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Entrevista

Apesar do fácil acesso, escolha de método contraceptivo deve ser feita com médico

Por Jade Coelho

Apesar do fácil acesso, escolha de método contraceptivo deve ser feita com médico
Jamile Martins é ginecologista no Hospital da Mulher | Foto: Arquivo pessoal

Por mais que o acesso seja fácil, a escolha e o uso de um método contraceptivo envolve questões que precisam ser analisadas e conversadas com um profissional de medicina especializado em ginecologia e obstetrícia.

 

Isso porque cada pessoa tem características que precisam ser levadas em conta para definir qual método é o mais adequado para ela.

 

Entre os métodos mais utilizados está a pílula, popular, de fácil acesso e baixo custo, mas que não é indicada no caso de pacientes homens trans, ou com histórico de trombose na família, com sedentarismo, obesidade, hipertensão ou que sofrem de enxaqueca.

 

A médica ginecologista do Hospital da Mulher, Jamile Martins, explica que além do histórico a escolha do método também leva em conta variantes relacionadas a menstruação, como fluxo, período, se sente cólica, quantos dias dura o período menstrual.

 

Ele ainda alerta que não é aconselhável a homens trans que estão em processo de trans sexualização o uso de qualquer método contraceptivo hormonal. Esses pacientes devem utilizar métodos como o Dispositivo Intrauterino (DIU) de cobre ou de cobre com prata.

 

Durante a entrevista a médica explica diferença e questões que envolvem métodos contraceptivos, a relação do anticoncepcional com a Covid-19, trombose, exemplifica contraindicações para certos métodos e ainda fala da reação com outros medicamentos. 

 

A gente sabe que atualmente existem diversas formas de prevenir uma gravidez indesejada. Queria que a senhora explicasse a diferença entre os métodos de barreira, hormonais, intrauterinos e se existem outros alternativos?

Barreira é aquele que faz impede o contato entre espermatozoide e os óvulos, e pode contar com a camisinha, diafragma. Os métodos hormonais são todos que tem hormônio na composição dele, a pílula, injeção, os adesivos, implantes o DIU mirena. Os intrautirinos que eu já comecei a falar, a gente tem o DIU, que tem o de cobre e sobre com prata; e tem o intrauterino com hormônio, que é o milena e kyleena. 

 

Qual é a diferença desse DIU de cobre e o de cobre com prata?

DIU de prata é um dispositivo mais recente, tem por volta de uns dois anos. O de cobre puro tem alguns efeitos colaterais que era motivo de queixas frequentes das pacientes, como aumento sangramento vaginal e das cólicas intensas. A prata é um metal vem para cobrir o cobre fazendo com que esses efeitos colaterais minimizem. O objetivo dessa prata é diminuir o sangramento e a intensidade das cólicas.  

 

Qual é a diferença entre a pílula e a minipílula?

A diferença é na dosagem de hormônio. A minipílula, a maioria, tem um só hormônio que é o derivado da progesterona. A pílula “normal” tem a combinada e a com progestagem no couro. A combinada tem os hormônios sintéticos do estrogênio e da progesterona.

 

Essa questão de ter um ou dois hormônios combinados interfere na eficácia?

Não interfere. 

 

Se pode falar no melhor método anticoncepcional, ou varia de pessoa para pessoa?

Varia. Se você pensar em um efeito ideal, a gente tem sim um método que é o melhor, porém quando você coloca a individualidade de cada paciente, aí não há como garantir que aquele que é o melhor na essência dele, seja o melhor para aquela paciente.  

 

E que fatores devem ser considerados para que uma pessoa eleja o melhor método pra ela?

A gente precisa levar em consideração as características do fluxo menstrual, período, de quanto em quanto ela menstrua, a intensidade, quantos dura, se tem fator de risco, alguma doença com alguma contraindicação de algum método, se a pessoa é obesa, sedentária, se tem história de trombose na família, se está no pós parto, quanto tempo do pós parto, isso vai nortear nossa indicação, 

 

Existem contraindicações? Algum deles afeta a saúde de forma negativa?

Sim. Por exemplo uma paciente obesa sedentária que tem histórico de trombose na família, nessa paciente a gente não indica a pílula, porque ela aumenta o risco de trombose. No pós-parto ou amamentando a gente não utiliza pílula combinada. Paciente na metade do pós-parto a gente não coloca o DIU, que deve ser colocado ou imediatamente após o parto ou 42 dias depois. Paciente que sofre de enxaqueca, a gente evita usar a pílula também. Paciente com fluxo menstrual muito forte, que dira muitos dias, a gente evita colocar o DIU. Ou com mioma na cavidade endometrial, que mioma que a gente chama de submucoso e polipo endometrial são contraindicações para colocar o DIU também.

 

Método contraceptivo deve ser escolhido com o ginecologista?

