'Preconceito ainda é muito velado', diz Fábio Lago, que faz peça sobre Lampião em Salvador
Por Thuanne Silva
Foto: Divulgação
Um duelo entre o cangaceiro nordestino Lampião e o cavaleiro medieval britânico Lancelote só poderia ser proporcionado pelo teatro. Ao invés de utilizar armas, o repente. Inspirado na literatura de cordel, o espetáculo músico-teatral Lampião e Lancelote chega à Salvador neste final de semana para duas únicas apresentações no Teatro SESC Casa do Comércio (sábado, 21h e domingo, 20h). Vencedora de mais de dez prêmios, incluindo a premiação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), a peça é uma adaptação da obra homônima de Fernando Vilela e conta com a direção de Debora Dubois, trilha sonora original de Zeca Baleiro, além de Fábio Lago, Daniel Warren e Marcos Damigo no elenco. “Lampião é uma lenda. Eu o vejo como essa contradição: um bandido- herói”, afirmou Fábio Lago, que interpreta o jagunço na peça. Lago conta que sempre quis interpretar Virgulino. “Conheci a história dele em reportagens quando eu tinha 15 anos e ficou no subconsciente. Nunca tive a oportunidade, e agora eu realmente me sinto realizado em interpretá-lo”, contou.
Fábio Lago interpreta Lampião
O ator entra na História para construir o personagem, por se tratar de uma figura não-ficcional. Contudo, ele ressalta que assim como a peça, o Lampião é fantástico e não realista. “Esse Lampião é da literatura de cordel e a estética do espetáculo é baseada na cultura nordestina”, explicou. A montagem é inspirada em desenhos e xilogravuras do livro de Fernando Vilela e traz a mágica de fábula inspirada pelos personagens. “As pessoas conhecem muito pouco dos cordéis, a gente está levando para o público uma literatura que não é muito vista. Quando você tira do papel e leva para o palco, às vezes causa certo estranhamento, mas como a peça é muito lúdica, as pessoas entram muito bem no espetáculo. É maravilhoso estar levando a literatura em forma de espetáculo”, opinou o ator.
Fábio Lago integrou o elenco de Hamlet
A última vez que o baiano esteve em Salvador foi com o espetáculo Hamlet, em 2009, de Aderbal Freire Filho, no qual atuou com Wagner Moura e Tonico Pereira. “Me encontrar com o público de Salvador é sempre uma emoção maior, estar em casa e fazer teatro para meus pares, conterrâneos”, revelou. Entre os personagens mais conhecidos de Fábio Lago na televisão está Fabiano, o baiano de ‘Caras e Bocas’ (2009). “Quando você faz um personagem popular como o Fabiano, nordestino, baiano, as pessoas tendem a querer que você repita aquela fórmula. É uma questão de se posicionar”, afirmou o ator sobre os rótulos.
Personagem Fabiano fez sucesso em Caras e Bocas
No contexto atual de eleições e preconceito voltado aos nordestinos, Fábio conta que já foi vítima, principalmente no meio artístico. “Acho que o preconceito ainda é muito velado. Acredito que isso tem mudado ultimamente depois que a gente conseguiu, com arte, entrar em lugares que não entrávamos como na TV, no cinema, no teatro. Temos muitos nordestinos sendo bem sucedidos nos seus trabalhos. De dez anos pra cá eu vejo as pessoas falando ‘Olha, você é baiano’ e já olham com outros olhos. Isso porque estamos fazendo trabalhos contundentes na arte. Acho que é uma forma de quebrar o preconceito e fazer as pessoas te respeitarem pelo que você faz”, opinou. Sobre os projetos futuros da carreira, Fábio conta que está participando do filme ‘Irmã Dulce’, que estreia em fevereiro de 2015. No segundo semestre do mesmo ano, estreia também o longa ‘Boletim de Ocorrência’, no qual interpreta um policial honesto. O ator também irá filmar, no sertão da Bahia, o longa-metragem ‘Malabem’ e pretende passar por Salvador com a peça ‘Amigos Pero no Mucho’, com direção de José Possi Neto, no início do próximo ano.
Serviço
O quê: Lampião e Lancelote
Quando: 11 de outubro (sábado, 21h) e 12 de outubro (domingo, 20h)
Onde: Teatro SESC Casa do Comércio
Quanto: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)