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Entrevista

Josenel Barreto 'diminuiu ritmo' após ficar doente por causa de rotina de trabalho

Por Júnior Moreira / Ian Meneses

Josenel Barreto 'diminuiu ritmo' após ficar doente por causa de rotina de trabalho
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

No ar na Rádio Excelsior com o “Alô Excelsior”, o feirense Josenel Barreto começou o seu trabalho com a música através de apresentações como DJ nas boates. Além de ter construído a carreira como locutor, mesmo considerando a sua voz "diferenciada dos demais locutores”, Barreto trabalhou como empresário de cantores e grupos do Axé como Ricardo Chaves, Gera Samba e Terra Samba. O contato com esse ambiente, no qual “todo mundo se conhecia e era um mercado de amizade”, fez com que ele tornasse uma espécie de "palpiteiro" das carreiras de diversos artistas do segmento.   

 

O dono do bordão "Mocinhas? Pirraça que eu gosto, vai!” criou em parceria e geriu alguns blocos da Folia de Momo como “Eu Vou” e “Gula Gula”. Hoje, no entanto, vê com preocupação o estado em que está o Carnaval de Salvador, com a diminuição dos blocos e o desgaste dos camarotes. Josenel acredita que “o Carnaval de 2019 vai depender muito da criatividade das pessoas”.

 

Josenel conta que costumava viajar pelas rádios do sudeste para conhecer o novo que se fazia por lá e que “dormia e acordava respirando rádio”. Agora, prefere “não se preocupar de todo dia estar correndo atrás do sucesso que está aí”. Esse aprendizado surgiu depois de passar por “uma vida muito intensa”, ao ponto de ficar doente e ter que se afastar da rádio por quase 1 ano.

 

Somado ao fato de ter sido DJ, empresário e ser locutor, Josenel teve uma experiência como vereador em Salvador. “Na época sentia que o mercado artístico precisava da política”. A convivência no meio, no entanto, lhe trouxe outro aprendizado que lhe fez interromper a sua carreira como parlamentar. Para ele, “política é para quem é político para quem sabe fazer político”.

 

Como entrou na área de comunicação?
Eu era DJ de boate. Um amigo meu que foi coordenar uma rádio em Feira de Santana, a Antares FM, chamava-se Edilton Tourinho. Ele frequentava esses locais e sabia mais ou menos o que eu fazia. Então, ele criou um programa tipo boate, mixagem que ia ao ar nos domingos à tarde na Rádio Antares em Feira. Mas com o decorrer do programa, como era gravado só com músicas, os ouvintes foram pedindo para que falasse o nome do cantor, nome da canção. Daí eu passei a fazer locução na rádio. Eles foram abrindo espaço e eu fui entrando na locução. Edilton era coordenador da Antares e da Manchete FM, aqui em Salvador. Eu passei 1 ano lá [na Antares FM] quando ele me convidou para vir para Rádio Manchete aqui em Salvador em 1983. Oficialmente eu entrei na Rádio Manchete no dia 23 de agosto daquele ano. A partir daí, fui locutor coordenador da rádio. Depois, com meu crescimento no horário, eu fui convidado por Cristóvão Rodrigues e Oton Carlos para ir para a Itapoan. Foi em meados de 1984 para 1985.

 

Era um desejo de infância?
Não. Não foi planejado. Inclusive aconteceu um fato interessante. Naquela época a rádio FM tinha uma conotação da voz diferenciada. E eu sempre tive essa voz, então eu entrei no viés da locução. Quando eu cheguei na Itapoan minha voz era diferenciada dos demais, porque eu não tinha aquele padrão. Então eu explorei muito essa comunicação pessoal com o ouvinte. Sempre dei a entender ao ouvinte que eu estava conversando com ele. Faço uma locução comunicativa diretamente, imaginando que a pessoa está em casa. Acho que foi por aí que encaminhei o meu estilo de trabalho.

