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Remédio contra malária pode ajudar a proteger fetos do vírus da zika

Por Renata Farias / Rebeca Menezes

Remédio contra malária pode ajudar a proteger fetos do vírus da zika
Foto: Venilton Kuchler / ANPr

Um medicamento amplamente utilizado no passado para tratamento de malária pode se tornar uma forma de proteção de fetos contra o Zika vírus. Coordenado pelo brasileiro Alysson Muotri, o estudo que descobriu o novo efeito da Cloroquina foi desenvolvido por uma equipe da startup de biotecnologia TISMOO, que tem sede em São Paulo. "Nesse estudo nós resolvemos testar algumas drogas de uma biblioteca de antivirais ou antiparasitas. A Cloroquina era uma delas, e foi uma das que deu sinal como protetivo, ou seja, colocando antes a célula seria protegida", afirmou o biólogo molecular, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia e cofundador e chefe científico da TISMOO. A presença do Zika no corpo está ligada ao aparecimento de deformidades neurológicas nos bebês, como a microcefalia. Os pesquisadores utilizaram mini-cérebros humanos para testes com mais de mil drogas e descobriram que a Cloroquina é capaz de impedir a entrada do vírus no cérebro dos fetos. O mesmo estudo revelou como o Zika consegue afetar as crianças ainda no útero das mulheres e causar as deformidades neurológicas – uma descoberta de extrema importância para o meio científico, já que ainda não se sabia como o vírus conseguia cruzar a barreira hematoencefalica e atingir o cérebro do feto. Por meio do teste nos mini-cérebros, os pesquisadores descobriram que, após a picada do mosquito Aedes aegypti, o vírus instalado no corpo utiliza de uma estratégia que funciona como um "Cavalo de Tróia". As células do sistema imune das mães são infectadas pelo Zika e transmitidas ao feto. Estas células, que carregam o vírus, infectam também as células do sistema imune imaturo do embrião. Uma barreira hematoencefálica se forma durante a gestação, aprisionando as células infectadas no cérebro do feto e, consequentemente, levando o vírus para o sistema nervoso, afetando as células progenitoras neurais responsáveis pela formação do córtex. Assim, as células progenitoras acabam morrendo antes de migrarem e formarem o cérebro do embrião. Além de se mostrar eficaz para evitar os efeitos do vírus em mini-cérebros, a Cloroquina também teve um resultado positivo nos testes com animais. O próximo passo da equipe é iniciar um estudo clínico. "A gente está em contato com um grupo do Equador pra começar o estudo clínico. Estamos resolvendo alguns empasses burocráticos, e esse protocolo em testes em humanos tem que passar por um comitê de ética. Mas eu não antecipo nenhum problema. A Cloroquina não é tóxica, então provavelmente deve começar ainda esse ano", explicou Muotri. "O Equador está tendo um surto de zika e eles acham que vai ser um pouco problemático. Olhando para esse tipo de profilaxia, é uma droga barata, que pode tratar um país inteiro com orçamento reduzido, então é uma candidata atraente. A vacina ainda não existe, porque o Zika faz parte de uma população de vírus que são difíceis de criar vacina e não dá para esperar, então essa é uma forma atraente. O ensaio clínico inicialmente será feito em um pequeno grupo de pessoas das áreas afetadas, administrando a droga e observando se elas se mantêm protegidas", acrescentou. Ainda não há expectativa de testes no Brasil. Ainda assim, o cientista lembrou que, "quando se tem outros testes aprovados em um país, é mais fácil levar para os outros".