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Entrevista

Mr. Bobby diz que 'Ui, que Bruxaria é Essa?' é música besta: 'A gente tinha que sofisticar ela com clipe ousado'

Por Fernanda Figueiredo

Mr. Bobby diz que 'Ui, que Bruxaria é Essa?' é música besta: 'A gente tinha que sofisticar ela com clipe ousado'
Fotos: Simone Melo / Bahia Notícias
Hit no YouTube com o clipe da música “Ui, que Bruxaria é Essa?”, gravado em plano sequência na passarela da Estação Mussurunga, Mr. Bobby quer deixar de ser conhecido apenas pela “música da passarela” e atrair o público com novas produções. Em entrevista ao Bahia Notícias, ele conta como decidiu fazer o vídeo (“a música já é besta, a gente tinha que sofisticar ela com um clipe ousado e de uma forma única, usando câmera de mão”), sobre o uso da internet como plataforma de alavanca para o sucesso e a Lei Antibaixaria.


Bahia Notícias: Como surgiu a ideia de gravar um videoclipe e postar no YouTube?
 
Bobby: A gente estava passando por uma fase crítica, porque o grupo tinha sofrido um acidente – isso foi em novembro – e passou pela minha cabeça acabar a banda, porque tinha uns meninos internados. Na véspera do Natal, eu fui para uma festa e estava a maior febre do “ui” e aí eu e meu irmão ficamos fazendo “ui, ui, ui”, brincando. Quando eu cheguei em casa, na madrugada mesmo, eu fiz. Tanto que a música é besta. Foi rapidinho que a gente fez a música e gravou um vídeo e colocou na internet. E aí, esse vídeo começou a circular entre os amigos e a galera pedindo para gravar essa música e aí eu disse: “sabe de uma, eu vou gravar esse música”. Aí eu paguei o estúdio, paguei ao menino, paguei gravação, do meu salário e gravei a música.
 
BN: Antes de vocês estourarem na internet, a banda já existia de forma profissional? De fato, vocês eram uma banda?
 
Bobby: Isso. Já existia a banda, só que a banda ainda não estava efetivamente no mercado. Era como se fosse um hobby. A partir desse clipe foi que a banda começou, realmente, a aparecer.
 
BN: E como foi a ideia do clipe na passarela da Estação Mussurunga?
 
Bobby: É isso. A gente gravou a música. Só que a gente falou “pô, a música é besta, velho. O que é que a gente tem que fazer pra essa música estourar?”. E aí a gente decidiu pesquisar. Meu irmão já trabalhava com vídeo e a gente decidiu pesquisar coisas que tivessem sido pouco utilizadas aqui dentro do Brasil, em clipes. Aí nós pesquisamos, pesquisamos e a gente se deparou com o clipe em plano sequência. E a gente decidiu fazer em sequência. E aí, a gente começou a se questionar aonde íamos gravar isso. E aí, num lapso mesmo, eu acordei de manhã e falei: “pô, passarela, véi!”. Porque passarela são três retas: a da subida, a de atravessar e a de descer. Então, a física já tinha casado com o plano de sequência. E depois a gente foi pesquisar a mais longa e com menos fluxo. Fomos no Google Maps, pesquisamos e vimos a passarela da Estação Mussurunga. E nós escolhemos no sábado porque dia de sábado de manhã não tem trabalhador atravessando a passarela.
 

 
BN: Chegando lá, como foi a gravação? De fato a passarela estava vazia... Como foi?
 
Bobby: Nós fizemos a seleção de figurantes no Facebook e no dia estava chovendo muito. 5h da manhã, na hora que eu estava acordando, o sócio me ligou querendo saber se a gente ia gravar mesmo debaixo daquela chuva. Aí eu falei: “rapaz, é hoje e se isso está acontecendo, tem algum motivo”, porque eu tenho muita fé, eu acredito muito em Deus. Acaba que tinha mais de 200 pessoas selecionadas pra poder ir para lá, ia ser um lance bem louco mesmo, naquela passarela, umas 200 pessoas passando. Só que aí, no dia, choveu e a galera não foi. Acabou que não tinha ninguém. Só eu e Nilo, que é o outro cantor e Felipe, meu irmão, que filmou. Aí o jeito foi a gente pegar os meninos lá da rua mesmo e colocar na van para levar pra lá. 
 
BN: Você disse que nada é por acaso. Ajudou em que o fato de os 200 figurantes não ter comparecido?
 
Bobby: Depois a gente ficou pensando que, se a passarela estivesse cheia, por questões de segurança, poderia ter acontecido algum acidente, alguma coisa, ainda mais que estava chovendo. E tem mais: a chuva e o tempo nublado serviram de filtro para não ter sombra, porque o clipe todo é na mesma iluminação. Então, tudo veio a calhar realmente e eu só tenho o que agradecer a Deus.
 
BN: Quando vocês viram o resultado e postaram o vídeo na net, vocês imaginaram que seria esse sucesso?
 
Bobby: O intuito, de verdade, foi o de quebrar paradigmas. Sair desse padrão de praia, de mulher gostosa dançando, de homem em carrão. E também, a música já é besta, a gente tinha que sofisticar ela com um clipe ousado e de uma forma única, usando câmera de mão. Tanto que foi meu irmão quem filmou, não teve steadicam, carrinho, nem nada. Foi meu irmão filmando com a máquina dele de fotografia e um menino segurando pela mochila. E o grande mérito do clipe foi que ele conseguiu a estabilidade da câmera.
 
BN: Muita gente critica o gosto dos baianos para a música e alegam que baiano gosta de qualquer porcaria, por conta das letras do pagode, pelo “mau-gosto”, e até do axé, que dizem que só tem “levanta a mão, sai do chão”.  Você acabou de dizer que fez uma música besta e a canção virou hit. Então, você concorda que o baiano não tem o gosto muito apurado e que ele absorve qualquer música?
 
Bobby: Na verdade, foi como eu falei: a música é besta, mas não agride ninguém como essas que tem aí e que batem de frente com a Lei Antibaixaria. Foi uma música oportunista. Essa coisa do “ui” estava em evidência e nós fomos oportunistas: nós pegamos o que já estava na boca do povo, virtualmente, e gravamos a música. Foi questão mesmo de oportunidade. Esse foi o pontapé inicial para a banda aparecer. Mas quem acompanha e escuta nosso CD percebe que tem músicas de conceito, tem músicas que falam de Deus, tem música para todos os públicos. Então, eu acho que tem muitas pessoas que fazem sucesso na internet pela sua qualidade, realmente. 
 

 
BN: Que dica você daria para alguém que quer ter seu vídeo estourado na web?
 
Bobby: Ou as pessoas apelam, fazem uma coisa muito engraçada, bem escrachado; ou fazem um trabalho de qualidade.
 
BN: No caso de vocês, então, foi uma apelação?
 
Bobby: Na verdade, o “boom” foi porque foi uma comédia. Tem uma parte mesmo em que eu caio no final, e aquilo tudo foi intencional, a gente queria ser engraçado mesmo. Eu me bato, eu caio e isso tudo serviu como elemento divulgador. Então, ali tem alguns erros intencionais, que nós deixamos para ser divulgado. Foi um clipe bem oportunista mesmo.
 
BN: Por que esse tipo de vídeo faz tanto sucesso na internet?
 
Bobby: Eu fico tentando entender também, porque não tem uma fórmula. Talvez seja sorte. Esse nosso segundo clipe mesmo, a gente decidiu fazer um flashmob. Eu construí um boneco de papelão, de isopor, um Lego gigante e coloquei na pista do Iguatemi. E é uma técnica pouco utilizada aqui, a não ser no Sudeste.
 
BN: Então, o segredo é inovar?
 
Bobby: Isso. É inovar. Só que, mesmo assim, é incerto. Esse segundo clipe mesmo, do flashmob, ele não está alcançando o mesmo sucesso do “Ui, que Baixaria é essa”, porque esse ficou uma coisa mais certinha. Já o “Ui” foi uma coisa bem escrachada mesmo. Aquela coisa de passarela, clima de brincadeira. E o do lego ficou criativo, mas não saiu do lugar comum, não teve nada de substancial, de diferencial. Eu achei que o flashmob seria o diferencial, mas não foi. 
 
