
É extraordinária a influência das novelas globais sobre a população brasileira. Difícil imaginar que a força de atração das tramas da atual novela das oito - que começa às nove - tivesse o poder de influir nas ações da presidente da República, Dilma Rousseff. E que balançasse a política da maior e mais rica cidade do continente, São Paulo. A “Avenida Brasil” é, no momento, mais importante do que tudo que esteja a acontecer neste país tropical.
Sexta feira à noite, último capítulo da novela, ninguém sai de casa. Até Dilma mudou a sua agenda. O PT de S.Paulo a aconselhou não realizar o comício que lá seria organizado temendo falta de público. A presidente então mudou e aparece por lá no sábado. Dilma trocou SP por Salvador, mas há um condicionamento: a programação de apoio a Pelegrino será das 18h30 às 20h30. Tudo por culpa de Carminha, Tufão e o pessoal do Divino, bairro fictício da zona norte do Rio.
Teremos uma espécie, o que também é extraordinário, de feriado noturno “nunca antes visto na história deste País”, em que quase todos ficarão em casa para se despedir da vilã da “Avenida Brasil”, que passa a ser um dos personagens mais complicados e odiados da televisão brasileira em todos os tempos. O consumo de energia no horário da novela vai subir como já aconteceu em outros capítulos. O PT, do candidato Fernando Haddad, pediu a troca do comício de sexta para sábado. Deixou a bomba com Nelson Pelegrino. Mas, é bom lembrar que no sábado haverá a reprise do último capítulo e o falatório será tal que os telespectadores evitarão também sair na noite da véspera do domingo, para ver tudo de novo. É sempre assim em Pindorama.
Isto é Brasil. Não se tem conhecimento que fato semelhante tenha ocorrido em qualquer outro país do mundo. Faz parte da índole do povo brasileiro, formado pela mistura de etnias, a começar pelas choramingas dos portugueses. Fernando Haddad aguarda Dilma no sábado e será premiado porque além da presidente estarão no meeting Lula e mais os ministros José Eduardo Cardoso, da Justiça, Miriam Belchior, do Planejamento e Marta Suplicy, da Cultura. Aliás, já andam a dizer que Marta fisicamente parece com Carminha. Maldade do povo.
São Paulo e Salvador são as duas capitais que capitalizam as preocupações e esforços do PT. Uma porque, como disse acima, é a maior cidade do continente e terceiro orçamento do Brasil. Já Salvador por outra razão: o PT perdeu de lavada no primeiro turno nas capitais nordestinas, a começar por Recife (derrota especial para Lula) e foi a partir desta região que a República despertou para o surgimento de uma força nova, a do governador pernambucano Eduardo Campos e seu partido, o PSB, que se somaram para ganhar em Belo Horizonte, com o PSDB lá comandado por Aécio Neves Os dois podem dar coceira na presidente nas eleições de 2014.
Se, porventura, o PT ganhar com Nelson Pelegrino no segundo turno de Salvador, driblando as dificuldades que o partido aqui enfrenta, será uma salvação para Lula e o PT nacional. Por vários motivos. O primeiro dos quais porque será a primeira vitória da legenda na capital baiana e, segundo, o Nordeste não estará de todo perdido. Portanto, são os dois alvos de preocupações da legenda, que teme que sua força política entre em colapso com a queda de prestígio do seu mito, Lula, que já não tem a mesma força de antes, por uma natural fadiga em razão de estar muito tempo no poder. Sem se falar no mensalão.
Aliás, a campanha eleitoral do segundo turno em Salvador é uma das preocupações maiores do partido e do Palácio do Planalto. Aqui, ACM Neto e Pelegrino continuam, pelas informações dos dois lados, disputando palmo a palmo. Um dos líderes que comandam a campanha de Neto conclui que o resultado das urnas penderá para o candidato que errar menos ao longo da campanha. Já em São Paulo o petista Fernando Haddad colocou (última pesquisa divulgada na semana passada) 11% à frente de José Serra. Os petistas consideram –naturalmente - que está mais fácil ganhar São Paulo do que em Salvador, o que acarretaria, em caso de derrota petista, graves dificuldades para as eleições de 2014 no Estado. O raciocínio não parece distante da realidade. Enfim, S.Paulo e Salvador são os dois centros que mais chamam atenção para a decisão do segundo turno no País.
Não acabei ainda. Há mais uma coisinha. A coordenação da campanha de Nelson Pelegrino também teme a fuga de público do comício de Dilma na sexta. Já querem que o comício termine às 20h30. A novela deverá começar às 21h30. Não tem jeito. A sexta é de Carminha, Tufão, Nina e companhia. Ideia lançada pelo senador Walter Pinheiro, para reflexão dos coordenadores: a instalação de um telão, de modo que os militantes do PT e o público que comparecer ao comício de Cajazeiras, possam assistir às peripécias da vilã Carminha e a sua turma da “Avenida Brasil”.
Democracia é isso aí.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (18)
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