Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Justiça
Você está em:
/
/

Artigo

O colapso do sistema partidário

Por Bernardo Barbosa Almeida

O colapso do sistema partidário
Foto: Divulgação

Vivemos um momento delicado em nossa sociedade. Até meados de 2013 debatia-se com frequência sobre a alienação política de grande parte dos jovens brasileiros: tocavam suas vidas completamente alheios aos temas da nossa política.


No mesmo ritmo em que explodiam movimentos de rua denominados de “Primavera Árabe”, nossa população jovem surpreendia ganhando as ruas com grande indignação quanto à realidade política.


Um movimento muito genuíno, iniciado a partir de um grupo que contestava o aumento nos preços do transporte público de São Paulo, ganhou as ruas do Brasil e passou a ser o maior movimento popular que o nosso país já viu.


Seus principais motes foram contra o aumento da tarifa e contra a corrupção em nosso país. Aquele movimento teve a capacidade, entre outras repercussões, de abrir os olhos de boa parte da população para temas políticos.


Aquele ano de 2013 poderia ter sido um marco no sistema político brasileiro, mas não foi! A classe política, completamente atordoada, não conseguiu capitar as exigências das ruas. A grande questão está na representatividade do povo. Na representatividade do verdadeiro detentor do poder político, o povo!


A nossa sociedade, assim como outras mundo afora, vivencia um momento de descrédito com a sua classe política e a atenção ao tema corrupção serviu apenas para ligar o alerta da população para a política, deixando escondida a real necessidade de mudança que precisamos, a mudança na política. A tão falada reforma política!


Aparentemente, como resultado de uma mexida robusta em nosso esqueleto social, com a inclusão de milhares de pessoas no meio econômico, o nosso sistema político começa a balançar. Inúmeros motivos podem ser apontados, mas o que mais se destaca é o político.


Sobre isso, é de uma clarividência total o que nos diz Hannah Arendt, uma das filósofas alemãs mais influentes do século XX, em seu livro As Origens do Totalitarismo. Vejamos: “A indiferença em relação aos negócios públicos e a neutralidade em questões de política não são, por si, causas suficientes para o surgimento de movimentos totalitários. A sociedade competitiva de consumo criada pela burguesia gerou apatia, e até mesmo hostilidade, em relação à vida pública, não apenas entre as camadas sociais exploradas e excluídas da participação ativa no governo do país, mas acima de tudo entre a sua própria classe. [...] O colapso do sistema de classes significou automaticamente o colapso do sistema partidário, porque os partidos, cuja função era representar interesses, não mais podiam representa-los, uma vez que a sua fonte e origem eram as classes”.


São incríveis as semelhanças com a nossa realidade, principalmente quanto à ruptura no esqueleto social e falta de representatividade atual. O texto se refere a um período compreendido entre os anos 20 e 50 do século XX, que resultou no estabelecimento de regimes totalitários, com completo desrespeito aos direitos individuais. Nos dias de hoje, dificilmente veremos a instalação de um regime totalitário, é verdade. Mas são inúmeros os sinais de enfraquecimento do estado de direito, principalmente em busca de um estado policialesco, sustentado num discurso de combate à corrupção.


O nosso sistema político partidário já não capta o clamor social por mudanças de forma precisa e deve ser repensado urgentemente! 


As nossas instituições apesar de sólidas, vêm sofrendo baques constantes, e a nossa história recente mostra a sujeição de nossas massas a uma alienação midiática que em muito lembra a de 1964.


Aquele movimento de meados de 2013 teve o papel de trazer boa parte da população para o debate político. Precisamos aprofundá-lo, urgentemente, sob pena de causarmos rupturas ainda maiores em nossa sociedade!

 

*Bernardo Barbosa Almeida é advogado, especialista em direito tributário e finanças públicas pelo Instituto Brasiliense de Direito Público-IDP. Membro das Comissões de Direito Eleitoral e Direito Tributário da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Distrito Federal.

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias