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Entrevista

Compadre Washington e Beto Jamaica falam de 20 anos do Tchan e dizem que Salvador perde para Aracaju e Recife em casa de shows

Por Lucas Franco

Compadre Washington e Beto Jamaica falam de 20 anos do Tchan e dizem que Salvador perde para Aracaju e Recife em casa de shows
Fotos: Patrick Silva / Divulgação
Sucesso no final dos anos 90, a banda É o Tchan já foi figurinha carimbada em programas de auditório, vendeu milhões de discos e dezenas de produtos, inclusive brinquedos. No dia do lançamento do DVD especial de 20 anos da banda, na casa de shows Bali Beach, os únicos remanescentes da formação original, Compadre Washington e Beto Jamaica, bateram um papo com o Bahia Notícias e não pouparam o cenário atual de críticas. “Salvador é a terceira capital do Brasil e a gente perde para Aracaju e Recife, que tem maiores casas de shows”, desabafou Compadre Washington, que disse já ter colocado 20 mil pessoas em show nos tempos áureos. Críticos do pagode atual, os vocalistas não se dizem dispostos a compor novas músicas. “A maioria das músicas do Tchan passa por mim, pelo Compadre, pelos parceiros. Mas deu uma ‘preguiçasinha’, e aí tivemos que dar espaço para os meninos que estão chegando agora com muita coisa boa [para compor]”, admitiu Beto Jamaica. Apesar de terem gravado recentemente em programas de TV nacionais, É o Tchan não tem o suporte de grande gravadoras como no passado e deve recorrer a métodos de bandas independentes. “Vamos trabalhar com bancas de revistas, no corpo a corpo, vamos levar para o show e vender no show, que funciona muito bem também.” Saiba o que Compadre e Beto fizeram antes da “retomada” da banda, quais são os planos para o ano que vem e como é a relação com os antigos integrantes do grupo na entrevista.
 

Fotos: Patrick Silva / Divulgação

Bahia Notícias – Vocês fizeram muito sucesso nos anos 90 e comemoram 20 anos de banda. Como vocês enxergam o pagode hoje?
 
Beto Jamaica – Veja bem, a música tem que se renovar, realmente. Imagine se ficasse só a gente com nossa batidinha, ia ficar saturado, então tinha que ter coisas diferentes. Eu gosto muito, a batida continua, mas as letras mudaram um pouquinho. Há letras boas, mas há letras que realmente que não dá para a gente ouvir ou engolir. Muito apelativas. E isso não faz parte da nossa história. O erotismo é uma coisa e a pornografia é outra.
 
Compadre Washington – Na verdade, o Gera Samba/É o Tchan sempre trouxe temas, tinha no Egito, no Japão, no Hawaii, na selva, então a gente focava no tema para poder construir aquela história e aquela imagem.
 
Beto Jamaica – Tinha também o lance de É o Tchan agradar as crianças, a gente fazia até brinquedos, como bambotchan, chiclete do Tchan, sandália do Tchan, tudo isso a gente fazia. Tínhamos uma preocupação grande, através das nossas letras, para não soar vulgar. Adoro pagode, adoro a batida, algumas letras, mas tem umas que não dá para engolir, é muito ruim. 
 
BN – Houve um projeto de lei da deputada estadual Luiza Maia (PT) que visava proibir o financiamento público de músicas que incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento. O que vocês acharam disso?
 
Compadre Washington – A censura, como somos um país democrático, é meio complicada, porque tem gosto para tudo e as pessoas ouvem o que querem. A gente não pode proibir as pessoas de ouvirem o que querem, mas o projeto que ela coloca é para não usar dinheiro público contratando essas bandas. Já que o modo dela pensar é que está sendo denegrida a imagem da mulher. Então chegou nesse ponto em que ela não quer que o dinheiro do Estado seja pago para essas bandas, aí tudo bem, mas cada um ouve o que quer, não se pode proibir nunca mais.
 
 
BN – Há muita gente que se queixa do politicamente correto e diz que o mundo está “muito chato e careta”. Vocês acham que se o auge do É o Tchan fosse nos dias de hoje poderia sofrer com isso?
 
Compadre Washington – Estamos sujeitos a tudo, somos pessoas públicas. Nessa semana eu estava vendo um vídeo em que o cara fala que uns estrangeiros vieram invadir o Brasil para poder acabar com nossa música [o mini-documentário fictício “MPB: A História que o Brasil não conhece”], e o Compadre Washington não é do Brasil, e sim de Porto Rico, e que se infiltrou no meio da música para destruir a música baiana. 
 
BN – O que você achou do vídeo?
 
Compadre Washington – Achei massa, cada um pode falar o que quer, o cara mete Serginho Malandro dizendo que ele foi forçado a cantar uma música e coisa e tal, ficou legal.
 

