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Batalha nas redes: Com pandemia, candidatos disputaram espaço virtual para converter votos

Por Jade Coelho / Mauricio Leiro

Batalha nas redes: Com pandemia, candidatos disputaram espaço virtual para converter votos
Foto: Reprodução / CBN

Desde 2018 as redes sociais vêm tomando o protagonismo na disputa política. A pandemia em um ano eleitoral evidenciou a importância do espaço virtual, que se tornou umas das principais ferramentas para se apresentar, falar de propostas e se aproximar do objetivo principal, que é ganhar votos. A crise sanitária, que impôs restrições e mudou o “modus operandi” da campanha eleitoral, exigiu que os candidatos moldassem estratégias para usar a internet e o meio digital a seu favor e converter seguidores e likes em resultado nas urnas. 

 

Em Salvador, os candidatos utilizaram táticas diversas e a busca virtual por votos deve seguir até os últimos instantes no dia da votação, que ocorrerá no próximo domingo (15).

 

O especialista em marketing político Vitor Paranhos acredita que, de modo geral, com a pandemia, aconteceu uma grande mudança, e todos voltaram suas atenções para o meio digital. “Uma coisa que observei foi investimento em anúncios. Quando se olha os recursos investidos, eles aumentaram muito”, pontuou.

 

Paranhos lista como pontos positivos e bem acertados dos prefeituráveis em Salvador o uso de recursos audiovisuais, multimídia, e conteúdo de interação com usuários. Além disso, ele ressaltou a importância de entender bem cada plataforma. “Eles adequaram o conteúdo para cada rede. Isso é muito importante. Se entendeu que o que funcionava para a TV é diferente do que funciona para a rede”, explicou para o Bahia Notícias.

 

Para o profissional, outra estratégia importante e adotada pelos candidatos em Salvador foi afastar o conteúdo digital do caráter de propaganda, mais comum na TV, ao passo que se tenta aproximar do eleitor através de conteúdo com a “variação de formato, vídeo na vertical, linguagem diferente, material com cara de celular, sendo algo mais orgânico”. “Tudo isso é uma mudança significativa”, disse.

 

A busca por interações, como compartilhamentos e comentários, pode ser facilitada por métodos de engajamento, como explica o especialista. “Os candidatos estão utilizando enquete, por exemplo. Quando uma pessoa clica, gera engajamento”, diz.

 

Na reta final da campanha, o BN conversou com responsáveis pelas redes sociais dos candidatos à prefeitura de Salvador para saber sobre as estratégias adotadas, os desafios e as impressões e percepções sobre o trabalho realizado.

 

OLÍVIA SANTANA

A equipe de marketing digital de Olívia Santana (PCdoB) tentou equilibrar conteúdo formal e tradicional, com material divertido e que alcançasse o eleitorado mais jovem. Ian Dellima explica que além da divulgação da agenda, propostas e entrevistas, houve atenção maior para material audiovisual e que interessasse uma nova geração de eleitores. “Apostamos em memes, Tik Tok, conteúdo mais descontraído”, comentou. 

 

“A gente quis trazer uma política mais convidativa, para jovens que não têm tanto interesse. Aí a gente foi para algumas brincadeiras, levando a questão para o lado leve, menos sério, pesado, que é o que as pessoas geralmente acham quando se fala de política. Principalmente no Brasil, que tem tanta intolerância política”, argumentou Ian.

 

Como “case” de sucesso da campanha, ele cita um vídeo lançado no aplicativo Tik Tok e intitulado de “Prefeita preta perfeita”. O vídeo teve 1,7 milhão de visualizações no Tik Tok e mais de 350 mil likes. “Teve repercussão muito boa”, comemora Ian que, junto com Gabriel de Miranda e Lia Gomes, forma a equipe responsável pelas redes da candidata comunista, que tem 52 mil seguidores no Instagram, 36.154 seguidores do Facebook e nove mil no Twitter. 

 

A equipe, formada por jovens, todos na casa dos 20 e poucos anos, acredita que esse foi um ponto forte. “Ter pessoas jovens por trás com certeza fez diferença. Nós compreendemos o humor da geração”, analisou Dellima. “A gente vê que às vezes a forma de levar descontração é que faz com que as pessoas se relacionem”, ponderou. 

