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Entrevista

Érico Mendonça assume Secult com desafio de manter as tentativas de ocupação do espaço urbano - 12/01/2015

Por Renata Farias / Lucas Cunha / Fernando Duarte

Érico Mendonça assume Secult com desafio de manter as tentativas de ocupação do espaço urbano - 12/01/2015
Fotos: Milena Abreu/ Bahia Notícias

Com perfil iminentemente técnico, o novo secretário de Cultura e Turismo, Érico Mendonça, assume a pasta com o desafio de manter as tentativas de ocupação do espaço urbano, como a realização de festivais e projetos como a Feira Gastronômica, mas também atrair turistas do Brasil e do exterior. “Estamos discutindo como usar o calendário de eventos como uma ferramenta para atrair turistas”, destaca Mendonça, que assume a cadeira após uma passagem destacada de Guilherme Bellintani. O novo titular cita ainda futuros projetos, que serão desenvolvidos via Prodetur, a exemplo de museus de Pierre Verger e Caribé e o Museu da Música Brasileira, além de iniciativas para fomentar o segmento de turismo de negócios e o turismo náutico. Sem esquecer da realização de uma Bienal de Fotografia em Salvador. Saiba um pouco mais sobre os projetos em fase de desenvolvimento da Secretaria de Cultura e Turismo na entrevista abaixo:
 
Como é substituir um secretário que atraiu tantos holofotes e se tornou uma marca muito positiva do governo ACM Neto como Guilherme Bellintani?
É uma opção excelente, porque eu já fazia parte da equipe de Bellintani, eu era diretor de Turismo, então a gente já vinha trabalhando em conjunto em uma série de projetos, claro que não na totalidade dos projetos. Mas é bom porque você sabe que é um processo de continuidade. Você participou da primeira fase, agora claro que vamos criar algumas inovações, que cada um coloca seu perfil, sua forma de atuar. A minha ideia é fortalecer mais a questão da promoção e dar uma ênfase grande a um programa que nós estamos desenvolvendo que é o Prodetur, que é um programa de financiamento do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], que é um programa de investimentos em uma série de intervenções na cidade em benefício da atividade turística. Então, são projetos que, de alguma forma, eu já vinha tocando, e como estamos numa fase mais avançada provavelmente vão surgir mais a partir do ano de 2015.
 
Olhando para a gestão de Bellintani, como o senhor avalia questões que devem ser mantidas ou que não deram muito certo e que vão ser alteradas agora?
Eu acho que Bellintani inovou bastante, Salvador precisava disso. Tanto ele quanto a própria visão do prefeito de fazer da cidade uma cidade moderna e tentando, ao mesmo tempo, garantir aquele espírito de que a cidade tinha da Velha Salvador, digamos assim. Então é conciliar o moderno com o tradicional, com o antigo. Eu acho que, dentro desse processo, Salvador passou esses dois anos por uma série de eventos, inovadores. Tivemos por último, agora, um Réveillon de quatro dias, seguidos de um Festival Salvador Jazz, que foi um processo interessante, porque agrega outro tipo de música à cidade, para desvincular o axé que é sempre a marca mais importante que Salvador tem. Aí estou falando sob o ponto de vista do mercado turístico. E aí o que eu acho que talvez possa agregar de diferente é essa visão na captação de turismo. Para fazer com que essas ações que a prefeitura de uma maneira geral vem fazendo na cidade, com relação as intervenções nas áreas urbanas, a Barra, o Rio Vermelho, que vai começar agora e as ações de evento possam se somar a outros elementos para captar mais turistas para a cidade. O primeiro momento, era até uma visão do próprio prefeito e do secretário, era de que nós precisávamos antes melhorar as condições da cidade para, em seguida, atuar na promoção.
 