Compadre Washington é citado aos 10'30" do vídeo
 
Beto Jamaica – A crítica está aí para isso, para ser feita. A gente aceita do jeito que a gente acha melhor, e faz parte da vida, da música, do artista, e a gente vai levando nossa vida. Acho que o importante é fazer 20 anos, fazendo música, fazendo o que a gente gosta. E ser criticado também [risos]. 
 
Compadre Washington – Se não tiver crítica não vale. E nós tivemos críticas construtivas e negativas. Tivemos crítica de um grande conhecedor da música popular brasileira, sambista, que disse que É o Tchan / Gera Samba é uma batida nova, que veio para engrandecer mais o samba, e nós estamos aí. 
 
Beto Jamaica – Palavra de Paulinho da Viola.
 
Compadre Washington – Mestre do samba.
 
BN – Em relação aos locais de show, o que mudou do final dos anos 90 para hoje? Salvador precisa de uma casa de show maior?
 
Beto Jamaica – O Tchan fazia ensaio no [Clube] Espanhol, em Itapagipe...
 
Compadre Washington – Nós fomos precursores disso aí. Todo domingo colocávamos 20 mil pessoas em Itapagipe.
 
Beto Jamaica – Não, 20 mil pessoas era no Espanhol, no domingo. Hoje em dia realmente está faltando. Está faltando espaço desse porte aí, para abrigar 10, 15, 20 mil pessoas.  Hoje em dia tem o Wet [‘n wild]...
 
BN – Vocês gostam do Wet?
 
Compadre Washington – É a única opção que nós temos. Salvador é a terceira capital do Brasil [em população, segundo dados do IBGE divulgados em agosto de 2012] e a gente perde para Aracaju e Recife, que tem maiores casas de shows, Salvador não tem. Então a gente só tem essas opções, ou seja, a Bali [Beach] aqui, a The Best, o Wet, Parque de Exposições, tem uma casa nova que está surgindo em Jacuípe, tem o Armazém de Vilas, então são poucas opções que nós temos, para comportar muita gente, e não tem tanto espaço assim. Show internacional é difícil de vir, talvez agora com a Arena Fonte tenhamos mais shows de grande nível. 
 

 
BN – Qual a expectativa de vocês para esse novo cenário com Arena Fonte Nova e Copa do Mundo?
 
Beto Jamaica – Sensacional, muito bom...
 
BN – Também incluindo a banda nesse momento novo...
 
Beto Jamaica – Lógico, a gente faz parte dessa história também. Eu ia para a Fonte Nova com meu tio nas costas. Hoje eu tenho o prazer de ser convidado e tocar na Fonte Nova, com muito carinho. Vão ter alguns eventos na Copa e o Tchan vai estar presente também. 
 
Compadre Washington – É porque a Fonte Nova tem espaço para eventos que podem caber quatro, cinco mil pessoas, assim como podem caber 50 mil pessoas. Então vão ter vários eventos durante o percurso para a Copa do Mundo. 
 
BN – Em algum momento a banda deixou de fazer shows e como foi feita a retomada para fazer o disco de 20 anos?
 
Beto Jamaica – Na verdade eu estava afastado da banda durante um tempo, mas eu tinha perspectiva de reencontrar para retomar de novo o lance do Tchan, tanto que nos dez anos do Tchan eu fui praticamente o cara que segurei o repertório todo, e aí eu disse “Compadre, depois de um tempo eu vou fazer alguns projetos e depois a gente retoma o Tchan de novo”, e deu certo né, o que nós pretendíamos fazer nós botamos em prática e deu certo. 
 
BN – Como é a agenda de vocês hoje? Ainda tocam outros projetos além do É o Tchan?
 
Beto Jamaica – Não, agora a gente está focado só no Tchan.
 
BN – E no tempo em que você esteve afastado, quais foram seus projetos?
 
Beto Jamaica – Fiquei empresariando...
 
Compadre Washington – Eu virei cantor de arrocha...
 
BN – Qual era o nome da banda?
 
Compadre Washington – Era “A Companhia do Compadre”. Fiz essa banda, demos um rolé pela cidade e depois demos um tempo. Pessoas de outros países convidaram a gente para a gente dar uma canja, participar de um evento brasileiro fora. Então fui para a Europa e dei uma canja lá, ganhar uns euros lá.
 
 
BN – E os futuros projetos? Carnaval, CDs...
 
Compadre Washington – Carnaval a gente tem um projeto de bloco, “Pagode Total”...
 
Beto Jamaica – Que já é o bloco da casa, é nosso mesmo. Esse ano [ano que vem] não está batido o martelo ainda não, mas já está apalavrado e vamos fazer alguns camarotes, não posso dizer quais são porque aí entra água...
 
