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Marca Bahia Notícias

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Panorama Coisa de Cinema inicia nesta quarta com mais de 100 produções nacionais e internacionais

Por Jamile Amine

Panorama Coisa de Cinema inicia nesta quarta com mais de 100 produções nacionais e internacionais
Marília Hughes e Cláudio Marques coordenam o evento, que está na 10ª edição
O Panorama Internacional Coisa de Cinema chega a sua décima edição na próxima quarta-feira (29) e segue até o dia 5 de novembro, com a exibição de mais de 100 títulos nacionais e internacionais, paralelamente entre Salvador e Cachoeira. O festival, coordenado pelos cineastas e produtores Cláudio Marques e Marília Hughes, nasceu em 2002, na capital baiana, com apenas 33 filmes de improvável projeção no circuito comercial. “Era um cenário cultural muito diferente, tinha ecos dos anos 90, quando havia muitas salas de fechadas, o cinema tinha uma produção baixíssima e a diversidade internacional nas nossas salas era mínima”, lembra Cláudio, acrescentando que o Panorama surgiu para dar visibilidade às produções que não eram exibidas normalmente. “O evento foi um sucesso, o público baiano estava ávido por uma diversidade e também por conhecer novas cinematografias”, explica Marques, em entrevista ao Bahia Notícias. Entre 2006 e 2008, o Panorama não aconteceu, por falta de patrocínio, mas em 2009 ele foi retomado, já com caráter competitivo. “Ao longo do tempo as coisas foram mudando muito, e os festivais passaram a ser vistos de forma mais generosa, inclusive pelos poderes públicos. Com a gestão de Juca Ferreira e Gilberto Gil no Ministério da Cultura, aliado aos ecos que isso trouxe à política cultural na Bahia, os festivais começaram a ganhar uma força maior. A gente viu surgir outros excelentes festivais, como o Seminário de Cinema, a Mostra Conquista, o CachoeiraDoc e o FECIBA, todos eles, de alguma maneira, estão ganhando um suporte do Estado”, conta Marques, destacando a criação de editais calendarizados como uma das ações mais acertadas da política cultural do estado nos últimos anos.
 

Exibições do Panorama em Salvador acontecem no Espaço Itaú Glauber Rocha

“Esse edital, que ganhamos há dois anos, permite que alguns festivais consolidados tivessem a garantia de existência durante três anos. Isso é revolucionário, porque a gente termina um Panorama e já tem certeza que vai conseguir realizar o próximo. Já tem quatro anos também que a gente recebe patrocínio da Petrobras, vencemos a concorrência com base no reconhecimento da nossa organização e curadoria. A gente está vivenciando uma fase interessante para os festivais de cinema. Não são recursos milionários, são recursos medianos, mas que garantem a existência de festivais com muita potência na Bahia. Gosto desse modelo da existência de muitos de festivais médios e pequenos. Não vejo a necessidade dos gigantescos de tapete vermelho, etc., acho que a gente está em uma fase de desenvolver a cinefilia no estado”, afirma o coordenador do Panorama, que este ano trás pela primeira vez uma mostra competitiva de longas-metragens internacionais. A criação da categoria internacional se deu a partir da experiência de Cláudio e Marília Hughes, diretores do filme “Depois da Chuva”, que recebeu vários prêmios e circulou por diversos festivais no exterior. “Viajando com o filme a gente teve a chance de conhecer muitos realizadores e muitos filmes, que, sem sombra de dúvidas, são muito interessantes, mas não têm perfil para o circuito comercial, que é muito conservador”, explica o cineasta. Nesta categoria, concorrem os filmes como “Algo a Romper", de Ester Martin Bergsmark (Suécia); “Como Desaparecer Completamente”, de Raya Martin (Filipinas); “Mais Sombrio que a Meia-Noite”, de Sebastiano Riso (Itália); “Nagima”, de Zhanna Issabayeva (Cazaquistão); “O Lugar do Filho”, de Manolo Nieto (Uruguai/Argentina) e “Violeta”, de Bas Devos (Argentina).
 

