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Membros da equipe do cantor Dilsinho são acusados de estupro em Santa Catarina

Membros da equipe do cantor Dilsinho são acusados de estupro em Santa Catarina
Foto: Reprodução / TV Record

Uma jovem da cidade de Chapecó, em Santa Catarina, acusa músicos da banda do cantor Dilsinho de estupro. Sob anonimato, ela relatou o caso ocorrido em novembro de 2019 e registrado na polícia, ao site Notícias de Santa Catarina. 

 

Fã do artista, segundo a vítima, ela e duas amigas foram convidadas a entrar no camarim para conhecê-lo. “Quando chegamos na porta do camarim, tinha um segurança recolhendo todos os celulares. Deixamos tudo ali. Assim que chegamos já fomos apresentadas ao Dilsinho, conhecemos todo mundo, veio o rapaz da banda e ofereceu bebida e aceitamos. Estávamos conversando, dançando e eu estava abraçada no Dilsinho, quando veio o André Bezerra e ofereceu mais bebida. Eu aceitei e ele fez um gesto que iria pegar meu copo. Eu entreguei e, depois disso, não lembro de mais nada”, conta, revelando que os dois integrantes do staff de Dilsinho que teriam lhe dopado e estuprado são o iluminador André Luiz Bezerra e o músico Paulo Xavier Goulart Junior.

 

“Quando eu acordo, o primeiro flash que eu lembro, eu estou deitada na cama, bem onde termina a cama, e estava acontecendo sexo anal com o André Bezerra. Eu acordo porque estou me afogando, sem conseguir respirar. Acordo com o pênis do Junior Goulart na minha garganta. Aí eu começo a passar muito mal. Empurro ele para o lado, viro para o lado da parede e vomito muito. Eu lembro de deitar de novo e eles continuam. Passo mal de novo porque ele continua com pênis na minha garganta, vomito mais, passo mal, deito e eles continuam. Nesse momento, eu começo a gritar ‘para, por favor, por favor para’”, relata ao site.

 

O incidente teria ocorrido em um hotel no centro da cidade, a convite dos integrantes da banda. As três amigas - uma delas já estava ficando com um dos membros do staff - foram de táxi com os dois homens ao hotel onde toda a equipe estava hospedada. “O que as meninas contaram é que eu estava atrás, sentada no colo do André Bezerra, e a Mariana* [nome fictício]  no colo do Daniel, que é produtor do Dilsinho. Elas contam que eu estava muito eufórica, gritava, fazia gemidos e elas não sabiam se eu já estava transando com ele dentro do táxi, mas isso não é do meu feitio. Eu nunca fiquei bêbada, nunca usei nada. Eu nunca saía, aquela era a primeira vez que nós saíamos juntas, então não era normal para mim”, conta.

 

Dias após o ocorrido, a jovem recebeu um áudio de uma das amigas, que lhe ajudou a lembrar de alguns flashes. Na mensagem, aos prantos, a amiga lamenta não ter percebido que ela estava sendo estuprada. “Tu dava risada, só que amiga, eu não pensei, juro por Deus que se eu tivesse imaginado outra coisa… Para mim tu estava bêbada e gostando de ficar com o cara”, diz.

 

Ela conta que depois de chegar ao hotel sequer lembra como conseguiu ir até o quarto. A saída ela tampouco se recorda, mas um ano depois teve acesso às imagens de câmeras de segurança do local, que a mostram saindo desnorteada. Segundo o site, o material consta no inquérito policial de 113 páginas, que foi instaurado a partir do boletim de ocorrência registrado no dia 4 de novembro de 2019. 

 

As imagens mostram o grupo chegando ao hotel, por volta de 2h45. Às 4h57, a jovem aparece novamente, vestindo uma camiseta e com uma garrafa de água na mão. Ela caminha na calçada, do lado de fora. No vídeo aparece também o músico Paulo Xavier Goulart Junior, que a impede de seguir andando. Os dois então conversam, ela aparentemente quer continuar caminhando, me ele segura a mão da vítima, gesticula, se aproxima e vai de volta para o hotel, enquanto a mulher o acompanha, cambaleando.

 

Ao site, a jovem catarinense conta que não se lembrava deste momento até ter acesso às imagens, depois de um ano. “Eu saio desnorteada, só com uma garrafa de água na mão. Descalça, sozinha, não tinha nem a chave do apartamento, do carro, nada. Eu não tinha nada. Pelo que eu entendi das imagens é aquela coisa de instinto. Quando algo te faz mal, você quer sair. E acredito que minha reação foi essa: eu preciso sair daqui. Mesmo sem estar consciente”, diz. Poucos minutos depois, ela aparece outra vez nas imagens, mas desta vez com as amigas e o homem com quem uma delas estava ficando antes de chegar ao hotel. A jovem sai na frente apressada, enquanto o casal fica atrás. O homem tira uma camisa da mochila e a amiga entrega para a vítima, que vestia uma camiseta da produção.

 

“Tu tirou a camisa ali na frente do hotel, tirou a camiseta, aquela hora eu pensei que tu estava muito louca. Viemos de boa, conversando, quando chegou na porta do meu prédio, tu começou a chorar desesperada”, conta a amiga, em áudio, revelando que ela ficou nua na rua. Ao chegar na casa da amiga, ela dormiu por horas, depois voltou para casa e contou à família.

