Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Jurema, Aiace Felix e Josy Lélis: conheça três novas artistas da música baiana

Por Milena Abreu

Jurema, Aiace Felix e Josy Lélis: conheça três novas artistas da música baiana
No dia internacional da mulher, o BN apresenta três novos nomes da música baiana
A Bahia é conhecida por ser o berço de grandes vozes femininas baianas, passando por importantes nomes do MPB, como Gal Costa e Maria Bethânia, à fortes representações do axé, como Margareth Menezes e Daniela Mercury. Em comemoração ao dia internacional da mulher, o Bahia Notícias entrevistou três novas representantes da música baiana, que nos contaram sobre suas experiências e projetos dentro do cenário musical baiano. A primeira delas, Jurema Paes, é cantora, compositora e historiadora. Jurema nasceu em Salvador, onde estudou música e canto no curso livre da Universidade Federal da Bahia e realizou seu mestrado em história social. Seu primeiro álbum, intitulado “Jurema”, foi lançado em 2002 e contou com a parceria do compositor e arranjador Marcos Vaz. Tendo como referência o tropicalismo e toda a geração pernambucana do mangue beat, o disco foi bem aceito pela crítica especializada. A cantora recentemente concluiu o seu doutorado em História das Culturas e hoje está trabalhando com o seu novo álbum, “Mestiça”, lançado em 2014. “Nominei o álbum como ‘mestiça’ em consideração com esse conceito. Tem uma simbologia de sintaxe. É uma articulação das matrizes africanas indígenas e européias, no sentido de fazer uma representação do que o Brasil faz dessas culturas. Nele, por exemplo, eu trouxe elementos da música de Tiganá Santana, que compôs uma musica em kimbundo. A música tem uma representação rítmica, e a forma como a língua é falada interfere na construção do ritmo da música”, explicou a cantora. Mestiça conta com a participação de grandes nomes da música, como o cantor Chico César, Tiganá Santana e Zeca Baleiro, com o qual divide a faixa Chula no Terreiro. “ Essas pessoas fazem parte do meu universo afetivo. Volta e meia elas estão trocando figurinha e fazendo coisas comigo. Zeca Baleiro, por exemplo, será uma parceria irá se estender durante o processo do show”, comentou. Quando perguntada sobre as influências dos seus estudos sobre a música, Jurema explica que há toda uma conexão entre os dois. “A conexão do meu doutorado foi em história e música. A gente trabalha a nossa bagagem dentro do que a gente faz, não tem como separar. Levo a música para a sala de aula, assim como trago aquilo que aprendo como pesquisadora para o trabalho da música”, disse.
 

A cantora Jurema lançou o elogiado 'Mestiça' em 2014. Foto: Reprodução | Facebook

