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Construção da ponte Salvador-Itaparica foi atrasada por crise, Lava Jato e eleições

Por Rebeca Menezes

Construção da ponte Salvador-Itaparica foi atrasada por crise, Lava Jato e eleições
Foto: Divulgação

Mais do que apenas burocracia governamental prejudicou os planos do governo do Estado de construção da ponte Salvador-Itaparica até o momento. Dez anos após ser anunciada pela primeira vez (veja aqui), a obra teve sua licitação adiada diversas vezes e pelos mais diversos motivos (leia mais aqui).

 

O primeiro e mais importante motivo de atraso foi a percepção da complexidade de uma proposta como essa. O governo chegou a lançar uma Proposta de Manifestação de Interesse (PMI) ainda em 2010, mas as alternativas estavam aquém do que a gestão esperava. As duas PMIs apresentadas serviram como uma espécie de embrião para o projeto atualmente consolidado, que contempla ainda diversos estudos que serão a base para quem for construir a ponte.


Mas é em março de 2014, cinco anos após o anúncio de Wagner, que surge o primeiro entrave além da capacidade da gestão estadual para uma obra desse porte. Foi nesse período que foi deflagrada a Operação Lava Jato – que coincidentemente começou a partir de investigações que começaram em 2009. A Operação da Polícia Federal, que já levou à prisão dois ex-presidentes da República (Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer), também dificultou a vida das maiores empreiteiras do país. Como estavam envolvidas em acusações de corrupção e acordos de leniência com multas bilionárias, seria um risco assumir uma construção de R$ 6 bilhões, mesmo que estivesse tudo pronto.


Mais ou menos no mesmo período, uma crise econômica atingiu todo o mundo, mas com mais força o Brasil, que ainda passava por uma instabilidade política muito grande. Em meio a grandes insatisfações, Dilma Rousseff se reelege no final de 2014, mas começaria uma forte onda de rejeição e manobras do Congresso que culminaram em seu impeachment em agosto de 2016. Quando Michel Temer assume com a promessa de que vai retomar a economia, afetada por forte desconfiança, o presidente é acusado de corrupção em um processo que envolve até gravações de conversas confidenciais, o que deixa o mercado financeiro novamente com o pé atrás.


Em março de 2016, o próprio governador Rui Costa admitiu que não parecia um bom momento para tocar o projeto da ponte Salvador-Itaparica. Nessa época, o governo do Estado já investia fortemente em negociações com os chineses como os potenciais integrantes de uma Parceria Público-Privada (PPP) para tornar o sonho da ponte uma realidade. "Eu vou repetir o que uma empresa chinesa me disse. ‘Nós não estamos tão preocupados com a rentabilidade do negócio. Isso para nós é segundo plano. Nós estamos preocupados com a segurança dos nossos negócios’”, apontou Rui.


Mas nem só de estabilidade política se faz uma ponte. Em um momento em que o governo baiano conseguiu recuperar a confiança dos chineses e a economia brasileira começou a dar sinais de recuperação, Rui perdeu um importante aliado: o governo federal. Se com as gestões de Lula e Dilma a Bahia conseguiu muitos investimentos, e com Temer a relação se mantinha protocolar, a ascensão de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto dificultou, e muito, a vida do chefe do Executivo baiano.


Bolsonaro teve na Bahia um de seus piores coeficientes eleitorais e tem o Partido dos Trabalhadores, de Rui Costa, como seu principal opositor. Em um cenário que exige um alto investimento do setor público, não ter o governo federal não é exatamente um bom agouro.


Por isso, a gestão estadual teve que novamente adequar seus planos. De acordo com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE), atual responsável pela obra, a estruturação econômico-financeira do projeto continua em revisão. "A modelagem prevista inicialmente, sob a forma de uma PPP ancorada em importante aporte federal, foi prejudicada pela radical mudança na conjuntura político-econômica, que tem paralisado ou retardado quase todos os megaprojetos de infraestrutura de transportes no país. O governo do Estado tem trabalhado numa estruturação alternativa, que possa contar com algum apoio tanto do governo federal quanto de investidores internacionais", argumentou a pasta, em nota enviada ao BN.