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Caminhos possíveis para melhorar o IDEB do Ensino Médio na Bahia

Caminhos possíveis para melhorar o IDEB do Ensino Médio na Bahia
Foto: Acervo pessoal

A chegada dos novos profissionais concursados — professores e coordenadores pedagógicos — na rede estadual de ensino, este ano,  representa uma oportunidade ímpar para se rever práticas majoritariamente tradicionais malsucedidas que, ao que tudo indica, persistem ainda nas unidades de ensino de todo o país, de onde agora se pretende banir contribuições do pensamento freiriano para a formação integral dos educandos, segundo o discurso político vencedor, nas últimas eleições.  


Nesse cenário, ao mesmo tempo desafiador e propício à criatividade, a Bahia tem boas perspectivas de reverter a má pontuação para o Ensino Médio, verificada no IDEB referente a 2017, na medida em que a Política Estadual de Educação atente para problemas que aparentemente explicam o desempenho ruim dos alunos, apesar de excelentes programas e projetos que vieram sendo implementados na rede, ao longo dos últimos anos.


Em princípio, a evasão escolar, o atraso e as notas baixas nas avaliações — fatores apontados pelo MEC como causa para o mau desempenho dos estudantes baianos — estão ligados a uma origem comum que diz respeito às dificuldades de aprendizagem, de modo geral. Sem medidas capazes de alcançar estas dificuldades elementares, dificilmente serão atingidas as metas, nas avaliações externas.

 

A experiência atesta que, mesmo quando os documentos oficiais das unidades de ensino preveem pedagogias mais progressistas, prevalece em seu cotidiano a malfadada educação bancária que Paulo Freire criticou e que tende a ver e a manter os estudantes como sujeitos passivos do conhecimento, na maior parte do tempo.

 

A tendência neoconservadora e rasa do discurso em moda é se opor ferrenhamente às constatações como a que acabamos de fazer. Não se trata, porém, de abolir a autoridade no ambiente escolar, como pensam apressadamente certos reacionários, mas, como afirmava Paulo Freire, trata-se de admitir que, na escola, liberdade e autoridade se confrontam naturalmente, de uma forma que uma não exclui a outra, porque ambas são necessárias.

 

Em perspectiva libertária, portanto, é preciso uma prática pedagógica para o Ensino Médio que seja capaz de ofertar aos alunos atenção minimamente individualizada, a ponto de identificar e solucionar suas dificuldades de aprendizagem, sem partir do pressuposto de que todos tenham algum tipo de deficiência e, pelo contrário, levando em conta sobretudo que cada sujeito apresenta uma forma própria de aprender, eventualmente semelhante à de outros, mas, não de todos, a ponto de se trabalhar com uma classe inteira, em perspectiva totalmente homogênea, como se faz hoje.

 

Para além disso, é preciso refletir sobre o ambiente doméstico em que vivem estes aprendizes, as situações de exclusão e vulnerabilidade em que se encontram, haja vista que, por mais se aumente o tempo de permanência na escola, a mera participação em atividades pedagógicas não é bastante para o desenvolvimento humano integral que se quer alcançar.

 

Uma vez que o Projeto Político Pedagógico da escola e sua prática cotidiana atentem para o quanto é aqui observado, restará claro que, embora existam casos que possam requerer o encaminhamento de certos alunos para equipes multidisciplinares, é possível apostar, com base em inúmeros estudos, que a maior parte dos estudantes com desempenho ruim nas avaliações não vêm sendo contemplados em sua forma própria de aprender, ou não têm sido estimulados a descobrir, entre as múltiplas inteligências que existem, aquelas que são predominantes em si mesmos. Forçados pela pedagogia tradicional vigente a fazer tudo como todos, feito soldadinhos enfileirados, em salas lotadas, esses estudantes terminam por duvidar de si mesmos e, expostos diariamente à baixa autoestima, por não conseguirem fazer como alguns poucos que ostentam boas notas, perdem o gosto pelos estudos, abandonando a escola, depois de pontuar tão baixo, em avaliações que deliberadamente não medem suas inteligências promissoras.

 

Isto posto, é possível concluir que se, por um lado, o reordenamento da rede, em curso no Estado, é uma necessidade que se justifica pela economia de gastos e pelo combate a certas distorções flagrantes no Magistério Público, por outro, possibilitar salas de aulas com até 50 alunos, muitas vezes atarantadas por barulho de grandes ventiladores, no calor escaldante do interior, não favorece em nada a solução para o imenso problema que se precisa sanar. Dessa forma, repensar certas normas rígidas que, em alguma medida, tolhem a criatividade e a autonomia de certas unidades de ensino pode ser um primeiro passo para alcançar um IDEB digno da inventividade e das inteligências do povo baiano.

 

*José Avelange Oliveira, Licenciado em Letras, pela Universidade Estadual da Bahia, Especialista em Psicopedagogia Institucional pela Universidade Cândido Mendes, autor do livro Celebridades Decadentes e Outros Episódios Cotidianos, pela Editora PerSe

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias