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Racismo na arte e na vida movem Rodrigo França na luta contra a discriminação

Por Ian Meneses / Ailma Teixeira

Racismo na arte e na vida movem Rodrigo França na luta contra a discriminação
Foto: Reprodução/Instagram

Rodrigo França vai muito além da nomenclatura "ex-BBB". Ele é ator, diretor, autor, produtor, filósofo, cientista social e professor. E foi todo o conhecimento, sensibilidade e lugar de fala que carrega que moveu não só ele, mas também toda a sua equipe de atores e atrizes que percorriam as ruas do Santo Antônio Além do Carmo no último sábado (4). Inconformados pela truculência com que a PM agiu com dois jovens negros (relembre aqui), o grupo assumiu um papel familiar de acompanhá-los não só naquele momento, mas depois, independente da distância. 

 

Em viagem pela África, percorrendo países como Moçambique e Cabo Verde para a realização da peça “Contos Negreiros do Brasil”, Rodrigo e sua equipe não escondem a preocupação com a integridade física e psicológica dos dois rapazes. Os vídeos que circularam pelas redes sociais e comentários ofensivos que se seguiram fizeram com que o grupo de atores criasse uma corrente de proteção para garantir a dignidade dos baianos.

 

“A gente sabe que há possibilidade de retaliações, até porque a gente está sofrendo retaliações através das redes sociais em mensagens não diretas, mas que no fundo têm ameaças e intimidações. Nós temos contatos e temos uma rede muito poderosa de proteção, e entendemos que temos que fazer o possível e o impossível para dar assistência para esses dois jovens”, declarou França. 

 

O episódio desagradável que teve que presenciar aconteceu justamente na época do Novembro Negro, mês que possui um dia dedicado à Consciência Negra e no período em que Rodrigo e elenco de atores passavam por Salvador para divulgar o espetáculo. No dia 17 de novembro, às 19 horas, a capital baiana receberá pela primeira vez a peça que já foi vista por mais de 50 mil espectadores. “Contos Negreiros do Brasil” ficará em cartaz no Espaço Cultural da Barroquinha (veja aqui).

 

“É um espetáculo que desnuda o que é o Brasil. No sentido de que ele acaba colocando à tona o mito da democracia racial. Então, falar sobre isso, no maior território negro do Brasil e no segundo maior território negro do mundo fora da África é uma potência. A mesma resposta, creio eu, que a gente vai ter como teve aqui em Cabo Verde, que tem uma realidade muito próxima do Brasil em que é o racismo velado”, afirma. 

 

Para Rodrigo, o problema “está nas estruturas, estabelecendo relações”, mas ele lamenta que “ninguém discute e fala sobre”. A presença do espetáculo na capital baiana pode não ser surpreendente pelo seu conteúdo, mas ele mesmo justifica que ter mais uma obra de arte falando sobre o assunto reforça cada vez mais o discurso de enfrentamento das problemáticas raciais na realidade do país. 

 

“Acredito que ‘Contos Negreiros do Brasil’ vem como uma potência para poder ratificar aquilo que dentro da própria Bahia, dentro da própria Salvador, já se fala. A gente não vai trazer nenhuma novidade, vai ser mais um elemento para poder somar a luta de tantas pessoas, que denunciam em Salvador o que é o Brasil na sua realidade”. 

 

BIG BROTHER
Rodrigo, filho de Dona Verinha e trigêmeo, ficou conhecido nacionalmente pela sua participação na última edição do “Big Brother Brasil”. A 19ª edição do reality da Rede Globo ficou marcada por uma rivalidade de grupos, o “Gaiola” do qual fazia parte e o “Villa Mix”, turma que consagrou a vencedora Paula Sperling. 

 

Questionado se ele mantinha algum contato com pessoas que fizeram parte do outro lado do jogo, França diz não ver sentido, justamente por poder escolher com quem conviver fora da casa: “Eu, particularmente, não tenho porque me encontrar. Eu costumo dizer que é perder tempo na vida a gente parar para tomar café com quem não nos respeita”, acredita. Rodrigo sofreu preconceito dentro do reality por parte da campeã da edição. Ao sair da casa com o prêmio de R$ 1,5 milhão, Paula até foi alvo de um inquérito do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que investigou as denúncias de intolerância religiosa. Mas, sem surpresas, o processo foi arquivado logo depois.

 

Na sua visão, o “Big Brother” é nada mais que “um microcosmos do que é macro, do que são as relações sociais aqui fora”. Para ele, tudo é muito velado, e a experiência “não foi nada surpreendente”. Ele, no entanto, não se arrepende de ter participado do programa e diz que não teria motivos para se envergonhar: “Tudo aquilo que eu me propus a fazer eu fui. Tudo aquilo que eu sou acabei sendo lá dentro. Não tenho a menor vergonha, pelo contrário, eu dei orgulho para os meus e isso é o que é mais importante”. O “BBB”, segundo Rodrigo, lhe permitiu abrir portas, mas ele confessa que não soube mensurar o quanto lhe trouxe de crescimento. 

 

Ao falar sobre o governo de Jair Bolsonaro, o carioca afirma que “nunca contou com ele”, mas enfatiza que se deve sempre cobrar pelos direitos de cada um. Apesar de ter as piores perspectivas com o quadro político atual, ele disse ter esperanças com os brasileiros: “Ainda acredito que a população no Brasil vai despertar e cobrar de uma maneira democrática todas essas questões que a gente está vivenciando hoje”, finalizou.