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Entrevista

Lídice da Mata fala sobre mudanças na campanha após trágico acidente de Eduardo Campos - 01/09/2014

Por Fernando Duarte / Maria Garcia

Lídice da Mata fala sobre mudanças na campanha após trágico acidente de Eduardo Campos - 01/09/2014
Fotos: Francis Juliano
Com a proposta de “educação em período integral” como a menina dos olhos de seu programa de governo, a candidata à vaga de governador da Bahia Lídice da Mata (PSB) acredita no seu plano como eixo estruturante de sua plataforma política, caso eleita. A ex-prefeita de Salvador, que soube “aprender a governar na adversidade”, como diz a própria, foi a terceira postulante ao cargo no Palácio de Ondina a ser entrevistada pelo Bahia Notícias. Lídice fala sobre as mudanças em sua campanha após o trágico acidente que matou o presidenciável de seu partido, Eduardo Campos, que levou à comoção da sigla regional. Também, explicou sobre o seu objetivo de reforçar o Pacto pela Vida, tomando como inspiração os moldes de gestão do próprio Campos, enquanto era governador de Pernambuco. “Não foi uma tarefa fácil, feita de um dia para noite. Como eu disse, foram necessários sete anos com determinação e perseverança para se fazer, a cada ano, uma conquista de mais uma meta, de mais um avanço da diminuição da mortalidade”, comentou a postulante. Ao pedir o voto aos frequentadores do BN, “leitores e eleitores bem informados, porque acessam o site de notícias”, Lídice aposta em seu pioneirismo como primeira mulher a ser prefeita da capital baiana e representar a Bahia no Senado para considerar sua candidatura como “não apenas a mudança dos paradigmas de um governo feito sob a ótica de uma mulher, mas voltado para fazer a revolução da educação”.
 


Bahia Notícias: Como é que fica o PSB, a campanha do partido na Bahia, com a mudança do candidato à presidência?
Lídice da Mata: Nossa campanha permanece igual. O que nós vamos mudar serão algumas estratégias de campanha. Claro que o PSB da Bahia, assim como o PSB do Brasil, ficou profundamente atingido pela tragédia que levou a vida de Eduardo Campos. Mas nós decidimos, mesmo sob grande emoção, que tínhamos o dever de continuar aquilo que acordamos com a sociedade brasileira, que foi apresentar uma terceira via para a disputa do voto para Presidência da República e para o governo do Estado, pelo menos nos 14 estados que temos uma alternativa semelhante. A nossa campanha vai poder mudar algumas coisas, como eu disse antes, de estratégia de comunicação. Já tínhamos montado placas e material em geral com Eduardo. Nós decidimos que vamos usar o material que puder. Não temos condições de mudar o material, ainda está em um prazo que é concebível e a partir de agora estamos fazendo novos materiais com a mesma marca. Marina aproveitou bem a marca de Eduardo. Ela virou para baixo e letrificou o M de Marina. O jingle é bem semelhante, também porque é impossível não entender que a campanha de Marina não é a mesma que a da eleição passada. Marina agora agrega o que ela conseguiu construir na eleição de 2010, mais o que Eduardo construiu para ela e deixou para o legado. E ele deixou o legado de uma pessoa correta, de um homem competente, sério, um jovem brilhante que se apresentava como uma grande esperança, e a sua morte do jeito que foi comoveu muita gente. Então, todo este sentimento se soma a Marina. 
 
BN: E tudo isso será um plus para a candidatura?
LM: Para Presidência da República, sim. Não é que as pessoas que vão votar em Marina estão comovidas com Eduardo, mas aquelas que iam votar em Eduardo vão votar em Marina também, e uns que estavam pensando decidiram votar em Marina porque compreendem que ela pode significar a continuação daquela luta de Eduardo, uma homenagem a Eduardo. Isso acho que vai se apresentar nas pesquisas assim que forem divulgadas [a entrevista foi realizada na quarta-feira (27), antes da divulgação das pesquisas de intenção de voto da semana].
 
