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Lula e Pompeu

Por Dilson Jatahy Fonseca Neto

Lula e Pompeu
Foto: Acervo pessoal
Cada vez que abro um novo livro, ou conheço um novo relato da história, observo que os eventos são sempre os mesmos, mudando apenas os nomes, as datas e os lugares. A minha constatação, desta vez, é baseada nas eleições, tanto nas atuais quanto nas de Roma Antiga.

Assistindo ao horário político, recentemente, me lembrei de uma pequena obra que li ano passado. O título é simples e direto, transmitindo o propósito da obra: “Como ganhar uma eleição” [CÍCERO, Quintus Tullius. Como ganhar uma eleição, trad. José Ignácio Coelho Mendes Neto, Edipro, São Paulo, 2013. No original o nome é “Commentariolum Petitionis”, que poderia ser traduzido como “Breves comentários da Candidatura” ou algo que o valha.].

Olhando para minha biblioteca, encontrei este livreto e reli-o. Trata-se de uma carta enviada para Cícero no momento em que este se preparava para concorrer ao cargo de Cônsul (cargo máximo de Roma, equiparável à presidência, no Brasil), por seu irmão. Neste trabalho, o autor tentava oferecer dicas e sugestões para o candidato, observando questões práticas.

Registra-se que a obra não apresenta caráter valorativo, mas apenas factual. Em outras palavras, não objetiva analisar se a conduta é certa ou errada, moral ou imoral. Apenas ressalta as características e ações que o candidato que deseja vencer deve ter. Por óbvio, impossível abstrair completamente a opinião, ao escrever, mas ainda assim tentarei manter a premissa, apenas apontando os fatos.

Cícero é tido, hoje, como um dos maiores oradores da história. Seus discursos (apesar de ter vivido antes de Cristo, alguns deles ainda estão disponíveis) são analisados ainda hoje tanto para aprender os fatos históricos, como também para observar a construção e lógica argumentativa. Politicamente, teve tanta importância que recebeu o apelido de Pater Patria, o pai da pátria [Isto porque combateu, durante seu mandato, uma tentativa de Revolução encabeçada por Catalina, um dos outros concorrentes nesta mesma candidatura, que tentava acabar com a República.].

Pois bem, na carta o autor insiste que Cícero deveria tentar obter o apoio da nobreza, sem jamais descuidar do apoio popular à sua candidatura. Deveria tentar agradar tanto a poderosa nobreza (patrícios), que desejavam manter o seu status quo, quando a plebe (cidadãos não nobres – não necessariamente pobres).

Para os primeiros, afirmar que as políticas populistas adotadas tinham como único propósito garantir a eleição, mas garantindo sempre que seu coração era tradicionalista. Trata-se, de certa maneira, da adoção de políticas econômicas e de desoneração e incentivos, que visam, aparentemente, deixar satisfeitos os grandes empresários e banqueiros, maiores apoiadores da atual candidatura do PT.

Para os segundos, reafirmar sempre sua origem plebeia – Cícero nasceu numa família abastada, teve oportunidade de estudar com bons mestres, mas não era Patrício, haja vista que não nasceu em Roma – e que adotaria os interesses deles acima de quaisquer outros, defendendo a paz e a segurança, bem como a manutenção dos pequenos negócios e das associações de bairro.

Mais, para reforçar o apoio popular, sugeria que o candidato repetisse o nome de Pompeu, relembrando sua plateia que este grande general o apoiava e ficaria muito satisfeito se Cícero fosse eleito.

Muito apertadamente, Pompeu foi um dos maiores generais de Roma, político de renome e comumente associado a uma política populista. Recebeu o apelido de “magnus”, ou seja, “o Grande”. Formou, junto com Júlio César – político ainda mais importante, sobrinho de Caio Mário e tio do primeiro Imperador, Augusto – e Marco Crasso, um dos homens mais ricos da história de Roma o primeiro triunvirato, algo como uma ditadura a três.

Voltando às eleições atuais, registro a semelhança: Lula é como Pompeu, o grande herói do povo, um homem que veio de baixo, conseguindo alcançar a Presidência da República sem ter estudado. Também, defensor do povo contra as elites, estes confiam (ou confiavam?) em sua liderança, seguindo-o cegamente.

Os candidatos, por sua vez, usam e abusam de sua imagem, repetindo seu nome, ressaltando que trabalharam com ele neste ou naquele momento do governo, que ajudaram neste ou naquele projeto, sempre tentando se aproveitar da boa fama do ex-Presidente para garantir a sua própria eleição. Refiro-me a candidatos a deputado e a governador, mas também, e especialmente, à candidata à reeleição para a presidência.

Claro que os candidatos de oposição também se utilizam desta “técnica”. Aécio roda, roda, roda e volta a citar seu avô, Tancredo Neves. Nos palanques de todo o Brasil, os ex-prefeitos, ex-governadores, deputados ou outros homens de peso político são requisitados para preencher os espaços, dando credibilidade ao candidato.

Parece que mudaram os candidatos, mudou o país e mudou o momento histórico, mas a política feita hoje é a mesma que se realizava em Roma, a mais de vinte séculos.

Enfim, os apoiadores e ou parentes nunca deixarão de ser uma boa referência do propósito do candidato, porém, muito mais importante é conhecer o histórico, a atuação e a personalidade de cada candidato. 


* Dilson Jatahy Fonseca Neto é advogado, especialista em Direito Tributário e Mestrando em Direito Romano

Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias.