Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Carla Cristina diz que As Meninas não deu ‘lucro algum’, mas que sonha em voltar com grupo

Por Ian Meneses / Júnior Moreira Bordalo

Carla Cristina diz que As Meninas não deu ‘lucro algum’, mas que sonha em voltar com grupo
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

O ano era 1999 quando o Brasil foi contagiado pelos seguintes versos politizados: “Onde o rico fica cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. E o motivo todo mundo já conhece: é que o de cima sobe e o de baixo desce”. Vinte anos depois, a música segue rendendo e a situação do Brasil continua semelhante.

 

Voz responsável por “Xibom Bombom”, Carla Cristina viu sua vida mudar após o sucesso de As Meninas, porém resolveu deixar o grupo três anos depois. “As divergências partiram exatamente daí. Pensava da seguinte forma: ‘Os caras têm toda uma visão de mercado e de vendas, mas quem está diretamente com o público são os artistas e, às vezes, a gente ficava em necessidade. Então, começaram a surgir algumas coisinhas que fugiam da proposta inicial e a gente passou a escutar um monte de críticas”, lembrou em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Além de Carla, a formação inicial contava com Angélica e Cibele como backing vocals e dançarinas, Fernanda na guitarra elétrica, Jujuba no saxofone e Ratinha, Titi e Dilmara como percussionistas. Questionada se não tem interesse em fazer uma volta comemorativa – já que o grupo acabou definitivamente em 2009, respondeu: “Eu adoraria fazer. A dificuldade maior que eu vejo é na questão da mesma formação. Antes de eu sair, Fernanda já tinha ido para os EUA, Jujuba mora na Alemanha. Então, acho que seria um pouco complicado, a não ser que entrasse uma gravadora ou patrocínio muito bom para arcar com todas essas despesas. Vontade não falta”. Ainda no papo, Carla falou sobre sua vida como apresentadora, feminismo e futuro político do Brasil.

 

Você liderou o grupo “As meninas” entre 1997 e 2002. Como surgiu o grupo e qual era a proposta? Compor a banda somente por mulheres?

Então, já fazia parte da banda Papa Léguas, que tinha direção de Wesley Rangel. Cícero Menezes - que é o idealizador da Timbalada junto com Brown - quando se desligou da Timbalada, formou uma banda percussiva somente com mulheres, a Bolacha Maria. Dessa ideia, ele resolveu montar o grupo As Meninas. Em seguida, procurou um suporte de estúdio e falou com Rangel. Naquele momento, falou que tinha uma cantora bacana. Já cheguei com a ideia do projeto formada. Ele sabia o valor da mulher na música percussiva da Bahia e quis trabalhar isso. Quis mostrar que não era só um trabalho de homem.

 

Segundo relatos divulgados na internet, você teria saído das Meninas por divergências com os empresários. O que de fato motivou a sua saída do grupo?

As divergências partiram exatamente daí. Pensava da seguinte forma: ‘Os caras têm toda uma visão de mercado e de vendas, mas quem está diretamente com o público são os artistas e, às vezes, a gente ficava em necessidade. Então, começaram a surgir algumas coisinhas que fugiam da proposta inicial e a gente passou a escutar um monte de críticas. Tentamos alertar para melhorar o trabalho, porém quando vi que era daquele jeito meio engessado, falei: ‘Vou cumprir meu contrato e seguir meu caminho. Preciso continuar amando e tendo prazer no que faço, que é cantar’. Não voltei para barzinho, mas voltaria com o maior prazer do mundo. Continuei cantando em trio, Brasil a fora e segui meu caminho.

O que exatamente mudou naquela época que te incomodou?

A gente tinha percussão baiana, mas começou a surgir o funk muito forte e eles queriam gravar. Achava que não deveria ser bem por ali, sabe? Pensava em manter uma linha e defender o que era nosso.

 

Atualmente você mantém contato com as meninas que integraram contigo o grupo?

Todos os dias a gente se fala. As ‘coroas’ do Whatsapp seguem bombando (risos).

 

Com todo esse contato, não pensam em se reunir mais uma vez?