 

Você passou por diversas emissoras de TV e rádio (Piatã FM, Itapoan FM, 104 FM,Manchete FM, TV Aratu, Band Bahia e TV Itapoan), ao longo desses 35 anos...
Eu passei pelas principais FMs daqui de Salvador. Quando eu pedi a demissão da Itapoan, fui abraçar um projeto a convite de Cristovinho Ferreira na Piatã. Quando eu fui para lá a Piatã era nono lugar. Quando eu pedi demissão da Itapoan ninguém entendeu, até hoje [não entende]. Mas foi uma divergência que eu tive com o método de um novo colega que foi trabalhar lá. E eu saí e fui abraçar esse novo projeto, que deu certo. Eu implantei o meu estilo de trabalho na Itapoan, na Piatã. E a Piatã, com quatro anos, nós resgatamos o primeiro lugar e continua em primeiro lugar até hoje.

 

Qual o balanço que faz de sua carreira?
Hoje acredito que o trabalho foi primordial. As coisas não acontecem por acaso. Você tem que estar sempre antenado, sempre estudando, sempre se atualizando. Na época não tinha essa facilidade que tem hoje de internet. Com essa proximidade hoje você viaja pelo mundo inteiro nas rádios de qualquer lugar do Brasil, de qualquer lugar do mundo. Eu me baseava muito nos trabalhos das rádios do Rio de Janeiro e São Paulo. Principalmente Rio, que eu achava que se identificava muito com a Bahia. Eu cansei de passar finais de semana dentro de hotel com aquele rádio gravador com cassete, gravando as rádios. Ouvia as rádios e tentava trazer aquilo que se fazia lá tentando assimilar com as coisas locais. Sempre fui muito antenado, sempre fui preocupado com isso. Esses slogans que têm nas rádios de hoje fui eu que criei, na época que passei por lá. A Itapoan FM eu coloquei “A Rádio da Bahia”, quando eu fui para Piatã eu coloquei a “Rádio da gente”. Dormia e acordava respirando rádio. Isso foi o fator primordial, tentar cada vez mais entender o processo do rádio.

 

Quais os maiores acertos? Maiores desafios enfrentados?
Meu maior acerto foi a minha veia popular. Eu sempre tive esse pensamento popular sem ser popularesco. Eu procurava diferenciar a programação, ia mais no sucesso. Eu acho que você deve trabalhar com o sucesso que o povo gosta, sem impor o sucesso ao povo. Os erros que eu acho que tiveram foram decisões precipitadas, como a saída da Itapoan em primeiro lugar. Deveria ter ficar mais um tempo lá. Mas ao mesmo tempo foi positivo, porque a Piatã cresceu.

 

"Mocinhas? Pirraça que eu gosto, vai!" é o seu bordão. Qual a história?
Na época que eu fui para Itapoan os locutores de FM não podiam divulgar o nome e Cristóvão Rodrigues, que era o coordenador da rádio, veio da Rádio Sociedade AM onde lá tinha os nomes dos locutores. Ele implantou isso na FM, então cada locutor passou a ter um nome no ar. Foi aí que tornou-se a FM popular, os locutores mais conhecidos. E naquela época o Grupo Metrô que gravou as vinhetas de todos os locutores. E a minha veio “Josenel…”. Quando eu recebi essa vinheta, estava passando aquela novela Roque Santeiro. Lucinha Lins tinha maior sucesso com aquele papel de “Mocinha” e eu peguei como gancho: “Mocinhas?” E determinado dia, quando eu fui apresentar um ensaio do Olodum, ficava observando o modo do pessoal agir. Passou uma menina por um cara no ensaio do Olodum e ele puxou o cabelo dela, e ela: “Pirracento!” E o cara gritou lá: “Pirraça que eu gosto”. Peguei isso como gancho e levei para a locução. Ai ficou: “Mocinhas? Pirraça que eu gosto!”.

