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‘Sinto que minha música, no Brasil, é estrangeira’, diz Carlinhos Brown nos EUA

‘Sinto que minha música, no Brasil, é estrangeira’, diz Carlinhos Brown nos EUA
Foto: Divulgação

Em Nova York, nos Estados Unidos, para participar de um festival, o cantor e compositor baiano Carlinhos Brown falou sobre a cultura brasileira e o reconhecimento dos artistas no país. Em entrevista exclusiva à RFI, publicada na Folha de S. Paulo, ele disse não sentir que representa o Brasil em eventos internacionais. “A representatividade não vem do indivíduo, mas da aceitação pela coletividade. Embora eu seja muito conhecido no Brasil, sinto que minha música, no Brasil, é estrangeira”, avaliou ele, dando como exemplo a canção “Magalenha”, composta por ele em parceria com Sergio Mendes, e que faz sucesso no mundo inteiro, mas que "pouca gente conhece no Brasil". “Quando Claudia Leitte cantou essa música, vi uma crítica na internet: ‘Carlinhos Brown está imitando o Gustavo Lima com tchê tchê rê tchê’. As pessoas nem imaginam que esta música ganhou um Grammy. E compus com um craque, que é o Sergio Mendes, que já havia percebido algo lá atrás: as onomatopeias brasileiras ajudam a quebrar essa barreira linguística do português. Pense no ô aria raiô obá obá obá do (Jorge) Benjor, que fez isso e explodiu mundo afora com o Sergio (‘Mais que nada’). Foi o que fiz em ‘Magalenha’com o djêi djêi djêi”, explicou o músico baiano, destacando que o fato não é questão de ignorância do público brasileiro. “Acho que é falta de curiosidade ou medo de não entender, de não se entender. Pelo fato de eu morar na Bahia, muita gente me vê pela ótica do Carnaval e não se interessa em ir além disso. Quem me ajuda é a Marisa [Monte], a Vanessa da Mata, os Paralamas do Sucesso, com ‘Uma brasileira’, e tal. Isso não me ofende, mas sinto que as pessoas não conhecem minha música. E aí considero, sim, minha música ainda mais estrangeira”, diz Brown. Ele citou como suas referências nomes como Jackson do Pandeiro, desde Luiz Gonzaga, terreiros de Candomblé, samba, passando por Ary Barroso, Tom Jobim, Roberto Carlos e Sergio Reis. “Sou semianalfabeto, formado pela cultura brasileira, e quando boto aquele cocar, aquela coisa toda, as pessoas se assustam. Meu Deus, eu estou representando ali uma força que vem dos caboclos, dos índios que se juntaram com os negros contra a escravidão!”, classifica-se.

 

Sua forma de se apresentar, segundo ele, afasta determinado público por ficar “brasileiro demais”. “Sinto muita dificuldade no mercado de São Paulo, por exemplo, porque sou muito brasileiro e São Paulo é muito cosmopolita. Mas aí o que me assusta é que o que faço vai pro mundo, volta requentado e aí, então, nego consome. Dou risada: quaquaraquaquá. O que posso dizer? Eu me aceito assim. Mas por isso não me sinto representante da cultura brasileira quando me apresento fora, como agora em NY”, conta o músico, destacando, no entanto, que se vê como representante da Bahia. “Mas, com todo respeito e autenticidade, da cultura baiana, sim! A ideia de que a música baiana é uma expressão regionalista, aliás, se perdeu. Se você não consumir Bahia, Pernambuco, e não entender aquilo, uma pena, mas o mundo entendeu. Vejo forró pé-de-serra, o tradicional, nos quatro cantos do mundo”, disse ele. Para o compositor, não é mais necessário passar por Rio, São Paulo ou Estados Unidos para alcançar o mundo. “As fronteiras entre o que é ‘mainstream’, ‘outsider’, e ‘garagem’ não só não existem mais como eram anteriormente, mas, ainda mais importante, não interessam”, avalia Carlinhos Brown, apontando ainda que no Brasil se confunde modismo com algo autêntico, como Anitta. "Ela é mais do que moda, ela é contemporânea. Quando o Brasil se espelha com o mundo a gente ainda estranha, né?”, questiona.