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Greve geral vai criar caos e barulho por uma pauta insossa, genérica e sem clareza

Por Fernando Duarte

Greve geral vai criar caos e barulho por uma pauta insossa, genérica e sem clareza
Foto: Ailma Teixeira/ Bahia Notícias

A greve geral de hoje deve ser inócua. Não por falta de mobilização de centrais sindicais ou de trabalhadores. Mas por causa da falta de efeito prático de uma paralisação geral por uma pauta genérica. Ser contra a realização de uma reforma da Previdência é, no mínimo, uma ideia suicida em um país à beira de um colapso. O projeto de Paulo Guedes merece críticas e o Congresso Nacional até tem feito. Porém não é apenas esse o problema da “greve geral” desta sexta. É a incorporação de pautas que deveriam estar superadas, mas são insistentemente mantidas, a exemplo do “Lula Livre”.

 

Não é a primeira vez que adoto uma postura crítica a paralisações de trabalhadores. Algumas merecem crédito e certo apoio, como foi a mobilização de professores universitários da Bahia, encerrada na última quarta. Entretanto, precisamos fazer uma diferenciação entre algo palpável, como foi o caso dos docentes de ensino superior baiano, e o intangível proposto pela greve geral. Quais pontos da reforma da Previdência devem ser criticados? Até mesmo governadores e prefeitos de oposição admitem que a matéria é necessária, desde que retirados pontos como capitalização e restrições ao benefício de prestação continuada ou a aposentadoria rural. Além de provocar o caos nas cidades maiores, alguém acredita que haverá comoção popular com essa paralisação?

 

Para quem acha que Lula é um anjo de candura, que jamais cometeu qualquer ilegalidade, talvez a resposta seja positiva. Já eu duvido que o cidadão comum, que corre o risco de ter o ponto cortado pelo patrão por não conseguir chegar ao trabalho, vai apoiar a mobilização com alguma satisfação no rosto. O mesmo desânimo deve acometer quem discorda do grupo que é contra a reforma da Previdência apenas pelo fato dela ter sido proposta pelo governo de Jair Bolsonaro. Se fosse o texto enviado por um político de esquerda essas mesmas pessoas estariam na rua amanhã? Afinal, fosse quem fosse a sentar na cadeira de presidente, mudar a Previdência seria algo essencial para o controle das contas públicas.

 

É inviável defender um movimento que escolhe uma sexta-feira para uma paralisação geral e acha que a crítica de que é um feriadão disfarçado para preguiçosos não faz sentido. Não que eu seja uma dessas pessoas. Apenas sei que há o endosso claro desse discurso de que grevistas usam esse direito para ficar em casa ao invés de efetivamente participar de uma mobilização. Posso não ter dons premonitórios, mas tenho certeza que não faltarão publicações assim por parte daqueles que defendem o governo.

 

Em alguns momentos até fico tentado a fazer uma coisa: sugerir que os repórteres do Bahia Notícias façam uma paralisação durante as mobilizações. Se a redação é formada por trabalhadores, nada mais justo do que cruzar os braços. Só tem um detalhe: sem a imprensa, nenhuma manifestação terá repercussão suficiente para causar algum tipo de impacto social. Então lá vamos nós, trabalhar em um movimento que, em muitas horas, sequer nos considera como trabalhadores. Durante todo o dia, cumpriremos nosso papel social de apresentar os atos, as consequências e impactos deles, além das reações políticas daqueles que possuem poder de decisão no país.

 

Agora será preciso um esforço hercúleo para me convencer de que essa greve geral não é apenas um uso equivocado dos trabalhadores como massa de manobra. Se a direita manipula as informações, a esquerda também usa dos mesmos artifícios. No final, elas se anulam e a vida continua.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (14) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.