BN: Quais serão as linhas transversais do seu programa para o governo do Estado?
LM: Nós temos algumas políticas transversais, alguns princípios. O princípio da transparência é transversal em todas as áreas, a da honestidade, seriedade. O do combate ao racismo faz parte da política de transversalidade de todas as áreas, a inclusão de gênero também faz parte de uma política de transversalidade. A política cultural tem que ser transversal, tem que ter em todas as secretarias uma ideia de política cultural. Cultura é uma identidade do estado, do território. Daquilo de propomos, ela deve estar presente em todas as secretarias. Em algumas outras questões que são bem de princípio da nossa ... a sustentabilidade é um princípio transversal, ambiental.
 

 
BN: Um dos pontos que o PSB tem defendido é a questão da educação do período integral. Além da educação de tempo integral, quais são algumas apostas que o partido vem fazendo para a educação no estado?
LM: A proposta de educação em tempo integral é destrinchando ela um pouco mais. Não é apenas uma mera formulação de botar jovens dentro de um espaço físico de manhã e de tarde. É um conceito de educação integral. De conteúdos que o estudante recebe de maneira integral. Conteúdo das linguagens artísticas, referente à oportunidade de prática esportiva, referente a uma política dentro da escolha de lazer, de entretenimento, de garantia disso para o estudante e a oportunidade de ter todos os conhecimentos que são condizentes com o currículo necessário para o aprendizado dele no ensino médio. Inclusive, a garantia do ensino da língua. Contudo, para a educação, este projeto obviamente será gradativo. Nós temos mais de 1,4 mil escolas, de colégios de ensino médio na Bahia. Temos somente 59 de tempo integral. E muito mal implantados, digamos assim. Então, é necessário que logo no início do governo nós avaliarmos para que tenhamos uma proposta e meta a ser alcançada em cada ano e, ao final do quarto ano, saber quantas escolas de período integral nós queremos entregar. Nós queremos dotar a Bahia de dar maior rede de escola de tempo integral no Brasil. Agora, além disso, eu não posso pensar em fazer uma escola de tempo integral apenas definido metas físicas e de organização da escola, por assim dizer. É preciso debater este assunto e acordá-lo com os professores, os funcionários e profissionais da educação que sejam professores ou não. Isso, pois eu imagino que tenho em mente que, para viabilizar um processo de transformação profunda da educação do nosso estado, eu tenho que ter como parceiro os professores. A rede precisa compreender a proposta de educação integral e se preparar para executá-la, participar da definição das metas.Para isso, precisa valorizar o professor, dar garantias a eles que não haverá apenas o crescimento do aluno, mas que ele estará sendo beneficiado por uma transformação radical na nossa educação. 
 
BN: Foi um erro histórico os outros governos não terem investido na educação dentro desses preceitos que o PSB defende hoje?
LM: Veja bem, não diria que foi um erro, mas uma concepção equivocada. Um conceito de escola em que ela não consegue abordar o jovem como precisa ser abordado. É preciso uma escola moderna, uma escola cuja linguagem lhe possibilite a permanência na escola, e dedicar a este projeto de educação de maneira integral também. Isso vai demandar do meu governo uma dedicação integral, pesquisar o motivo de repetição dos alunos nas escolas na Bahia, as características de suas famílias que leve a tão alta evasão escolar, a tão alto grau de repetência, para que podermos atuar também aí na preparação deste aluno para o tempo integral. Então, eu acho que, no caso do governo atual, que imagino como um governo com compromisso com a educação. Eu creio no fato da mudança de secretário, e as duas greves, terem dificultado muito a implantação de um projeto novo de educação no estado. No entanto, estas mesmas greves e a forma como aconteceram demonstraram uma pouca capacidade de diálogo e uma pouca prioridade para o diálogo com a educação. Subestimou-se o papel da educação e, talvez, não se tenha compreendido que nós, como força política, progressista, quando nos colocamos no governo não podemos nos separar desta tarefa essencial de mudar a educação para melhor e lhe dar qualidade.
 