O filme sueco "Algo a Romper" integra a mostra Competitiva Internacional
  
O cinema internacional estará representado também em mostras não competitivas: Retrospectiva Stanley Kubrick, com exibição de clássicos como “Lolita” e “2001 – Uma Odisséia no Espaço”; Retrospectiva Sergei Eisenstein, com “A Greve”, “O Encouraçado Potemkin”, “Outubro”, entre outros; Retrospectiva Mia Hansen-Love, com o lançamento de “Éden”, filme inédito no país; Panorama Italiano e Panorama Alemão. Dentro das produções que não concorrem a prêmios, o público poderá conferir ainda o Panorama Brasileiro e uma mostra de animações premiadas no festival pernambucano Animage.  Já na parte competitiva, além da categoria Internacional, estão as mostras Filmes Baianos, Nacional de Longas e Nacional de Curtas.

"Lolita" é um dos filmes exibidos em retrospectiva em homenagem a Stanley Kubrick

Dois longas, um média e nove curtas-metragens produzidos em Salvador e interior da Bahia foram selecionados para a mostra competitiva Filmes Baianos:  “11.05.12”, de Álvaro Andrade; “ A Doce Flauta da Liberdade”, de George Neri; “Antiok”, de Dário Vetere; “ Ex-culturas”, de Emerson Dias; “Materno”, de Alequine Sampaio e Ruy Dutra; “No Seu Giro, Corpo Leve”, de Ohana Sousa; “O Filme de Carlinhos”, de Henrique Filho; “O Menino da Gamboa”, de Rodrigo Luna e Pedro Perazzo; “O Velho Rei”, de Ceci Alves; “Repúblico”, de Jefferson Pereira; “Revoada”, de José Umberto Dias e “Samba Lumiere”, de Pedro Abib. O festival reúne ainda muitas obras inéditas na Bahia e premiadas em festivais do Brasil e exterior. Destaque para filmes premiados no 47º Festival de Brasília, como “Branco sai, Preto fica”, de Adirley Queirós, “Brasil S/A”, de Marcelo Pedroso, “Ela volta na quinta”, de André Novais, e “Ventos de Agosto”, de Gabriel Mascaro, que é também o único filme brasileiro exibido no último Festival de Locarno (Suíça). Entre os filmes premiados internacionalmente estão “Castanha”, de Davi Pretto, no Las Palmas Film (Espanha) e “Casa Grande”, de Fellipe Barbosa, que venceu o Festival CineLatino de Toulouse (França) nas categorias crítica internacional, júri popular e crítica francesa.
 

O premiado "Ventos de Agosto”, de Gabriel Mascaro, integra a mostra Competitiva Nacional de Longas

Há três anos o Panorama acontece paralelamente em Salvador e em Cachoeira, através de uma parceria entre a organização do festival e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Para Cláudio a inclusão de Cachoeira é algo natural e tem muito a ver com a proposta do festival, que “além da vocação e paixão pelo cinema, tem uma relação muito forte com o Centro Histórico de Salvador. Ele adquire uma personalidade mais definida quando passa a acontecer no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, à medida que estabelece uma relação diferente com a cidade, fugindo dos shoppings e de bairros mais novos, para participar da política em favor do centro. E Cachoeira tem essas características também, principalmente com a Universidade, que deu uma nova dinâmica à região. Essa parceria vem realizando o resgate do cinema baiano, mantendo vivas as nossas produções”. Apesar do avanço, Cláudio tem críticas com relação à produção cinematográfica na Bahia. “A gente está produzindo, mas ainda sinto falta de conexão com o cinema de maneira geral. Acho que é uma coisa que acontece não só no cinema baiano, mas no Brasil. Acho que a gente é muito isolado. A gente precisa estar mais em contato e conhecer o que se faz fora. Falta um mergulho na própria linguagem cinematográfica, sinto que nossas referências vêm muito da TV ou do teatro”, diz o cineasta, justificando parte desse isolamento à própria força cultural do país e do estado. “É uma característica brasileira desde muito tempo, essa dificuldade de construir com outros países. De alguma maneira, pelo Brasil ser tão grande, diverso, e estar em uma fase econômica boa, é como se nos bastássemos. Ainda mais quando a gente tem uma cultura tão forte. O baiano, por exemplo, parece que tem a sensação de que o mundo inteiro quer apenas saber sobre a Bahia”, afirma.