BN: Quando o vídeo começou a bombar, vocês já tinham um plano de marketing traçado? Porque, de repente, a cidade ficou cheia de outdoor fazendo suspense sobre o clipe...
 
Bobby: Minha formação é Propaganda e Marketing e assim, a banda já tem uma preocupação com a linguagem. Na internet mesmo, a gente já tem um jeito de se comunicar com nosso público. Só que aí, com esse “bomm” do “Ui, que bruxaria é essa?” acabou atraindo muitas pessoas que vieram trabalhar conosco. Atraiu nosso sócio, que é um grande profissional e foi ele que teve essa visão de que a gente tinha que fazer um negócio que saísse da internet, do mundo virtual para o mundo real. E aí foi que veio a ideia: “vamos impactar”. Nós colocamos as placas nas ruas, música nas rádios para ver no que ia dar. E a banda apareceu.
 

 
BN: É isso. Apareceu, mas vocês não deixam de ser uma celebridade instantânea e dizem que celebridades instantâneas acabam caindo no esquecimento... Você acredita que a Mr.Bobby será mais um sucesso do YouTube que passará?
 
Bobby: É isso. A banda apareceu, teve seus 15 minutinhos de fama. Todo mundo na cidade queria saber, todo mundo estava se perguntando o que era o “Ui, que bruxaria é essa?” e hoje a gente batalha pra se fixar, se manter e tirar essa imagem de que a banda é só a banda da passarela. Porque a banda Mr. Bobby vai muito além disso. Então, nossa batalha agora é mostrar nossa vertente, a vertente da criatividade.
 
BN: Você disse aí que está batalhando para desfazer esse estigma de “banda da passarela”. Existe algum arrependimento em relação a esse clipe?
 
Bobby: Jamais. Jamais e a gente está pensando, mas ainda não está nada certo, mas nós estamos tendo algumas ideias de fazer alguma coisa na passarela, de novo. Mas é uma coisa bem diferente do que já foi feito. Mas isso daí é futuro. Mas arrependimento, nenhum. Eu só tenho a agradecer por ter tido essa ideia.
 
BN: Passado o “boom” do “Ui, que bruxaria é essa?”, como vocês estão fazendo para se manter na mídia?
 
Bobby: Já está na rede o nosso novo clipe do Lego, que é “Vamos brincar de Lego”, que é o flashmob, o bonecão lá. As pessoas também foram selecionadas pelo Facebook, porque a gente quer sempre deixar a cara de que o clipe foi feito em casa e também porque cria uma proximidade. E muitas pessoas almejam esse sucesso todo e pensa que é fácil de conseguir. A gente faz de uma forma que mostra que, se a pessoa tiver vontade, e também pesquisar e se inteirar, ela pode conseguir isso. Então, a gente sempre procura fazer de forma simples, mas com qualidade, com algum conteúdo.
 
BN: Mr. Bobby é axé ou pagode?
 
Bobby: O nome em si, Mr. Bobby, foi porque eu tinha um projeto de funk, que era eu, de meu irmão e duas meninas. E a gente fazia algumas festinhas e a gente brincava misturando outras músicas no funk e aí ficou Mr. Bobby. E nosso repertório é bem variado, porque são várias influências. Meu companheiro, Nilo, que, na minha opinião, se a gente continuar nesse ritmo e criando novidades, ele será um dos cantores “tops” de Salvador. Ele tem um timbre diferente e ele não tocava pagode. E eu chamei ele para vir para o projeto justamente para dar essa cara. Então, em nosso repertório a gente toca desde sucessos sertanejos, sucessos antigos, forró, tudo que faz sucesso nós colocamos. E eu fico mais com a coisa do funk, da alegria, da animação. Então, essa dualidade é a essência da banda. E a gente consegue agradar a diversos públicos dentro do nosso show. A base é o pagode.