Exatamente. Até porque a gente tem que indicar também a forma de uso da medicação, e o que fazer em caso de esquecimento, em caso de efeito adverso, coisa que na farmácia pecando por essa orientação. 

 

Gostaria que a senhora falasse um pouco da relação dos anticoncepcionais e as pressões sistólica e diastólica. Existe problema em quem sofre com hipertensão utilizar pílula?

Pode utilizar. Mas é claro que temos que avaliar todo contexto da paciente, se tiver um método melhor para aquela situação a gente indica. A hipertensão pura não é contraindicação absoluta. Temos que pesar o risco e o benefício. Todo paciente que tem hipertensão e começa a usar pílula precisamos fazer o controle dessa pressão pra ver se vai alterar ou não. Se alterar, temos que modificar, se não pode continuar.

 

O uso de anticoncepcionais orais também aumenta as chances de desenvolver trombose. Qual é o índice de ocorrência desse problema?

Paciente que usam pílula com etnilestradiol, que é o sintético do estrogênio, com doses acima de 0,05 a gente tem o risco de trombose 10 vezes maior do que comparado com uma dose menor. Agora se colocar em um contexto geral o risco de trombose decorrente do uso de pílula é baixo. Quando você associa fatores de risco que paciente pode ser, como sedentarismo, obesidade, varizes, histórico de trombose na família, então o risco aumenta e é um paciente que a gente prefere outro método. É um risco baixo de a gente for avaliar a pessoa que não tem nenhum fator de risco. A gravidez por exemplo dá um risco muito maior de trombose do que o uso de pílula. 

 

Ainda nessa temática trombose, há relação ou agravamento de pacientes com Covid-19 por uso de anticoncepcionais? Já que existem mais chances de trombose e se sabe que pacientes infectados pelo novo coronavírus podem apresentar distúrbios de coagulação.

Saíram alguns estudos sobre isso, mas não saiu nenhum artigo bem definido, com quantidade de pacientes avaliados que assegure essa correlação do uso pílula e da Covid-19. O que a gente sabe é que a pílula aumenta o risco de trombose, paciente com Covid também tem risco de trombose, então vamos ter que avaliar o risco benefício. A paciente ter Covid-19 e parar a pílula? É uma paciente que vai estar internada? Claro que o risco de trombose é maior naquelas pacientes que evoluem com a forma grave de Covid-19, se evoluiu vai estar internada e não vai estar usando o anticoncepcional, que tem um fator pró-trombótico, ele aumenta o risco. Em contrapartida, a gente tem também outros estudos, também dessa mesma forma que não é nenhum artigo científico bem controlado que dê uma segurança pra gente, que fala do fator protetor da pílula anticoncepcional nas formas graves de Covid. O colégio de Londres, o Imperial College, fez um estudo ano passado. Em um aplicativo que faz acompanhamento de pacientes com Covid e nesse app se coloca todo o histórico, se teve dor, se evoluiu com forma grave, quais medicamentos usa, as doenças que tem, e nesse estudo foi observado que as pacientes que usavam pílula evoluíam para a forma grave com 13% menos que quem não fazia uso. E também que aqueles pacientes perto da menopausa, que o estrogênio fica aumentado, também evoluiu com menor frequência para formas graves do que as pacientes menopausadas e aquelas que não usavam anticoncepcional. Mas isso é estudo observacional, não tem nada garantido, a gente não tem como dar certeza.

 

Existe algum problema ou reação de anticoncepcionais com outros medicamentos?

Sim. A gente tem na verdade uma diminuição do efeito do anticoncepcional com algumas medicações. Alguns antibióticos, medicações controladas psiquiátricas, gente tem esse efeito de efetividade. Que também cai naquela outra questão que a gente já tinha falado que é o risco benefício. Se é uma paciente que não tem acesso a um outro método que não tenha essa interferência, a gente mantém o uso, porque ele vai diminuir a eficácia, mas não vai zerar. Tem uma eficácia melhor do que não usar nenhum método. Se o paciente tem a disposição e tem critério para um método mais seguro e que não tem interferência com essas medicações, a gente opta pela troca.

 

No caso de homens trans, como é orientada a relação entre o método contraceptivo e os outros hormônios que eles possam tomar?

Tem todo um contexto dessa trans sexualização. A gente tem que saber se o paciente fez cirurgia para retirada de útero, que é condição que alguns fazem, porque veem o órgão como uma coisa feminina. Se tirou, não precisa não precisa usar nada. Por conta do uso dos outros hormônios da trans sexualização o método mais indicado é o DIU, ou cobre ou cobre com prata, porque ele é livre de hormônios e não vai ter interferência com as outras medicações que vai usar, mas isso vai depender da dose da medicação que ele usa. Claro que a gente nunca aconselha fazer uso de vários tipos de hormônios. Então esse paciente que vai fazer uso de hormônios para favorecer sua identidade a gente opta por não usar nenhum método hormonal.