De cartas marcadas - publicado no jornal A Tarde de 25 de junho de 1981
Com palavras, diz-se o que quer. Verdades e mentiras. E há mais mentiras do que verdades no esforço de alguns para explicar como “democráticas” medidas que, de fato, não as são. Pior. Vestem-se as palavras com fantasias cínicas, sem qualquer desfaçatez.
Na economia, até aqui o ministro Delfin Neto está a sair-se mal. Na política, nem é bom falar, mas ele fala e embola. Para enganar a quem, ninguém sabe. Acaba de dizer que “não existe qualquer relação entre inflação e eleição, pois em outros países há uma convivência pacífica entre altas taxas inflacionárias e pleitos livres”. Em países desenvolvidos há esta convivência pacífica, é certo, mas o governo paga o preço da inflação e cai, derrotado, pelo voto livre de cidadãos livre.
Perguntem ao Carter, perguntem ao Giscard.
No Brasil, tudo indica, haverá eleições em 82. O ato de votar, no entanto, não significará uma manifestação livre do eleitor, porque o governo não quer perder, daí porque mascarará o pleito com as cartas marcadas dos casuísmos que brotam, m enxurrada, no Palácio do Planalto e nos gabinetes do PDS.
Pois sabe o governo que aqui não há convivência pacífica entre eleição e esta inflação que o Sr. Delfim administra e não debela. Se não marcar as cartas, como ora faz nesta reforma eleitoral que alinhava, receberá, como troco, o inconformismo da sociedade brasileira expresso em votos.
Não há mas dúvidas de que as eleições de 82 serão uma festa fabricada para a dança e alegrias dos pedessistas. As oposições ficaram encurraladas e de nada valerão os esforços para conscientizar o eleitorado, na esperança de que ele possa driblas os casuísmos da sublegenda, proibição das coligações partidárias, vinculação do voto proporcional e majoritário, e, ainda por cima, o voto facultativo. Estes casuísmos não são dribláveis e, se fossem, certamente não haveria eleições.
A abertura política, não se há de negar, existe. O seu time é a transferência de poder, fato normal numa sociedade democrática e pluralista. Aqui, da forma como se projeta a reforma eleitoral, democrático e pluralista há ser ainda por muito tempo, grafados entre aspas. E a transferência do poder é uma balela, um sonho para quem gosta de sonhar, em fuga da realidade.
Uma palavra sobre sucessão baiana: o governador Antonio Carlos Magalhães tem afirmado e reafirmado que não necessita da sublegenda para vencer bem no estado. O PDS é, de fato, muito forte e não teme as oposições, unidas ou desunidas. Mas se alguma corrente pedessista quiser acomodar-se na disputa do governo, poderá utilizar do casuísmo. O candidato nascerá, não há indício em contrário, da convenção do partido, embora há quem deseje acordo prévio. Se for inviável uma composição e alguém discordar da soberania da convenção, a sublegenda será a solução da divergência. A pergunta que se faz , e em razão dessa pergunta haverá desgostos, esperneios e contratempos é esta: quem terá coragem de se utilizar dela?
* Coluna publicada originalmente na edição de 25 de junho de 1981 do jornal A Tarde
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