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Entrevista

Bahiafarma aposta em medicamentos, próteses e órteses para ampliação de produção

Por Júlia Vigné / Renata Farias

Bahiafarma aposta em medicamentos, próteses e órteses para ampliação de produção
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Após a venda de 3,5 milhões de testes rápidos de Zika vírus, o laboratório público baiano Bahiafarma está em negociação com o Ministério da Saúde para a produção e venda de testes rápidos contra dengue e chikungunya. É o que conta o secretário de Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, que afirmou ter uma reunião marcada com a pasta nesta semana. Buscando um protagonismo no país, o laboratório abriu seu leque e, agora, além de medicamentos e de testes rápidos de zika, produz também próteses e órteses e investe em medicamentos para doenças “negligenciadas”, como a anemia falciforme. “Nós somos um laboratório público baiano, a anemia falciforme é uma doença de negros, a Bahia é o estado que tem o maior contingente de portadores de anemia falciforme fora do continente africano, e a medicação principal para tratar esses pacientes, que é a hidroxiureia, falta de forma sistemática no país”, explicou o secretário da Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas. A planta de produção de hidroxiureia será construída em Vitória da Conquista, juntamente com a planta de medicamentos para câncer. Como uma nova aposta, há também a produção de descartáveis, como vacinas, algodões, que passarão a ser produzidos pelo laboratório. Outros investimentos do governo do Estado para a saúde foram inaugurados e anunciados nesta semana, como o Hospital da Mulher, que terá a união de diversas especialidades médicas e trará um suporte maior para as mulheres. 

A Bahiafarma tem ganhado destaque nacional com o teste de zika, distribuído para todo o país pelo Ministério da Saúde. De que forma isso tem impactado no crescimento da empresa? 
Quando assumimos o governo no início de 2015, realizamos um diagnóstico junto com o governador Rui Costa, e identificamos claramente que a Bahiafarma era uma empresa estratégica no processo de industrialização da Bahia. A Bahia era 100% dependente da importação de outros estados e países, tanto de medicamentos quanto de produtos de saúde. A decisão do governador foi investir na Bahiafarma e mudar o perfil do laboratório, que vinha sendo dedicado exclusivamente a medicamentos. A partir dessa necessidade, nós mudamos a lei da Bahiafarma para permitir que ela incluísse outros produtos para a saúde, como próteses, órteses, descartáveis e testes diagnósticos. O leque foi ampliado e procuramos oportunidades não atendidas no mercado de saúde público brasileiro, para que nós pudéssemos nos inserir. Buscamos parcerias internacionais, fomos na Europa, Ásia, e encontramos parceiros tanto para medicamentos, quanto para próteses e testes diagnósticos. No caso específico dos testes de Zika, essa foi uma decisão que nós tomamos em junho de 2015, quando surgiu a epidemia, que na época ninguém sabia o que era, e depois se descobriu que era o Zika vírus. Nós decidimos investir na produção de um teste para Zika, que até então não existia no mundo. Encontramos um parceiro, levamos um ano desenvolvendo essa parceria, tivemos a aprovação nos testes de todas as instâncias do Ministério da Saúde, na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), depois no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), resultando no melhor teste diagnóstico público; no único teste público, e um dos melhores em termos de performance diagnóstica. A produção do teste rápido resultou em uma compra centralizada de 3,5 milhões de testes do Ministério da Saúde. E o acontecido, por ter sido o primeiro teste de Zika produzido no Brasil, deu visibilidade à empresa nacionalmente e internacionalmente. Nós chegamos a fazer uma visita à Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização das Nações Unidas (ONU) para apresentar os nossos testes, à convite deles. Uma janela de oportunidades se abriu, nós estamos agora com nosso teste de dengue e de chikungunya que deverá ser objeto de reunião com o Ministério na próxima semana, visando também a compra dos testes de chikungunya da Bahiafarma.
  
