Após 25 anos de morte da filha, Gloria Perez cita ação que tornou homicídio crime hediondo
A escritora Gloria Perez publicou nesta quinta-feira (28), no Facebook, uma homenagem à filha Daniella Perez, assassinada brutalmente há 25 anos. Quando o crime aconteceu, em 1992, Daniella era a protagonista da novela “De Corpo e Alma”, da TV Globo, ao lado de Guilherme de Pádua e Fábio Assunção. Ela foi morta aos 22 anos, com 18 perfurações de faca, tesoura ou punhal (a arma do crime nunca foi identificada), e encontrada em um matagal na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. As investigações acabaram provando a culpa de Guilherme de Pádua e sua mulher, Paula Thomaz, que à época estava grávida do ator. Nesta quinta, Gloria Perez relembrou o movimento que liderou para incluir homicídio qualificado na lei que define crimes hediondos (Lei 8.072/90). “Em 1992, as leis penais eram ainda mais frouxas. Matar não dava cadeia: assassinos tinham direito de esperar, em liberdade, por um julgamento que podia ser adiado indefinidamente — bastava ter advogados que soubessem explorar as brechas da lei e utilizar o número infinito de recursos disponíveis para atrasar o andamento dos processos. A não ser que o crime cometido estivesse elencado na Lei dos crimes hediondos, promulgada em 1990, que listava crimes que deviam ser levados a sério. Para estes, tidos como os mais graves, a prisão era imediata e não se admitia pagamento de fiança. Matar botos, papagaios, animais que faziam parte do patrimônio, era crime hediondo - matar gente, não. Assassinato não entrou na lista”, lembra Gloria.
Ela conta que conta que descobriu que a sociedade podia elaborar uma lei, desde que tivesse uma quantidade mínima de assinaturas no país, e elaborou ao lado do chefe do Ministério Público uma emenda que incluía homicídio qualificado no rol da lei de crimes hediondos: “Redigida a emenda, eu e outras mães na mesma situação, imprimimos um abaixo assinado. A distribuição, numa época sem internet e sem contar com o apoio de nenhum grande órgão de imprensa, era feita de mão em mão. Gente de todo o país escrevia, pedindo as listas, que eram passadas em repartições, escolas, shows, nas ruas mesmo. E chegavam a nós pelo correio”. O grupo conseguiu 1,3 milhão de assinaturas, 300 mil a mais do que o necessário, e conseguiu apoio do então presidente do Senado, Humberto Lucena, para aprovar o documento. Para ela, a alteração garantiu a Justiça de casos que aconteceram a partir de então. “A mudança não teria nenhuma interferência no caso dos nossos filhos, uma vez que a lei não retroage para punir. Mas é graças a essa emenda que criminosos como Suzanne Richtofen, o casal Nardoni, e tantos outros, ainda estão na cadeia. Não fosse isso, já estariam rua há muitos anos”, concluiu. “25 anos é menos que 25 dias, que 25 horas, que 25 segundos. Filho não se conjuga no passado!”, resume a autora.
Motivação do crime
Ao longo dos anos, o casal deu diversas versões sobre como ocorreu o crime e sua motivação. No tribunal, o ator disse que a esposa matou Daniella por ciúmes, mas a polícia descobriu que os dois tramaram juntos a morte da atriz. Em um site que criou para reunir as informações sobre o caso, Gloria Perez narra que o homicídio se deu porque Guilherme tinha medo de perder espaço na novela e começou a perseguir Daniella. “Incomodada com a insistência dos pedidos para aumentar seu papel, Daniella começa a evitá-lo. Coincidentemente, ele vê sua participação reduzida naquele bloco. Acreditando que sua carreira estava sendo prejudicada por Daniella (como afirmou à polícia e como seus primeiros advogados alardearam nos jornais da época), trama, junto com a mulher, Paula Thomaz, o assassinato”, lembra a autora. O ator e sua mulher foram condenados, respectivamente, a 19 anos e 18 anos e meio de prisão.