Vivendo hoje em São Paulo, Jurema começou a sua carreira musical em Salvador, inspirada por cantoras baianas, como Gal, Betânia e Pitty, além de outras vozes femininas brasileiras, como Elis Regina e Chiquinha Gonzaga . “Me inspirei muito na Chiquinha Gonzaga. Ela viveu em uma época mais machista, era pianista e compositora e teve que enfrentar preconceitos como uma mulher independente. Ela foi uma mulher que tentou ser dona de seu destino em um momento que não haviam as liberdades que temos hoje, sem os apelos do corpo, hoje muito utilizados”, criticou a cantora. “Tudo bem ser simbolicamente resolvida com o seu corpo, mas não no sentido de fazer isso apenas para transformar a mulher como objeto. Às vezes as próprias mulheres se colocam de forma machista ou com uma postura que simula o homem, ou da mulher que é usada pelo homem, que tem o poder através do sexo. Enfim... Acho bem desinteressante e anula as outras conquistas”, explicou a cantora. Para ela, as cantoras baianas são muito bem sucedidas no contexto da música de varejo e o grande problema da música na Bahia não seria por uma questão de gênero masculino ou feminino, mas, de gênero musical.  “Em Salvador, o mercado é mais voltado para a questão da festa. Se você puder notar, temos duas grandes divas baianas, Gal e Bethânia. O feminino que vem de Salvador tem uma grande potencialidade. Isso é engraçado, porque a Bahia, o nome do estado, é feminino. Até quando Wall Disney fala do Brasil em seus filmes, quando chega na Bahia, a impressão que dá é de que ela é uma mulher. Ele passa a Bahia enquanto estado que tem investido em si o elemento feminino. Tem, também, toda a questão das matrizes africana, que é uma referência do que seria o gênero feminino e que aporta elementos interessantes da nossa cultura, ajudando a formar mulheres fortes  e independentes, donas do seu destino”, opinou. A cantora disse que admira muito o trabalho de cantoras mais recentes, como Tulipa Ruiz, Céu, Pitty e até mesmo Ivete Sangalo, que, apesar de não gostar do repertório, admira a atitude. Jurema disse ainda que acredita que as questões da exclusão musical não estão somente na Bahia, mas, em todo o Brasil. “O varejo existe em qualquer lugar e a música de massa estará sempre presente. Desde 1998 o mercado ficou mais focado nisso, não tem a ver com a Bahia em especifico. O varejo dita o país pelo gosto”, constata a cantora.
 

 
Já para a cantora Aiace, a questão de gênero existe e ainda é muito forte na Bahia. Aiace canta desde que tinha 1 ano e oito meses e estuda música desde os 15 anos. A artista começou a ganhar atenção após criar o grupo Sertanília, ao lado dos músicos Anderson Cunha e Diogo Florez. Para Aiace, o cenário musical ainda é muito complicado e fechado para as mulheres. “Algumas mulheres ainda não estão em todas as áreas como a gente gostaria. Estranhamos quando vemos uma mulher tocando baixo ou bateria, ou uma mulher como regente de orquestra, por exemplo. Eu estava assistindo a orquestra de São Paulo e foi diferente ver uma mulher regendo. Eu me espanto. Isso, para mim, é muito raro. Não me considero uma mulher com ideias tão para trás e me senti surpreendida, positivamente, claro. Queremos que a mulher tenha mais espaço na música e em qualquer outra coisa. Não existe isso de ‘o lugar da mulher’. Ele é onde ela quiser estar”, explicou a cantora, dizendo, contudo, ser ainda visível a ausência de mulheres em muitas áreas. “Durante muito tempo, as mulheres não ousavam na composição, por conta do preconceito. Hoje, as mulheres ousam e se mostram mais nessa área, com mais confiança” explicou. A cantora afirma não sentir muito isso, pois acredita que, para as cantoras, esse espaço já foi, de certa forma, conquistado dentro da cultura brasileira. Contudo, afirma que, quando observa o todo, percebe que “ainda há muito a ser desbravado”. Com apenas 25 anos, Aiace já lançou um disco ao lado da banda Sertanília, que está trabalhando para mais um lançamento ainda nesse ano. Além disso, a cantora vem trabalhando no seu disco solo, "Aiace", que trará referências mais urbanas, dialogando com linguagens diferentes das trabalhadas com o Sertanília. ”Embora seja uma vertente que eu já tenha contato há muito tempo, está sendo algo super novo para mim. É o meu primeiro disco, nunca tinha experimentado gravar as coisas que surgiam só na minha cabeça. Com o Sertanília, é tudo feito em conjunto. Agora estou podendo experimentar novos caminhos” disse a cantora. ”São varias linguagens, eu sempre fui muito em prol da musica brasileira, mas sempre gostei muito de coisas de fora também. Então , tenho um pouco de influência de tudo, contudo, sempre pesando mais para a música nacional, influenciada por movimentos como Tropicália e o Clube de Esquina”, disse.
 

Aiace Felix, vocalista da Sertanília, se lança em trabalho solo. Foto: Léo Monteiro | Divulgação.

Quanto às vozes femininas que te influenciaram, a cantora admitiu ser muito difícil selecionar todos os nomes. “É complicado, porque eu sempre tive várias influências de vários lugares. Femininas, especificamente, a Elis Regina, por toda singularidade que há no canto dela, po toda sensibilidade e autenticidade do seu canto. A Rosa passos, cantora, compositora e instrumentista também é uma grande influência assim como a Pitty, que, assim como as outras cantoras citadas anteriormente,  conheci na minha época adolescente mas que até hoje é uma grande referência pra mim além da música especialmente pelos seus posicionamentos. A Marisa Monte é especial porque me fez querer ser cantora com o disco Barulhinho bom. Aos 12 anos gostava muito de ouvir música enquanto estudava e fazia as minhas atividades escolares e este era um disco que sempre ouvia e me encantava, a ponto de querer um dia fazer um disco tão bonito quanto aquele. ”, relembrou. Apesar das dificuldades enfrentadas, Aiace diz acreditar que a música alternativa da cidade tem ganhado mais espaço e chamado mais atenção. “ É possível observar que há uma efervescência muito grande na Bahia hoje, principalmente em Salvador, onde vivo e conheço. Você vê de tudo hoje na cidade. São muitos grupos bons surgindo e ganhando espaço, representando muito bem a sua música e o cenário alternativo. A gente não vê só rock ou MPB, vemos misturas. A musica é muito maior do que  apenas os chavões da música. Estamos caminhando para um lugar bacana dentro da musica brasileira”, comemorou a cantora.
 


A cantora baiana Josy Lélis, nascida em Juazeiro, acredita não somente no crescimento da aceitação à música alternativa da Bahia, como, também, no aumento da participação feminina na musica do Estado, apesar de ainda enfrentarem muitos preconceitos. “ É algo que está se abrindo aos poucos. Mas, em relação a levar o nome sozinha, é muito difícil formar uma banda com músicos apenas homens, que, muitas vezes,não levam a sério o fato de sermos instrumentistas e cantoras. Sem falar na inconveniência do assedio que rola na noite, até mesmo pelo próprio dono do bar”, conta Josy. A cantora diz ser ainda clara a maior quantidade de bandas formadas por homens que se apresentam na cidade e que são mais valorizadas. “È bem mais difícil para a gente conseguir aparecer de cara, tem realmente mais homens dominando a área, e isso fica bem claro e escancarado”, reclama a cantora. Para ela, outro grande problema é a questão dos espaços para a música autoral em geral, não somente para as mulheres.”É muito difícil montar um show autoral, não só pela questão da gente ter que fazer tudo nas costas, mas, muitas vezes, pela falta de público. A gente bota uma bilheteria e muitas vezes as pessoas não dão valor a isso e preferem pagar uma festa de discotecagem a um show”, comenta.
 

A cantora Josy Lelis deve lançar seu segundo disco em 2015. Foto: Divulgação

Contudo, a cantora admite que alguns espaços estão sendo mais receptivos, como o Lalá Multiespaço e a Casa da Mãe, ambos no Rio Vermelho. Josy lançou o seu primeiro disco, intitulado Uni'versos, em 2012. Desde então, ela vem trabalhando para gravar o single “Cidade Grande”, além de estar planejando um show e um álbum com o mesmo nome ainda para esse ano. Sobre influências musicais femininas, Josy não cita artistas consagradas, mas sim colegas da cena local. “Minhas maiores influências são minhas amigas, que estão na luta comigo, dividindo espaços e canções. Renata Bastos, Leda Chaves, Marina Sodré...São mulheres que estão na cena da Bahia, lutando em Salvador e dando a cara a tapa. São pessoas que me espelham, que estão nesse movimento tão difícil para nos artistas continuarmos. Isso me dá muita força pra continuar”, desabafa a cantora. O novo single de Josy será disponibilizado na internet entre o mês de abril e maio, enquanto o show tem previsão para acontecer em São Paulo no início do segundo semestre.