Tipo uma turnê comemorativa? Eu adoraria fazer. A dificuldade maior que eu vejo é na questão da mesma formação. Antes de eu sair, Fernanda já tinha ido para os EUA, Jujuba mora na Alemanha. Então, acho que seria um pouco complicado, a não ser que entrasse uma gravadora ou patrocínio muito bom para arcar com todas essas despesas. Vontade não falta. A gente se reúne, comenta, mas ai quando pensamos que não será mais a mesma coisa...

 

Canções como “Tapa aqui, Descobre ali” e o grande sucesso “Xibom Bombom”, além de serem canções dançantes, tinham uma letra que protestava e questionava os problemas sociais. Qual o peso que essas canções significaram para você por ter incorporado temáticas políticas em suas letras?

Cresci numa família de pessoas muito batalhadoras e tive uma vida de princesa, mas meus pais na infância não tiveram isso. Sempre fui muito informada da situação, de política, do que o Brasil precisava na saúde, educação... então, passei muito tranquila por essa canção. Não era mais tão menina assim na época. Fiquei muito confortável de cantar. As pessoas celebravam a letra e ao mesmo tempo a possibilidade de levar alegria.

 

Acreditava que essa música alcançaria tudo que alcançou?

Gostei da letra, mas te confesso que ficava meio assim com a estrofe sem combinar com o refrão. Não esperava a repercussão que teve no Brasil e fora daqui. No exterior, acho que teve mais pela questão rítmica da coisa, já que nem todo mundo entende o português. O ritmo da música é muito diferente. Até hoje, fazem memes e a música segue tocando. É comercial de uma casa lotérica há mais de oito anos na Itália. A nossa primeira aparição, inclusive, foi no Faustão. No concurso ‘Loira do Tchan’, que a Scheila Mello venceu.

 

Em entrevista ao Ego em 2015 você teria dito que “As Meninas” não teve continuidade porque não conseguia mais lucrar.  Para você o que motivou essa perda de rentabilidade do grupo?

Na verdade, a banda não me deu lucro. Nenhum, nenhum.

 

Em que sentido?

Assim, tínhamos muitos shows e o cachê era pequeno, principalmente para as meninas da percussão. Sempre tive uma vida confortável, antes até de As Meninas, mas não era justo... 33 shows por mês, dividindo com rádio, televisão, 5 dias sem conseguir deitar na cama para dormir, e não compensar no final do mês. O montante final não compensava. O que me desmotivou também foi em uma reunião em que reivindiquei pelas meninas... na época, tinha carro, mas elas não tinham. Não era justo gastar todo o dinheiro que ganhava com táxi, já que não podiam pegar um ônibus, pois estavam com os rostos o tempo todo na televisão. Fui meio que repreendida por ter ido defendê-las . 

 

Você se considera uma feminista?

Até certo ponto, sim. Acho que mulher tem direito a um bom emprego, salários altos, cargos importantes. Tudo que os homens têm. Mulher tem o direito de vestir o que ela quiser, tem o direito de ir e vir. Se quiser andar com uma saia curta e sem calcinha é um direito dela, ninguém tem nada com isso. Mas acho também que a mulher tem que ser ‘mulherzinha’ às vezes. Deixa o homem ser mais gentil, tomar a atitude, ser cavalheiro, te convidar para sair.

 

Qual a sua perspectiva em relação à “nova política” que vai administrar o país nos próximos quatro anos? 

Política é igual a futebol. Não se discute. Tenho minha opinião e só faço votos realmente que melhore a situação do povo brasileiro no geral, pois vivemos num momento de crise muito grande, com desemprego, violência, sem saúde e educação. Com a mudança do candidato – eu jamais torceria contra qualquer um que chegasse lá -, acho que devemos entrar numa corrente de positividade e torcer para que as coisas mudem.

Além de cantora, você é apresentadora. Comandou o “Bom D+” na TV Itapoan e foi contratada pela diretora Marlene Mattos, em 2015, para comandar um programa no canal a cabo E+TV. Você sempre teve pretensão em seguir carreira de apresentadora?