 
BN: Vamos então para outra área que é considerada também pela população como a que carece mais de apoio que é a de saúde. Quais são as perspectivas do PSB em um eventual governo para o investimento da saúde?
LM: Esta questão, se você fizer qualquer pesquisa, no Brasil, ela vai aparecer em primeiro lugar em reclamação, na necessidade do povo como principal problema. Por que nos colocamos a educação como primeiro? Porque achamos que a saúde será sempre uma prioridade. Cuidar da vida das pessoas, da saúde das pessoas é uma prioridade em qualquer circunstância. No entanto, a educação ela se apresenta como uma plataforma estruturante no nosso programa de governo. Com impacto na saúde, com impacto na segurança, impacto sobre o desenvolvimento social, sobre a inclusão social e o desenvolvimento econômico de diversas formas. Sobre a saúde, primeiro queremos afirmar que temos clareza que há um subfinanciamento da saúde no brasil. Que os governos estadual e municipal têm ficado com a parte mais pesada da estruturação das ações de saúde. Os municípios investem além do que a lei obriga para garantir um atendimento primário da saúde, o atendimento preventivo e de atenção básica. Todos os municípios estão investindo mais de 15%, indo pra 20%, e se aproximando de 20%. O estado fica com a responsabilidade na lei de 12%. É preciso avançar neste investimento. Poder investir mais, poder retirar destas despesas com saúde aquelas feitas com saneamento. Transformar as despesas de saúde como, realmente, de atendimento a saúde e este compromisso nós vamos tentar buscar. Claro que isso tem um limite objetivo dos recursos orçamentários do estado. No que diz respeito a média e alta complexidade, o nosso projeto é interiorizar a assistência hospitalar no estado da Bahia. O governo da Bahia viabilizou mais de cinco hospitais no estado e no que sua maioria foi no interior. Temos que fazer com que estes hospitais do interior funcionem e possa ter qualidade de serviço prestado à população. Então, fazer a máquina que existe é funcionar uma tarefa em primeiro lugar. Em segundo lugar, ampliar esta máquina. Construir novos hospitais e levar para regiões que não tem condição de continuar sem uma rede hospitalar que possa garantir uma atenção para média e alta complexidade naquela determinada região. Para fazer barrar este ato desesperador do cidadão comum, que é sair de uma cidade, caminhar quase 300 km de ambulância para ter acesso a um hospital que possa lhe garantir um tratamento. Nós propomos construir novos hospitais, a exemplo no oeste da Bahia, que tem só um em Barreias. Queremos criar, temos o compromisso de construir o hospital de Santa Maria da Vitória, transformar outros hospitais em regionais, podendo receber mais apoio, equipamento e funcionário e servidores da saúde. Fazer concurso público na saúde, porque compreendemos que o programa Mais Médicos é muito importante para atuar no campo emergencial. É preciso nacionalmente que possamos ter uma carreira no SUS para área de saúde, para contratação de médicos e servidores de saúde, e na Bahia eu quero fazer novos concursos para garantir a contratação de mais médicos, servidores e psicólogos para atuar na rede de saúde pública do estado, sendo que há uma precarização da mão de obra da saúde. É importante que possamos buscar diminuir com contrato permanente, com concurso público que é como a lei determina. E investir no aparelhamento dos hospitais municipais do nosso estado, que temos uma rede razoável, para que eles possam atender a urgência e emergência e isso dotando do estado de um serviço mais racional do atendimento a saúde. É preciso que possamos fazer uma diagnóstico de cada região para que possamos garantir uma série de equipamentos que possam disponibilizar para a população aquele tipo de exame naquele local. É claro que não teremos recursos para colocar em todos os hospitais da Bahia a mamografia,o raio-X, mas podemos ter em cada região importante do estado um hospital referência para ser dotado de todos os equipamentos necessários para o pacientes daquela região. 
 