Já que o senhor falou sobre o Réveillon, como foi visto esse resultado final? Foi positiva essa ideia do maior Réveillon do Brasil? O Réveillon de Salvador cresceu no passar dos anos e agora teve esse destaque pela magnitude. Foi positivo?
Foi. A aferição que nós temos, sob o ponto de vista turístico. Do ponto de vista da população, a gente entende que sim, uma afluência fantástica, primeiro, segundo e terceiro dia com um público crescente. Claro que alguns ajustes precisam ser feitos e isso certamente no próximo Réveillon nós faremos. Mas a informação que se tem, muito forte, com relação a hotelaria, por exemplo, que é quem pode aferir sob o ponto de vista do turismo também, é que houve uma taxa de ocupação média no período de Réveillon de final e início de ano de 80%, que é uma média de ocupação muito boa, sobretudo se comparado a um segundo semestre muito fraco, por conta ainda talvez dos efeitos da Copa. Então, como vínhamos tendo taxas de ocupação reduzidadas ao longo do semestre, esse final de ano foi muito produtivo e proveitoso para a hotelaria. E uma expectativa também boa para o mês de janeiro de ocupação, a partir das reservas que a hotelaria já vem recebendo e, por conta de outro fator, que ajudou diretamente isso, que é a desvalorização do real perante o dólar, que fez com que muita gente que tinha programação de viagem para o exterior passasse a viajar dentro do Brasil. E o Brasil ficou, de qualquer forma, mais barato para quem vem de fora. Eu acho que esses dois fatores, aliado a essa nova cara da cidade estão ajudando nesse crescimento da taxa de ocupação que é o nosso registro principal da vinda de mais turistas para a cidade.

 

A Secretaria de Desenvolvimento, Cultura e Turismo foi desmembrada em duas. Isso dá uma maior força política à cultura e ao turismo?
Acho que sim. Na verdade, durante esses dois anos, a nossa secretaria teve um papel muito forte nas questões vinculadas à área de eventos, isso é notório o volume de eventos que aconteceram ao longo do ano e acabou que a área de desenvolvimento ficou um pouco prejudicada pelo acúmulo de atividades que um secretário só, ainda mais acumulando com a presidência da Saltur, dava conta de avançar. Então essa separação vai dar agilidade para a nova secretária que assumiu a parte de Desenvolvimento, Emprego e Renda, atuar especificamente nesse segmento que é o de trazer novos investimentos para a cidade e ampliar esse papel que estava até então vinculado à cultura e ao turismo. De qualquer forma, eu vejo de maneira muito positiva. E a Secretaria de Cultura e Turismo fica trabalhando com o foco muito mais restrito e com mais condições de gerar resultados, trabalhando com cultura e turismo, que são duas atividades que se integram bastante, na medida que a gente pretende fazer de Salvador um destino com potencial de cultura que a cidade tem como para os segmentos de maior atratividade. Dentro desse nosso projeto junto ao Prodetur, de financiamento, a cultura e o turismo náutico são dois elementos que a gente quer fortalecer como atrativo da cidade. A cultura através desses investimentos que já estamos realizando, que a Fundação Gregório de Matos também vem fazendo e com a recente inauguração da Casa do Rio Vermelho, de Jorge Amado, que é um ativo que estava totalmente fora do contexto de atrativo da cidade e que hoje já um espaço bastante visitado. Eu estava conversando com a coordenadora e ela disse que esse mês de janeiro tem sido praticamente full todo o tempo. E com pouca promoção. À medida que a gente ampliar isso, a tendência é ter uma fluxo maior de pessoas que venham ver as novidades que cidade oferece. E já estamos finalizando o processo de aprovação do forte de Santa Maria e do Forte São Diogo para a criação de um espaço permanente de exposição em homenagem a Pierre Verger, no Santa Maria, e a Caribé, no Forte São Diogo. A nossa expectativa é que até o final do ano esses dois espaços estejam também inaugurados e integrados à Casa do Rio Vermelho e aos outros equipamentos culturais que a cidade já oferece. E com isso a gente possa alavancar mais fortemente, mostrando esse lado que Salvador tem e que estava sendo pouco usado do ponto de vista de gerar uma economia mais forte na área de turismo.
 
