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'O brega finalmente ganhou o status que merece no Brasil', diz Felipe Cordeiro

Por Marília Moreira

'O brega finalmente ganhou o status que merece no Brasil', diz Felipe Cordeiro
Foto: Divulgação
Segunda cidade a receber oficialmente a turnê de lançamento do novo disco do paraense Felipe Cordeiro, “Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor” (2013), Salvador já é uma velha conhecida do músico. O artista já teve oportunidade de se apresentar em um dos palcos mais queridos da cidade, o da Concha Acústica, na abertura de um show da sua conterrânea Gaby Amarantos. Antes, já tinha participado de um festival na Praça Wilson Lins, na Pituba. Uma das últimas passagens dele pela capital baiana foi no Pelourinho, em setembro, em um espetáculo com a banda baiana O Círculo. “Para mim, é muito feliz voltar a Salvador, que é uma cidade que tem tudo a ver com esse som e que tem toda essa energia de brasilidade, todo esse interesse pelos ritmos do país”, afirmou, em entrevista ao Bahia Notícias. O show gratuito de lançamento do disco "Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor" acontece neste sábado (12), também no Pelourinho, na Praça Tereza Batista, às 20h.
 
Sempre enquadrado na nova cena musical do Pará – que inclui nomes como Luê, Gaby Amarantos, Lia Sophia –, Felipe faz questão de manter as referências ao estado. A guitarrada, ritmo que o consagrou e foi destaque no seu primeiro disco, vem de família: seu pai, Manoel Cordeiro, é um dos mestres do gênero. “O disco novo de alguma forma complementa o primeiro [“Kitsch, Pop, Cult” (2011)]. A grande diferença entre os dois é que o novo é mais orgânico, mais de banda, talvez mais virtuoso do ponto de vista instrumental. O anterior tinha uma relação com o sample, com música digital”, diferenciou. 
Devido a essa característica, Felipe convidou o maestro da Orkestra Rumpilezz, Letieres Leite, para fazer uma participação no show de lançamento na capital baiana. “É uma honra ter o Letieres Leite como convidado. Quando o conheci, ele me disse que poderia procurá-lo quando viesse a Salvador para fazermos algo juntos, um show, uma música. Pela liberdade de Letieres, a gente vai tentar propor uma coisa nova e criativa”, adiantou. 
 
Apesar de ser a segunda cidade a receber oficialmente a turnê (que circula com o apoio da Natura Musical), o repertório do “Se Apaixone Pela Loucura do Seu Amor” tem sido mostrado em diversos shows, desde outubro. O disco traz um pop tropical brasileiro, mas ainda misturado ao som da guitarrada que o revelou. São faixas, no entanto, que se distanciam do bom humor e da ironia fina do registro passado para brincar com a simplicidade, abraçando de vez os sentimentos.

De acordo com Felipe, esse caminho ficou claro desde a composição do que veio a ser a primeira música do disco: “Tarja Preta”. Feita em parceria com Betão Aguiar, Luê e Arnaldo Antunes, a faixa também integra o repertório de “Disco”, do cantor paulista. “Para minha surpresa, quando eu conheci Arnaldo Antunes nos bastidores do Prêmio Multishow, ele já tinha escutado meu trabalho. Os parceiros são essas pessoas com as quais você se identifica por algum motivo. O Arnaldo é um compositor-cantor, assim como eu, e mestre dessa geração toda”, contou. A música, que fala de uma mulher tarja-preta, cheia de contra-indicações – em terras soteropolitanas, a conhecida “problemática” –, se tornou central para o disco. Ao lado de “Problema Seu” – que surgiu de uma briga de casal, na qual a mulher disparou, em um momento de raiva, contra seu amado: “Você pra mim, é problema seu!” –, as faixas são a espinha dorsal do disco, que tem como grande tema o amor e a loucura. “A minha intenção era fazer uma música com o título ‘Se Apaixone Pela Loucura do Seu Amor’, mas à medida que fui avançando na realização do disco, pensei em nomeá-lo assim. Um disco que pudesse falar de amor e loucura, ora em crônicas de baile, ora em músicas mais líricas, que flertassem com a estética brega”, explicou. 

O brega, merece um capítulo à parte na música de Felipe Cordeiro. Seguro, ele se posiciona de forma totalmente contrária ao que o Sudeste entendeu por brega, algo em oposição ao chic. "Para eles tanto o Djavan, quanto o Roupa Nova ou o Odair José poderiam ser enquadrados nessa categoria", explicou. Para Cordeiro, o brega passa longe de um rótulo de qualidade. "O brega é um estilo musical. A jovem guarda copiou o Beatles, deu no Roberto Carlos. Aquela turma toda da década de 70, incluindo aí Odair José, se influenciou muito nele. No Pará, começou a se produzir festas a partir disso. No começo dos anos 80, o estilo ganhou um toque mais latino. No final dos 90, estourou em todo o Brasil o Calypso. Agora, temos o tecnobrega", detalhou. Para ele, o brega que hoje ele faz é resultado de trinta, quarenta anos de tradição, com cantores, títulos, festas típicas do Pará. "Em todo o Brasil – principalmente no Norte e no Nordeste, mas também no Sudeste –, as novas gerações, desencanadas da discussão chique/cafona dos MPBistas, começaram se influenciar por essa música, tanto quanto pelo pop, pelo rock. Exemplo disso é a existência de uma banda como Cidadão Instigado, de uma cantora como a Barbara Eugênia e até dos Los Hermanos". 
 

 
Cheio de referências da música brega, latina e africana, Felipe garante que o aspecto por vezes conceitual do seu trabalho não é impeditivo para os espectadores se entregarem à dança. “Quando a gente toca a primeira música o público já é solapado, convidado a reagir. É um show pop, dançante, que tem um conceito forte, mas é divertido”, contou. E, sim, ele é daqueles que lutam e concordam com o fato de que "o 'brega' finalmente ganhou o status que merece no Brasil".