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Brancas loiras: Faltam negros para inauguração do Centro de Convenções de Salvador?

Por Fernando Duarte

Brancas loiras: Faltam negros para inauguração do Centro de Convenções de Salvador?
Foto: Max Haack/ Secom PMS

Cláudia Leitte e Lore Improta devem integrar a programação “popular” da inauguração do Centro de Convenções de Salvador no próximo dia 26. Não houve a confirmação oficial da prefeitura, então vou torcer para que haja tempo para a adição de outras atrações nessa grade. Porém não deixa de ser curioso – para não dizer revoltante – perceber que duas mulheres brancas e loiras vão apresentar um equipamento como o centro de convenções numa cidade negra como Salvador. É por isso que espero estar errado.

 

Não que Cláudia ou Lore não representem a cultura baiana. A cantora é uma das responsáveis por expandir o Axé nas micaretas por todo o Brasil e, mesmo sendo carioca, se apresenta como uma baiana. É um direito que lhe compete, ainda que já tenha derrapado em questões raciais quando lançou o projeto “Negalora”. A mesma avaliação cabe à dançarina Lore Improta, que ainda tenta ganhar espaço como cantora e, junto com a “galera do Fitdance”, conseguiu dar um fôlego novo à música baiana. Por mérito, é entendível que elas estejam presentes na inauguração do centro de convenções. Até porque Cláudia Leitte deu a apresentação de presente para a cidade. Mas somente elas?

 

Há um debate forte e necessário sobre a valorização efetiva da cultura negra no Brasil. Não a apropriação realizada ao longo de muitas gerações, quando a produção cultural dos negros era marginalizada e passava por um processo de “embranquecimento” para então ter espaço no mainstream midiático. A Bahia, que sempre exportou talentos, é um dos principais palcos dessa discussão, ainda mais Salvador se tratando da maior cidade negra fora da África. Ainda que essa vertente esteja tão pujante, parece ter sido ignorada na contratação de estrelas para “introduzir” o equipamento para a população soteropolitana.

 

O show de abertura, realizado para convidados, terá Maria Bethânia no dia 23. Ela também é uma mulher branca, mas evoca elementos da cultura negra e é símbolo da valorização do recôncavo, via exaltação a Santo Amaro. A cantora é uma unanimidade nas rodas culturais e não seria questionada. Ainda mais quando a contratação partiu, segundo a prefeitura, da concessionária do centro, a GL Events. A situação, no entanto, não se repete no domingo, quando o equipamento será oficialmente entregue ao “povo” e pago com dinheiro público.

 

Como ainda falta mais de uma semana para a inauguração “popular” do Centro de Convenções e, formalmente, não houve a apresentação da grade de convidados para o evento do dia 26, há tempo para que a prefeitura de Salvador nos brinde com talentos da cultura negra que nascem aos quatro cantos da capital baiana e são celebrados ao redor do mundo. Não vou listar alguns para que não pareça favorecimento, mas tenho certeza que os leitores saberão identificar esses shows. E dar espaço não apenas para Cláudia Leitte, Lore Improta e Tio Paulinho. Mas também para quem dá cor à primeira capital do Brasil: a cultura negra.

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (16) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM de Nazaré.