Você é conservador ou progressista?
Da resposta a esta questão dependerá em muito o resultado das próximas eleições presidencias em que o deputado Jair Bolsonaro, segundo o Instituto Datafolha, desponta com 17 por cento dos votos e o ex-presidente Lula com 35 por cento. Dois Brasis em conflito como numa guerra civil? Não. Dois Brasis em processo de diálogo.
O culto ao radicalismo não interessa a ninguém. A violência é anticivilizatória. Por isso, as próximas eleições não podem ser tratadas como uma guerra civil, mas como um grande e formidável debate nacional. O escândalo das desigualdades atinge a todos. A ausência de igualdade de oportunidades, também.
Integrar pacificamente as pessoas é a essência do projeto republicano. É o antídoto contra a desintegração. Precisamos nos reconciliar com a justiça e a compaixão. Esses os focos do debate.
Violência é niilismo. No Brasil que tende a emergir das urnas não parece existir espaço para incoerências entre discurso e ação. Há, sim , espaços amplos, vale repetir, para Justiça e compaixão . Diz Hannah Arendt : « A compaixão sem justiça é uma das mais poderosas cúmplices do diabo.“ Entendá-se o “diabo” como ausência de humanismo e desleixo pelo bom comum.
Os temas em questão são múltiplos, racismo, homofobia, corrupção, eleições presidenciais, a desigualdade de oportunidades.
Dois filósofos que podem ajudar na compreensão da complexidade do cenário. Ernest Bloch, o paladino da esperança, e Walter Benjamin, com suas reflexões sobre as engrenagens da cultura. Ambos coincidem num ponto: não temos o direito de esmorecer. Soma-se Thomas Piketty, autor de O capital no século XXI ( se O capital de Karl Marx, que está completando 150 anos, trata da mais- valia, Piketty denuncia que as taxas de acumulação de renda são hoje maiores que as taxas de crescimento econômico).
De qualquer forma, um fato é concreto: o direto de votar existe e não pode ser desperdiçado. Foi uma conquista de muitos anos e custou muitas vidas. O que está em jogo não é a desesperança. Mas os impasses da democracia. Portanto, escolha o campo onde se situar, mas sem ódio, com democrático espírito do diálogo.
O conservador é aquele que deseja que a sociedade estacione no tempo, por exemplo, da escravidão ; o progressista, ao contrário, deseja colher os frutos do progresso e partilha-lha-los. Pense nesses aspectos. O Brasil do futuro depende de diálogo e escolhas. Escolhas reais.
* Francisco Viana é jornalista e doutor em Filosofia Política (PUC-SP)
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