Galvão desmente história clássica sobre João Gilberto

O poeta e letrista Luiz Galvão, um dos criadores do grupo Novos Baianos, em entrevista na manhã desta terça-feira (12) à Rádio Juazeiro, mais uma vez polemizou ao contestar afirmações sobre João Gilberto, seu conterrâneo que completou 80 anos em junho e um dos maiores mitos da música mundial. Galvão, que se considera o juazeirense mais próximo a João, reclamou da prefeitura local que não o convidou para a festa promovida pelos 80 anos do músico. “Toda a história de João Gilberto aqui em Juazeiro é comigo e não me convidaram”, reclamou, ressaltando que “no dia em que o pai dele [João Gilberto] morreu, eu fui ao enterro com ele abraçado comigo”. Diante do mal estar causado pelas queixas, o entrevistador Geraldo José, tentou botar panos quentes ao dizer que poderão ocorrer outros eventos ainda este ano, para os quais Galvão talvez seja convidado.

Mais enfáticas ainda foram as queixas do poeta contra o produtor musical Nelson Motta. Galvão afirmou que Motta tentou prejudicar os Novos Baianos, ao tentar persuadi-los a gravar um disco em apenas dois canais. “Se a gente tivesse aceitado a proposta não teríamos feito ‘Acabou Chorare’, porque eram as mesmas músicas que ele quis estragar. E ele ainda me chama de paranóico”, disse. Mas a declaração mais curiosa foi a que, com intenção de desmentir Nelson Motta, acabou desmentindo muita gente mais, inclusive o também ‘novo baiano’ Moraes Moreira.

Segundo Galvão, a clássica história de que João Gilberto teria tocado a campainha do apartamento dos cabeludos e, quando o baixista Dadi (que foi abrir) teria visto aquele homem de terno e gravata avisou aos outros que tinha polícia na área, é mentira. “Na verdade foi um produtor do grupo que chegou, João já estava lá tocando violão conosco, não podia ser ele”, disse. Galvão ainda argumenta: “Você acha que João Gilberto vai tocar na campainha de ninguém rapaz? Quando eu disse a João que ele devia conhecer os Novos Baianos ele me respondeu: eu já conheço gente demais. Só depois que eu consegui convencê-lo. Só quem não conhece João Gilberto, como Nelson Motta, acreditaria numa história dessas de João tocando campainha. Contaram essa história a ele e ele publicou”, disse.

Com o desmentido, Galvão acabou, ainda que involuntariamente, resvalando também em Moraes Moreira, que não é citado na entrevista. Acontece que Moraes, principal parceiro de Galvão, não só conta a mesma história de JG tocando a campainha, em seus shows, como ainda compôs um poema narrando o fato. Como em se tratando de João Gilberto os limites entre lenda e realidade são estreitos, fica aí mais um caso obscuro para a curiosidade de fãs e pesquisadores.