campanha à prefeitura de Salvador nas eleições de 2016 e sobre uma eventual saída do PSD, junto com seu filho, o vereador Duda Sanches.


O senhor foi o primeiro, talvez o único, a manifestar publicamente uma certa tensão entre a base do governo na Assembleia Legislativa e o Executivo. Quais são as razões para que essa tensão exista hoje?
Eu tenho posição, tenho postura, mas não tenho o que às vezes acham que pode ser uma coisa desafiadora, absolutamente. Mas eu às vezes acho que tenho todo o direito de responsavelmente expor as minhas posições. Talvez tenha sido isso, de expor publicamente uma coisa que estava acontecendo e que vocês da imprensa acompanham muito sabem, a insatisfação. Quando nós ganhamos a eleição, em outubro, todo mundo ficou ansioso para participar do governo, das decisões e dos acontecimentos. Passa outubro, tem eleição do segundo turno, você espera - “Não, só vamos conversar política depois”. Aí passa a eleição dia 27 de outubro, nada. Novembro, nada; dezembro nada. Janeiro assume o governo e todo mundo com a mesma expectativa. Chega janeiro, nada; fevereiro, nada. E não se conversa com a Assembleia. O próprio presidente Marcelo Nilo também sentiu isso na pele. O problema do político, do deputado, do vereador, do senador, de quem quer que seja, é se sentir participante daquele projeto. Eu, por exemplo, não construí o projeto na eleição de Jaques Wagner. Eu era do PMDB, fundamos o PSD, e eu poderia exigir pouco, porque eu não construí, não participei da construção. Participei depois do governo, votando, me expondo - quando se participa do governo, tem ônus e bônus, e tem que defender a sua bandeira, assumindo isso. Mas quando chegou na campanha agora, eu me senti um construtor desse projeto, eu acreditei. Claro que do meu tamanho. Sou miudinho, sou pequeno, mas eu ajudei a construir, dentro da minha possibilidade. Os colegas da mesma forma, porque foram vários os deputados que ajudaram a construir. E o que aconteceu: todo mundo sem informação na Assembleia. Quando a gente fala “sem informação” não é só referente a ocupar cargo - que acho muito natural, faz campanha, quer participar do governo, e a Assembleia ficou um pouco isolada desse processo. Vários deputados começaram a se sentir sem importância no projeto. E isso começou a machucar cada um. Outra coisa que acho que pode interferir muito nessa insatisfação, que ainda existe, é que a partir do momento que você fez a montagem do governo, o governador, que tem sido um homem que escuta muito - fez reunião com os deputados do PSD, muito lúcido, escutando, colocando a sua verdade, mas muito mais ouvindo do que falando pra gente -, a gente tem percebido falta de articulação política. Na montagem do governo, ele fez a conversa com os partidos e muitas vezes os partidos não fizeram a conversa a contento com seus deputados. Não falo do PSD, falo de vários partidos. A conversa tem que ser com partido, lógico. Legitimamente quem tem pra conversar, ser representado, realmente é o partido, mas na hora da votação o deputado tem que se sentir prestigiado, ser ouvido, porque é ele que vai votar ali.
 
 
Então o problema não é o governo, mas a articulação do governo?
Pronto. Chegamos ao primeiro ponto. Tenho certeza que a articulação hoje é falha, porque o Rui não tem tempo, como governador, de resolver essas questões menores. A questão com deputados é  muito menor para um governo do estado que mexe com toda a população baiana, mas ele dá o norte. Não tem como um secretário responsável por uma articulação política demorar mais de um mês pra falar com o presidente da Assembleia Legislativa. O grande articulador político do governo chama-se Marcelo Nilo, então ele tem que estar muito bem trabalhado, muito bem ouvido pra poder fazer essa articulação. Marcelo Nilo hoje não vai ser um presidente de Assembleia como vai ser um outro de dois anos. Marcelo Nilo está indo para seu quinto mandato como presidente, fora os 16 anos que já tinha como deputado, então é um presidente de peso e o grande articulador político do governo.
 