O senhor foi diretor de turismo da pasta. A sua escolha indica uma atenção maior que a prefeitura quer dar ao turismo? E como fica a cultura?
Na verdade, a cultura já está muito bem estruturada através da Fundação Gregório de Matos e do Fernando Guerreiro (presidente da fundação), que é uma pessoa da área que vinha atuando há muito tempo. O que eu diria é que minha escolha é porque como a cultura já tem uma estrutura própria que é a Fundação Gregório de Matos e a parte de eventos na Saltur, o que fica faltando para completar essa interatividade entre as áreas é o turismo, sob o ponto de vista da melhoria dos atrativos da cidade e trabalhar na promoção do destino, que é uma coisa que o trade turístico vem solicitando muito, que o município tenha uma ação mais forte com relação à promoção. Tradicionalmente, quem trabalha mais forte na promoção é a Secretaria de Turismo do Estado, através da Bahiatursa, mas agora a nossa intenção é estar próximo também deles na promoção da cidade. Aí atuando não só na participação de workshops, em feiras, mas realizando fun tours com operadores de outros estados, mas também de outros países, e fazendo press trip, trazendo jornalistas que possam gerar matérias sobre os atrativos que a cidade tem para oferecer. E com relação ao segmento de negócios, que também tradicionalmente era um segmento forte para a cidade, nós pretendemos trabalhar em conjunto com a Salvador Destination, que é a associação que foi criada agora no final do ano, praticamente definida neste final de ano, que tem o foco na captação de eventos para Salvador. Quando falo eventos são seminários, que é um segmento também importante para a cidade. Pena que a gente esteja com o Centro de Convenções em situação ainda precária, mas há uma promessa do novo governador de investimento na recuperação do Centro de Convenções, o que vai facilitar mais na captação de congressos para a cidade, principalmente naqueles períodos de baixa estação. Com relação ao calendário de eventos, o que nós estamos fazendo e vamos fazer é uma distribuição desses eventos ao longo do ano e fazer uma promoção mais forte para que eles funcionem como elementos de atratividade para visitação à cidade. Eu e Isaac Edington, que é presidente da Saltur, estamos discutindo como a gente pode usar o calendário de eventos como uma ferramenta para atrair turistas. Estamos lançando agora em janeiro, depois de quase um ano de pesquisa, de tentativa de lançamento, o nosso portal, o portal da cidade, que vai ser também um outro elemento forte para a divulgação e promoção. É um portal novo, com características bastante modernas.
 
O portal vai ser voltado apenas para o turismo?
Não. É um portal da cidade, mas a cultura e o turismo vão ser os principais elementos de início. Depois outros vão se agregando. Mas ele vai ter um foco muito grande para ser um veículo de divulgação da cidade.
 
Há a pretensão de dar continuidade a projetos como o Festival do Samba, que não aconteceu em 2014, e o Festival da Primavera?
O Festival da Primavera sim. Já é parte prevista. Mas o Festival do Samba ainda está se discutindo se vai ter essa mesma característica que foi prevista no início ou se ele se adequa a um outro modelo. Como nós estamos nessa fase de discussão do calendário, ainda não dá para antecipar qual a forma que vamos ter. Garantido está o Festival da Primavera, claro que com algumas inovações para que ele tenha cara de festival, que não seja simplesmente um evento de palco de música, mas que ele tenha outros atrativos ao longo do espaço, embora esse ano provavelmente vamos ter uma intervenção de obras no Rio Vermelho e isso talvez venha a ter que se ajustar um pouco, o festival que acontece ali no Rio Vermelho com as obras que estão previstas para ser iniciadas após o Carnaval.
 
Outra ação que a prefeitura vem realizando é a Feira da Cidade, que incentiva a ocupação de espaços públicos. Há a intenção de criar novos projetos que incentivem ainda mais a ocupação dos espaços?
Uma das questões que Bellintani comenta muito é que a gente tem que fazer com que as pessoas, que a população da cidade vá para a rua, que ocupe seus espaços. Então isso foi, a partir da iniciativa do prefeito, da obra da Barra, de fazer com que as pessoas ocupem os espaços públicos e isso se prolongou com as obras que aconteceram na região de Tubarão, de Periperi, da Ribeira e que vai se expandir agora com o projeto do Rio Vermelho. Ou seja, dá a cidade condições de que as pessoas possam usufruir melhor dos seus espaços abertos. E evidente que projetos como esses, do festival gastronômico, que vem acontecendo, é uma forma de trazer as pessoas para fora com coisas diferentes do que a gente está acostumado. Então, a ocupação do espaço já vem acontecendo, mas precisa ser fortalecida com outros elementos de atração. Ainda não dá para avançar muito, a gente está pensando na realização de uma bienal, com foco na fotografia, não num ambiente fechado, mas num ambiente aberto, utilizando as áreas públicas, mas ainda está numa fase bastante preliminar.
 
