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Rui volta a falar de Ciro, mas pedetista passa ao largo de unir esquerda

Por Fernando Duarte

Rui volta a falar de Ciro, mas pedetista passa ao largo de unir esquerda
Foto: Enaldo Pinto/ Ag. Haack/ Bahia Notícias

Ciro Gomes não era uma opção da esquerda. E o pós-eleição de 2018 mostra que o ex-governador do Ceará esteve tão pouco disposto a construir uma aliança entre os partidos de esquerda quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ciro, que até se comporta como um defensor de direitos sociais, é também um coronel raivoso e repleto de revolta, depois de ter sido preterido pelo PT, ainda que setores do partido tenham voltado a falar sobre a tese de que o pedetista deveria ter sido o nome do grupo para a disputa ao Palácio do Planalto.

 

Ex-ministro de Lula, Ciro está distante de buscar uma coalisão entre as legendas que atualmente ocupam a oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Depois de ter sido terceiro colocado no primeiro turno das eleições, optou por se omitir no embate entre Bolsonaro e Fernando Haddad. O resultado foi o esfacelamento do que poderia ter sido uma frente “progressista”. Enquanto outros candidatos fizeram uma opção clara, ele viajou pra Paris. Era um direito que lhe competia. Porém demonstra que a “traição” de não o apoiar, na verdade, é a construção de um discurso de um mau perdedor.

 

Foi com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), que renasceu essa crença que o Brasil poderia ter tido outro rumo, caso o PT não tivesse lançado candidatura própria em 2018. É um universo tão idílico que, passado um ano da definição de Haddad como substituto de Lula, percebe-se que a aposta era arriscada, porém menos temerária do que a coesão em torno de Ciro, por exemplo. Explosivo, o ex-governador cearense ainda prefere atacar antigos aliados e, quando se propõe a debater, parte do pressuposto de que seria a única alternativa viável no projeto “anti-Bolsonaro” da esquerda. Se o fosse, o dia seguinte à posse de Bolsonaro teria sido outro.

 

Rui e Jaques Wagner foram dois expoentes do PT que, no ano passado, flertaram com o projeto de Ciro. À época, eles não estavam errados. Os líderes baianos reconheceram mais cedo a evolução do antipetismo e tentaram provocar uma discussão interna no partido para tentar evitar a derrocada completa da legenda. Wagner, inclusive, já havia aberto esse canal de diálogo no longínquo 2014, quando o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sinalizava interesse em alcançar o Planalto pelo PSB. E tanto Rui quando seu antecessor integram uma ala cujo pragmatismo político fala muito mais alto do que o posicionamento idealizado do PT.

 

Talvez aí tenha residido a reação exagerada de setores petistas ante a fala do governador baiano de que é preciso avançar para além do “Lula livre”. A liberdade do ex-presidente não deveria ser condição sine qua non para que os acordos entre os partidos de esquerda evoluam. Porém atrelar isso a uma figura controversa como a de Ciro também não auxilia na construção dessas alianças.

 

Enquanto os campos ditos progressistas se digladiam, o conservadorismo ocupa espaços fundamentais para definições de políticas públicas. No andar da carruagem, inclusive, é possível que, em breve, não haja tanto espaço para Lulas, Ciros e outros líderes da esquerda. Por isso, a fala de Rui incomodou. Assim como os próprios críticos, o baiano também está ligeiramente atônito. E só o tempo mostrará se há outro caminho a seguir.

 

Este texto integra o comentário desta terça-feira (17) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.