 

No dia seguinte, ela conta que, por volta das 8h, foi ao Hospital Regional do Oeste e entrou no protocolo da Lei do Minuto Seguinte, que orienta o atendimento às vítimas de violência sexual. No local, a jovem teve que recontar o pouco que lembrava e mostrar as marcas da violência a enfermeiros, psicólogos, médicos, assistentes sociais, policiais militares e civis. Na unidade de saúde, durante meses, ela fez o tratamento, com remédios e exames para evitar doenças e uma possível gravidez

 


INVESTIGAÇÃO
Segundo o Notícias de Santa Catarina, o laudo produzido pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) aponta que não houve lesões ou vestígios de relação sexual criminosa, mas mostrou a existência de esperma na região da vagina.

 

O exame toxicológico apontou 5,8 decigramas de álcool por litro de sangue, o que para o médico legista, não seria suficiente para causar alterações psicoativas e provocar perda de consciência. O exame, no entanto, foi realizado horas depois do estupro e, portanto, detectar uma quantidade inferior à ingerida no momento do crime. O exame detectou ainda lidocaína, comumente usada como anestésico. De acordo com relatório do perito, a substância pode acarretar em perda de consciência, em caso de superdosagem. O IGP, no entanto, alegou que não tinha equipamento e tecnologia para aferir a quantidade do anestésico no organismo da vítima.

 

Em depoimento, o legista afirmou nunca ter ouvido falar no uso da lidocaína no golpe do “boa noite Cinderela”, mas disse desconhecer os efeitos da associação da substância ao álcool. No relatório complementar, a perícia apontou ainda que o anestésico pode ser encontrado em gel lubrificante ou preservativos, que podem provocar excitação e também deixar a pessoa “desligada”.

 

O advogado da vítima, Marco Aurélio Marcucci, aponta falhas, tanto na investigação, quanto no processo. Entre os questionamentos estão a falta de detalhes sobre o anestésico. “É uma prova que teria que ser esmiuçada na investigação e não foi, assim como não foram verificadas as câmeras do corredor. Onde o Dilsinho estava? Onde os indiciados estavam? Quem estava naquele quarto? E o gerente, cadê o gerente? Tudo isso tem que ser verificado. No meu ponto de vista é uma investigação completamente falha e falha intencionalmente”, aponta.

 


INQUÉRITO
Segundo o site, o inquérito foi encerrado em 23 de outubro de 2020, cerca de um ano após o crime. O delegado Estevão Vieira Diniz Pinto indiciou os dois integrantes do staff de Dilsinho por estupro de vulnerável e encaminhou o caso ao Ministério Público. A dupla, entretanto, sequer foi ouvida, porque a polícia tentou contato por telefone, redes sociais e e-mail, mas não teve resposta. Diante disto, o delegado decidiu encerrar o inquérito e indicia-los, deixando-os à disposição do MP para possíveis diligências complementares.

 

O advogado da vítima critica a não utilização da alternativa de expedição de cartas precatórias para intimar André Luiz Bezerra e Paulo Xavier Goulart Junior. “O que eles alegam no processo é que a carta precatória demoraria muito, então eles resolveram fazer esse caminho, mas é um puxadinho que está errado processualmente. Eles tinham que mandar uma precatória para a delegacia do Rio de Janeiro, para que eles fossem até a residência dos suspeitos intimá-los para comparecer no processo. Do jeito que está, ele vai ficar sem comparecimento e o processo vai parar e até prescrever. Acho que essa é a ideia desde o início”, diz o advogado.

 

Em novembro daquele ano, o MP ofereceu a denúncia, que foi aceita pela Justiça, determinando que os dois acusados se manifestem sobre as acusações em um período de 10 dias, possibilitando que o processo pudesse correr. Marcucci, revela que esta foi a última movimentação do caso na Justiça e que seis meses depois o prazo sequer foi respeitado. Diante disso, ele pediu a suspensão do processo, sob alegação de falhas na investigação. Ele pediu ainda quebra do sigilo telefônico dos policiais responsáveis pelo relatório, e a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos indiciados e de Dilsinho.

 

“Questionamos toda a investigação, pedimos a volta para a delegacia para que tudo seja refeito desde o início. Há muitas diligências importantes que não foram feitas. Do jeito que o inquérito e o processo estão, é muito fácil os suspeitos se safarem dessa condenação porque existem dois suspeitos, dois indiciados, mas no meu ponto de vista tem que ampliar a margem de investigação. Nós pedimos a prisão dos indiciados e vamos aguardar a manifestação do juiz lá de Chapecó”, explica o advogado.

 


Um ano e meio depois do incidente, a jovem conta que precisou se mudar de Chapecó. “É o principal hotel da cidade, fica na avenida. Eu não tinha mais nenhuma condição de passar por ali”, lamenta a vítima, que em 18 meses, diz não ter havido nenhuma manifestação dos acusados, resposta da polícia ou da Justiça.

 

RESPOSTAS

Em resposta à reportagem, o IGP enviou nota afirmando que só fala sobre laudos periciais após solicitação de autoridades policiais ou judiciárias. Disse, ainda, que as informações sobre dosagem são disponibilizadas de acordo com o pedido das autoridades ou setor de medicina legal.

 

O delegado, por sua vez, afirmou, por telefone, que concluiu o inquérito, encaminhou ao Ministério Público e não iria se manifestar. A promotoria e o juiz afirmaram que não se manifestariam porque o caso corre em segredo de Justiça. O hotel no qual o incidente ocorreu não retornou à reportagem.

 

Por meio de nota, a assessoria jurídica de Dilsinho informou que o artista não foi notificado por qualquer autoridade pública e que ele não tem ciência dos fatos veiculados. A nota diz ainda que o escritório do cantor aguarda a análise do caso para tomar as devidas providências. Apesar do artista dizer desconhecer o caso, a assessoria informou que os dois integrantes acusados foram afastados de suas funções.