Marcelo Nilo é o líder do governo?
Não seria o líder propriamente dito. Não desmerecendo o líder Zé Neto, mas o peso que Marcelo Nilo tem ali, inclusive para influenciar, conseguir controlar e convencer a oposição com seus argumentos, é grande. Marcelo Nilo chama para conversar, conhece os deputados todos, o tempo todo deputados vão para Marcelo Nilo chorar; é com Marcelo que o deputado vai lá contar suas dificuldades. Ele sempre atende muito bem seus colegas. É como ele diz: “Quem me elegeu aqui não foi o governo, foram os deputados, então eu procuro sempre tratar bem os deputados”. Marcelo faz muito bem esse link, só que o próprio está tendo dificuldade com a articulação política. Os projetos vão pra lá sem conversar com Marcelo, sem saber se é o momento. Claro que nós temos o líder de governo e o líder de oposição, mas ele é o termômetro. E se o próprio Marcelo, que é presidente, desse tamanho, conversando e falando desse jeito não está satisfeito - não estou aqui pra falar por Marcelo, estou falando o que eu acho -, imagine o pobre mortal que são os deputados. Acho que a articulação política não pode ficar sem conversar com os deputados. O deputado não está ali só pra ficar pedindo isso ou aquilo, a questão não é essa. A questão é que às vezes o deputado quer vir, tomar um cafezinho com você, bater papo, qual o norte que você vai dar. Isso é articulação política e os deputados estão meio sem esse norte. Eu tive uma excelente relação com o César Lisboa, Cícero Monteiro, e às vezes o secretário de Relações Institucionais, Josias Gomes, não sei se é o momento ou a carga de trabalho, chega a ser um pouco ríspido com suas respostas.
 
Nos bastidores comenta-se também que há certo ressentimento do senhor, porque inicialmente a vaga da Secretaria de Relações Institucionais estaria reservada para Alan Sanches. Existe realmente isso?
Não, longe de mim. Cada um sabe do seu tamanho. O grande defeito do homem é não saber seu tamanho. Sempre prefiro botar que meu tamanho é menor do que qualquer coisa que eu ache. Rui nunca conversou comigo em absolutamente nenhuma hipótese. O que aconteceu foi em outros momentos, que aí foi ventilado por muita gente, o nome da Secretaria de Saúde, mas nunca ninguém conversou comigo sobre isso.
 
É um boato para minimizar o ressentimento de Alan Sanches?
Se você me perguntar se é um ressentimento, eu acho o seguinte. Quando você faz campanha, você quer participar do governo, se sentir prestigiado. Às vezes você não quer cargo nenhum, mas você tem acesso; às vezes você não precisa indicar diretor de lugar nenhum, mas você tem que ter acesso ao governo. Quando você procura um secretário pra resolver um pequeno problema e você não consegue ter acesso, você perde o prestígio. Quando você leva uma pessoa pra ser atendida, a pessoa não é bem atendida, que é o mínimo que a educação obriga a fazer, mesmo que diga não. A pessoa não vai só para receber “sim” - pode receber sim ou não. É preciso ter esse acesso. Existe deputado se queixando que não consegue uma audiência com o secretário de articulação há 21 dias, na relação. O deputado disse que não tinha condição de falar com o secretário de Relações Institucionais. Quando existe atenção e carinho com o deputado, ele fica devedor da sua atenção. Quando você ligar, ele vai atender, não vai precisar fugir do seu telefonema ou dizer que viajou porque não vai querer votar. Existem votações que vão ser impopulares e se você for buscar, em todas as votações, eu participei das votações ditas impopulares sempre, nunca me furtei ao debate, a fuga nenhuma. Se disser que eu ou qualquer deputado queria ser secretário de Estado, lógico. Isso entra no seu currículo. Tenho 11 anos de mandato, fui presidente da Câmara, vereador mais votado, tenho politicamente independência. Ninguém fez minha campanha. Eu faço minha campanha, como fui deputado antes não conhecia nenhum grande líder, ganhei novamente como deputado, meu filho hoje é vereador, foi o mais jovem vereador de todas as capitais do Brasil, ou seja, a gente tem uma história política que vem criando com nossos esforços, nosso trabalho.
 
