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Luva de pelica do Tribunal de Justiça é um ataque à liberdade de imprensa

Por Fernando Duarte

Luva de pelica do Tribunal de Justiça é um ataque à liberdade de imprensa
Foto: Jefferson Peixoto/ Ag. Haack/ Bahia Notícias

O presidente do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), Gesivaldo Britto, até tentou se retratar, porém a declaração de que o Bahia Notícias é parte de uma “mídia podre, marrom” mostra que o incômodo com o trabalho jornalístico sério é real e palpável. Não é a primeira vez que veículos de imprensa são alvos de questionamento do Judiciário. E o TJ-BA não é o primeiro órgão da Justiça a atacar a liberdade de imprensa. Por isso é necessário colocar os pontos nos Is para separar o joio do trigo, algo que poucos estão dispostos a fazê-lo.

 

Faço essa reflexão não apenas porque o alvo foi o site em que trabalho. Mas porque o tom adotado por Britto é idêntico ao utilizado pelo ministro Alexandre de Moraes ao determinar a censura de uma matéria que citava o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Tóffoli. Para uma parcela de agentes públicos, mesmo o trabalho sério de fiscalização e acompanhamento feito pelo jornalismo é questionável quando mexe com os interesses deles. Ou alguém vai dizer que se fizéssemos um trabalho “chapa branca” haveria incômodo das classes abastadas pelo poder?

 

Como se não bastasse a abjeta comparação entre jornalismo sério e blogs anônimos, o presidente do TJ-BA foi infeliz também ao falar que o serviço de investigação da Corte identificou “colegas aqui de dentro” que mantêm relacionamento com repórteres. Talvez não seja de mal tom recordar que, no jornalismo, existe a figura da fonte, que é preservada por um sigilo garantido por lei. É natural que desembargadores, juízes e servidores conversem com repórteres. É comum que procuradores e promotores também. Políticos e agentes públicos idem. Para ficar em apenas poucos exemplos. Então acionar um serviço de investigação para constranger esse relacionamento é, no mínimo, antidemocrático. Espero estar certo em acreditar que, na verdade, Gesivaldo Britto se equivocou tanto quanto confundiu o nome do Bahia Notícias com outro veículo não citado por ele.

 

Em um momento em que tantos atores sociais banalizam o papel de jornalista, é preciso reforçar que temos um papel fundamental na construção de um estado efetivamente democrático. Ou o cidadão comum saberia que os membros do Tribunal de Justiça consomem mais frutas per capita do que a maioria da população? Ou que a Corte foi obrigada a abrir um procedimento investigatório para averiguar o “sumiço” de uma medalha dos 410 anos do mais antigo Tribunal do Brasil? Ou que um erro de contagem de votos poderia arquivar um processo contra o deputado estadual Roberto Carlos, acusado de fazer “rachadinha” nos mesmos moldes das acusações contra o o senador Flávio Bolsonaro?

 

Gostem ou não, estaremos cumprindo um papel social ao trazer discussões que alguns preferem colocar para debaixo do tapete. Por isso, agradeço ao presidente do Tribunal de Justiça da Bahia por, humildemente, reconhecer que o Bahia Notícias não se presta a esse papel. Pena que um tapa depois de dado não é facilmente esquecido.

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (23) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.