Compadre Washington – Tem um bloco provavelmente na Barra...
 
Beto Jamaica – Bloco travestidos na barra, e na avenida também.
 
Compadre Washington – Na avenida tem o “Pagode Total”.
 
Beto Jamaica – Esse ano a gente vai tocar mais dias aqui. 
 
BN – E o contato com as gravadoras dos antigos CDs e com programas de auditório?
 
Beto Jamaica – Tá rolando.
 
Compadre Washington – Acabamos de fazer agora, ficamos uma semana em São Paulo, fizemos Programa do Ratinho, Luciana Gimenez, a Cozinha do Edu [Guedes, da Record], Mega Senha, Super Pop, participação na Rádio Bandeirantes de especial de 20 anos.
 
Beto Jamaica – O Tchan sempre foi em televisão. E agora nós retomamos de novo isso, a questão de trazer mais mídia, de ficar no centro das atenções e a gente está segurando um pouquinho a onda porque não é que estivéssemos cansados, estávamos dando um tempo. E agora voltando para a grande mídia de novo. Até porque nós precisamos divulgar nosso DVD, nós estamos lançando hoje [dia 30 de abril], e vamos fazer muita mídia, muitas turnês, vamos tocar muito pelo Brasil, e depois gente vai pensar no próximo. Daqui a cinco anos fazer mais outro DVD. 
 
BN – Como será feita a distribuição dos CDs e DVDs? Há gravadoras ou é independente?
 
Beto Jamaica – Por enquanto é independente, mas nós estamos tentando negociar com a gravadora, não está nada certo ainda, mas por enquanto é independente. Vamos trabalhar com bancas de revistas, no corpo a corpo, vamos levar para o show e vender no show, que funciona muito bem também. 
 

 
BN – E os novos sucessos da banda? “Nosso Amor é Fogo”, “Bonde do Tchan”, quanto tempo vocês demoraram para gravá-las? Em que vocês se inspiraram?
 
Beto Jamaica – Os compositores, eles dão esse presente todo aí. 
 
Compadre Washington – Apesar de nós sermos compositores também, mas bate um pouco de preguiça às vezes. 
 
Beto Jamaica – Exatamente. A maioria das músicas do Tchan passa por mim, pelo Compadre, pelos parceiros. Mas deu uma preguiçasinha, e aí tivemos que dar espaço para os meninos que estão chegando agora com muita coisa boa, e essas seis músicas inéditas nós testamos elas nos shows, a gente via se a galera se balançava, elas faziam as coreografias e jogavam com o corpo e a gente sentia mais ou menos o que ia dar, qual delas a gente poderia gravar. Aí não deu outra, gravamos seis canções que praticamente todo mundo já canta e dança, é o termômetro né? O show é um termômetro.
 
BN – A galera então já canta junto...
 
Beto Jamaica – É meio assim, neguinho tá assim “pô, vai tocar música nova, o show vai cair”, mas com jeitinho você ensina a galera e termina dando certo.
 
BN – Como é a relação de vocês com os antigos integrantes da banda?
 
Compadre Washington – A gente se comunica [pouco] até porque Jacaré e Sheila Melo não moram aqui, e a gente se fala pelo Face [book], Twitter, ou até mesmo por telefone. Ou quando eles estão aqui em Salvador e aparecem no nosso show. 
 
Beto Jamaica – Jacaré vem sempre, entra no palco sem a gente nem chamar. E joga duro, sensacional.
 

 
BN – O que vocês preservaram dos primórdios da banda até hoje?
 
Beto Jamaica – Nós pegamos a nossa batida, que a gente não pode deixar de colocar, porque foi criado por nós, a batida do tamborim, que todo mundo faz hoje, tátátátúm tátátá, isso é criação de Compadre Washington, no tamborim, pegou do samba-reggae e colocou no tamborim. Então nós fizemos o que? Nós pegamos nossa originalidade, que é o samba de roda, e estamos mostrando para essa galera nova que está chegando, que não conhece. 
 
Compadre Washington – Que passou a conhecer. E uma história, que são 20 anos, então para perdurar 20 anos...
 
Beto Jamaica – [para perdurar 20 anos] é um sufoco, e nós viemos realmente dessa raiz, do recôncavo, nossos avós, nossos pais, vieram de lá, então a gente está cultivando isso até hoje, isso que a gente quer mostrar para essa galera aí. Mostrar uma música boa, uma batida de samba de roda junto, entendeu? E uma sensualidade gostosa. E vendendo disco! E que falem mal, mas falem! [risos]
 
Compadre Washington – Tchã ãn, Tchudududupáááá!
 
Beto Jamaica – Vinte anos não são vinte dias! E que falem bem também!