O governo teve um pouco de dificuldade em aprovar o aumento dos servidores. O senhor acha que existe temeridade de enviar um segundo projeto importante devido a essa tensão entre a articulação e a Assembleia?
O governo vem procurando minimizar e apagar os incêndios que existem. É preciso que o governo queira trabalhar para apagar os incêndios que existem na Assembleia - e não adianta dizer que não existem. Se fizer em bastidores umas perguntas, vai ver as insatisfações, que não foram sanadas ainda, porque se tem a caneta e o papel, pode resolver os problemas, pontualmente. Não precisa ser o governador, para isso existe o seu secretariado, que vai resolvendo da forma que pode. Não pode querer resolver na hora da votação, que aí vai tomar bomba de novo, mas acho que o governo tem tudo pra poder resolver. Agora, tem que ter a vontade. É igual algumas coisas que não acontecem na vida do cidadão. Às vezes falta vontade política pra resolver. Alguns deputados falam que o governo hoje não gosta de deputado, gosta de prefeito, mas eu não acredito que seja por aí. Agora não pode um deputado ficar 20 dias, 30 dias, que não consegue uma audiência com o secretário de Relações Institucionais.
 
Comenta-se pelos corredores que Josias tem certa preferência em receber prefeitos porque quer ser candidato ao Senado. Vocês já chegaram a ouvir algo nesse sentido?
Já ouvi. Não posso dizer que sim ou que não, mas já ouvi. Essa informação que você tem eu tenho também, mas nunca conversei com ele sobre isso. Minha última conversa com ele deve ter mais de 50 dias e foi por mensagem, mas que eu já ouvi, já. Agora ele nunca me disse que vai ser candidato ao Senado.
 
Tirando foco na AL-BA, trazendo para 2016, Salvador. O senhor se postou como possível candidato do PSD à Prefeitura de Salvador. Mantém essa posição? A estratégia da base aliada do governador Rui Costa é pulverizar as campanhas da base pra tentar minimizar a força de ACM Neto na capital e, quem sabe, levar ao segundo turno?
Vou dizer uma opinião como se a gente estivesse tomando um cafezinho e batendo um papo. Para você querer dar viabilidade numa candidatura, você tem que dar visibilidade. Se você não pega seus potenciais candidatos e dá visibilidade, você não está ajudando. Não pode dizer “Você vai ser um dos candidatos da base” sem dar nenhum suspiro. Tem que dar visibilidade. Os meios de comunicação, o tempo partidário, tem que ser dado a você, de preferência na sua cidade, para que você consiga adentrar na casa das pessoas, se apresentando, falando dos projetos. Não fazendo propaganda antecipada, mas apresentando seu partido. Se você tiver colocação dentro do governo do estado, isso também te dá visibilidade; se você tiver uma colocação dentro de uma secretaria municipal, você tem visibilidade. O governo pode fazer isso. O que precisa é o governo sentar, ver quem são os candidatos viáveis, já que ele quer lançar três, quatro ou cinco, e começar a chamar para conversar. A meu ver, se você quer lançar candidato, tem que começar a dar visibilidade. Existem candidatos aí que se colocam, porque eleição só se ganha no dia. Ninguém ganha eleição de véspera. Já vi gente que sentou primeiro na cadeira e acordou fora dela no dia 3, dia 4 de outubro. Se quer lançar candidato, tem que dar visibilidade de alguma forma. Se não dá, o cara fica doido, querendo aparecer e criar seus fatos políticos positivos, tentar ter um lugar ao sol.

 
Alan está buscando um lugar ao sol? O senador Otto Alencar está interferindo nesse processo também?
Otto falou comigo, lançou o nome em uma entrevista a um jornal, falou que aqui o candidato do PSD seria eu, mas a gente pra ter isso tem que ter partido forte no município. Nosso partido hoje conta apenas com um vereador e pra sair dessa forma o PSD não tem condições de sair sozinho. Tem condição de sair bem, mas sair com apoio de uma chapa, porque tem que ter chapa boa, de vereadores fortes, que dê capilaridade que uma eleição majoritária precisa. Só dá pra sair candidato sozinho, quem tem grande chapa de vereadores, porque são eles que vão carregar sua bandeira, vão levar sua mensagem, vão pedir o voto. Isso é extremamente importante e a gente tem em mente. Acho que falta organização do lado de cá, na chapa do governo, pra dizer “Dessa forma a gente vai”, e não ficar “Nós temos candidato A, B ou C”. Da mesma forma tem outros partidos que eu não vou citar o nome aqui, mas vocês vão ver que é candidato de voo solo. E se for de voo solo não vai pra lugar nenhum. Não é de dizer assim “PT, chegou a hora de apoiar”. Não é só isso, porque inclusive dentro do PT isso não está claro, tem candidato se colocando, vários candidatos se colocando a prefeito. Isso também gera insegurança.
 
