Do turismo ao show, empresas de Salvador apertam os cintos após suspensão de eventos
por Jamile Amine / Ian Meneses

Para além do comércio diário de compras e vendas, de lojas no Centro da cidade fechadas e shoppings interditados, empresas ligadas a eventos de grande porte precisaram desacelerar ou até mesmo frear as atividades. Em meio à pandemia do novo coronavírus, marcas ligadas ao turismo, shows, cerimoniais, formaturas e equipamentos audiovisuais sentiram necessidade, sem alternativas, em readaptar seus funcionamentos, como também passaram a lidar com mais delicadeza em relação às obrigações trabalhistas e redução de lucros.
Com escritórios na Bahia, São Paulo e Miami funcionando em home office desde antes das medidas restritivas de isolamento, a agência Zum Brasil já sente os impactos da pandemia. Em entrevista ao Bahia Notícias, a diretora de Marketing e Comunicação da empresa, Fernanda Zamaroni, destacou que o setor de turismo e eventos foi um dos primeiros a ser afetado e será um dos últimos a voltar à normalidade após o período crítico, visto que depende essencialmente da aglomeração de pessoas, que é o principal vetor de contágio do coronavírus.
“Num primeiro momento, quando isso começou a surgir, mesmo antes dos primeiros casos, alguns eventos nossos foram adiados. Antes de pedir quarentena, de fechar shoppings, já teve essa reação muito forte no nosso mercado”, revela Fernanda, explicando que a maioria dos eventos programados pela agência até o meio do ano e também os que ainda estavam em fase de produção foram prorrogados para o segundo semestre, a partir de outubro. “A gente não tem ainda a certeza se realmente em outubro, novembro e dezembro, o setor de eventos, que é um dos mais afetados, vai estar seguro para ter essa retomada ou se vai ter um novo adiamento para o ano que vem”, pondera, lembrando que alguns projetos da empresa já foram remanejados para 2021 e outros poucos cancelados.
Como, por ora, foram poucos cancelamentos, a diretora de Marketing e Comunicação diz ter esperança de uma retomada menos traumática. “Como foram adiados a gente tem a confiança de que essa receita vai entrar num segundo momento”, explica Fernanda Zamaroni, pontuando que pelo menos em sua empresa a crise tem sido administrada de forma equilibrada. “Não entra nada, nosso capital de giro não acontece, mas a gente também tem uma saúde financeira, um lastro, que nos resguarda nesses momentos difíceis”, diz a executiva.
O equilíbrio nas contas e a solidez do empreendimento é também o que tem sustentado a Orttis Eventos, que há mais de três décadas atua no mercado de Salvador. “A empresa da gente, como é uma empresa antiga, tem 33 anos, está bem estruturada. Ela ocupa praticamente uma quadra no Rio Vermelho e [o imóvel] é próprio, então a gente não tem despesas de locação”, explica Paulo Cerezo Ortiz, proprietário do empreendimento, que agora conta com 50 dos 61 colaboradores em regime de home office.
Assim como na Zum, a Orttis tem remanejado seus projetos para o segundo semestre, na esperança de que a pandemia tenha fim nos próximos meses. Os adiamentos, no entanto, comprometem a organização. “A gente teria 32 eventos para fazer agora no primeiro semestre. Eles serão transferidos para o segundo semestre, que tem mais 30. Então vai embolar. A gente está aqui correndo com marcações com os espaços”, detalha Paulo Ortiz.
Além do problema na agenda, o empresário destaca ainda outro fator delicado: a folha de pagamento dos funcionários contratados. “A gente acabou de fazer uma reunião com a diretoria, sobre a normatização do governo, que é a possibilidade de dispensa dos funcionários e o governo pagar 70% por dois meses. Existem setores que são presenciais como o de estúdio, fotografia, fotos externas com os formandos, fotos no Pelourinho, esses setores a gente vai ter que realmente aplicar essas normatizações. Eu acredito que umas 15 pessoas a gente já vá colocar nesse programa que o governo lançou ontem”, explica, projetando uma retomada do trabalho em mais de 15 dias, com eventos a serem realizados a partir de 16 de junho.
