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Nordeste como país é uma utopia que nem o preconceito pode criar

Por Fernando Duarte

Nordeste como país é uma utopia que nem o preconceito pode criar
Ilusão aparece nas redes sociais | Foto: Reprodução/ Facebook

O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar que governadores do Nordeste querem separar a região do país. Parece uma lógica de uma mentira que contada milhares de vezes pode se tornar verdade. Porém não há nada mais utópico do que um movimento separatista que possa colocar os noves estados nordestinos como um novo país. É tão ilógico que, diante do cenário de realismo fantástico em que estamos inseridos, somos capazes de divagar sobre o tema...

 

De certo, a região é vítima de mazelas históricas que nenhum governo recente conseguiu colocar fim. A dupla petista Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff até tentou modificar um pouco o cenário de tragédia da seca. Entretanto estão longe de terem feito tudo o que o poder público poderia ter feito. É com base nesse alento que a maioria da população escolheu um candidato apoiado pela esquerda para estar no Palácio do Planalto. Acabou derrotada. Mas isso não quer dizer que os nordestinos não aceitem o resultado do pleito de 2018. Quem teve problemas para aceitar a derrota foi Aécio Neves e o PSDB de 2014, que orquestraram o início do fim de Dilma e seu séquito em Brasília.

 

Há algum tempo, em conversa com sulistas e sudestinos – sim, vou trazer esses adjetivos pátrios que são omitidos por supostamente serem superiores -, foi repetida a máxima de que o Nordeste vota na esquerda em virtude do clientelismo típico dos coronéis. Isso não é uma verdade absoluta e é possível que uma parcela expressiva tenha votado com o estômago ao invés da cabeça. Mas isso não coloca todos os nordestinos como dependentes de programas sociais, a exemplo do Bolsa Família. É preciso enxergar muito além disso para traçar um panorama do Brasil real, que não aparece nas páginas de jornal ou gera notícias na televisão.

 

Em 2014, quando a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro publicou o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, tive a oportunidade de conhecer a zona rural de Sítio de Quinto e Antas, duas das cidades com o pior ranking do país. Lá, a grande diferença na vida das famílias não foi o Bolsa Família ou qualquer programa de transferência de renda. As famílias agradeciam por ter oportunidade de ter acesso a cisternas para armazenar o elemento mais essencial para a vida: a água. Três anos depois, em 2017, foi no interior da Paraíba que assisti ao trabalho social desenvolvido pela Fundação Banco do Brasil transformar vidas com o mesmo equipamento. Simples para muitos, porém primordial para quem convive com a seca. Esse Nordeste de verdade ainda precisa ser conhecido. E dificilmente ele quer se separar.

 

Agora é inegável que haja toda uma tensão em torno dessa fictícia disputa entre o Nordeste e o resto do Brasil. Muito disso é alimentado pela demanda constante de acirramento de ânimos, que têm movido a política no país desde 2014. Somos uma nação de paraíbas e baianos, expressões tradicionalmente associadas ao preconceito contra quem nasceu pelas bandas de cá. Porém somos brasileiros como muitos outros que estão longe de compartilhar o pensamento separatista que insiste em permear o discurso do presidente da República.

 

Graças ao bom senso – e por mais que haja sinais contrários – o Nordeste não deve ter pretensões de deixar de ser parte do Brasil. Parece que essa mentira, mesmo que contada mil vezes, está longe de se tornar verdade.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (16) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30.