A novela do Brasil - publicada no jornal A Tarde de 22 de maio de 1992
Uma briga com conotações familiares instalada no poder, ou perto dele, é melhor do que novela das oito. Para o grande público, acostumado com as tramas, safadagens, mau-caratismo, e bom-mocismo da criação global, nada como um escândalo quase ao vivo, com todos os ingredientes. Só faltou trilha sonora, para a comercialização em som livre. Não é difícil compor, porque a temática é rica. É possível utilizar-se, como recurso, desde um sanfoneiro cantando matanças de pistoleiros na feira de Canapi, até um clássico e afinadíssimo violino. Com direito a batucada de lata em sanatório paulista.
Não sem razão que a América Latina induz seus escritores à literatura do real fantástico. Não é preciso muita imaginação quando a realidade é fértil. Pelo menos isso. Se não fossem as novelas das oito e os donos do mundo, seria impossível à população suportar, com tamanho estoicismo, uma crise que dói no estômago, uma dorzinha fina e persistente. Nem, muito menos, o sorriso dos corruptos, a morte de velhinhos nas intermináveis filas dos guichês e a falência da assistência social, que mata pela falta de leitos hospitalares ou pelas infecções lá contraídas quando um abençoado burocrata arranja uma vaga na maca do corredor.
Há os políticos, os pianistas do Parlamento, os lutadores dos plenários. Os economistas que dão palpites – e erram todos –, os empresários que engordam vacas com cervejas importadas e os agouros dos quartéis.
Nada como o fascinante plimplim da novela Brasil.
Tan-tan – Inaugura-se, nesta República, mais uma mania nacional: submeter-se a teste de saúde mental. Corremos o risco de nos transformar num autêntico sanatório geral.
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