Outro setor ainda mais sensível apontado por Paulo Ortiz é o dos terceirizados, que prestam serviços pontuais para a empresa. “Tem um dado bastante preocupante para a gente, porque eu diria que você tem uma gama de prestadores de serviços, quando se faz um grande show você tem o técnico de som, o técnico de luz, os montadores… Todos eles são freelancer. E eu recebi ontem um pedido de socorro”, diz o proprietário da empresa. “A gente está preparando aqui cestas básicas, já tem uma conta pra depósito, porque eles não se enquadram nos projetos do governo e estão passando, realmente, necessidade. é uma coisa bastante preocupante”, afirma.
Na Luzbel Tecnologia em Eventos, empresa baiana referência em customização de projetos audiovisuais, a situação é semelhante: um equilíbrio entre a boa saúde financeira da empresa e a preocupação pelo futuro incerto, inclusive dos prestadores de serviço. “As pessoas e as autoridades não vão tão cedo liberar aglomerações, então é um mercado que sentiu bastante mesmo. Sentiu e está sentindo os impactos dessa pandemia”, avalia Junior Luzbel, Diretor Comercial e de Projetos do empreendimento.
Diante da crise e da incerteza, algumas medidas práticas já foram tomadas. “Em relação a nossa empresa, nós demos férias coletivas aos nossos funcionários CLTs. A partir de abril estão todos de férias coletivas, que é o tempo que a gente tem aí pra ver as iniciativas e os programas dos governos federais, estaduais e municipais”, explica Junior, lembrando que cadeia produtiva e poder público vêm negociando alternativas para minimizar o prejuízo com a paralisação das atividades. “Existe muita coisa acontecendo, tem a MP 927, tem o PL 676, que é o que está com ênfase em zerar o CSLL e o ISS. Tem algumas coisas acontecendo e nós estamos no aguardo”, elenca o diretor. “Além disso, nós temos os terceirizados, que é aquela mão-de-obra de MEI, chamados de freelancer, que em momentos de pico a gente tem que contratar para determinados eventos. Para esse pessoal a gente está adquirindo cestas básicas para doar acredito que em abril, maio e talvez junho. Elas são pessoas que não têm carteira assinada, vivem do cachê dos eventos, então, esses que prestam serviço à nossa empresa Luzbel, a gente está com essa iniciativa de doar cestas básicas”, acrescenta.
Citando a dimensão do setor de eventos para a economia do país, que segundo ele corresponde a 10% e faz uma movimentação de R$ 900 bilhões anuais, Junior destaca que este mercado está “sofrendo muito” neste momento, sobretudo pelo fato de não existir uma previsão de retorno à normalidade. “Dos meses de março, abril e maio a gente teve, em média, mais de 20 eventos adiados. A gente espera que todos eles tenham sido de fato adiados e não cancelados, porque essa é aquela chama de esperança que fica. A retomada vai ser bem difícil, a gente precisa faturar, porque nossa empresa investe muito em tecnologia, em equipamentos caríssimos importados da Europa, dos Estados Unidos. A gente faz um investimento pesado e precisa trabalhar para faturar. A gente não está querendo demitir, a priori, mas estamos aguardando para ver qual é o quadro que se pinta”, conclui.
Com mais de 15 anos de história, a Salvador Produções, que tem como sócio Marcelo Brito, precisou se readaptar assim que as medidas que impediam grandes aglomerações foram sancionadas. Responsável pela realização de eventos de grande porte e considerada líder do mercado de entretenimento na capital baiana, a empresa precisou cancelar dois grandes eventos, entre eles o “Forró das Antigas”, que aconteceria no dia 4 de abril, e também o “Modão Salvador”, programado inicialmente para o dia 9 de maio. Marcelo Brito destaca que diante da situação “toda a cadeia de músicos e equipes que fazem os shows acontecerem está parada” e que há, “infelizmente, um caos geral na música”.
Além de comandar e estruturar os eventos, a Salvador Produções é responsável pelo gerenciamento e realização de shows de diversos artistas e bandas, entre eles Léo Santana, Parangolé e Forró do Tico. Com a impossibilidade de realizar tais encontros, Brito passou a adotar novas medidas como forma de garantir receita. “Temos duas estratégias que são as lives (transmissão pela internet) e a divulgação de marcas (merchan) de publicidade. Mas nada se compara às programações de shows mensais”, explicou o empresário, que destaca que os custos de transmissão não são baixos e que depende de cada patrocinador os valores arrecadados com as publicidades.
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