Fora esse investimento em testes rápidos, a Bahiafarma está desenvolvendo novas tecnologias?
Sim, nós temos no Brasil uma carência de próteses ortopédicas de quadril e de joelhos, as próteses produzidas no país e fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não atendem os critérios de qualidade reais, existe uma resistência por parte dos médicos ortopedistas de implantarem essas próteses, o que resulta em um processo de judicialização crescente para o implante de próteses importadas, que são extremamente caras. Encontramos na Itália um produtor de próteses ortopédicas de quadril e de joelho de alta qualidade e estabelecemos um processo de parceria, com transferência de tecnologia. Com isso, nós submetemos à Anvisa todos os nossos produtos, que já foram aprovados e, em breve, nesse próximo trimestre, iremos lançar próteses de quadril e de joelho com tecnologia italiana, desenvolvida junto com a Bahiafarma. A outra área em desenvolvimento é a oncológica, de medicamentos para câncer e para doenças negligenciadas, como a anemia falciforme. Nós somos um laboratório público baiano, a anemia falciforme é uma doença de negros, a Bahia é o estado que tem o maior contingente de portadores de anemia falciforme fora do continente africano, e a medicação principal para tratar esses pacientes, que é a hidroxiureia, falta de forma sistemática no país. Nós decidimos lançar uma planta de hidroxiureia que vai ser construída em Vitória da Conquista, junto com a planta de medicamentos para câncer. Também vamos começar a produzir esse ano descartáveis, estamos em negociação com fornecedores da Ásia, para o processo de transferência de tecnologia.
 
O Ministério da Saúde assinou convênio de R$ 15,4 milhões para a Bahiafarma (veja aqui). Como esse valor contribuirá no crescimento da empresa?
Nós temos dois convênios com o Ministério, um de R$ 12 milhões para a implantação da planta de sólidos orais, ou seja, de comprimidos, que já está em execução. Já foi licitada a obra e a aquisição de equipamentos. E este outro convênio é para a implantação da linha de testes diagnósticos. Hoje parte da produção desses testes é feita na Coreia, parte feita na Bahiafarma. A partir do momento em que a gente montar essa linha com financiamento do Ministério será possível reduzir ainda mais o custo dos testes, que hoje já são sete vezes mais baratos do que os testes vendidos no mercado privado. A expectativa é que a gente reduza mais ainda o recurso para o país, a partir do momento que essa segunda fase do processo de produção for nacionalizada.
 
O lucro obtido pela Bahiafarma é reinvestido na própria empresa ou há alguma outra aplicação?
A Bahiafarma é uma fundação e, como fundação, ela não pode ter lucro. Todo resultado positivo será obrigatoriamente revertido em novos investimentos para expansão da fábrica ou investimento em desenvolvimento tecnológico.
 
O governo inaugurou na última segunda (9) o Hospital da Mulher (veja aqui). Qual é o diferencial do hospital?
Essa vai ser uma das maiores realizações do governo Rui Costa. O Hospital da Mulher vem revolucionar a atenção à saúde da mulher no estado da Bahia. Ele vem atender uma demanda que não era absolutamente atendida pelo estado e nem pelos municípios. Você tinha uma quantidade enorme de mulheres com problemas ginecológicos, com mioma de útero, sangrando, as vezes iam pra emergência, eram transferidas e não conseguiam vagas para serem submetidas a cirurgia de histerectomia e diversos outros problemas. O problema era estadual, haviam filas do procedimento, o governador identificou isso, pediu que a gente realizasse um mutirão para reduzir a fila, mas a solução definitiva virá com o hospital da mulher. Ele vai ser o centro de referência da saúde da mulher no Estado da Bahia.
 
Quais serão as especialidades da unidade?
O hospital terá um componente hospitalar para realização de cirurgias voltadas a saúde da mulher, ao aparelho ginecológico feminino, câncer de mama, câncer de útero, câncer de colo de útero, de ovário, e também terá outras áreas inéditas. Nós teremos pela primeira vez na Bahia e no SUS um serviço de reprodução humana: casais inférteis poderão se cadastrar no ambulatório do hospital. Toda a investigação e diagnóstico da infertilidade, seja da mulher, seja do homem, assim como as intervenções terapêuticas necessárias, para reverter essas infertilidades. Teremos atendimento no processo de endometriose, no processo de varicocele. Tudo isso será feito no hospital, de modo que casais dependentes do SUS, que não tenham recursos para pagar uma clínica privada terão pela primeira vez a oportunidade de ter filhos, porque não é só rico que pode ter filhos. Por outro lado, nós também trabalharemos com um centro de planejamento familiar. O hospital terá um centro de referência estadual para orientação, educação. Terá um oferecimento de técnicas de contracepção reversíveis, como pílula, implantes de DIU, implantes hormonais de liberação prolongada e também de métodos definitivos, como a laqueadura tubária. Isso tudo dentro de um ambiente em que a mulher será devidamente esclarecida, o processo educacional, ela vai escolher o método com psicólogos, com assistentes sociais. E também teremos um lugar especial para o problema da gravidez na adolescência, para que a gente não tenha o desastre que é ter uma segunda gravidez em uma adolescente. A primeira [gravidez] a gente não tem como evitar, tem que se evitar em casa, mas ter a segunda já tendo tido a primeira em uma menina de 14 anos é um problema sério. Nós precisamos atuar para evitar que essa adolescente tenha o segundo filho, esse centro terá também esse objetivo. Um outro serviço que teremos é o de atendimento à pessoa vítima de violência, que também atenderá crianças, transgêneros. É uma parceria da Sesab com a Secretaria de Saúde Pública, onde a pessoa que foi vítima de violência já vai fazer o exame de corpo delito, coleta de espécimes, teremos psicólogos, assistentes sociais, médicos, para acolher essas pessoas. Se for necessário internar essa pessoa, será feito, se for necessário fazer contracepção, pílula do dia seguinte, será feito. Se houver necessidade de fazer profilaxia pós exposição de HIV, iremos oferecer. Tudo em um ambiente só, sem que a mulher tenha que sair se deslocando e sem o constrangimento de ir para o Hospital Geral ou ir ao Instituto Médico Legal (IML), tendo um atendimento especial.  Além disso, um aspecto inovador do hospital é o atendimento de alta resolutividade para portadores de câncer de mama e de colo de útero. A pessoa que teve um diagnóstico será encaminhada imediatamente para biópsia e todo o processo será feito de forma acelerada, para evitar que a pessoa perca a janela terapêutica. A gente vai conseguir oferecer para o SUS a mesma agilidade do hospital privado.
 


Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias


A equipe de assistência a pessoas de violência sexual teve uma preparação especial para lidar com as mulheres? 
Nós estamos trabalhando em parceria com a Secretaria das Mulheres, a secretária Olívia Santana disponibilizou uma equipe capacitada, que irá treinar não apenas a equipe que vai estar no centro de atenção à pessoa vítima de violência, mas também todos os profissionais do hospital vão ser capacitados a lidar com a mulher de uma forma mais doce, delicada.
  
Como acontecerá o atendimento no hospital?
A emergência do hospital será para casos ginecológicos, mas o hospital é um hospital de porta fechada, as pessoas não terão acesso a ele pela porta, a pessoa ela terá que ir para a rede municipal ou estadual, a necessidade de uma transferência será identificada, então na unidade básica de saúde do município eles vão procurar a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que irá encaminhar via sistema de informática para o Hospital da Mulher, que já virá com a consulta marcada pela rede. Nunca vai existir fila na porta do hospital, porque não haverá marcação no hospital, as pessoas virão da rede para o hospital.
 
Temos acompanhado frequentemente reclamações de instituições filantrópicas com relação aos recursos. O governo do estado tem algum planejamento para este ano no sentido de auxiliar essas instituições? 
O governo do estado nunca se furtou a apoiar uma entidade filantrópica que tivesse dificuldade, uma vez que essa entidade estivesse submetida a um processo de gestão eficiente. No mês passado, o governador Rui Costa e eu estivemos no Hospital Aristidez Maltez para anunciar um aporte de R$ 10 milhões por ano como forma de auxílio ao hospital, que vinha reclamando de um déficit na prestação que eles recebiam do SUS e da prefeitura, de cerca de R$ 1,3 milhões, nós entramos com R$ 800 mil reais por mês, a contrapartida estadual auxiliar. A mesma coisa fizemos com o Martagão, que é contratado principalmente pela prefeitura, o governo tem uma participação de 30%.  Nós corrigimos a tabela para eliminar qualquer tipo de déficit nos contratos com o estado. A saúde tem sido prioridade do governador, ele tem feito um esforço muito grande para fazer um aporte de recursos necessários e nós entendemos a rede filantrópica como uma rede preferencial e prioritária de apoio ao estado.
 
Chegamos no verão e há um alerta cada vez maior sobre o retorno da epidemia de arboviroses. A Sesab tem algum planejamento especial para o período, principalmente relacionado ao combate ao Aedes aegypti? 
O plano de combate as arboviroses segue um plano nacional, que é centrado em três áreas: combate ao vetor, atendimento às pessoas que estão na vigência da doença e atendimento aos que tiveram consequência da doença, como gestantes, pessoas que tiveram chikungunya e que tiveram sequela de artrite, que tiveram dengue complicada ou síndrome de Guillain-Barré. Nós temos uma estratégia específica para cada uma desses tripés, de acordo com o plano nacional.
 
Temos registrado casos de uma doença desconhecida (veja aqui). Há algum avanço nas pesquisas? 
Não há avanço na pesquisa. Não se identificou nenhum vírus, nenhum parasita, nenhuma bactéria, o que se sabe é que é um quadro acompanhado de elevação das enzimas musculares, com destruição das células dos músculos, e que pode lesionar os rins e a pessoa entra em insuficiência renal. Até o momento os laboratórios não chegaram a uma conclusão.