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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

Catarata atinge 7,6 mi de idosos no país; médico enumera sintomas e tratamentos

Por Estela Marques

Catarata atinge 7,6 mi de idosos no país; médico enumera sintomas e tratamentos
Foto: Dênio Simões/ GDF
Imagine que o cristalino do seu olho perde a transparência necessária para evitar qualquer prejuízo à sua visão. Por conta disso, você perde, por exemplo, a percepção das cores e a noção de proximidade. A situação tem nome e gente preocupada em revertê-la. Essa é a realidade de mais de 7,6 milhões de brasileiros que sofrem com a catarata. O assunto foi tema do XXII Congresso Norte e Nordeste de Oftalmologia, realizado entre os dias 10 e 12 de março em Maceió (AL). O presidente dr. João Marcelo Lyra conversou com o Bahia Notícias sobre o tema, na entrevista dessa semana. “Hoje o tratamento mais moderno é a facoemulsificação, justamente dissolver o cristalino através de uma técnica ultrassônica. O equipamento mais moderno é o que você vai fazer incisão em cerca de 2mm com caneta especial, ela irriga e faz essa emulsificação do cristalino e depois injeta lente dobrável no olho, que expande automaticamente, não precisando dar ponto no olho”, afirmou, em referência ao injetor pré-carregado Acrysert, da Alcon.



Dr. João Marcelo Lyra, oftalmologista e presidente do XXII Congresso Norte e Nordeste de Oftalmologia | Foto: Divulgação

O senhor é presidente do XXII Congresso Norte e Nordeste de Oftalmologia que tem como um dos principais temas a catarata. Qual a situação da doença no país hoje?
A catarata é uma das principais causas de cegueira reversível no Brasil e no mundo, então nós temos uma situação no Brasil ainda de necessidade, principalmente na periferia e nos interiores, de casos de pacientes que ficam com visão muito comprometida, muito baixa, por conta de não ter acesso à cirurgia de catarata. E outra coisa, está existindo o envelhecimento populacional muito acentuado, a faixa etária entre 45 e 60 anos hoje é muito maior do que a faixa etária que hoje está com 60 anos, por conta do aumento da expectativa de vida. Você tem aumento de cirurgia de catarata nos próximos dez anos na ordem de 40% a 50%. Isso vai exigir um preparo maior dessa futura geração e também a inovação, que a gente pode contar com empresas com a Alcon, para que seja feita cirurgias de forma mais segura.
 
Qual é a incidência da doença?
A incidência é variável, mas aumenta com a idade. Vai depender da faixa etária. Acima de 60 anos começa a aumentar, chegando a mais de 50% dos pacientes. É muito frequente algum grau de catarata, todos seriam operadas, mas tem incidência de mais de 50% acima de 60 anos.
 
Quais são as diferentes aparições da doença?
A mais comum é a catarata senil, relacionada à idade, uma catarata que vai se desenvolvendo por questões genéticas, de envelhecimento do olho e também alguns fatores, sendo o principal deles é a exposição solar, contabilizada desde a infância. Então o ideal é que usemos óculos escuros com proteção aos raios ultravioleta desde a infância, porque esse aumento da incidência é relativa. Lógico que não vai evitar a catarata, mas vai ter a possibilidade de essa progressão ser menor, então você vai postergar o envelhecimento do olho como um todo, do cristalino. Existem outros tipos de catarata, como a catarata congênita, que por alguma alteração genética ou infecção intrauterina você acaba tendo uma catarata precoce, já no nascimento ou nos primeiros meses de vida. Existe a catarata traumática, induzida por trauma; a catarata que pode ser ocasionada pela inflamação interna do olho. Mas o mais comum, que a gente opera mais, é a catarata senil.
 
Quais são os primeiros sinais da catarata e a partir de qual momento a pessoa deve procurar um oftalmologista?
Logo nos primeiros meses de vida o oftalmologista deve ser procurado para o Teste do Olhinho. Após os 40 anos, deve ser procurado para ver a questão do glaucoma, medir a pressão intraocular. Em relação à catarata, os principais sintomas são o turvamento da visão, que se dá primeiro durante a noite, então vai piorando a visão à noite, e depois vai tendo a perda da percepção de cores, principalmente as secundárias; tem diminuição da noção de proximidade. É perigoso para o idoso porque pode induzir a uma queda, ele não acerta degrau da calçada, tem gente que sente de dificuldade em ver a distância dos carros. Depois, com o avançar do tempo, a diminuição da visão e em casos mais avançados até a perda da visão.
 