O prefeito ACM Neto perdeu o PTN e ficou meio na corda bamba para aprovar alguns projetos. O PSD já foi assediado pela prefeitura, já que é independente na Câmara de Vereadores?
O PSD sempre teve uma boa relação com o prefeito ACM Neto, nunca tivemos problema nenhum. Hoje estamos em lados opostos ideologicamente, no governo, mas o vereador Duda Sanches sempre que pôde contribuiu com a cidade. Nós tivemos o projeto IPTU, a única emenda que foi aprovada foi a de Duda, que votou no projeto mas com a emenda colocada por ele. Tivemos outras participações do PSD, inclusive, em alguns momentos tivemos que fazer o contraponto, sob orientação do partido. Otto tinha orientado que não votássemos no projeto, não lembro especificamente qual, que seria votado em julho, agosto, mas depois foi retirado de pauta. Duda já tinha declarado ao prefeito que votaria contra, o prefeito sabe disso e também toma as posições que acha que deve, mas nesse momento o PSD tem independência. Por que o PSD não faz parte da oposição? Quando você faz montagem na Câmara Municipal, pega os vereadores que vão estar na oposição e divide o espaço que cabe à oposição. Os espaços foram divididos e o PSD só foi chamado após a divisão do espaço. Eu sempre digo: política tem ônus e bônus, mas você rói osso e tem que comer filé. Quando tiveram as divisões, o PSD ficou isolado, não teve um assento na mesa, não foi presidente ou vice-presidente de uma comissão, não teve participação, ficamos isolados e queriam que a gente seguisse a orientação da oposição. Aí não existe. Quando passou dois anos, novamente tentaram fazer isso. Depois de dividir os espaços, nós não fomos chamados nunca. Então não podemos dizer que fazemos parte da oposição na Câmara Municipal. Votamos com orientação do partido, de Otto, minha, que sou o presidente municipal. Hoje, Duda é líder do partido e presidente da Comissão de Saúde, uma conquista dele e do partido, a oposição não participou. Acho que faltou um pouco de desprendimento da oposição e chamar pra conversa. Como não chamou, é normal, são todos amigos ali, tranquilo, mas cada um defendendo seu espaço.
 
A gente ouviu também nos bastidores que, com a reforma política, existe a fusão iminente de alguns partidos, Alan Sanches poderia deixar o PSD junto com Duda Sanches. Existe essa possibilidade?
Cada dia com sua agonia. Hoje estamos com o PSD, sou fundador, Duda também é fundador do PSD, naquele momento ele poderia ter ido para qualquer partido, mas preferiu ficar no nosso partido, uma partido que já tem três anos. Acho que há momentos que, como todo casamento, a gente tem crise de identidade e de relacionamento, opiniões diferentes, mas nunca conversei com Otto sobre isso, não abri esse tipo de discussão. Fui líder do partido dois anos, hoje sou presidente da Comissão de Saúde [da Assembleia]. Hoje quero resolver as questões políticas na Assembleia, melhorar articulação política e minha participação no governo. São desejos meus de tentar melhorar minha participação, que, defendendo o que penso, acho que eu merecia um prestígio e consideração melhor, que até o momento não tive. Como sou muito paciente, aguardo esse reconhecimento. Também se não tiver, acho que isso faz parte do jogo, vou continuar fazendo meu trabalho, minha política. Mas não tem absolutamente nada sobre isso, nunca teve nenhuma conversa. Quando você começa a dizer que está insatisfeito com isso ou aquilo, claro que as pessoas começam a fazer esse tipo de questionamento. Mas não passou pela minha cabeça, não conversei com Otto ou com o partido sobre isso, apenas quero resolver questões que acho que são salutares, recuperar o prestígio. Não posso acreditar que a gente tinha um tamanho no governo Wagner e hoje vai ser menor. Se for menor, tem que ser pra todo mundo. Acho que mereço um pouco mais de consideração, mas isso é questão do que eu acho e nem sempre o que acho é a verdade.