Publicada no jornal A Tarde em 22 de maio de 1992 – A novela Brasil
por Samuel Celestino
Este Brasil já assistiu a muitas tragédias, mas, sem dúvida, jamais a um drama com personagens fascinantes, um enredo fantástico e elementos tão ricos como sistema matriarcal, poder político, crises conjugais, tiros, amigos perniciosos, inveja, luta pela hegemonia de grupos de empresa, influência, extorsão, comissões, paraísos fiscais no exterior, contas em bancos suíços, enriquecimentos súbitos e ilícitos, jatos executivos cortando céus tropicais, mar azul e palmeiras das Alagoas e até uma ministra apaixonada, de saia curta e deliciosa, dançando, dois-pra-lá, dois-pra-cá, um excitante bolero num “besame mucho” de rosto colado com o sisudo ministro da Justiça. Só não dá tango nesta novela Brasil porque isso é reserva do mercado emocional do País mais ao sul, do Menem e da cigana Zulelma.
Não sem razão que a América Latina induz seus escritores à literatura do real fantástico. Não é preciso muita imaginação quando a realidade é fértil. Pelo menos isso. Se não fossem as novelas das oito e os donos do mundo, seria impossível à população suportar, com tamanho estoicismo, uma crise que dói no estômago, uma dorzinha fina e persistente. Nem, muito menos, o sorriso dos corruptos, a morte de velhinhos nas intermináveis filas dos guichês e a falência da assistência social, que mata pela falta de leitos hospitalares ou pelas infecções lá contraídas quando um abençoado burocrata arranja uma vaga na maca do corredor.
Há os políticos, os pianistas do Parlamento, os lutadores dos plenários. Os economistas que dão palpites – e erram todos –, os empresários que engordam vacas com cervejas importadas e os agouros dos quartéis.
Nada como o fascinante plimplim da novela Brasil.
Tan-tan – Inaugura-se, nesta República, mais uma mania nacional: submeter-se a teste de saúde mental. Corremos o risco de nos transformar num autêntico sanatório geral.
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