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Notícia

DJs baianas lutam por espaço: ‘É muito louco que seu sexo define seu conhecimento’

Por Lara Teixeira

DJs baianas lutam por espaço: ‘É muito louco que seu sexo define seu conhecimento’
Foto: DIvulgação / Tati Freitas

O cenário baiano da discotecagem está descobrindo novos talentos. As mulheres ganham destaque na área musical e encontram espaço para se divertir e ao mesmo tempo se expressar, mostrando a outras garotas que é possível conquistar o seu lugar no meio de tanto preconceito. O Bahia Notícias conversou com duas DJs, Ana Julieta Garcia e Nai Sena, e a aprendiz Carolina Medrado, que contaram sobre a inserção no mercado da música. As DJs explicaram como surgiu o interesse na profissão e, por coincidência, Nai e Ana Julieta não tinham como pretensão no começo seguir a carreira. “Aconteceu naturalmente junto com produzir. Mas não vou mentir, que nunca foi a ideia inicial ter a carreira. Foi acontecendo, e quando eu vi eu já estava tocando em vários lugares. É maravilhoso, no fundo. Às vezes, quando você não tem tanta expectativa, é até mais gostoso”, contou Ana Julieta. Já Nai explica que quando começou a frequentar festas do movimento hip hop na adolescência, se encantou com a maneira que os DJs comandavam os eventos. “Aos 20 anos fiz uma oficina de discotecagem com o DJ Jarrão, não tinha nenhuma pretensão de atuar na área, mas a vida me trouxe por esse caminho”. Carolina disse que a oportunidade para aprender os aparelhos surgiu a partir de um convite de Ana Julieta, que se disponibilizou para compartilhar os seus conhecimentos: “O trabalho de DJ sempre foi uma das minhas curiosidades, mas até me aproximar de Ana Ju nunca soube por onde buscar, ou como aprender. Acho que a abertura que Ana Julieta teve para ensinar do zero e passar o conhecimento que ela adquiriu exercendo a profissão é um fator que estimula a vontade de aprender e realmente mergulhar fundo em algo que antes era uma total incógnita para mim”. Ana Julieta falou sobre essa experiência de ensinar os aparelhos para algumas garotas e citou opções de lugares para meninas que buscam aprender também:”Eu faço isso na festa 'Menina Veneno'. Tem algumas meninas que eu ensino a tocar para ir, e que crescem muito, tipo ‘Ferloma’, Fernanda Sestelo e Paloma Saavedra, Bruna Rios... Essas novas meninas que estão entrando agora, Carolina Medrado, Olívia Ribeiro, eu tô ensinando a tocar. Então pede para uma amiga que sabe tocar uma força, pede uma ajuda, faz um curso, olha o Youtube, corre atrás, sabe?! Mas ficar parada esperando que as coisas caiam no seu colo, não vai rolar”.

 


Foto: Divulgação / Tati Freitas

 

A festa “Menina Veneno” citada por Ana Julieta é um evento no qual todas as pessoas que trabalham são mulheres, desde as seguranças até as próprias DJs. Neste sábado (21), durante a 11ª edição, será a primeira vez em que 12 mulheres irão tocar no evento. “Eu decidi que o grupo que era de cinco pessoas tinha que ser ampliado, tinha que abraçar mais gente e agora nós somos 12 DJs mulheres que fazem parte”. Para Ana, é preciso que as profissionais abracem aquelas que desejam aprender, porque assim todo mundo "ganha". “Para mim, quanto mais gente eu puder abraçar no projeto, melhor, quanto mais mulheres eu puder colocar na cena soteropolitana de DJs, melhor. Eu estou muito feliz”, complementou Ana Julieta. Para Nai Sena, a quantidade de garotas que surgem no mercado já mostra uma mudança no atual cenário de DJs mulheres: “Eu acredito que o cenário já vem mudando. Quando comecei, quase que não tinha meninas, e hoje participo de uma festa com 12 meninas na line!”. Carolina que irá tocar pela primeira vez durante a festa, falou sobre a importância de ter espaço para aprender: “A técnica em relação aos equipamentos é algo que com certeza vai se aperfeiçoar ao longo do tempo, mas acredito que a maior cobrança que existe em meu pensamento no momento, pelo menos para minha primeira festa, é criar uma playlist que alegre as pessoas, que contemple diversos gêneros e crie uma atmosfera legal”. A estreante comenta ainda sobre a importância de ter referências no mercado. "Creio que ter meninas num line up é inspirador não só para quem tem interesse em música, em ser DJ, mas pra toda mulher que tem algum interesse em qualquer outra área e não se sente acolhida ou encorajada a aprender e crescer naquilo. Nós mulheres estamos presentes em todas as áreas, mesmo que invisibilizadas, e quando nos descobrimos e criamos essa rede de apoio abrimos caminhos umas para as outras, o sucesso é inevitável”.

 


Foto: Divulgação / Tati Freitas

 

Se as mulheres já sofrem preconceito constantemente, no cenário da discotecagem não é diferente. “Pelo fato de você ser mulher, você já é colocada como uma pessoa que não sabe, que tem menos conhecimento. Não sei por que, é uma ideia muito louca que o seu sexo define o seu conhecimento ou a sua capacidade de exercer uma função”, lamenta Ana Julieta. Ela aponta que as DJs enfrentam dificuldades até com a equipe de trabalho. “O técnico de som não está acostumado a ver mulher lá e eles sempre querem tratar como se você não soubesse o que está fazendo, mexe nos seus equipamentos quando você está tocando, várias coisas assim… já tive algumas 'tretinhas', mas tudo recuperável, a gente segue adiante. O importante é seguir firme e forte e nunca deixar isso te abalar”. Obviamente isso não ocorreu apenas com Ana. Nai Sena fez uma declaração muito parecida sobre o preconceito que sofre: “Primeiro sou negra, então já cresci sofrendo racismo. Na cena musical já vi muitos produtores só contratarem mulheres por interesses sexuais. Já vi técnicos de som falando que o som está uma merda porque é mulher e outros DJs desfazendo porque é mulher. Sempre porque é mulher. A razão sempre é porque essa”.

 


Foto: Divulgação / Tati Freitas

 

SERVIÇO
O QUÊ:
Menina Veneno 2K18
QUANDO: Sábado, 21 de abril, às 23h
ONDE: XYZ,  Rua Itabuna, Rio Vermelho, Salvador-BA
VALOR: R$ 20 no Sympla, 25 na lista amiga, R$ 35 na porta do evento