 

Sua trajetória é também marcada pela atuação na vida de diversos artistas, como Daniela Mercury, Ricardo Chaves, Asa de Águia e Terra Samba. De qual forma você contribui na carreira deles?
Eu acho que foi muito mais nas escolhas das músicas. Os empresários, às vezes, iam nas rádios pedir palpites. Naquela época do Axé Music todo mundo se conhecia, era um mercado de amizade. Os artistas discutiam com os colegas de rádio da Itapoan, porque era uma expressão naquele momento, uma rádio diferenciada em Salvador. No momento que foi começando o Axé Music, tínhamos um envolvimento muito grande. Cheguei a trabalhar com Ricardo Chaves na produção, andava muito com pessoal do Asa, Daniela Mercury quando lançou “O canto dessa cidade”, tive uma participação nos palpites. Depois cheguei a ser sócio no projeto de Cal Adam com o Gera Samba e depois Cal tornou o Gera Samba no É o Tchan. Na época eu não tinha como acompanhar o processo da mudança, até por uma questão financeira. Eu saí do projeto e a gravadora me ligou para criar um projeto parecido e aí criei o Terra Samba, que foi criado em função do Gera Samba e foi um sucesso. Eu fiquei como sócio empresário dos meninos e fazia a parte de RP, essa troca de informações entre televisão e gravadoras de rádio. Quando eu vi que a coisa passou a tomar um rumo de que não era meu pensamento, eu pedi para sair e vendi a minha parte. Os meninos continuaram, mas não foram adiante porque eles precisavam muito mais de um RP do que um gestor. A gente tinha troca de informações com o Brasil inteiro, com as gravadoras. Naquela época, o empresário era igual a gerente de banco, tinha que ter um bom relacionamento. Até onde eu pude segurar eu segurei.

 

Conseguiu ficar amigo de algum desses cantores? Qual? Alguma história especial?
Continuo amigo, mas eu me afastei muito do mercado. Voltei para rádio tem 4 anos. Passei 2 anos na Tudo FM, já vou fazer 2 anos na Excelsior. Mas em um programa diferenciado. Não é um programa musical, é um programa revista. Eu faço entrevista, levo artista, levo todo tipo de cultura. A gente faz um programa para as pessoas que estão em casa. A rádio hoje mudou muito, o ouvinte não quer ouvir só música, quer ouvir música e informação e meu horário é pela manhã. Faço um programa leve, sem falar de coisas pesadas. Só coisas boas.

 

Também teve um trabalho intenso no Carnaval de Salvador. Explica, por favor...
As pessoas procuravam muito a gente lá, porque a Itapoan na época era um termômetro de tudo que estava acontecendo. Fundamos o bloco “Eu Vou”, com Wilsinho Crachete, ele me chamou para a gente fundar o bloco. Depois o bloco continuou sozinho. Eu não tinha tempo para tudo. Depois participei do bloco “Tiete Vips”. Antes do “Tiete” o Terra Samba se associou ao bloco “Gula Gula”, do qual nós fizemos a gestão por dois anos enquanto o Terra Samba tocou por lá. Foram os anos que eu tive mais envolvimento com o Carnaval.

 

Qual sua reação hoje com a folia? Como você enxerga o atual momento da festa?
Eu sinto uma certa preocupação com a diminuição dos blocos, com esse problema que envolve o país todo de crise, com a falta de dinheiro de patrocinador. Cada vez mais a coisa vai afunilando e cada vez mais dependendo do governo. Outra coisa que atrapalha muito é a demora do pagamento. O cara faz um Carnaval num ano e só vai receber praticamente no outro Carnaval. O que atrapalhou a Axé Music foi o dinheiro. As pessoas passaram a ficar achando que podiam comprar tudo, podiam fazer tudo. Ficaram muito poderosos. Isso atrapalhou, porque às vezes o empresário era mais do que o artista. Uma série de fatores foi criando dificuldades no mercado. Chegou a um ponto que para você contratar um artista baiano, você tinha que ter um caminhão de dinheiro. Vejo o Carnaval com preocupação, mas eu vejo que a renovação sempre vai existir. Vão surgindo esses jovens que estão abraçando e adaptando e vão ter que se adaptar em algum momento. Eu ainda não sei como vai ser esse Carnaval do ano quem, mas já vem sinalizando que vai depender muito da criatividade de cada um. Os camarotes vão ter que se reinventar porque estão também entrando naquele processo de desgaste. Você sabe que está tudo mais ou menos delineado, que o que aconteceu esse ano, vai acontecer. Esse Carnaval de 2019 vai depender muito da criatividade das pessoas.

 

Nascido em Feira, você também teve atuação no intercâmbio entre profissionais do interior e os daqui da capital. Porque é importante ser essa porta de entrada?
Como eu fiz rádio em Feira conheci muita gente. Em todos os lugares que trabalhei sempre procurei dar oportunidades a todos que estão aí hoje. Alguns deles que fazem sucesso nas rádios eu trouxe. Eu procurava aqui em Salvador, mas não achava e como eu tinha referência de lá de Feira sempre fui buscar. Acho que já passa de 10, 20 locutores que eu trouxe de Feira. E eu acho o seguinte: Uma andorinha só não faz verão. Não adianta você querer fazer sucesso sozinho, para você ser sucesso você depende de uma gama de companheiros que venham atrás ajudando o fortalecimento. É uma pirâmide. Apostei em muita gente que está aí no mercado. Graças a Deus eu recebo por parte deles a lembrança.

 

Há alguns anos, você enfrentou um momento delicado na vida pessoal que o afastou das atividades por 8 meses. O que houve?
Fiquei afastado mais ou menos 1 ano. Eu tive uma hepatite viral fazem 7 anos. Eu passei 6 meses no Hospital Aliança, mais 4 meses no home care. Além disso, eu tive depressão. Naquela época eu tinha uma vida muito intensa como locutor. Você almoçava com um e bebia. Daqui a pouco você jantava com outro e bebia. Naquela época não tinha a facilidade que tem hoje. As gravadores levavam os coordenadores de rádio do Norte/Nordeste para assistir aos shows dos artistas lá no Rio, São Paulo e Belo Horizonte. As músicas eram apresentadas a nós nos shows, então naquela época as gravadoras tinham muito dinheiro, tinham facilidades. Eu vivi a época das mordomias das gravadoras. Às vezes eu nem sabia que num fim de semana tinha que assistir um show no Rio. Saía daqui sexta-feira para assistir o show sábado lá, para conhecer a música do artista, ver o show do artista. Era uma vida muito intensa, com relação a coquetéis. Todo dia tinha coquetel em Salvador, a gente tinha que estar presente lá.

 

Qual lição tirou dessa experiência?
Mudou tudo. O ritmo de trabalho era intenso. Não pensava muito na minha vida pessoal. Passei a conhecer os lugares que eu fui agora que eu fiquei restabelecido. Você saía de Salvador sexta para voltar domingo. Não tinha muita convivência com os lugares que você ia. Era muito rápido, intenso. Era almoço, jantar, tudo rápido. Eu acho que o aprendizado foi isso. A partir de lá para cá eu passei mais a pensar na minha vida, passei a pensar mais no meu filho. Vou ser avô agora. Meu filho se chama Vinícius e está com 31 anos. Meu ritmo de vida é completamente diferente. Não bebo mais. Agora que eu recuperei total a minha plenitude de saúde, me preocupo muito mais com a alimentação e o modo de viver. Você encara as coisas de outra maneira.

 

Você comanda agora o "Alô Excelsior", na Rede Excelsior da Bahia (FM 106,1 e AM 840) diariamente das 9h às 10h. Está satisfeito?
Eu faço um “revistão”. Não quero me preocupar de todo dia de estar correndo atrás do sucesso que está aí. Eu toco mais flashbacks. É um fator que eu desacelerei de ficar antenado com tudo, tocou os clássicos dos flashbacks. Eu queria só lembrar que quando eu estava na Piatã me colocaram como candidato a vereador de Salvador, quando Cristóvão Ferreira me convidou para compor o partido e fazer forte a legenda. Quando entrei, entrei para trabalhar mesmo. Arregacei a manga e fui para campo e me elegi. Eu estava na Piatã convivendo lá com o deputado Cristóvão Ferreira e sempre se falava em política. Ele era deputado estadual e o filho dele, Cristovinho, era candidato também. Disseram que iam me dar total apoio e na época eu sentia que o mercado artístico precisava dessa coisa da política, então eu aceitei. Te confesso que fiz um mandato bem tranquilo, procurei fazer o melhor. Ajudei o prefeito que na época era Imbassahy e o aprendizado que eu tirei da política é que política é para quem é político, para quem sabe fazer político. Quem não é, não entre, não é uma boa. Eu tomei isso como uma experiência de vida. Não quis continuar. Hoje eu observo a política. Sou apenas eleitor.