 

CEZAR LEITE

Com a campanha que mais engajou em interações no Facebook (relembre aqui), Cezar Leite (PRTB) é acompanhado por Rafael Ribeiro, que é cientista político e tem trabalhos com pessoas relacionadas à campanha presidencial americana de Donald Trump, nos Estados Unidos.

 

Rafael revelou que o candidato já está acostumado com presença e trabalho nas redes sociais, pois sempre apostou no formato, desde a disputa em 2016, quando se elegeu vereador. "A campanha é um pouco limitada em termo de gastos, a rede é uma saída pra quem tem pouco recurso à disposição. Por isso apostamos nas redes", pontuou.

 

O responsável pela campanha explica que Cezar tem uma linha mais conservadora, alinhada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e já traz um engajamento natural. "O sucesso dele se explica a estar bem posicionado e a uma entrega de conteúdo", analisou o responsável.

 

Rafael Ribeiro reconhece que o trabalho e a estratégia usada nas redes sociais de Cezar Leite são pautados pela linha ideológica do candidato, “sempre embasado em discussões que Bolsonaro propõe a nível federal”. Leite tem mais de 18 mil seguidores do Instagram, 17 mil no Facebook e três mil no Twitter. 

 

De acordo com Ribeiro, a equipe acompanha as métricas das redes, os assuntos que aparecem entre os mais comentados e tenta fazer um recorte que vá agradar e engajar os seguidores de Leite.  

 

Ele também destaca a necessidade de conhecer as plataformas e como cada uma delas funciona. "Não exatamente tudo que faz tem que ser replicado da mesma forma, é preciso linguagens diferentes. Essa foi uma preocupação nossa. Por exemplo, recursos visuais a gente apostou mais no Instagram e Facebook. No Twitter partiu mais para o embate direto", comentou.

 

Sem recursos do Fundo Eleitoral, a equipe de Cezar Leite conta com 7 pessoas. O "time" se reuniu e montou uma estratégia especificamente para a campanha eleitoral de 2020. Todos são profissionais da área e da política, que não tinham se encontrado antes, apesar da afinidade ideológica.

 

MAJOR DENICE SANTIAGO

O grande desafio da campanha digital da candidata do PT ao Palácio Thomé de Souza em 2020 foi apresentá-la ao público. Outsider apadrinhada pelo governador do estado, Rui Costa (PT), a Major Denice Santiago iniciou a corrida eleitoral com 17 mil seguidores no Instagram e chega à reta final com mais de 40 mil. 

 

Catarina Neres é a publicitária por detrás das redes da major. A especialista em comunicação estratégica, com experiência em marketing digital há mais de 10 anos, explica que a campanha foi embasada em mostrar a candidata como uma pessoa real. 

 

“Principalmente por Denice não ser uma pessoa tão conhecida, a primeira estratégia foi o que a gente ia trazer de conteúdo pautado na verdade dela”, admitiu. 

 

Assim como Paranhos, Neres ressaltou a importância de entender que cada plataforma se comporta de um modo diferente. Para ela, entender e respeitar esse fato foi crucial para a performance e desempenho do conteúdo. 

 

“A gente tem nosso canal do Youtube, nosso maior repositório de conteúdos ricos, com fácil acesso para informações, tudo que a campanha tem a apresentar, propostas, apoio, narrativas, tudo disponível. Foi algo interessante nesse sentido, mas principalmente trazer respeito às redes”, frisou. 

 

Catarina fala que um erro comum nesse meio é aproveitar conteúdos que vão para a TV. E por isso durante a campanha o material do Instagram e do Facebook da candidata era pensado especificamente. “A estratégia mais assertiva foi entender a rede social”, reafirmou. 

 

Assim como outros candidatos, a equipe de Denice explorou formatos e modos de interação e que chamassem a atenção do eleitor. O Reels, do Instagram, e o Tik Tok, foram altamente utilizados. Eles são recursos da redes socias que permitem criar vídeos curtos e criativos usando áudios e efeitos. Neres diz nem considerar o Reels e o Tik Tok somente ferramentas ou redes sociais. Para ela, eles já se tornaram um tipo de formato, linguagem e narrativa.

 

Outra estratégia usada pela campanha digital da petista, explica Catarina, foi que além dos conteúdos que engajam, era importante observar como as pessoas reagiam. 