Ainda este ano?
Se for possível, sim. A gente pretende no segundo semestre. É um assunto que tem que discutir com a Fundação Gregório de Matos, com Fernando Guerreiro, para ver como viabilizar ainda este ano esse projeto. Na verdade, era uma intenção desde o ano passado que não conseguiu se viabilizar e que nós vamos tentar ver se incluímos nesse calendário que nós estamos montando para 2015.

 

O prefeito ACM Neto falou sobre um possível Museu da Música Brasileira...
Está na nossa área. Nós estamos inserindo esse projeto no Prodetur e o que nós temos ainda que resolver é a localização. A primeira ideia é usar aquele espaço onde seria o Hotel Hilton, ao lado do Mercado Modelo, aquele casarão de azulejos, mas, claro, que isso vai depender de uma negociação para aquisição desse espaço, desse imóvel, que está em condições até precárias, a gente ficou preocupado no Réveillon com os efeitos na música naquelas paredes que estão ali. E a ideia é transformar aquele prédio, junto com outros dois que faziam parte do conjunto onde ia ser o Hilton no Museu da Música. Mas ainda não temos projeto, por enquanto só intenção e está no escopo nosso começar a trabalhar ainda logo no início desse ano.
 
O que o senhor pode adiantar da intenção. Surpreende um pouco ser um museu da música brasileira, sendo que não temos um museu da música baiana e tem muita coisa para explorar da música baiana? Foi uma ideia do prefeito que quer fazer um museu da música brasileira? Como está sendo concebido e por que essa ideia?
No início, a ideia era de um museu da baianidade, que mostrasse as características da cidade e da formação. Depois o próprio prefeito entendeu que precisávamos ter também um museu nacional, digamos assim, com um interesse nacional. E a ideia da música é, principalmente, porque Salvador é uma cidade musical, é uma cidade que tem a ver com o nascimento do samba, que influencia vários movimentos. É claro que a música baiana vai estar presente, muito presente, mas que ele tenha um caráter maior, um caráter de mostrar a música brasileira e ser um atrativo internacional. Ainda não posso dizer o que é que vai compor esse conjunto de elementos, que vão fazer essa divulgação da música. Não temos ainda uma curadoria, não temos nem o espaço fechado. É um projeto que vai demorar pelo menos um ano para ser elaborado e, no mínimo, um outro ano para ser implantado. A ideia é que no final da gestão a gente possa estar inaugurando. Está muito cedo para avançar em conteúdo nesse museu.
 
Que pessoas estariam envolvidas?
Estamos fazendo algumas consultas, algumas pessoas de perfil de profissionais de primeira linha, do nível do Gringo Cardia, que fez na Casa do Rio Vermelho.
 
Tem algum modelo nacional ou internacional?
O Rio de Janeiro disse que inaugura esse ano o Museu da Imagem e do Som, na Avenida Atlântica, mas é uma outra característica e claro que a gente não quer repetir o mesmo modelo. Até para ser diferenciado. Não é um outro Museu da Imagem e do Som.
 
O senhor tem um perfil muito técnico. Há alguma pretensão política?
(interrompendo) De jeito nenhum. Se nunca tive, agora de jeito nenhum. Eu sempre trabalhei como técnico, desde o início, quando trabalhei na Bahiatursa, no início dos anos 1970, como arquiteto que sou. Depois eu comecei a derivar um pouquinho da arquitetura para outras coisas, mas não tenho nenhuma intenção. Pretendo continuar como técnico, até porque não dá tempo para mudar (risos).