Não. Em 2010, fui convidada para fazer um programa em uma emissora local de Natal, afiliada a Rede TV!. Era um programa que antecedia o Carnatal. A ideia era ir um mês para fazer de segunda a sexta, de 15h às 17h. Massa. Topei. Nunca tinha feito algo desse tipo, apenas matérias sendo ‘repórter por um dia’... coisas bem descontraídas. Quando cheguei lá, já tomei um susto, pois achava que seria gravado e era ao vivo. Porém, tinha um apresentador que estava junto e me deu todo o suporte. O que motivou foi que na primeira semana de apresentação, o presidente da emissora chegou de viagem, me chamou e falou: ‘Olhe, minha filha. Você canta muito bem...’. Pensei:  ‘Pronto, vai me mandar para Salvador amanhã’. Depois, continuou: ‘Já te vi se cantando no Carnatal, mas você nasceu para TV’. Isso me deu um gás que quando sai de lá fiquei com isso na cabeça. Acho que todo cantor, principalmente de trio elétrico, tem um domínio da massa. É espontâneo. Corri atrás, fiz o curso, tirei o DRT. No dia seguinte à chegada do documento, o pessoal da Record me chamou para uma reunião e topei fazer o ‘Bom D+’.

  

No fim do seu contrato com a TV Itapoan foi noticiado que a não renovação com o canal foi em comum acordo. De quem partiu a decisão de não continuar à frente do “Bom D+”? Foi decisão sua, ou você foi surpreendida pela emissora?

Assim, foi uma decisão conjunta, pois precisava dar uma atenção maior a minha música e o fato também de não estar tendo uma dedicação total da emissora, sabe? Não queria a sensação de estar atrapalhandon. Não que eles tenham me dito algo desse tipo ou coisa parecida, mas senti uma necessidade maior de me dedicar à música. O lado cantora começou a ficar esquecido, que é o meu mais legal. Senti uma cobrança do público.

 

Quais são suas ambições futuras em relação às novas experiências como apresentadora?

Planejo dar continuidade, desde que não seja nada que me tire o prazer de cantar. Se puder conciliar as duas coisas...

 

Você integrou o corpo de jurados do programa “Canta Comigo” da Record. Como surgiu o convite para participar do programa?

Sempre tive uma relação bacana com a Record e eles pensaram em um artista que representasse a Bahia e, inclusive, que tivesse uma ligação forte com a emissora. Ligaram e aceitei, pois tenho um carinho enorme. Foi uma experiência muito bacana. Porém, confesso que não queria estar do lado de lá, das pessoas que concorrem, porque receber a pressão de 100 jurados na sua frente é complicado.

 

Como começou a sua carreira na música?

Desde muito pequenininha, eu não podia ver um microfone na frente. Meu irmão mais velho, Robson, tinha uma banda e um estúdio perto de onde a gente morava, lá na Ribeira... não podia passar perto que queria cantar. Além disso, em todas as festas que meu pai fazia em casa, pegava o microfone e queria cantar. Sempre ouvi boa música. Meu pai tem coleção de Roberto Carlos, Elis Regina... ele tem uma voz afinadíssima que é fora do comum. Aos 12 anos, mais ou menos, tive aquele namoradinho de adolescência, sabe? Ele tocava bateria na Colher de Pau e em um desses ensaios, comecei a cantar. Pensei: ‘Poxa, vamos fazer voz e violão?’. O tio dele tinha uma cabana em Patamares. Meus pais não queriam por causa dos estudos, mas insisti e fui começando. Dois anos depois, estava fazendo backing vocal para Jauperi, lá na micareta de Feira de Santana. Digo que Jau é meu padrinho. Depois, já fui para a banda Papa Léguas. Em 1996, fui cantora revelação do Carnaval de Salvador pelo Troféu Dodô e Osmar. A música do Carnaval também foi a minha, “Vem me Dizer”, e de lá para cá várias coisas bacanas aconteceram e pessoas maravilhosas que me incentivaram.

 

Então, quais foram suas influências musicais?

Todos eles: Gal Costa, Elis Regina, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Tom Jobim, Chico Buarque... quando fazia barzinho, meu repertório era basicamente desses artistas.