BN: Neste tempo, o debate crucial é sobre a segurança pública. Como o PSB pretende enfrentar?
LM: As políticas públicas voltadas para o cuidado com a vida das pessoas são problemas nacionais, mas temos nossas características próprias. A educação pública é um problema nacional, a saúde, a segurança pública também, mas cada problema nacional tem suas características próprias locais. E, no caso da segurança pública, nós também temos as nossas. Nós repetimos; o governo atual conseguiu fazer investimentos novos, aumentar o efetivo policial, equipamentos, os gastos com a segurança pública, mas mantendo a mesma política anterior. Nossa ideia seria um novo paradigma de política de segurança pública. E, para fazer isso, não é possível desconhecer duas coisas. Primeiro, que houve uma quebra de confiança entre o Estado, o governo e a polícia militar. E eu pretendo recuperar imediatamente o diálogo com as polícias militar e civil para que possamos compactuar em novas condições a implantação da nossa política de proteção ao cidadão. Segundo, que há um entendimento dentro das policias militares de um processo de modernização interna apontando para mudanças e democratização dessas forças policias que não é possível ignorar. Ouvindo a experiência desses segmentos que executam a segurança pública, sermos capazes de construir uma nova política de segurança pública para a Bahia que eu designaria como política de proteção ao cidadão. Tendo no combate ao crime contra a vida na Bahia a principal meta de diminuição de criminalidade no nosso estado. E fazendo isso pelo projeto Pacto pela Vida nos moldes implantados em Pernambuco que levou, após sete anos de experiência em implantação, o resultado de redução de 40% de criminalidade daquele estado. Não foi uma tarefa fácil, feita de um dia para noite. Como eu disse, foram necessários sete anos com determinação e perseverança para se fazer, a cada ano, uma conquista de mais uma meta, de mais um avanço da diminuição da mortalidade, para a diminuição dos homicídios na Bahia. Bem paralelo a isso, estão as políticas que precisam ser implantadas com outros objetivos. A segurança pública, ou insegurança do cidadão, os crimes são praticados nos espaços públicos. A violência contra a mulher é praticado em espaços privados. Isso requer um novo tipo de ação de segurança pública que seja uma política transversal, mas que tenham traçadas metas próprias para diminuir os índices de violência contra a mulher na Bahia e o número de crimes de violência contra a mulher. Mais ainda preocupante é a situação da juventude negra. A Bahia é um estado onde a morte de jovens negros cresceu, contra uma diminuição na morte de jovens brancos. Isso quer dizer que precisamos ter uma atuação muito clara de política de enfrentamento ao racismo. Essa é uma questão central. Seja de educação, seja de atendimento à saúde, inclusão social, o entendimento de que o enfrentamento ao racismo será a peça fundamental no projeto de desenvolvimento social de inclusão social que nós temos para a Bahia. 
 
 
BN: O PSB está na disputa eleitoral com dois partidos apoiando, o PPL, a Rede Sustentabilidade como um sub-partido que também está apoiando, e o PSL. Como o PSB pretende governar a partir de um arco de alianças tão restrito?
LM: Isso nunca foi problema. Não conheço na história do país alguém que tenha deixado de governar porque não teve partidos para apoiar. O diferencial do que pregamos como nova política é que essas alianças não signifiquem apenas uma adesão ao governo e cargos do governo, mas sim uma negociação e pactuação para realizar um programa de governo. Essa que é a nossa ideia. A grande insatisfação de todos, na opinião pública e na juventude, é não entender que pessoas e partidos que são adversários e passaram a vida sendo adversários, de um dia para outro passam a ser amigos sem dar uma explicação à opinião pública do porquê de estarem junto e como vão construir uma convivência comum. Não é possível não deixar claro qual programa de governo que será efetivado. As alianças construídas para fazer uma governabilidade em cima da “compra” de tempo de televisão é algo repugnante, e nós temos que acabar senão iremos enterrar a democracia brasileira. E muitos morreram e foram presos para se construir um projeto de democracia no brasil que nós simplesmente não podemos ter a irresponsabilidade de deixar que ele seja condenado de modo tão vil como está sendo com as atuais regras eleitorais.