Tem algum sinal físico que a gente pode perceber no olho?
A catarata congênita, que se dá ao nascimento e nos primeiros meses de vida, é interessante perceber em uma foto. Se você tiver diferença em uma pupila escura e outra pupila branca, onde tem o centro da íris, tem que levar imediatamente ao oftalmologista. Pode ser uma catarata, uma retinoplastia. Agora, no idoso, não tem nenhum sinal a não ser que seja uma catarata muito avançada, que você tem um esbranquiçado na pupila. No geral, qualquer paciente que tenha esses sintomas, deve procurar oftalmologista, porque o exame é feito de forma microscópica.
 

Vídeo mostra como é utilizado o AcrySert da Alcon, nova técnica para cirurgia da catarata
 
Diagnosticada a catarata, quais os tratamentos disponíveis para combatê-la?
Hoje o tratamento mais moderno é a facoemulsificação, justamente dissolver o cristalino através de uma técnica ultrassônica. O equipamento mais moderno é o que você vai fazer incisão em cerca de 2mm com caneta especial, ela irriga e faz essa emulsificação do cristalino e depois injeta lente dobrável no olho, que expande automaticamente, não precisando dar ponto no olho. Para auxiliar essa emulsificação, temos hoje um laser, que um deles é o lensx, que faz parte dessa etapa com forma mais precisa, e aí uma parte da cirurgia é feita, como o preparo do olho e a quebra do cristalino, para que essa emulsificação seja feita de maneira mais eficaz. Então a cirurgia da catarata hoje é segura e bem moderna em termos de tecnologia. E tem um sistema de marcação a laser digital que auxilia o oftalmologista na hora da incisão, na colocação e na centralização da lente intraocular, que vai substituir o cristalino calcificado. Ele funciona para tornar a incisão e alguns passos cirúrgicos mais preciso, porque vai ter local exato onde colocar a lente.
 
Depois de quanto tempo de cirurgia o paciente percebe os efeitos do procedimento?
Como é cirurgia, apesar de delicada, minimamente invasiva, a recuperação geralmente é rápida. O paciente sente os efeitos já nos primeiros dias. Em relação às lentes intraoculares, é importante ressaltar que já existem as lentes intraoculares multifocais, já funcionam de longe, de perto, em computador, evitando que o paciente use o óculos ou minimizando seu uso para menos de 5% da atividades. Lógico que essa lente tem que ser feito planejamento cirúrgico, avaliação pré-operatória com vários exames em médico especializado, pra poder usar tecnologia e adaptar essa multifocalidade.
 
Existe algum tipo de restrição para essas duas modalidades de tratamento?
Essas duas modalidades são usadas em tratamentos em 98%, 99% dos casos. A exceção é uma catarata extremamente dura, onde você não vai fazer a quebra nem pelo laser nem pelo ultrassom, e faria a técnica antiga, em que você retiraria o cristalino, a catarata inteira. A maioria dos casos a gente consegue fazer com o laser ou com a facoemulsificação.
 
O senhor falou do tempo que depois da cirurgia o paciente percebe os efeitos do procedimento. Neste ano já houve casos de idosos que participaram de mutirões que ofereciam cirurgia da catara e, depois de um período, eles relataram dificuldade de visão e até cegueira. Quais são os riscos dessa cirurgia?
A cirurgia não é simples. É um procedimento que você está lidando com olho. Provavelmente houve infecção bacteriana intraoperatório. Pra evitar isso, minimizar esse risco, que deve ser muito baixo, em torno de 0,002%, o cuidado com esterilização de materiais é primordial. O paciente tem que procurar centro cirúrgico que tenha autorização de funcionamento da vigilância sanitária, todas as normas de esterilização devem estar dentro dos padrões internacionais, o próprio cirurgião e também o auxiliar, todos os materiais, devem estar dentro dos padrões nacionais e internacionais para garantir que não haja essa contaminação bacteriana. E aí a questão do sistema da Alcon, inovador que já tive a chance de utilizar, vem a corroborar pra minimizar ainda mais esse risco da infecção. Porque a lente intraocular, no sistema antigo, vem em recipiente, você tira e coloca no injetor que é pra ela entrar dobrável. Com esse novo sistema, além de ela já vir dentro do injetor, é esterilizada, e aí é uma vantagem enorme, porque eu não vou tocar na lente, não vai ter manipulação da lente, e ela já vai estar pré-moldada nesse injetor. Quando for colocar a lente, ela vai entrar direto no olho, sem contato com tecidos externos. A maior vantagem desse novo sistema é ter, além do não-risco dessa contaminação, ainda tem a questão de evitar danos na hora de montar a lente. É raro, mas pode acontecer de a lente ser modificada na hora da montagem.