'Sonhos são o espaço de invenção do novo', conta o neurocientista Sidarta Ribeiro
por Bruno Leite

Aos 51 anos, Sidarta Ribeiro não deixa de lado a lógica dos sonhos como um espaço de fruição do real. Responsável pela fundação de uma das principais instituições que pesquisam neurociência no país, o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICE/UFRN), ele diz que os sonhos são "o estado mental de construção do que não existe".
Dono de uma larga trajetória como professor, pesquisador e capoeirista, Sidarta defende a ideia de que a humanidade tem elaborado, há milênios, um repertóprio de conhecimentos e saberes através deste ambiente.
Essa sapiência, o teste de hipóteses sobre o novo, desnivelado através dos sono, no entanto, não estaria acessível a todos, sobretudo aos que não têm a ancestralidade como fundamento.
"Isso não é nada claro nessa civilização urbana de matriz européia, do racionalismo, do iluminismo, que jogou os sonhos na lata do lixo", argumenta o cientista, acrescentando que, no estado atual, a sociedade não consegue sonhar, seja no sentido prático ou metafórico da coisa.
Os reflexos são diversos, alerta o professor, pois, cada vez mais, o mundo do trabalho invade a noite, faz com que indivíduos durmam cada vez menos e passem a ter problemas cognitivos.
"A gente sabe que precisa dormir bem, comer bem, se exercitar, ter relações não tóxicas para poder ter saúde, mas a gente, como sociedade, está embarcando no projeto oposto", esclarece Sidarta, que atribui ao vício no dinheiro o status de contaminador das relações sociais.
A compreensão sobre drogas, aliás figura como um dos temas de atenção do brasiliense, que é autor de livros como "Entendendo as coisas" (1998) e "Maconha, cérebro e saúde" (2007).
Para ele, a "mistificação" do Brasil acerca das drogas é um desafio para o avanço de uma política eficaz. "As pessoas acham que são contra drogas, mas vão à drogaria a todo momento comprar drogas, ou vão aos bares, ou vão aos supermercados", compara, afirmando ainda que substâncas como o açúcar têm efeito no corpo e na mente dos indivíduos.
"Sonho manifesto: Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico" (2022) é o escrito mais recente de Sidarta, que disse, apesar do respeito que nutre pela instituição e das vagas ociosas, não ter interesse em se candidatar à uma cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL).
"Enquanto a Conceição Evaristo não for admitida, todo mundo que é branco ou quase branco deveria ficar do lado de fora", avalia, acrescentando que acredita na emergência de outras questões mais importantes como a renconstrução da ciência do país. Confira a entrevista completa.
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