 

HILTON COELHO

Com ajuda do icônico jingle “Eu quero Hilton 50”, a campanha de Hilton Coelho (Psol) se deu por três linhas, de acordo com a gestão de comunicação do candidato, encabeçada por Rafael Digal, João Guerra e Claudio David.

 

“Pautamos a imprensa com conteúdos relevantes a partir de nossas posições a respeito de questões da cidade e da política. Depois, algo voltado para o compartilhamento com o público do nosso programa político, através de peças gráficas, cobertura da campanha e eventos como carreatas e caminhadas. E, por fim, uma produção mais livre a respeito de elementos da história e do perfil do candidato e da cocandidata”, pontuou a assessoria.

 

A coordenação da campanha revelou que também produziu vídeos mais longos e elaborados que foram distribuídos no Facebook e no Youtube, como versões do jingle e papos a respeito de temas relevantes para a gestão de nossa cidade.

 

“Dessa forma, o conteúdo para uma Salvador da Resistência foi levado ao público, que interagiu conosco através de diversos canais, como o Twitter, onde se cobriu o dia a dia e suas participações em entrevistas e debates, no Facebook e no Instagram, onde, integradamente, exploramos peças gráficas e de audiovisual mais curtas, como por exemplo nossas inserções em horário eleitoral, que, por fim, eram distribuídas pelo WhatsApp entre nossa militância e eleitorado”, acrescentou.

 

BACELAR

A partir do entendimento que a pandemia da Covid-19 diminuiria o contato direto com as pessoas e traria um protagonismo ainda maior para as mídias sociais, a equipe de comunicação de Bacelar (Podemos) decidiu focar a estratégia no campo virtual. Um grupo de cinco pessoas e liderado por Vitor Hugo Machado administrou o conteúdo dos perfis do candidato durante o período. Bacelar tem 21,4 mil seguidores do Instagram, 78 mil no Facebook e 9,5 mil no Twitter.

 

Vitor Hugo explica que um dos focos foi aproximar o candidato do público. “Levar mensagem através do crossmedia [interação entre plataformas]. Buscamos despertar interesse, informar mais o eleitor, usando estratégias de forma orgânica. É tentar alcançar pelo menos uma vez cada cidadão", revelou.

 

Quanto à linguagem adotada, Vitor afirma que a opção da equipe foi algo mais “descolado” e “divertido”, para poder enfatizar as ideias defendidas por Bacelar.

 

"Hoje é mais difícil de alcançar um grande público. Com novas políticas das redes, o alcance orgânico fica limitado”, lamentou, ao explicar que a estratégia usada para tentar minimizar isso foi a criação de um planejamento de investimento para gerar cobertura grande na população. “Para que todos fossem impactados pelas nossas ideias e propostas”, disse. Ele ainda ressaltou a importância de ter conteúdo informativo, contrapondo com ações mais sérias. 

 

Feliz com os resultados, Vitor acredita que a campanha tenha superado a meta de alcance e tenha conseguido informar sobre as ações do candidato. "Foram conteúdos baseados nas nossas propostas, nas denúncias que fazemos, que precisa enfatizar alguns pontos e servir de fonte de informação para uma população que, às vezes, não consegue consumir os meios tradicionais, os jornais", finalizou. 

 

PASTOR SARGENTO ISIDÓRIO

A campanha do Pastor Sargento Isidório (Avante) teve como o maior desafio "segmentar mensagens para um público muito heterogêneo". Liderado por Siney Claudio, o projeto entende que na televisão aberta ou rádio, por exemplo, existe uma programação para determinados nichos, o que não acontece na Internet. 

 

"Existem bolhas nas redes sociais. O conteúdo, tanto em termos de forma quanto de mensagem, foi criado visando 'furar' essas bolhas. Cada rede tem características muito próprias. O que funciona em uma, não necessariamente vai funcionar em outra", pontuou Siney. 

 

De acordo com ele, os ecos da campanha presidencial de 2018 estão ainda muito presentes. "Especialmente no que tange o meio digital. Talvez por isso mesmo, houve um clima de cautela muito grande. A tônica foi fazer mais com menos. Aprendemos muito, claro, com experiências anteriores. Mas não dá para aplicar as mesmas soluções de um 'case' em um outro cenário cheio de espeficidades", acrescentou. 

 

Apesar disso, a equipe de comunicação do candidato acredita que tendo tantas frentes a serem trabalhadas, o investimento digital ficou "aquém" do que gostariam.